Por Ricardo Seelig
Colecionador
Uma das bandas mais cultuadas do rock, o Lynyrd Skynyrd tem uma história trágica. Dia 17 de outubro de 1977, apenas três dias após o lançamento do ótimo álbum "Street Survivors", que vinha na esteira do duplo ao vivo "One More From the Road", lançado no ano anterior e que consolidou o Skynyrd como um dos maiores nomes do rock norte-americano, o avião da banda caiu a caminho de um show na Universidade da Lousiana, matando o vocalista Ronnie Van Zant, o guitarrista Steve Gaines e a sua irmã, Cassie Gaines, que fazia backing vocals para o grupo, além do manager Dean Kilpatrick.
Lançado no dia 08 de agosto de 1996, quase dez anos após o acidente, "Free Bird: The Movie" é a trilha sonora do documentário homônimo, que conta a carreira do grupo intercalado com imagens de diversos shows (com destaque para a apresentação no Knebworth Festival de 1976, abrindo para os Rolling Stones, onde tocaram em um palco em forma de língua e roubaram o show).
Todo o áudio de Knebworth foi restaurado pelo produtor Tom Dowd, o mesmo do clássico "One More From the Road", enquanto que as versões de "What's Your Name" e "That Smell", gravadas no Convention Hall de Asbury Park, em Nova Jérsei, precisaram de overdubs de baixo, levando Leon Wilkinson a refazer as suas partes em estúdio.
Contraditoriamente, o vídeo continua inédito no Brasil (na época do seu lançamento, o VHS podia ser encomendado diretamente pelo site oficial da banda), enquanto que o CD ganhou versão nacional logo após o lançamento americano, em 96.
Falar de um show do Lynyrd Skynyrd, o maior nome do southern rock, com a banda no auge durante a turnê de um dos seus melhores álbuns, é covardia. O disco é um desfile de clássicos, e abre com "Workin' For MCA", seguida de "I Ain't the One" e de um dos destaques do play, "Saturday Night Special", onde podemos sentir na pele todo o poder do paredão de guitarras formado por Gary Rossington, Allen Collins e Steve Gaines (só para constar: quando o Iron Maiden anunciou o retorno de Bruce Dickinson e Adrian Smith ao grupo em 1999, Steve Harris declarou não lembrar de nenhuma banda que tivesse feito algo relevante com três guitarras, com exceção do Lynyrd Skynyrd. O velho 'Arry sabe das coisas ...).
Como uma máquina do tempo que nos leva de volta ao passado, "Whiskey Rock-A-Roller" e a matadora "Travelin' Man" (outro destaque em um show repleto de pontos altos) fazem você se sentir no meio da multidão.
"Travelin' Man", aliás, merece um parágrafo a parte. Uma das melhores canções do grupo, tem a sua raiz em uma linha de baixo matadora de Leon Wilkinson, com as guitarras entrando aos poucos e se interligando completamente, como se, ao invés de três guitarristas, o Lynyrd Skynyrd tivesse apenas um, com seis braços tocando dezoito cordas. De arrepiar.
As versões de "What's Your Name" e "That Smell" presentes aqui, apesar dos overdubs já citados, estão comprometidas pela qualidade do áudio, o que é uma pena, porque, além de ótimas composições, possuem um valor histórico muito grande, já que são um dos últimos registros ao vivo do grupo. Mas, mesmo assim, é um prazer incrível ouvir o solo inspiradíssimo de "That Smell", onde, mais uma vez, as guitarras de Rossington, Collins e Gaines formam uma parede sonora ao mesmo tempo poderosa e belíssima.
"Gimme Three Steps", a versão para "Call Me The Breeze" de J.J. Cale e "T For Texas (Blue Yodel No. 1)" abrem caminho para um encerramento sensacional, com os dois maiores clássicos do Skynyrd: "Sweet Home Alabama" e "Free Bird".
Marca registrada do grupo, "Sweet Home Alabama" foi gravada como uma resposta a "Southern Man" de Neil Young (do álbum "After the Gold Rush", de 1970), crítica feroz do artista canadense ao comportamento racista tradicional dos estados do sul dos Estados Unidos, pivô de diversos conflitos raciais e local de origem de associações como a Klu Klux Klan. Essa música encerra o registro do show do grupo em Knebworth.
Já "Free Bird" foi gravada em um estádio lotado durante o evento Day on the Green, no dia 03 de julho de 1977, alusivo à independência norte-americana, e traz uma emoção palpável. Quem assistiu o vídeo lembra do estado do público, que parecia estar em transe coletivo enquanto a banda executava a música. Esse clima também pode ser sentido no registro em CD, onde o grupo toca o seu maior hino de maneira perfeita, com destaque para o pequeno solo improvisado pelo pianista Billy Powell e, é claro, para a guitarra de Allen Collins, que durante mais de seis minutos toca alucinadamente, em um dos maiores solos da história do rock.
Fechando o disco temos uma versão de "Dixie", canção que é considerada quase um hino sulista, executada pelo artista Bruce Brown.
Quem quer entender o rock and roll e suas transformações em mais de cinqüenta anos de vida precisa conhecer certas bandas, certos álbuns e certas músicas. "Free Bird: The Movie" mostra um dos maiores grupos dos anos setenta no auge, com a sua melhor formação (Ronnie Van Zant no vocal, Gary Rossington, Allen Collins e Steve Gaines nas guitarras, Leon Wilkinson no baixo, Billy Powell no piano e Artymus Pyle na bateria), tocando em um de seus últimos shows. Precisa de mais algum motivo para ter este disco?
Acho que não.
Faixas:
1. Workin' for MCA - 4:55
2. I Ain't the One - 3:48
3. Saturday Night Special - 5:21
4. Whiskey Rock-A-Roller - 4:38
5. Travelin' Man - 4:19
6. Searching - 3:53
7. What's Your Name - 3:31
8. That Smell - 5:51
9. Gimme Three Steps - 4:48
10. Call Me the Breeze - 5:54
11. T for Texas (Blue Yodel No. 1) - 9:02
12. Sweet Home Alabama - 6:39
13. Free Bird - 11:41
14. Bruce Brown - Dixie - 1:07
1. Workin' for MCA - 4:55
2. I Ain't the One - 3:48
3. Saturday Night Special - 5:21
4. Whiskey Rock-A-Roller - 4:38
5. Travelin' Man - 4:19
6. Searching - 3:53
7. What's Your Name - 3:31
8. That Smell - 5:51
9. Gimme Three Steps - 4:48
10. Call Me the Breeze - 5:54
11. T for Texas (Blue Yodel No. 1) - 9:02
12. Sweet Home Alabama - 6:39
13. Free Bird - 11:41
14. Bruce Brown - Dixie - 1:07
Comentários
Postar um comentário
Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.