Rigotto´s Room: Os registros ao vivo dos Rolling Stones


Por Maurício Rigotto
Escritor e Colecionador
Collector´s Room

Hoje vou discorrer acerca dos registros ao vivo da maior e mais longeva banda de rock do mundo, os Rolling Stones, através de mais de quatro décadas que separam o lançamento de seu primeiro álbum ao vivo, em 1966, e o mais recente, lançado em 2008.


Os Rolling Stones iniciaram as suas atividades em 1962, e após alguns compactos lançados no ano seguinte lançaram o seu primeiro álbum de estúdio em 1964. Após uma produção desenfreada de vários álbuns e singles em um espaço relativamente curto de tempo, em 1966 a banda largou o seu primeiro disco ao vivo, intitulado
Got Life If You Want It, um registro da turnê de divulgação do álbum Aftermath.

Os shows de rock nessa época costumavam durar de vinte a sessenta minutos no máximo, e os grupos mais populares - leia-se Beatles e Rolling Stones – costumavam tocar sem conseguirem se ouvir, devido à gritaria histérica das fãs, que abafavam qualquer equipamento de retorno existente na época. A qualidade de Got Life If You Want It é naturalmente precária para os padrões atuais, mas já mostra o poder ao vivo da banda em seus mais recentes sucessos “Under My Thumb” e “Lady Jane”, e seus grandes hits até então, “The Last Time”, “19th Nervous Breakdown” e “(I Can’t Get No) Satisfaction”. Acabou sendo o único disco ao vivo com o guitarrista Brian Jones (não considerando o Rock and Roll Circus), que morreria em 1969.


Em 1970 é lançado o segundo disco ao vivo dos Stones, com o estranho nome Get Yer Ya-Ya’s Out!, já com o novo guitarrista Mick Taylor. O álbum é até hoje considerado um dos melhores discos ao vivo já gravados por uma banda de rock, e registra a turnê norte-americana de 1969, contando com várias canções dos ótimos álbuns Beggars Banquet (1968) e Let It Bleed (1969), singles de sucesso como “Jumpin’ Jack Flash” e “Honky Tonk Women”, e duas covers de Chuck Berry. No mesmo ano sai o documentário Gimme Shelter, onde a banda é capturada ao vivo no Madison Square Garden em Nova Yotk e no fatídico concerto de Altamont, onde um expectador é assassinado por um integrante da gangue de motoqueiros Hell’s Angels, contratada para a segurança do evento.


Nos dois próximos anos, os Rolling Stones lançam os discos que hoje são considerados o ápice de sua vasta discografia - os álbuns
Sticky Fingers (1971) e Exile On Main St (1972) -, e fazem as maiores turnês até então já vistas por um grupo de rock. Considerando o álbum Get Yer Ya-Ya´s Out!, ainda recente, optam em não colocar no mercado um disco ao vivo dessas turnês, lançando apenas o vídeo Ladies and Gentlemen: The Rolling Stones, que registra a turnê de 1972. Trata-se de uma aula de rock and roll, e certamente seria o seu melhor álbum ao vivo se tivesse sido lançado. A melhor opção, além do obrigatório vídeo, é o bootleg Unreleased Decca Live Album 1972, um ótimo disco pirata dessa turnê, embora a qualidade de áudio deixe a desejar.


No ano seguinte, optam novamente em não lançar nenhum disco ao vivo da turnê do álbum
Goat’s Head Soup. Aos caçadores de bootlegs, corram atrás do álbum Brussels Affair 1973, que em minha opinião é o melhor disco ao vivo, independente de ter sido lançado ou não, de toda a carreira dos Stones. Um brilhante registro da fase em que Mick Taylor fez parte da banda.


O próximo álbum ao vivo das Pedras Rolantes somente veio à tona em 1977. Trata-se de um disco duplo que registra os shows realizados em Paris e Toronto no ano anterior, durante a turnê do álbum
Black and Blue. O álbum tem altos e baixos e seu saldo acaba sendo decepcionante. Keith Richards estava afundado em seu vício em heroína, e tanto as performances quanto o repertório não empolgam. A exceção que destoa do restante do álbum é o maravilhoso lado três do disco, gravado na boate El Mocambo em Toronto, diante de uma plateia de apenas 300 pessoas. A banda interpreta “Mannish Boy” (Muddy Waters), “Crackin’ Up” (Bo Diddley), “Little Red Rooster” (Howlin’ Wolf) e “Around and Around” (Chuck Berry). Destaque para a capa, feita pelo papa da pop art, Andy Warhol.


Em 1982 é lançado
Still Life, com dez músicas extraídas da turnê americana realizada no ano anterior, a primeira somente com shows em grandes estádios. O disco é apenas um reles aperitivo ao ótimo filme Let’s Spend the Night Together, um grande documentário da excursão do grupo.


Somente em 1991 os Rolling Stones voltariam a lançar um disco ao vivo, o fraco Flashpoint, registrando a turnê Steel Wheels/Urban Jungle. Há muito o disco ao vivo deixara de ser um registro da performance de uma banda em um palco para se transformar em um souvenir de turnê, onde o fã vai ao show e depois compra o disco como recordação, como se fosse um chaveiro ou uma bandana. Prefira o DVD Live at the Max como registro dessa turnê.


Em 1995 os Stones optaram em lançar somente um DVD ao vivo da
Voodoo Lounge Tour, em detrimento ao disco. Ainda nesse ano, é lançado o CD e DVD The Rolling Stones Rock and Roll Circus, um especial gravado em um picadeiro de circo em 1968 com convidados como Jethro Tull, The Who, Taj Mahal, John Lennon e Eric Clapton. O especial ficou quase trinta anos engavetado, devido aos Stones não terem gostado do resultado de sua performance, provavelmente por a banda já demonstrar certa fadiga, ao se apresentarem tarde da madrugada após um dia inteiro de gravações.

O vídeo mostra a apresentação única do Dirty Mac, banda formada especialmente para o evento com John Lennon e Eric Clapton nas guitarras, Keith Richards no baixo e Mitch Mitchell (Jimi Hendrix Experience) na bateria. É também a última aparição de Brian Jones ao lado dos Rolling Stones.


Lançaram no ano seguinte o ao vivo
Stripped, com sets quase acústicos de performances em teatros de Paris e Amsterdam, em uma pequena escapada que fizeram dos grandes estádios durante a parte européia da turnê Voodoo Lounge, para matar a saudade do tempo em que tocavam em pequenos clubes, cara a cara com a plateia. Stripped é um disco bem bacana, e traz pela primeira vez a surpreendente cover da música “Like a Rolling Stone”, de Bob Dylan.


A turnê seguinte, do disco,
Bridges to Babylon (1997-98), rendeu mais um DVD ao vivo e o álbum No Security, sabiamente composto por músicas novas e outras não tão conhecidas, pois nem os mais ardorosos fãs aguentariam mais um ao vivo com “Start Me Up”, “Brown Sugar”, “Jumpin’ Jack Flash” e “Satisfaction”. Mesmo assim, é apenas mais um souvenir de turnê, que nada acrescenta à discografia do grupo.


O novo milênio trouxe novas grandes excursões mundiais dos Rolling Stones, e os registros agora são megalômanos, à altura da grandeza da banda e do fanatismo de seus seguidores. Nesses novos tempos, um disco ou um DVD não são mais suficientes para documentar uma turnê, e em 2003 o box set
Four Flicks, com quatro DVDs, é lançado, trazendo três shows na íntegra e um documentário sobre a excursão. A banda está novamente com todo o gás e não demonstra o menor peso da idade. Os shows são no Madison Square Garden em Nova York, no Twickenham Stadium em Londres (55.000 pessoas) e no Olympia Theatre em Paris, para apenas 3.000 pessoas. Imperdível! Também é lançado um CD duplo, Live Licks, que passou praticamente despercebido, ofuscado pela caixa de DVDs.


Em 2007, a megalomania é repetida com o lançamento de mais uma caixa com quatro DVDs, que documentam a turnê do disco
A Bigger Bang. O box set, intitulado The Biggest Bang, traz no primeiro DVD o show do grupo em Zilker Park, em Austin, no Texas; no segundo, o gigantesco espetáculo gratuito que a banda fez na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para um público estimado em um milhão e duzentas mil pessoas (o maior de toda a extensa carreira do grupo); e no terceiro, chamado de Rest of the World, um apanhado de apresentações no Japão, China e Argentina, tudo sempre recheado de muitos extras que deleitam o fã/expectador. O quarto DVD é um documentário da turnê, com depoimentos de todos os integrantes.

Ainda tem de bônus o grupo tocando “Get Up, Stand Up” (Bob Marley) e “Mr Pitiful” (Otis Redding). A caixa mostra que os Rolling Stones não são apenas uma grande banda de rock and roll, mas também são brilhantes ao tocar blues, soul, reggae, country e outros gêneros.


Não bastasse tudo isso, no ano seguinte o consagrado diretor de cinema Martin Scorcese resolveu filmar duas apresentações da banda no Beacon Theatre em New York City, com convidados como Buddy Guy e Jack White, rendendo o sensacional
Shine a Light. Os shows tiveram como apresentador o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, e sua renda foi revertida para a Clinton Foundation, uma fundação beneficente criada pelo político democrata. Além do DVD, é lançado um CD duplo como trilha do filme, outro grande registro ao vivo da maior banda de rock do mundo.

Comentários

  1. Parabéns pela ideia e pelo texto, Maurício. Agora, quero ver uma similar sobre os Beatles. Topa?

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  2. Obrigado Ricardo! Claro que topo, vou pensar em algo.

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  3. Será que sou o único que gosta do Flashpoint?

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  4. Não Mairon! Mesmo achando fraco, eu adoro o Flashpoint. Destaque para a versão de Paint It Black e o solo de guitarra de Eric Clapton em Little Red Rooster. Até os discos "fracos" dos Rolling Stones são ótimos!

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  5. O Love You Live tb acho muito bom. Ainda bem que não sou o unico a gostar do Flashpoint, hehe

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  6. "You Gotta to Move" do Love You Live é uma pérola ...

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  7. Falando no Love You Live, já viram o video do show? Rolling Stones Les Aux Abattoirs Paris 1976. As danças de Mick Jagger com Billy Preston são hilárias!

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