Rock Raro: Le Stelle di Mario Schifano – Dedicato a … (1967)


Por Wagner Xavier
Colecionador
Scream & Yell


Separei para hoje uma daquelas raridades que nos surpreendem mesmo no mundo atual, tamanha sua originalidade, criatividade e modernidade.

Para conhecê-la, viajaremos até a Itália dos anos sessenta, mais especificamente 1967. Enquanto o multímídia Andy Warhol criava o maravilhoso Velvet Underground, cujas melodias e harmonias tornaram-se pérolas músicais até os dias de hoje (mesmo que não tenham tido o merecedido sucesso em sua época), o pintor e escultor italiano Mario Schifano projetou sua ideias artísticas com o nascimento da banda Le Stelle di Mario Schifano (“as estrelas de Mario Schifano”).


A banda era formada por quatro músicos totalmente desconhecidos, que traduziam em seu som as ideias de seu criador. Nello Marini (teclado), Urbano Orlandi (guitarra), Giandomenico Crescentini (baixo) e Sergio Cerra (bateria) começaram suas atividades musicais em pequenos clubes de Roma, como o famoso Piper Club, e depois se mudaram para Turim. onde gravaram seu primeiro e único álbum. Apesar da formação básica, a banda contou durante a gravação com a cantora Francesca Camerana, além de outros músicos, responsáveis pelas flautas, cítara e percussão.


Com o título de
Dedicato a ..., o disco é totalmente psicodélico, mas extremamente diferente de grupos como Love, Doors, Jefferson Airplane e outras grandes bandas da época. O lado A do vinil contém apenas uma faixa, a simplesmente caótica "Le Ultime Parole Di Brandimarte". Montada com colagens totalmente improvisadas, solos de guitarras e barulhos surrealistas mesmo para os dias de hoje, completa todo o primeiro lado .

Já o segundo é mais normal e contém cinco faixas que mostram a grande habilidade dos músicos. Abre com "Molto Alto", canção de uma bela textura e grande densidade. Em seguida, "Susan Song" surge com uma sonoridade bem mais pop, incluindo um arranjo delicioso de teclado e flauta. Cantada em italiano, é de uma beleza sem igual, beirando a perfeição do mais competente pop da época. A terceira faixa, "E Dopo", é a mais comum do disco - sem deixar de ser bem legal também.

"Intervallo" é a mais psicodélica deste lado. A bateria bastante barulhenta e o eco com muitas vozes ao fundo transformam a canção, deixando-a caótica ao extremo. Finalizando o disco, "Molto Lontano (A Colori)", que segue o ritmo das anteriores, com vocal pouco inteligível, flautas e uma guitarra de extrema beleza. Um sonzão!

O título
Dedicato a ... é complementado (no belíssimo encarte) com o nome de alguns dos seus vários ídolos pop, como Keith Richards, Che Guevara, Eric Clapton, Beatles, Bob Dylan, Mick Jagger, Brian Jones, Jean Luc Godard, Allen Ginsberg, Frank Zappa, Elvis, Pier Paulo Passolini, Fellini, Antonioni e, evidentemente, Andy Warhol, Nico e Velvet Underground e tantos outros.

O disco foi lançado originalmente com uma tiragem de apenas 500 cópias, sendo que algumas delas com o vinil vermelho, e passou totalmente despercebido na época. Após o álbum, contrariando a previsão de Mario de que a banda teria uma grande carreira, ela simplesmente acabou.


O material gráfico foi totalmente desenvolvido por Mario Schifano. A capa é rosa escuro com estrelas prateadas, e o encarte tem fotografias retocadas pelo artista e uma foto, que ocupa duas páginas, do grupo tocando ao vivo. Um show gráfico - em vinil, é claro. O álbum foi relançado em 2005 pela cultuada gravadora Akarma em uma edição luxuosa nos formatos digipack e vinil de 180 gramas, ambas com livreto com informações e fotos de rara beleza.

Para quem gosta de sons diferente e psicodelismo à toda prova, o Le Stelle di Mario Schifano é um delicioso trabalho, onde este ambiente pode ser degustado como grande prazer. O incrível do álbum é a sua modernidade, mesmo tendo sido gravado a mais de trinta anos atrás.

Um discão para a coleção dos apreciadores dos melhores momentos do psicodelismo dos anos sessenta.

Faixas:

A1 Le Ultime Parole Di Brandimante, Dall'Orlando Furioso, Ospite Peter Hartman E Fine (Da Ascoltarsi Con TV Accesa, Senza Volume) 17:41

B1 Molto Alto 3:11
B2 Susan Song 3:48
B3 E Dopo 2:15
B4 Intervallo 2:37
B5 Molto Lontano (A Colori) 2:48

Comentários

  1. Muito legal seu texto, Wagner. Parabéns por descortinar essa raridade que eu desconheço tb, mas me interessei. Na verdade, o som italiano dos anos 60 nunca me despertou muito interesse porque quase sempre me dá impressão de ser aquela coisa beat que chegou até fazer sucesso em outros países. Mas esse pelo visto, não tem absolutamente nada de beat! ehehehehe...valeu, abraço!
    Ronaldo

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