Por Ricardo Seelig
Publicitário e Colecionador
Collector´s Room
Vivemos em tempos estranhos. Ao contrário do que houve em décadas passadas, os anos 90 e 00 não nos deram um grande grupo que pudesse ser chamado de “o maior do mundo”. A década de sessenta foi dos Beatles. Nos anos setenta o Led Zeppelin reinou absoluto, e nos oitenta este trono foi dividido entre o U2 e o Guns N' Roses. Ou seja, há vinte anos não vemos um gigante dando passos fortes e decididos por aí.
O que isso gera? Gera um vácuo, um vazio, e que, na maioria das vezes, é preenchido momentaneamente por novos nomes superestimados. De Pearl Jam a Strokes, de White Stripes aos atuais Arcade Fire, o que não falta são grupos adorados pelos críticos, que não economizam elogios na hora de apontá-los como “the next big thing”. O problema é que, na quase totalidade das vezes, estas bandas se revelam capengas e aquém do que se espera. Seja por escolhas mercadológicas (Pearl Jam), seja por uma expectativa desmedida (Strokes), ou seja por excesso de exposição mesmo (White Stripes), o fato é que ninguém vem conseguindo esquentar o banco há um bom tempo.
Mas eis que, de uma hora para a outra, em 2005 publicações tão díspares como Rolling Stone e Kerrang começaram a encher a bola de três jovens australianos que atendem pelo nome de Wolfmother. Sem medo de errar, digo com todas as letras: Andrew Stockdale, Chris Ross e Myles Heskett formaram, naquela época, a banda em que eu depositei todas as minhas fichas, ilusões e esperanças de fã do bom e velho rock and roll. Com uma sonoridade que é a união da santíssima trindade do rock pesado (Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple), o Wolfmother lançou naquele ano esquisito um álbum que soa como se estivesse chegado ao mercado na primeira metade dos anos setenta. A estreia dos caras é marcado por riffs hipnóticos que se alternam pelas escolas de Tony Iommi e Jimmy Page, intercalados por momentos instrumentais onde a influência dos dois grupos, somados ao Deep Purple, tornam o som contagiante.
Longe de apenas ficar pagando tributo ao passado, o Wolfmother juntou estas influências na construção de um som único. A abertura do play, com Stockdale soltando a voz seguido por um riff que é puro Led Zeppelin II, já deixa o ouvinte com uma pulga atrás da orelha. Na sequência somos brindados com canções como “White Unicorn” e “Woman”, que nos apresentam o modo Wolfmother de encarar o rock. A parede sonora construída pelo grupo surpreende, na melhor tradição de power trios lendários como o Cream.
Quando os ouvidos já estão acostumados, somos levados de volta à época de Led Zeppelin II com “Where Eagles Have Been”, maravilhosa balada com direito até a órgão Hammond. Ainda que mantenha uma unidade, cada música revela pequenas surpresas, como o peso “sabbathico” de “Apple Tree”, o hard rock pra lá de clássico de “Colossal”, a jam que dá início a “Pyramid”, a sombra do Zeppelin em “Witchcraft” e “Tales”, a percusão que introduz “Love Train”.
Mas, no meio deste mar de ótimas composições, duas conseguem se sobressair mais que as outras. A primeira é a paulada “Joker & The Thief”. Se você nunca ouviu o som do Wolfmother, comece por esta. Todas as características que marcam a banda estão presentes aqui, mais evidentes do que nunca. Os riffs hipnóticos de guitarra, a bateria que soa como uma fusão entre os estilos de John Bonham e Bill Ward, o vocal gritado que ora parece Ozzy ora soa como Plant, as intervenções discretas de teclado que dão ainda mais brilho à música, a cozinha matadora. Tudo isso conspirando em favor da composição, como acontecia na época de ouro do hard rock, em grupos como os citados lá no início do texto e em outros como Grand Funk, Mountain, Rainbow e todas estas bandas clássicas que estão vindo a sua mente neste exato momento.
A outra é a linda balada “Mind´s Eyes”. Candidata fortíssima a melhor música dos últimos tempos, irá fazer um fã de rock, de hard rock, de classic rock (ou seja lá como você chama o estilo que a maioria das pessoas classifica singelamente como “sonzeira”) chegar as lágrimas. O sentimento, o lirismo, a emoção, são palpáveis em “Mind´s Eyes”. Com uma interpretação excelente, principalmente de Andrew Stockdale, é daquelas canções que surgem apenas quando todo o universo conspira a favor de alguma coisa. Duvida? Então vá direto para a faixa oito.
Resumindo, Wolfmother traz música de melhor qualidade do início ao fim. De todos aqueles aspirantes ao trono de maior banda do mundo surgidos na última década e meia, o Wolfmother foi o único que possuiu reais possibilidades de se transformar em um novo gigante. Pena que a banda tenha rachado em 2008 com a saída do baixista e tecladista Chris Ross e do baterista Myles Heskett. Andrew Stockdale reformulou o grupo com Ian Peres no baixo e teclado, Dave Atkins na bateria e Aidan Nemeth na segunda guitarra e lançou em 27 de outubro de 2009 o bom Cosmic Egg, mas daí o trem já tinha partido e os caras, até segunda ordem, perderam o bonde da história.
Se vivêssemos em um mundo justo o Wolfmother seria conhecido por qualquer pessoa. Como passamos nossos dias em uma realidade dominada por Simple Plans e Restarts, isso provavelmente não irá ocorrer.
Faixas:
1 Dimension 4:21
2 White Unicorn 5:04
3 Woman 2:56
4 Where Eagles Have Been 5:33
5 Apple Tree 3:30
6 Joker & the Thief 4:40
7 Colossal 5:04
8 Mind's Eye 4:54
9 Pyramid 4:28
10 Witchcraft 3:25
11 Tales 3:39
12 Love Train 3:03
13 Vagabond 3:50
Sem sombra de dúvidas, o melhor disco do século XXI. E vai ser difícil ser superado...
ResponderExcluirAlém das duas músicas citadas, tenho de destacar "Dimension", que me apresentou à banda e ao seu maravilhoso som. "Cosmig Egg" pode até ser bom, mas não chega nem perto desse discaço.
Parabéns por mais um belo texto, Cadão!
A nova geração esperta está percebendo que a década de 70 é insuperável e que não vale a pena tentar inventar algo novo ou seguir tendências, pois já esta tudo feito, e por isso estão voltando no tempo; e para fãs do bom e velho Rock And Roll não há idéia melhor que essa!
ResponderExcluir--
Luciano
A nova geração esperta está percebendo que a década de 70 é insuperável e que não vale a pena tentar inventar algo novo ou seguir tendências, pois já esta tudo feito, e por isso estão voltando no tempo; para fãs do bom e velho Rock And Roll não há idéia melhor que essa!
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Luciano
Alguém sabe onde posso comprar esse cd, sem contar na Amazon?
ResponderExcluirEstou a procura desse álbum já há um tempo e não consigo encontrá-lo.
Por favor ajudem!!!
Se alguém souber dizer alguma boa loja de cds no Rio de Janeiro também ajudaria.
ResponderExcluirAlguem aqui já ouviu o The Raconteurs? Acho muito melhor e criativo que o Wolfmother.
ResponderExcluirChristiano, gosto de Racounters também, acho uma banda muito boa, mas esse primeiro disco do Wolfmother é superior a tudo o que eles já gravaram.
ResponderExcluirOk, gosto é gosto mesmo..rsrsrs
ResponderExcluirAbração.
Vitor, tem a Halley (Flamengo), Renaissance (Cinelândia) e a Tracks (Gávea), com material relacionado a isso, mas muito mais focado em antigueira. Agora, neles vc consegue encomendar fácil esse material.
ResponderExcluirEsse é um disco que ainda vou ter na minha prateleira, não quero nem ouvir antes só pra ter o impacto da primeira audição!
Abraço!
Ronaldo
Vou dar uma baixada pra dar uma conferida, mas discordo da resenha no tocante ao "reinado absoluto" do Led. Tenho muito respeito aos caras e é uma das minhas bandas de cabeceira, mas daí dizer que são os maiores da sua época é outra conversa... o que cai no meu conceito o Led são as inúmeras composições surrupiadas e q não dão os devidos créditos...Nesse sentido dou mais importância ao Sabbath
ResponderExcluirÉ um álbum incrível, quando eu o ouvi quase caí de costas! Um som arrepiante. Sem dúvidas foi a banda mais incrível do novo século e, dificilmente alguém fará melhor que isso.
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