Conversar com Sergio Martins é aprender sobre música. Simples assim.
Um dos maiores críticos do Brasil, o atual editor de música da Veja é uma das maiores autoridades sobre o assunto em nosso país. Ex-editor da revista Bizz, Sergio Martins é um dos caras mais gente boa que já tive o prazer de trocar ideias, sempre disponível para dar dicas e toques certeiros sobre qualquer gênero musical.
Sua lista de melhores de 2010, que com muito orgulho publicamos com exclusividade aqui na Collector´s, reflete isso. Tem de jazz a MPB, de soul a blues, um verdadeiro guia pelos caminhos dos bons sons.
Em suma, quando eu crescer quero ser o Sergio Martins!
Aproveite, anote as dicas e curta em alto e bom som!
Scott nasceu em Nova Orleans, berço do jazz, e é sobrinho do saxofonista Donald Harrison. Não tinha, portanto, outra escolha senão seguir o gênero musical predileto de sua família. Mas seu estilo está mais para as novas vertentes do gênero que o tradicionalismo que impera em Nova Orleans. Um dos muito motivos é que Scott expandiu seus horizontes na prestigiada Berklee School of Music, de Boston (de onde tem saído nomes importantes como a clarinetista Anat Cohen, o trompetista Avishai Cohen e o pianista argentino Guillermo Klein). O jazz é um dos muitos elementos trabalhados no disco, ao lado do funk e do hip hop. Scott é um virtuose, e seu baterista, Jamire Williams, uma máquina de ritmos. Eu poderia apontar como destaque “K.K.P.D.”, melodia nervosa que foi inspirada numa prisão efetuada pela polícia de Nova Orleans, e na versão de “The Eraser”, de Thom Yorke.
Numa comparação grosseira, poderíamos dizer que Sharon Jones é uma versão cheia de melanina de Amy Winehouse. As duas têm a mesma banda de apoio, os Dap Kings, e trabalham uma sonoridade próxima da soul music e rhythm´n´blues dos anos 60 e 70. A diferença é que Sharon é muito melhor que Amy. Ela iniciou sua carreira na década de sessenta mas, desiludida com o mundo artístico, foi trabalhar como carcereira na Ryker´s Island, em Nova York. Sharon retomou a carreira artística dez anos atrás, quando foi descoberta pelos Dap Kings. I Learned the Hard Way é o terceiro disco dessa colaboração, e seu melhor trabalho até hoje. É uma cantora completa, que vai do vozeirão solto nas músicas mais alegres à interpretações doídas em canções sobre amantes desalmados ou mães cruéis (a faixa-título e “Mama Don´t Like My Man”).
Iyer é um pianista americano, filho de indianos que se mudaram para os Estados Unidos na década de 1960. A música dele reflete o que há de melhor nesses dois mundos: a improvisação do jazz com os múltiplos ritmos da Índia. Solo, porém, traz outras qualidades. Como o nome indica, Iyer toca sem acompanhamento. E pode mostrar sua destreza ao piano – seus solos têm um quê de música erudita – e um repertório que vai de Michael Jackson a Thelonious Monk.
Para mim, este guitarrista e cantor paulistano é o maior compositor do país na atualidade. Ele tem uma forte base jazzística – outro que estudou na Berklee College of Music -, mas, por outro lado, recupera uma riqueza melódica que havia se perdido na MPB. Não é à toa que os principais nomes do jazz, como o pianista Brad Mehldau, o guitarrista Anthony Wilson e o saxofonista Bob Mintzer são fãs declarados de Pinheiro. Flor de Fogo é seu quarto disco. Oito das doze canções do álbum trazem a voz pequena, porém delicada, de Pinheiro. As outras têm como vocalistas a grande Diane Reeves e Luciana Alves, mulher de Pinheiro e para mim a melhor cantora de MPB que escutei em anos. E como ele toca, meu Deus …
Projeto Coisa Fina é formado por instrumentistas jovens – a média de idade é de 26 anos – que se encantaram com o jazz após ouvir as músicas do maestro e compositor pernambucano Moacir Santos. Eles passaram então a estudar e tocar as músicas do autor de “Nanã” nas casas noturnas e teatros de São Paulo. O resultado é este disco, que foi gravado praticamente ao vivo. Eles não se limitaram a tocar Ouro Negro, projeto do violonista Mario Adnet e do saxofonista Zé Nogueira que recuperou as partituras de Moacir Santos, mas há também composições do período em que ele lançou seus álbuns pelo tradicional selo de jazz americano Blue Note. Coisa fina, bem tocada, e com uma vibração pouca vista nos dias de hoje.
Robert Plant desagradou os fãs do Led Zeppelin quando recusou voltar com o grupo para priorizar a carreira-solo. Mas quando se escuta o que ele tem feito nos últimos anos, não há como não dar razão a Plant. Band of Joy é a segunda incursão séria do vocalista inglês pela raiz da música americana – a primeira foi a soberba parceria dele com a cantora Alison Krauss – e faz referência ao grupo que ele integrou na década de 60, antes de entrar no Led Zeppelin. Plant se faz acompanhar por um grupo de artistas do country rock norte-americano (os destaques são o vocalista e guitarrista Darrell Scott e a cantora Patty Griffin). Aqui não tem ponto baixo: das releituras de Los Lobos e Richard Thompson às do grupo de country alternativo Low, tudo é sublime!
O disco nasceu de duas tragédias pessoais da cantora. O avô de Corinne morreu afogado anos antes dela nascer (daí o título – O Mar), e o marido da cantora foi encontrado morto, vítima de uma overdose. O disco tem momentos tristonhos, claro, mas Corinne passou pelos tempos de tristeza com um trabalho que tem soul, baladas e até faixas influenciadas pelo britpop.
Marcelo Jeneci é um pianista, sanfoneiro e cantor paulistano. Ele tem no currículo participações nas bandas de Chico César e Arnaldo Antunes e um sucesso de nível nacional - “Amado”, gravado por Vanessa da Mata. Seu disco de estreia é uma agradável surpresa. Ele tem aquelas melodias pop de um Guilherme Arantes (que se emocionou ao escutar o álbum) e as canções agridoces de Roberto Carlos e Fernando Mendes.
Luisa Maita é uma cantora de São Paulo. Ela descende de uma família de músicos. Seu pai é o sambista Amado Maita, e seus tios são os instrumentistas Daniel (violão) e Benjamin (piano) Taubkin. O disco tem uma pegada de MPB pop, com músicas que vão do samba (“Maria” e “Moleque”), balanço (“Alento”, que tem uma linha de baixo matadora de Paulo LePetit, ex-Isca de Polícia, de Itamar Assumpção) e dancehall (“Fulaninha”).
Christian Scott – Yesterday You Said Tomorrow
Scott nasceu em Nova Orleans, berço do jazz, e é sobrinho do saxofonista Donald Harrison. Não tinha, portanto, outra escolha senão seguir o gênero musical predileto de sua família. Mas seu estilo está mais para as novas vertentes do gênero que o tradicionalismo que impera em Nova Orleans. Um dos muito motivos é que Scott expandiu seus horizontes na prestigiada Berklee School of Music, de Boston (de onde tem saído nomes importantes como a clarinetista Anat Cohen, o trompetista Avishai Cohen e o pianista argentino Guillermo Klein). O jazz é um dos muitos elementos trabalhados no disco, ao lado do funk e do hip hop. Scott é um virtuose, e seu baterista, Jamire Williams, uma máquina de ritmos. Eu poderia apontar como destaque “K.K.P.D.”, melodia nervosa que foi inspirada numa prisão efetuada pela polícia de Nova Orleans, e na versão de “The Eraser”, de Thom Yorke.
Sharon Jones & The Dap Kings – I Learned the Hard Way
Numa comparação grosseira, poderíamos dizer que Sharon Jones é uma versão cheia de melanina de Amy Winehouse. As duas têm a mesma banda de apoio, os Dap Kings, e trabalham uma sonoridade próxima da soul music e rhythm´n´blues dos anos 60 e 70. A diferença é que Sharon é muito melhor que Amy. Ela iniciou sua carreira na década de sessenta mas, desiludida com o mundo artístico, foi trabalhar como carcereira na Ryker´s Island, em Nova York. Sharon retomou a carreira artística dez anos atrás, quando foi descoberta pelos Dap Kings. I Learned the Hard Way é o terceiro disco dessa colaboração, e seu melhor trabalho até hoje. É uma cantora completa, que vai do vozeirão solto nas músicas mais alegres à interpretações doídas em canções sobre amantes desalmados ou mães cruéis (a faixa-título e “Mama Don´t Like My Man”).
Vijay Iyer – Solo
Iyer é um pianista americano, filho de indianos que se mudaram para os Estados Unidos na década de 1960. A música dele reflete o que há de melhor nesses dois mundos: a improvisação do jazz com os múltiplos ritmos da Índia. Solo, porém, traz outras qualidades. Como o nome indica, Iyer toca sem acompanhamento. E pode mostrar sua destreza ao piano – seus solos têm um quê de música erudita – e um repertório que vai de Michael Jackson a Thelonious Monk.
Chico Pinheiro – Flor de Fogo
Para mim, este guitarrista e cantor paulistano é o maior compositor do país na atualidade. Ele tem uma forte base jazzística – outro que estudou na Berklee College of Music -, mas, por outro lado, recupera uma riqueza melódica que havia se perdido na MPB. Não é à toa que os principais nomes do jazz, como o pianista Brad Mehldau, o guitarrista Anthony Wilson e o saxofonista Bob Mintzer são fãs declarados de Pinheiro. Flor de Fogo é seu quarto disco. Oito das doze canções do álbum trazem a voz pequena, porém delicada, de Pinheiro. As outras têm como vocalistas a grande Diane Reeves e Luciana Alves, mulher de Pinheiro e para mim a melhor cantora de MPB que escutei em anos. E como ele toca, meu Deus …
Projeto Coisa Fina – Homenagem ao Maestro Moacir Santos
Projeto Coisa Fina é formado por instrumentistas jovens – a média de idade é de 26 anos – que se encantaram com o jazz após ouvir as músicas do maestro e compositor pernambucano Moacir Santos. Eles passaram então a estudar e tocar as músicas do autor de “Nanã” nas casas noturnas e teatros de São Paulo. O resultado é este disco, que foi gravado praticamente ao vivo. Eles não se limitaram a tocar Ouro Negro, projeto do violonista Mario Adnet e do saxofonista Zé Nogueira que recuperou as partituras de Moacir Santos, mas há também composições do período em que ele lançou seus álbuns pelo tradicional selo de jazz americano Blue Note. Coisa fina, bem tocada, e com uma vibração pouca vista nos dias de hoje.
Robert Plant – Band of Joy
Robert Plant desagradou os fãs do Led Zeppelin quando recusou voltar com o grupo para priorizar a carreira-solo. Mas quando se escuta o que ele tem feito nos últimos anos, não há como não dar razão a Plant. Band of Joy é a segunda incursão séria do vocalista inglês pela raiz da música americana – a primeira foi a soberba parceria dele com a cantora Alison Krauss – e faz referência ao grupo que ele integrou na década de 60, antes de entrar no Led Zeppelin. Plant se faz acompanhar por um grupo de artistas do country rock norte-americano (os destaques são o vocalista e guitarrista Darrell Scott e a cantora Patty Griffin). Aqui não tem ponto baixo: das releituras de Los Lobos e Richard Thompson às do grupo de country alternativo Low, tudo é sublime!
Corinne Bailey Rae – The Sea
O disco nasceu de duas tragédias pessoais da cantora. O avô de Corinne morreu afogado anos antes dela nascer (daí o título – O Mar), e o marido da cantora foi encontrado morto, vítima de uma overdose. O disco tem momentos tristonhos, claro, mas Corinne passou pelos tempos de tristeza com um trabalho que tem soul, baladas e até faixas influenciadas pelo britpop.
Marcelo Jeneci – Feito pra Acabar
Marcelo Jeneci é um pianista, sanfoneiro e cantor paulistano. Ele tem no currículo participações nas bandas de Chico César e Arnaldo Antunes e um sucesso de nível nacional - “Amado”, gravado por Vanessa da Mata. Seu disco de estreia é uma agradável surpresa. Ele tem aquelas melodias pop de um Guilherme Arantes (que se emocionou ao escutar o álbum) e as canções agridoces de Roberto Carlos e Fernando Mendes.
Luisa Maita – Lero-Lero
Luisa Maita é uma cantora de São Paulo. Ela descende de uma família de músicos. Seu pai é o sambista Amado Maita, e seus tios são os instrumentistas Daniel (violão) e Benjamin (piano) Taubkin. O disco tem uma pegada de MPB pop, com músicas que vão do samba (“Maria” e “Moleque”), balanço (“Alento”, que tem uma linha de baixo matadora de Paulo LePetit, ex-Isca de Polícia, de Itamar Assumpção) e dancehall (“Fulaninha”).
Não conheço tudo na lista mas os discos da Sharon jones, do Robert Plant e da Corinne Bailey Rae são sensacionais!
ResponderExcluirconheço de nome a maioria. a lista é de extremo bom gosto. parabéns pelas listas, Cadão. faltou a do Fábio Massari, esse sim o cara!
ResponderExcluirum dia quero ser igual eles. :)
Daniel, ótima lembrança a do Massari. Prepare-se, que tem mais listas na fila pra entrar nos próximos dias.
ResponderExcluirEstou curtindo muito publicar essas listas.
Fabiano, vale a pena correr atrás desses artistas.
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