David Gilmour - Remember That Night: Live at the Royal Albert Hall (2007)


Por Ricardo Seelig
Colecionador

A carreira solo de David Gilmour tem apresentado uma qualidade que beira o sublime. Apesar de não tão conhecidos como seus trabalhos ao lado do Pink Floyd, seus três discos estão encharcados de ótimas composições, que, em muitos aspectos, anteciparam e deram continuidade à sonoridade que Gilmour vem explorando no Pink Floyd desde que tomou as rédeas do grupo, a partir de "A Momentary Lapse Of Reason", de 1987.

Dono de um estilo único, que faz com que a audição de uma mera nota já identifique um solo seu, David Gilmour comprova essa constância criativa no DVD "Remember That Night - Live at the Royal Albert Hall", lançado em 2007 e gravado na lendária casa londrina. Acompanhado por uma banda repleta de feras, onde destacam-se o guitarrista Phil Manzanera (Roxy Music), o recentemente falecido tecladista Richard Wright (outro ex-Pink Floyd), o saxofonista Dick Parry (chapa das antigas, com participações em álbuns clássicos como "The Dark Side Of The Moon" e "Wish You Were Here") e o baixista Guy Pratt (The Transit Kings, Bryan Ferry), Gilmour repassa sua carreira, tanto solo como ao lado do Pink Floyd, em um lançamento absolutamente impecável.

Extremamente bem produzido, entregando imagens belíssimas que valorizam ainda mais o mítico Royal Albert Hall, o DVD traz um repertório que une velhos cavalos de batalha a algumas faixas raramente executadas ao vivo. No primeiro bloco, temos versões irretocáveis de clássicos como "Speak To Me", "Breathe", "Time" e "Wish You Were Here", enquanto o segundo segmento traz músicas como "Smile", "Fat Old Sun", "High Hopes" e "Echoes".

A classe de David Crosby e Graham Nash nos backing vocals de "On an Island", "The Blue", "Shine On You Crazy Diamond" e "Find The Cost Of Freedom" (bela homenagem
a capella de Gilmour à dupla, nessa faixa gravada originalmente pelo Crosby, Stills, Nash & Young) confere doses maiores de sensibilidade a canções que já eram originalmente belas. A participação do lendário Robert Wyatt (Soft Machine) tocando trompete em "Then I Close My Eyes" é tocante, com o veterano músico, hoje paraplégico, levando parte do público às lágrimas.

Um dos principais momentos do DVD ficou reservado para o seu final, com David Bowie subindo ao palco para cantar dois dos maiores clássicos do Pink Floyd, "Arnold Laine" e "Comfortably Numb". Bowie dá a sua interpretação característica a essas duas músicas, principalmente para "Comfortably Numb", fazendo-a soar renovada e mostrando o quanto essa canção, lançado originalmente no álbum "The Wall", ainda soa forte e atual.

O disco dois de "Remember That Night - Live at the Royal Albert Hall" traz inúmeros e interessantíssimos extras, com destaque para a execução de faixas raras ao vivo, como "Wot´s ... Uh The Deal" (do álbum "Obscured by Clouds", de 1972) e "Dominoes", canção de Syd Barret presente no disco "Barret", lançado pelo
crazy diamond em 1970. Há também o longo documentário "Breaking Bread, Drinking Wine", mostrando os preparativos para o tour, onde um dos melhores momentos é o encontro entre David Gilmour e Roger Waters nos corredores do estúdio onde as bandas de ambos ensaiavam lado a lado, em uma coincidência divina e que mostra a evidente tensão entre os dois. O disco é completado por um making of de "On an Island", último trabalho de Gimour, e que, aliás, marca presença com várias faixas no set list, mostrando o quão consistentes são suas composições.

Merece menção também o impecável tratamento gráfico do material, com embalagem
digipack e luva protetora, além de encarte e legendas em português em todo o disco, desde o show até os extras.

"Remember That Night - Live at the Royal Albert Hall" é um DVD excepcional, daqueles itens que toda pessoa que gosta de música tem que ter em casa, em destaque na sua estante. Vale o investimento, e com sobras.


Faixas:
1. Speak to Me
2. Breathe
3. Time
4. Breathe (Reprise)
5. Castellorizon
6. On an Island (with David Crosby & Graham Nash)
7. The Blue (with David Crosby & Graham Nash)
8. Red Sky at Night
9. This Heaven
10. Then I Close My Eyes (with Robert Wyatt)
11. Smile
12. Take a Breath
13. A Pocketful of Stones
14. Where We Start
15. Shine on You Crazy Diamond (with David Crosby & Graham Nash)
16. Fat Old Sun
17. Coming Back to Life
18. High Hopes
19. Echoes
20. Wish You Were Here
21. Find the Cost of Freedom (with David Crosby & Graham Nash)
22. Arnold Layne (with David Bowie)
23. Comfortably Numb (with David Bowie)


Comentários

  1. E agora saiu o "Live at Gdansk". "Oficialmente" é um CD duplo, mas a edição especial com DVD faz com que seja na verdade mais do mesmo, inclusive com o mesmo repertório. Mas é realmente sublime. O cara está em forma, parece até que o "veludo da idade" melhorou a sua voz.

    ResponderExcluir
  2. Emílio, saiu o CD duplo e a edição especial cokm 2 CDs e 1 DVD, como você falou. Está na minha lista de compras, com certeza.

    ResponderExcluir
  3. Esse cara é muito fera e tem um bom gosto incrível, que se reflete em sua carreira solo!
    Ronaldo

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Gilmour é fantástico...E o que o tempo não faz com o ser humano...

    ResponderExcluir
  6. MONEY/UH, UH!!!

    Realmente, deve ser um belo caça-níquei$.

    ResponderExcluir
  7. Pablito, vc assistiu o DVD? Porque, se assistir, irá perceber que não tem nada de caça-níqueis, muito pelo contrário.

    ResponderExcluir
  8. Cadão, meu comentário foi apenas pelo set list: a maioria das músicas são do Pink Floyd. Só isso não basta? Está certo que a carreira solo de mr. Gilmour não é lá nenhuma maravilha (há 30 anos ele imita o Terje Rypdal), mas acho que um show desses fica difícil de desassociar da imagem da finada banda inglesa. Mas é uma questão controversa, já que algumas são de autoria dele e, afinal, dá-se o que a MASSA quer: o povão vai lá cantar e ouvir as músicas que já conhece.
    Esse tipo de produto não me agrada nem um pouco. Mas, é claro, é só uma opinião minha.

    ResponderExcluir
  9. Lamento, mas não dá pra chamar de caça-níqueis um show em que David canta TODAS as músicas de seu último álbum. David Gilmour não vive só do passado, mas também não o renega.

    ResponderExcluir
  10. Interessante ponto de vista. Talvez minha opinião deva ter sido influenciada pelo excesso de produtos, o "mais do mesmo", a pomposidade e a aversão ao indivíduo citado.
    [Syd's fan mode on]

    ResponderExcluir
  11. Comprei recentemente o DVD e está espetacular. Gilmour envelheceu, mas está tocando de forma sublime.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.