Por Fernando Bueno
Colecionador
Collector´s Room
Quantas vezes você leu em uma resenha de um novo grupo alguém dizer que este era uma mistura de duas ou três bandas? Lembro-me de ter lido algo do tipo quando alguém descreveu-me o som do Dream Theater, no início da década de 90, como uma mistura de Yes, Metallica e Rush (NA: nos comentários deixe outros exemplos). Bem, o Beatallica é o maior exemplo dessa mistura de bandas.
Pegue a maior banda inglesa de todos os tempos e junte com a maior banda de metal dos Estados Unidos. The Beatles e Metallica. Pronto, você tem o Beatallica. A banda lançou em 2001 seu primeiro registro, um EP chamado A Garage Days Nite. Que combina, como vocês mesmo já deduziram, o EP, Garage Days Revisited, do Metallica e o disco A Hard Days Night da banda britânica.
Possivelmente o início da banda foi um tipo de brincadeira feita para uma apresentação em um evento anual de Milwaukee. Dessa apresentação foi gravado o EP citado acima com apenas algumas cópias sendo lançadas e entregue para amigos e conhecidos. Uma dessas cópias parou na mão de alguém que criou um site disponibilizando em MP3 as sete músicas do EP. O interessante é que nem mesmo a banda sabia desse site e também não sabia que a banda já tinha até um número considerável de fãs.
Primeiro CD: Sgt Hetfields´s Motorbreath Pub Band (2007)
Músicas como “Sgt Hetfield’s Motorbreath Pub Band” e “And Justice for All My Loving” são ótimos exemplo do que a banda fazia musicalmente, que era basicamente tocar as músicas dos Beatles como se fosse a banda liderada por James Hetfield. Os efeitos e timbres dos instrumentos, e principalmente a voz de Jaymz Lennfield (John Lennon + James Hetfield), são muito parecidas com os do Metallica. Era tão parecida que, como ninguém sabia quem era a banda no início, começaram a achar que era o próprio Metallica que estava fazendo aquelas músicas.
Algum tempo depois da descoberta do site e da base de fãs a banda lançou um novo EP e começou a fazer alguns shows. O que acontece quando você mistura tintas branca e preta? A mistura se torna cinza, Então o que aconteceria se você juntasse o álbum The Beatles (Álbum Branco) com o álbum Metallica (Black Álbum)? Você teria o Beatallica, que começou automaticamente a ser chamado de The Gray Álbum, ou O Album Cinza. Com música como "Blackend the USSR" e "Leper Madonna".
Porém o sucesso trás notoriedade e isso também trás aborrecimentos. Para não ter problemas com questões legais as músicas até então eram distribuídas de graça por meio de download e o nome dos membros eram mantidos em sigilo. Mas a venda de merchandising do site começou a atrair denuncias de quebra de direitos autorais. A saída foi fazer um pedido para legalizar a banda. Inclusive quem os ajudou foi Lars Ulrich que ofereceu apoio jurídico. O resultado disso foi que em 2007 foi lançado o CD Sgt Hetfield’s Motorbreath Pub Band que continha as músicas dos dois primeiros EPs. Assim a banda continuou lançando singles, maxi-singles até o seu segundo CD chamado Masterful Mistery Tour em 2009.
Segundo CD: Materful Mystery Tour (2009)
Além de Jaymz Lennfield a banda também tinha Grg Hammetson, Kliff McBurtney e Ringo Larz. Depois da legalização da banda soube-se os nomes reais dos músico que são, na ordem, Michael "Tinker" Tierney, Jeff Hamilton, Paul Terrien e Ryan Charles. Porém se você for atrás dos discos pode encontrar outro nome, Joey Nicol, descrito como músico convidado que é nada mais nada menos que Mike Portnoy, o monstro baterista do Dream Theater.
Beatallica encontra Metallica em 2009
Claro que temos que encarar a banda como algo inusitado, engraçado e divertido. Nem mesmo os músicos se levam a sério. O que mais torna essa banda legal é a sua criatividade. Alguém pode dizer que a banda não criou nada então não pode ser chamada de criativa, mas só de ter essa sacada e fazer disso algo agradável já lhes confere muitos créditos. Outro ponto que tenho que citar é que podemos ver como o rock and roll, mesmo com seus inúmeros estilos que podem soar tão diferentes para as pessoas, na verdade tem uma só raiz. A diferença entre os estilos é somente o modo de tocar, o peso e a utilização de todos os elementos. O Beatallica não vai ser sua banda preferida, mas é um ótimo tipo de música para entreter seus amigos em churrascos quando sempre existe brigas sobre o que vai rolar no som.
Ótima matéria, Fernando!
ResponderExcluirPrezado Fernando, sem demérito nenhum à sua matéria ou a banda (que eu nem conheço), esse é um tipo de notícia que acaba até me entristecendo. Triste pelo fato de que uma banda fazendo uma coisa na base da zueira, do escracho, da brincadeira, consegue ter mais notoriedade do que zilhões de bandas e músicos cheios de talento e criatividade que primam por um trabalho sério e conseguem, no máximo, alguns pouquíssimos admiradores locais. É o paradigma da nossa sociedade: As pessoas ganham mais fama zuando por cima de algo já criado, do que criando algo novo, vide os famigerados web-hits e essa montanha imensa de entulho fonográfico que existe no Youtube. Falo isso pq sou músico, luto pra poder criar e expressar minha música e creio que bastante gente, parando pra pensar, há de concordar comigo.
ResponderExcluirAbraço!
Ronaldo
Ronaldo
ResponderExcluirEntendo o que vc disse e concordo em muitos casos. Porém, como disse no texto, temos que admirar a criatividade nesse caso. Quanto lixo aparece que com o tempo é esquecido? Muitos são até engraçados, mas são esquecidos pouco tempo depois. Lembra do Mamonas? Eles pegavam diversas partes de musicas e outras bandas e faziam algo muito legal. Se eles não tivessesm morrido será que onseguiriam se manter? Não sabemos, mas temos que admitir que era algo muito legal. Nesse caso do Beatallica eles conseguiram fãs que estão no meio dos fãs de rock e metal, ou seja, o tipo de fã que não se move pela moda, então eles não estão roubando público de ninguem. E conseguir isso é muito difícil.
Mas, como disse no começo, entendo muito bem o que vc quis dizer.
Baixei aqui o Gray Album e ouvi antentamente. A primeira impressão que tive é de q parecia o Metallica tocando mesmo, inclusive pela inclusão dos "fuck" no meio das letras. É criativo, sim é, mas não achei nada de exuberante no som deles. quanto aos Mamonas, acho daquelas bandas injustiçadas. Tirando o Julio (tecladista), todos tinham um talento nato para a música. Bento Hinoto era um baita guitarrista. Os riffs dele eram muito bons, e a inspiração no Eddie Van Halen faziam dele uma cópia japonesa do guitarrista holandes. A cozinha dos irmãos tb era muito boa, e o Dinho, mesmo sendo mais aclamado por sua "beleza Morrisoniana" e pelas suas fantasias adoidadas, tinha uma capacidade de cantar dezenas de palavras em poucos segundos fora do comum, e pior, sem enrolar. Há horas que quero fazer um Bau do Mairon com o grupo, mas não sei como o público da Collectors iria receber a matéria, e tão pouco se deveria colocar as famosas "fotos da tragédia" na matéria.
ResponderExcluirNão gosto de Mamonas, nunca gostei.
ResponderExcluirE você pode fazer a matéria sobre eles sim, Mairon - mas, por favor, sem as fotos da tragédia.
Abraço.
Blz Cadão, concordo contigo que sem as fotos da tragédia é muito melhor. Mas sera que cabe uma matéria de uma banda que é tão diferente do que o pessoal do blog curte? Honestamente, fico com um pé atrás.
ResponderExcluirMairon, se a gente fosse fazer só matérias com o que o pessoal do blog gosta, só falaríamos de heavy metal a maior parte do tempo, certo?
ResponderExcluirEu, pessoalmente, não gosto do Mamonas, mas não vejo nada contra você fazer a matéria - assim como não gosto de Los Hermanos, banda que você já escreveu a respeito.
É o mesmo caso em relação ao Beatallica. Acho no máximo curioso, e o som me soa repetitivo, mas é interessante ter uma matéria sobre a banda aqui, sacou?
Abraço.
Blz Cadão, valeu mesmo. Lembrando que comecei o podcast com um som do Mamonas ao fundo. Vou pensar sobre o que escrever e em breve faço a matéria. Valeu mesmo e um abraço!
ResponderExcluirSó o Mairon para defender os Mamonas por aqui... mesmo assim, que bom que temos pessoas com gostos tão díspares e que respeitam mutuamente no blog...
ResponderExcluirSerá que alguém percebeu que a abertura do podcast do Mairon foi "Débil Metal" dos Mamonas? Duvido...
Bota a matéria no ar, tchê. Mas sem "fotos trágicas"... essas coisas eu já vejo no jornal nacional...
Concordo com o Cadão, também nunca gostei dos Mamonas, mas acho que você deve fazer a matéria sim, sem nenhum pé atrás, para dar mais diversidade. Quanto a sua preocupação da banda ser "tão diferente do que o pessoal do blog curte", você mesmo é um exemplo de uma pessoa daqui que gosta, creio que muitos outros também gostem.
ResponderExcluirConcordando novamente com o Cadão, "se a gente fosse fazer só matérias com o que o pessoal do blog gosta, só falaríamos de heavy metal a maior parte do tempo".
Como vocês sabem, não sou um fã de metal como a maioria de vocês, embora aprecie algumas coisas. Tenho o maior respeito pelo gênero e pelos seus fãs, mas meu gosto pessoal tende mais para o Rock'n'Roll mesmo. Por isso penso que minhas matérias não devem atrair a grande maioria dos frequentadores do blog, já que nunca escrevi sobre o Iron Maiden, Metallica e outros, mas acho que está sendo válido trazer algo "diferente", só vem a enriquecer o conteúdo do blog.
Espero ler a sua matéria sobre os Mamonas. Quanto a usar as fotos da tragédia, acho que seria de mau gosto, desnecessário.
É por aí, Maurício. A proposta do blog é falar de música de qualidade, seja ela de que estilo for. Suas matérias são excelentes, e dão profundidade ao blog. O mesmo acontece comigo, quando encasqueto de escrever sobre jazz, por exemplo.
ResponderExcluirAcho que o balanço que fazemos aqui torna o nosso site algo único, focado apenas na boa música, independente de estilos.
Concordo com vc Rigotto, e acho suas matérias excelentes. Certamente, não vou colocar as fotos da tragédia. Apenas fiquei em duvida pq varios amigos que gostam do grupo como eu e acompanham o blog comentavam que as fotos teriam que estar presentes, apesar de discordar. Certamente, se sair a materia nao havera as tais fotos. O ponto principal é essa ultima frase do Cadão: seria Mamonas boa música?
ResponderExcluirObrigado pelas palavras elogiosas.
ResponderExcluirNão existe como definir se é boa música ou não, por não ser uma ciência exata. Creio que o critério que você deve usar como parâmetro é o seu gosto mesmo. Se você gosta deles, é boa música para você, então não tem porque não escrever a matéria.
Há alguns dias, você fez uma matéria sobre o 'Construção' do Chico Buarque (um dos meus discos preferidos), que ao menos teoricamente não tem nada a ver com rock ou metal (ao contrário dos Mamonas, que gostando ou não, é rock).
Realmente, só existem dois tipos de música: a boa e a ruim. Sou um roqueiro fanático e embora rock seja o gênero que eu mais ouço, não vou ser um xiita bitolado e me privar de ouvir jazz, mpb, Chico Buarque, Astor Piazzola, Luiz Gonzaga e outros artistas geniais, só porque não tocam rock.
Quanto maior a diversidade, maior é o nosso universo!
E a matéria sobre "Construção" foi muito bem aceita, então não tem como se guiar matematicamente. Enfim, se você curte, escreve e pronto.
ResponderExcluirAbraço.
Vocês lembram de algum outro exemplo do que disse no começo da matéria? Das bandas que podem ser definidas como a mistura de outras...
ResponderExcluirFernando, a primeira vez que ouvi Iced Earth defini a banda, na minha cabeça, como uma mistura de Iron Maiden com Metallica, e continuo achando isso.
ResponderExcluirOutro grupo que pode ser definido como uma mistura do Maiden com o Metallica é o Trivium.
A diferença é que o Metallica do Iced Earth é o do Black Album, e o do Trivium é o dos anos oitenta, principalmente do Ride the Lightning.
Ok Fernando, perfeitamente. Muito bom seu comentário, esse tipo de abordagem de som acaba sendo meio "descartável" mesmo e os Mamonas Assassinas, só não são um exemplo claro disso pq morreram de forma trágica ainda no auge, o que gerou uma imensa comoção nacional, que perdura. Não diria que isso "rouba" público, mas rouba a atenção do público, em determinados momentos e circustâncias que são/seriam cruciais. Um exemplo que me recordo foi um relato de um amigo que acompanhou na Rede Minas, a cobertura de um festival de metal e segundo a reportagem frisava, mesmo dentre entre grandes bandas como o Angra, a que mais levantou o público foi o Massacration. Cara! Sabe se lá se tinha alguma banda que fez um grande show lá e poderia estar se consolidando com uma boa exposição na mídia (inclusive televisa) acabar sendo ofuscada por uma banda de humor! realmente, acho extremamente controvertido isso e sendo músico, a questão me incomoda por demais. Não que eu seja contrário a um som que tb carregue descontração, mas escracho e avacalhação são outras coisas, que nem sei se é o caso do Beatallica. Digo isso por experiência própria de um festival onde toquei, com bandas excelentes e ver a galera ovacionando um grupo vestido literalmente de palhaços tocando mediocrimente e pulando sem parar no palco, enquanto bandas maravilhosas com um trampo sério, mandando ver na sonzeira, ficaram margeadas pela galera. É muito esquisito isso no meu entender. Não que eu ache que as pessoas precisam ser sérias e centradas o tempo todo, mas é preciso saber distinguir o joio do trigo.
ResponderExcluirAbraços!
Ronaldo
Ronaldo, entendo o seu comentário, mas há uma diferença crucial entre o Massacration e o Beatallica: enquanto a primeira faz escracho com os clichês do estilo, a segunda homenageia duas bandas distintas, unindo suas características em uma "nova" música, digamos assim.
ResponderExcluirE eu acho o Massacration uma piada sem graça e pra lá de chata ...
Taí uma banda que não conheço praticamente nada: Iced Earth.
ResponderExcluirRonaldo
O caso do Massacration é cruel mesmo. Eles chegaram a ser headliners em alguns shows. Se continuassem a ser um grupo que aparecesse só na televisão não me importaria. O que não acho legal é eles sairem em turnê como se fosse uma banda séria. Igual o Spinal Tap...
Fernando, recomendo o The Dark Saga e o Something Wicked This Way Comes, que são dois ótimos discos, pra você conhecer o Iced Earth.
ResponderExcluirÉ Ricardo, talvez meu exemplo não tenha sido muito feliz na comparação, mas acho que vc sacou a essência do que eu tô falando, assim como o Fernando.
ResponderExcluirSobre o lance das misturas, eu vi um trecho de uma crítica muito depreciativa na estréia do Rush, o jornalista escreveu - "A voz de Geddy Lee parece uma mistura de Robert Plant com Pato Donald" kkkkkkk
Ronaldo
Mas o pior é que parecia mesmo, Ronaldo ... hehehe ...
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