Dois dias na companhia de um deus! - Jeff Beck: RJ, 24/11/2010 - SP, 25/11/2010


Por André Leite
Colecionador
Collector´s Room

Sou fã de Jeff Beck desde 1985, quando comprei o álbum Truth em uma loja de discos usados. A partir de então sempre apreciei seu trabalho. Por isso, quando foram anunciadas as datas de sua turnê no Brasil me empolguei e optei por ir nos dois shows.

No primeiro dia tive a companhia de meu amigo e bluesman Fabio Dwyer. Cheguei trinta minutos antes de começar o show, e consegui um lugar na grade da pista. O show começou com quinze minutos de atraso, e começou arrasando, com uma bela versão de “Plan B”. Jeff empolgadíssimo, e já na segundo música – “Stratus” – começou a dar um grande espaço para os membros da sua banda, especialmente a baixista Rhonda Smith e o baterista Narada Michael Walden. Estes dois são responsáveis por um som mais funkeado. Já no fim da música, um breve solo de bateria foi suficiente para empolgar a galera e o próprio Beck, que foi ao microfone saudar seu batera. Aliás, um dos grandes méritos desta banda de Jeff Beck refere-se aos arranjos das músicas, que foram adaptadas às características e possibilidades dos músicos.


Ao contrário do que muitos fãs imaginavam, o show foi pauleira, com pouco espaço para as músicas mais calmas. E Smith e Walden animam muito a galera. A sétima música foi o solo de baixo que, cheio de slaps e groove, empolgou a galera, que começou a bater palmas, e fez que a banda, incluindo
Beck, passasse a bater palmas juntamente com a audiência. Era clara a surpresa e a satisfação estampada na face do tecladista, Jason Rebello. Depois desse momento, a banda entra com muito funk, fazendo as pessoas tirarem o pé do chão. Impressionante: música instrumental e todo o Vivo Rio gritando “hey, hey, hey, ...”!


Logo após, “People Get Ready” fez o público se animar ainda mais, com Jeff na guitarra fazendo a parte que na gravação de 1985 pertencia a Rod Stewart, enquanto o solo ficou a cargo de Rebello. Sinceramente, não senti falta da voz de Rod.

“Rollin’ and Tumblin”, uma antiga música de Muddy Waters cantada por Rhonda Smith, foi um dos ápices do show. A partir daí, o jogo estava ganho e me faltam palavras para escrever a cartase coletiva que se apossou do Vivo Rio. O show terminou com uma versão arrasadora de “Brush with the Blues” e uma “A Day in the Life” bem pesada, com direito a Beck chutar a guitarra no chão, provocando um som muito bacana para encerrar o set. Jeff Beck foi ao microfone e empolgadíssimo agradeceu a todos, apresentando a banda mais uma vez.


Beck volta em 3 minutos e sozinho no palco dá início a “I Wanna Take You Higher”, de Sly & the Family Stone, com todo mundo batendo palma. Logo após, Narada entra pulando e berrando, assume a bateria e o Vivo Rio fica em êxtase; Rebello retorna em seguida. Por último, Rhonda entra, religa o baixo e começa a cantar. Sensacional! Em determinado momento cada um da banda fica responsável por cantar um verso da música, o que Beck faz por meio de sua guitarra. A galera responde ovacionando, com palmas, em uma uníssona celebração. Ao fim, Jeff Beck cai de joelhos no palco, rendido pela empolgação da plateia!

Em seguida, o roadie entrega a Jeff uma Gibson Les Paul e ele chama a atenção da plateia: “Prestem atenção nesta guitarra”. E dá início a “How High is the Moon”, uma homenagem ao mestre Les Paul. Por fim, “Nessun Dorma”, ária do último ato da ópera Turandot, de Puccini. A galera veio abaixo, ovacionando Beck e a banda. Na plateia, Liminha, Frejat e Milton Nascimento, dentre outros, o que mostra a importância musical de Beck e de sua história.


Fui para São Paulo, e ali teria a companhia de meu amigo Marcelo Peixoto. Combinamos de nos encontrarmos no aeroporto, e ao chegar, o vi e resolvemos, já que teríamos tempo, esperar por Jeff Beck. Juntado-se à nossa esperança, um casal fez o mesmo. José e sua esposa estavam esperando há mais tempo que nós, ele com sua guitarra. Duas horas e meia depois da chegada do meu vôo, Beck e banda surgem no saguão de desembarque de Congonhas, e erguemos nossos CDs, esperando por um autógrafo do ídolo, mas o produtor brasileiro disse que ele não falaria conosco, pois estava cansado. Quase desistimos, mas um segurança do aeroporto disse: “Ei, vão atrás do cara. Aqui é Brasil e nós é que mandamos aqui”.

De fato, fomos recompensados, apesar da insistência do produtor brasileiro, com fotos autografadas. Quando recebi a minha, disse a Beck: “Fui ao show de ontem no Rio e vou ao show de hoje também”. Isso o deixou surpreso e feliz! Aliás, feliz estávamos nós com nosso troféu!

O repertório do show de São Paulo foi o mesmo do Rio, assim, como a empolgação da plateia e da banda. Novamente Jeff Beck e banda arrasaram. Os caras se olham muito durante o show, e isso permite a coordenação de improvisos e finais das canções com muita eficiência. Showzaço novamente! Duas noites para lavar a alma!

Nas palavras do Marcelo, Jeff e banda apresentaram a linguagem do jazz em formato rock. Perfeitos!


Comentários

  1. Sensacional o texto!

    E esse Jason Rebello tocava com o Ben Harper e é muito bom.

    Tenho escutado direto o Performing This Week... Live at Ronnie Scott's, ao vivo lançado pelo Beck em 2008. Que discaço! Se o show foi nessa linha - e pelo texto parece que foi - deve ter sido inesquecível.

    Abraço.

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  2. Cadão, o show foi sensacional. Poucas vezes vi uma banda tão coesa no palco. Sem contar a excelência dos músicos. Não sabia que o Jason Rebello tocou com o Ben Harper.
    Abraço

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  3. Ih Marcelão, me confundi. O tecladista do Ben Harper era o Jason Yates ...

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  4. É tudo Jason, então ta tudo certo. rsrs

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  5. Ricardo,
    Obrigado pela publicação. Os shows foram a realização de um sonho desde a adolescência. Na minha opinião, este show do Beck está mais pesado e com mais groove que o Live at Ronnie Scott's. Espero colaborar mais com o blog,
    abraços,

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  6. André, espero que você colabore mais com o site mesmo.

    Abraço.

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  7. Ricardo, a minha praia é mais o blues. Estou (re) ouvindo o novo do Buddy Guy e em breve te envio via Marcelo.
    E posto também no blog, hoochiecoochieblog.blogspot.com

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  8. Belo Review... Um amigo meu saiu de BH para ir nesse show. Gostaria de ter ido, mas com essa avalanche de shows internacionais em diversas capitais neste ano, optei pelo show seguinte ao do Beck em SP - o do YES!Showzaço também com sempre! YES é YES...

    Luciano

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