Entrevista exclusiva: Renato Tribuzy fala sobre o futuro e conta detalhes e curiosidades sobre "Execution"
Por Ricardo Seelig
Colecionador
Lançado em 2005, "Execution" pode ser considerado, sem exageros, um dos grandes álbuns da história do heavy metal nacional, tanto pela qualidade de suas composições quanto pelas inacreditáveis participações especiais que seu mentor, Renato Tribuzy, conseguiu reunir.
Bruce Dickinson, Michael Kiske, Kiko Loureiro, Ralf Scheepers, Mat Sinner, Roland Grapow, Roy Z, enfim, o disco traz um verdadeiro dream team do heavy metal mundial, e levou o nome de jovem e talentoso músico carioca a ser destaque em todo o mundo.
Batemos um longo papo com Renato sobre as curiosidades da produção de um projeto como "Execution", sua carreira como músico e produtor e os preparativos sobre o novo álbum do Tribuzy, que deve chegar às lojas em 2009.
Confira!
Renato, passados três anos do lançamento de "Execution", que avaliação você faz do álbum?
Renato Tribuzy: Posso dizer que ele conseguiu atingir tudo que eu esperava. Vejo pessoas de vários países comentando o valor e a importância deste álbum, e isso foi um reflexo bem claro na quantidade de cópias que ele vendeu no mundo todo, então acredito que atingi meu objetivo. O "Execution" foi um trabalho que me possibilitou conhecer grandes ídolos e que hoje são grandes amigos, me abriu muitas portas, passou mensagens de protesto mas de uma forma positiva. Foi um enorme sucesso de vendas e, mais importante, não soa datado, ele sempre será o "Execution", mesmo daqui a alguns anos. Definitivamente é um álbum o qual vou me orgulhar para o resto da vida.
A participação de vários nomes do heavy metal mundial abriu muitas portas no exterior para você e sua banda?
Claro, isso já era esperado, mas o que eu não esperava foi o que veio após o lançamento do álbum. Todas as entrevistas para Alemanha, Rússia, USA, Japão e assim por diante citavam o fato das participações, mas ressaltavam o fato do disco ser tão bom que, segundo eles, não precisava das participações (risos). Isso para mim era muito legal, mas o importante foi que eu não convidei todo esse pessoal por convidar, eu simplesmente consegui realizar um sonho de moleque, então para mim o "Execution" jamais teria sido o "Execution" sem essas participações, pois o fato de ter toda essa galera no trabalho transformou esse disco, para mim, em muito mais do que simplesmente um álbum e sim na realização do sonho de um moleque que amava heavy metal e que tinha uma banda.
Em que países o disco conseguiu mais destaque, tanto em vendas quanto em repercussão com a mídia especializada e os fãs?
Que eu me lembre bem, os países onde o álbum entrou entre os mais vendidos logo após o lançamento foram Espanha, Alemanha, Brasil, Argentina, Japão e Rússia - esses foram sucesso imediato. Depois o disco cresceu muito em outros países, como USA, Itália, Inglaterra, Portugal, entre outros.
Em lugares como a Rússia, por exemplo, as prensagens esgotavam em semanas. Já devemos estar na vigésima prensagem por lá (risos). O sucesso foi tamanho que cheguei a ter uma página minha na maior revista do país, entrevistando músicos e bandas. No Japão entramos como segundo álbum mais vendido na semana do lançamento, e ficamos nessa colocação por quase um mês inteiro.
Foi maravilhoso ver a reação do mundo diante do álbum, foi surpreendente e gratificante.
Qual você acha que foi a importância de um álbum como o "Execution" para o heavy metal brasileiro?
Hummm ... Não sei, acho que qualquer coisa que eu fale sobre isso soaria pretensiosa (risos). Acho que o tempo dirá a importância do álbum, mas acho que para uma coisa ele já serviu: mostrar que diferenças territoriais entre a América do Sul, Europa e Estados Unidos não são barreiras quando queremos muito atingir um objetivo. Esse disco é a prova gravada e concreta disso.
Deve ser muito gratificante sonhar com algo que todos julgam impossível e ver esse sonho virar realidade. O que você sentiu quando começou a receber respostas positivas dos músicos para a gravação do "Execution"?
É mais do que gratificante, é inacreditável (risos). Bom, o que eu senti é um pouco indescritível, posso falar que por várias vezes fiquei sem dormir, compondo para tentar chegar ao resultado mais perfeito possível, pois eu escrevia uma música e quando a pessoa que eu convidei para aquela faixa aceitava o meu convite eu passava dias revendo detalhe a detalhe da música antes de resolver fazer a versão final e mandar para pessoa em questão.
Como você conta no DVD "Execution Live Reunion", a negociação com Bruce Dickinson foi a mais demorada de todas. Qual foi a sua sensação quando recebeu a comprovação final de que ele, enfim, participaria do projeto?
Cara ... Sem palavras! Eu sei que quando escutei a "Beast in the Light" na voz dele, minha reação foi ter um nó na garganta, eu posso dizer que quase chorei (risos). Era o cara que eu passei a vida escutando os álbuns e assistindo aos shows, e lá estava a minha música com ele cantando. Isso era ... nossa, sem palavras!
Lembro-me que quando eu fui à Londres para divulgar o "Execution" lá, eu e Bruce fomos a um bar, ficamos conversando por horas, mas uma das coisas que mais me marcou foi ele me perguntar: “Então, escutou a ´Beast in the Light` mixada? Gostou? Se não tiver gostado eu posso refazer” (risos). Eu pensei: "Pô, como eu não gostaria? Ele deve estar brincando (risos). Minha resposta foi: "Eu adorei (risos)".
E foi engraçado porque ele fez uma pequena menção a isso no DVD. Durante o making of ele fala "eu mandei a música para o Renato, ele mixou e adorou” (risos).
O que você sentiu ao olhar para os lados, nos shows do "Execution" aqui no Brasil, e se ver cercado por vários mitos do heavy metal mundial, que estavam em um show seu, cantando músicas escritas por você?
Nem me lembro na verdade (risos). Era meu primeiro DVD, no Credicard Hall, toda a mídia do país com os olhos lá, pois era um fato inédito um show como aquele. Simplesmente cantei, não me lembro o que senti (risos). Eu estava muito feliz, e hoje quando vejo o DVD percebo nitidamente que eu não parava de correr e pular um minuto durante o show, nem mesmo quando os convidados estavam cantando(risos). Então isso é uma coisa que posso afirmar que senti, muita felicidade.
O que você pode nos contar sobre os preparativos do novo álbum do Tribuzy?
Eu já estou com umas dezoito faixas prontas. Logicamente não pretendo lançar todas elas de uma vez (risos), mas estou agora garimpando o material e escolhendo quais vão estar no próximo álbum. Comecei a trabalhar na pré-produção já, e posso afirmar que esse disco será fantástico.
O novo trabalho seguirá a mesma linha power metal de "Execution", ou teremos alguma mudança no som da banda?
Ele está seguindo uma linha muito interessante na verdade, algumas faixas fazem músicas como "Execution" e "Aggressive" soarem como baladas (risos), mas ao mesmo tempo ele está seguindo uma identidade parecida com as composições que fiz no "Execution". É um disco muito particular e único, tenho certeza que todos que gostam do grupo vão amar.
A banda que o acompanhará nesse novo álbum será a mesma de "Execution", ou temos novidades?
Eu recebi um convite de alguns músicos famosos internacionais (que não posso citar) para montar uma banda, mas o projeto deu uma parada por causa de nossas agendas, então quem sabe? Mas até o momento minha banda será a mesma ainda, pois são músicos maravilhosos e extremamente competentes.
Alguma participação especial em vista?
Não, eu não quero que o Tribuzy fique parecendo um projeto, ou para que eu lance um álbum seja obrigatório ter participações. O "Execution" foi um trabalho único, e se virar rotina ter vários convidados em todos os discos que eu fizer o "Execution" perde seu valor. Como falei antes, fiz aquilo para realizar um sonho de moleque, agora o próximo passo desse sonho é seguir meu próprio caminho.
Você tem trabalhado bastante como produtor musical em paralelo a sua carreira como o Tribuzy. Quais são as principais diferenças entre as duas atividades, e quais aspectos delas mais te atraem?
Na verdade eu sempre trabalhei como produtor, só que sempre fiz isso mais focado no meu próprio trabalho. Se você pegar o encarte do "Execution" vai ver lá a frase “produced by Renato Tribuzy”, o mesmo com o álbum ao vivo e o DVD.
Eu tive muita sorte em trabalhar com o Roy Z durante quase toda a minha carreira, nos tornamos grandes amigos e ele me ensinou muita coisa.
A diferença maior entre trabalhar com o Tribuzy e como produtor de outros grupos é sempre lembrar que estou construindo uma carreira ali. Com o Tribuzy já temos meio caminho andado, contratos no mundo todo e coisas assim. Com bandas novas, que confiam em você para produzir o álbum e guiá-los por esse caminho, é totalmente diferente. Uma das coisas mais importantes que um produtor deve ter é conhecimento do mercado musical internacional, pois só assim você vai conseguir levar a banda para o caminho certo, respeitando o estilo deles e lapidando de uma forma que será certo que eles vão conseguir contratos internacionais.
No momento acabei de fazer o primeiro álbum do Reckoning. O disco vai sair no ano que vem e está matador, mas posso citá-los como exemplo do que mencionei acima. Assim que nós acabamos de mixar o álbum eu entrei em contato com as minhas gravadoras no mundo todo e mandei umas três faixas por e-mail para eles. No dia seguinte já tínhamos várias propostas para o lançamento, que vai rolar em 2009. Isso sim é gratificante, ver que você conseguiu, junto com o grupo, montar uma nova carreira e dar ao mundo mais uma nova grande banda. Agora estou produzindo o segundo do Dreadnox, e está ficando fantástico também.
Como você avalia o espaço que a música pesada tem no Brasil, atualmente? Estamos vivendo uma realidade melhor ou pior que em tempos anteriores?
Melhor. Temos mais qualidade, mais músicos, mais público, mais revistas, mais gravadoras, mais websites ... Sem sombra de dúvidas está 100% melhor. Quando eu comecei praticamente não tínhamos nada aqui (risos).
Melhor. Temos mais qualidade, mais músicos, mais público, mais revistas, mais gravadoras, mais websites ... Sem sombra de dúvidas está 100% melhor. Quando eu comecei praticamente não tínhamos nada aqui (risos).
A sua relação com Kiko Loureiro é bem próxima e já vem de anos. Já que o Angra anda parado há tempos e não dá sinais de quando irá voltar à ativa, vocês dois não chegaram a conversar sobre a possibilidade de desenvolver algo relacionado ao heavy metal juntos?
Várias vezes (risos), mas ele agora está fazendo o novo álbum instrumental dele.
Várias vezes (risos), mas ele agora está fazendo o novo álbum instrumental dele.
Como você vê o Brasil no cenário mundial da música pesada? O que temos de bom, único, e em quais aspectos ainda precisamos aprender e evoluir?
Temos uma gana indescritível que outros países não tem, pois para fazermos metal no Brasil temos que amar o que fazemos, pois é muito difícil por se tratar de uma música que sofre um enorme preconceito por aqui.
Temos uma gana indescritível que outros países não tem, pois para fazermos metal no Brasil temos que amar o que fazemos, pois é muito difícil por se tratar de uma música que sofre um enorme preconceito por aqui.
Qual você acha que é a sua melhor qualidade, e o seu maior defeito, como músico?
Minha maior qualidade? Humm, acho que foi o que falei relacionado à produção. Eu não sou apenas um cantor, eu conheço muito bem o mercado internacional, então hoje posso fazer vários trabalhos dentro do meio musical e artístico que não me limitam só a cantar. Por exemplo: vários dos artistas, nacionais e internacionais, que lançam CDs no Brasil hoje, me procuram para negociar os álbuns deles com as gravadoras que eu conheço no mundo todo. Posso citar o Pyramaze (o novo álbum que vai sair aqui ainda), Rob Halford, Cage, Soulspell, entre muitos outros. Trabalho com produção, empresariamento e muitas outras coisas.
Minha maior qualidade? Humm, acho que foi o que falei relacionado à produção. Eu não sou apenas um cantor, eu conheço muito bem o mercado internacional, então hoje posso fazer vários trabalhos dentro do meio musical e artístico que não me limitam só a cantar. Por exemplo: vários dos artistas, nacionais e internacionais, que lançam CDs no Brasil hoje, me procuram para negociar os álbuns deles com as gravadoras que eu conheço no mundo todo. Posso citar o Pyramaze (o novo álbum que vai sair aqui ainda), Rob Halford, Cage, Soulspell, entre muitos outros. Trabalho com produção, empresariamento e muitas outras coisas.
Fui convidado para fazer a produção musical de uma peça de teatro que vai estrear ano que vem aqui no Rio, e já estou trabalhando nisso. Fui convidado meses atrás para ser empresário do grupo Hermes e Renato da MTV, e já estou trabalhando com eles também, e com muito gosto, pois sempre fui um grande fã dos caras. Então, o fato de não me limitar só a cantar acho que é minha maior qualidade. Não como músico, mas como artista em si.
Meu maior defeito? Putz, aí é foda, vão ser trezentas páginas (risos). Mas como músico acho que posso falar que é o fato de não respeitar meus limites. Eu sempre escrevo músicas que me levam ao extremo que minha voz agüenta, e não adianta, eu não consigo escrever diferente (risos). Acho que meu maior defeito como músico é não respeitar meus limites como cantor.
Qual é o seu maior ídolo na música?
Complicado. Eu gosto de muitos artistas, mas acredito que posso citar o Bruce e o Kiske como minhas maiores influências. Se fosse citar qual o meu maior ídolo, como na pergunta, eu deveria falar Bruce Kiske ou Michael Dickinson, para citar os dois (risos).
Complicado. Eu gosto de muitos artistas, mas acredito que posso citar o Bruce e o Kiske como minhas maiores influências. Se fosse citar qual o meu maior ídolo, como na pergunta, eu deveria falar Bruce Kiske ou Michael Dickinson, para citar os dois (risos).
Além de músico, você se considera também um colecionador de música?
Com certeza. Como trabalho 100% com arte, 24 horas por dia, eu tenho muitas coisas aqui, desde CDs de metal à trilha sonoras de filmes ou musicais.
Quantos discos você tem em casa?
Putz, você me pegou agora (risos). Sei lá, uns dois armários lotados, nunca contei. Fico devendo essa.
Com certeza. Como trabalho 100% com arte, 24 horas por dia, eu tenho muitas coisas aqui, desde CDs de metal à trilha sonoras de filmes ou musicais.
Quantos discos você tem em casa?
Putz, você me pegou agora (risos). Sei lá, uns dois armários lotados, nunca contei. Fico devendo essa.
Uma coisa que me agrada bastante em seus vocais, e que ficou escancarado tanto no CD quanto no DVD ao vivo, é quando você deixa um pouco de lado os timbres mais agudos e canta em tons mais agressivos. Acho que isso agrega ao tipo de som que você faz. Você pensa em gravar alguma coisa explorando esse aspecto de sua voz?
Eu encaro minhas linhas de canto de uma forma bem particular. Eu interpreto conforme a letra. Em "Absolution", por exemplo, eu uso essa região mais grave e rasgada da minha voz, pois meu personagem na canção pede isso. Ele é um cara mais obscuro, amargurado e prestes a morrer, então não tinha razão nenhuma para estar cantando contente (risos). Em "Forgotten Time" uso a região mais aguda a música toda, pois nessa canção o personagem trabalha em uma interpretação completamente diferente. Ele tirou do seu caminho todos aqueles que queriam prejudicá-lo, e estava entrando em uma nova fase da vida, cheio de esperança e confiança, por isso eu interpreto ele mais agudo e com notas mais prolongadas.
Eu encaro minhas linhas de canto de uma forma bem particular. Eu interpreto conforme a letra. Em "Absolution", por exemplo, eu uso essa região mais grave e rasgada da minha voz, pois meu personagem na canção pede isso. Ele é um cara mais obscuro, amargurado e prestes a morrer, então não tinha razão nenhuma para estar cantando contente (risos). Em "Forgotten Time" uso a região mais aguda a música toda, pois nessa canção o personagem trabalha em uma interpretação completamente diferente. Ele tirou do seu caminho todos aqueles que queriam prejudicá-lo, e estava entrando em uma nova fase da vida, cheio de esperança e confiança, por isso eu interpreto ele mais agudo e com notas mais prolongadas.
O álbum novo está caminhando para um lado mais dark, acredito que as letras serão mais darks também, então acabarei usando mais a região rasgada da voz, mas vamos ver.
Você começou como um simples fã de metal, trabalhou em lojas de discos, e hoje é um músico respeitado em todo o Brasil e até no mundo. O que você sente quando olha para trás e vê tudo o que já conquistou?
Um alívio danado por nunca ter desistido. Muitas pessoas falavam que não aconteceria, que tudo daria errado. Lutei contra tudo e todos e hoje estou fazendo o que amo. Acho que o "Execution" foi um álbum que, mais do que tudo, mostra que ninguém, além de você mesmo, sabe o que é bom para você, e ninguém além de você mesmo pode te convencer a desistir ou parar antes de atingir aquilo que você sempre sonhou.
Cara, muito obrigado pelo papo, esse espaço é seu.
Eu que agradeço, foi uma ótima entrevista. E agradeço também a todos que estão sempre conosco, apoiando e cobrando o novo álbum (risos). Ele está vindo e nos veremos em breve na estrada, durante a nova tour. Um abraço e tudo de bom.
Esse é o cara!
ResponderExcluirboa entrevista \m/is
Gostei Cadão.. O cara é bom... Você também...
ResponderExcluirAquela pergunta de maior qualidade e maior defeito como músico eu conheço de algum lugar....rsrsrsrs
Gostei da entrevista também.
ResponderExcluirE Jairo, o que é bom tem que ser copiado mesmo ... hehe ...
Pelas dicas que o Renato deu, fiquei com muita vontade de ouvir o novo disco.
Boa Renato Tribuzy!!!
ResponderExcluirEle é um orgulho para o Brasil !!
Boa entrevista ! Parabens !
Pedante, como sempre...
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