AC/DC: Levando o termo "espetáculo" às últimas conseqüências


Por Vitor Bemvindo
Colecionador e Historiador

Crédito das fotos: Divulgação T4F (MRossi)
 
As mais de 70.000 pessoas que estiveram no estádio do Morumbi, no último dia 27, certamente estavam preparadas para um grande espetáculo de rock and roll. Desde os anos 1970 o AC/DC tornou-se conhecido pelos grandiosos shows e apresentações repletas de recursos pirotécnicos e performances impactantes. O que foi presenciado em São Paulo, na última sexta, foi um pouco mais do modo AC/DC de fazer rock.
 
Logo ao entrar no estádio, os presentes se surpreendiam com a enorme estrutura montada. Um palco de uma altura descomunal, com dois bonés gigantes infláveis com chifrinhos demoníacos que piscaram durante todo o show. Boa parte da platéia adotou a moda dos chifrinhos piscantes, que certamente renderam um bom dinheiro aos vendedores ambulantes que cercaram as imediações do estádio. Os milhares de chifres compuseram o espetáculo, com um mar de luzes vermelhas.


Além do palco, a estrutura ainda contava com três telões de alta definição (um central e dois laterais). O espetáculo foi introduzido por uma interessantíssima animação que fazia alusão à canção que abriu o show, "Rock and Roll Train", do mais recente trabalho (Black Ice, de 2008). Antes do poderoso riff da faixa atordoar os ouvidos de todos que ali estavam, o telão central se dividiu em dois para adentrar ao palco uma enorme locomotiva com chifres. O público foi à loucura com a música e com os efeitos. O espetáculo começava!
 
Brian Johnson saudou o público e convidou a todos a mergulhar naquele espetáculo, dizendo que não sabia falar a língua local, mas que falava o idioma do rock. Veio então um clássico, "Hell Ain't a Bad Place to Be", seguida da faixa-título do álbum mais bem-sucedido comercialmente do AC/DC,
Back in Black. Mais uma vez o Morumbi veio abaixo.


O clima se acalmou um pouco com a nova "Big Jack" que, apesar de ser empolgante, não é tão conhecida como os grandes clássicos. A empolgação voltou ao nível de antes, quando Johnson anunciou "Dirty Deeds Done Cheap" e logo depois trouxeram a tradicional "Shot Down in Flames" (de Highway to Hell, 1979).
 
Depois de duas faixas da era Bon Scott veio uma faixa do início da retomada da popularidade da banda, do começo dos anos 90: "Thunderstruck". Os versos da canção, popularizada no Brasil graças à exibição excessiva do clip na MTV, pareciam estar guardados na memória de todos os presentes, que os cantaram com entusiasmo.
 
A faixa-título do trabalho mais recente,
Black Ice, foi muito bem recebida, mas a galera curtiu mesmo o tradicional blues "The Jack". Durante a execução da faixa, apareceram no telão várias meninas da platéia. A questão que não quer calar é: qual delas tinha o valete?
 
O blues foi encerrado com o tradicional striptease do impagável Angus Young. Felizmente, diferente do que acontecia durante muitos anos, Angus desistiu de mostrar seu magrelo traseiro, mostrando apenas um cuecão com o clássico logotipo do grupo.


A presença de palco de Angus Young é um capítulo a parte. Ele realmente parece estar possuído pelo demônio que tanto evoca com os dedos em riste. A tradicional dancinha inspirada no duck walk de Chuck Berry foi realizada poucas vezes. Mas poucos sentiram falta do psyduck, já que o repertório de performances de Angus foi apresentado de forma completa.
 
Quando o strip terminou, ninguém esperava que algo mais espetacular pudesse acontecer, até que de repente o tradicional sino começou a descer do alto do palco, para que Brian Johnson empreendesse uma desajeitada corrida e se pendurasse na corda que estava presa ao badalo do sino. As badaladas de "Hells Bells", mais uma vez, fizeram o público ir ao delírio. Em seguida veio mais uma faixa de
Back in Black, "Shoot to Thrill".
 
Em "War Machine", mais uma excelente animação foi exibida nos telões. Nela os integrantes da banda pilotam aviões e tanques de guerra que disparam guitarras e muito rock and roll. Sem dúvida a exibição fez com que a nova canção fosse melhor recebida.


A partir daí só vieram clássicos! Em "You Shock Me All Night Long" parecia que o Morumbi iria vir abaixo. Não satisfeitos em deixar todos alucinados, eles resolveram tocar a empolgante "T.N.T." e, dessa vez, parecia que o estádio seria implodido por toda aquela dinamite.
 
Logo Brian Johnson começou a contar a história da grande e quente Rosie. A tradicional boneca inflável tamanho família dessa vez veio sentada no trem do rock and roll. Todos estavam tão empolgados com "Whole Lotta Rosie" que provavelmente não repararam na rapidez em que a boneca foi inflada e desinflada. Fora isso, são impressionantes os detalhes da boneca: além dela ser gorda, tem uma meia rasgada, várias tatuagens e uma nota de dólar presa na roupa.
 
Quando veio "Let There Be Rock", quem achou que o endiabrado Angus Young estava cansado se enganou redondamente. O garoto de 54 anos começou a performance mais empolgante do show, isso depois de mais de uma hora e meia de apresentação. O vigor de Angus foi acompanhado por mais uma animação incrível, exibida no telão central, que voltou a ser unido após o trem ter sido recolhido. Nessa animação, a plateia teve a oportunidade de viajar pelas capas dos álbuns do AC/DC, que ganharam vida.


O possuído Angus caminhou pela ponte que levava ao palco auxiliar, onde uma plataforma o elevou como um grande ídolo, que foi reverenciado por todos os presentes. No alto, o pequeno grande guitarrista parecia um louco, se jogando no piso da plataforma se debatendo e tocando como um alucinado. Após voltar ao palco principal, o guitarrista fez um solo admirado por todos.
 
A banda se retirou por alguns instantes, até voltar para executar mais dois clássicos. Primeiro, "Highway to Hell" e, depois, "For Those About to Rock (We Salute You)". Na última canção vieram os tradicionais canhões, que não foram tão pirotécnicos como de costume, pois foram acompanhados de canhões animados exibidos nos telões.
 
Para fechar a noite, uma grande queima de fogos!


Sem dúvida o show do AC/DC no Morumbi foi o grande espetáculo internacional do ano no Brasil, superando superproduções como as do Iron Maiden e do Kiss. Espetáculo em todos os aspectos: superprodução, pirotecnia, telões de alta definição e o principal: rock and roll de altíssima qualidade.
 
A banda se mostrou incrivelmente em forma, inclusive na voz de Brian Johnson, que foi criticada durante a turnê. É bom lembrar que o grupo chegou a cancelar alguns shows por contas de problemas nas cordas vocais do vocalista. Mas isso não comprometeu em nada o show, pelo contrário, Johnson esteve muito bem.


O carregador de piano da banda, o guitarrista base Malcolm Young, esteve impecável como sempre, mostrando-se um dos maiores especialistas no assunto. A sempre competente cozinha do grupo não decepcionou; Cliff Williams e Phill Rudd são parte da alma do AC/DC.
 
Angus Young ... Bem, Angus é Angus!
 
Se algo pode ser criticado é o excesso de profissionalismo da banda. O show é milimetricamente ensaiado, sem espaço para improvisações e mudanças no roteiro. O set list foi praticamente o mesmo durante toda a turnê, variando apenas na inclusão, em alguns shows, da nova "Anything Goes".
 
Mas reclamar disso é não saber aproveitar uma perfeita noite de rock!


Comentários

  1. Eu ainda tenho esperança deles voltarem, mais uma vez ao Brasil....Ticketmaster FDP !!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.