Burzum - Fallen (2011)


Por Ricardo Seelig

Cotação: ****

O heavy metal é para poucos. Nem todo mundo consegue ouvir de forma agradável a agressividade do estilo. Quando o assunto é black metal então, a coisa dá uma filtrada geral. Elevando todos os aspectos da música aos mais insanos níveis, o metal negro precisa ser compreendido para que se consiga entender as qualidades e peculiaridades do gênero. E, dentro do black metal, pouquíssimas bandas são capazes de levar o ouvinte por jornadas sônicas tão ímpares e intensas quanto o Burzum.

Capitaneado pelo famigerado Varg Vikernes, um dos cabeças do som surgido na Noruega no final dos anos 1980 e na primeira metade da década de 1990 e que influenciou profundamente a música pesada, o Burzum é uma banda única, e muito disso vem da personalidade e dos atos de seu mentor.
Varg foi também um dos principais líderes das polêmicas queimas de igrejas históricas que assombraram a Noruega no amanhecer dos anos noventa, isso sem falar no assassinato de Euronymous, seu antigo parceiro no Mayhem. Mas deixando de lado todas as discussões sobre a sua vida pessoal e analisando somente a música, o que se ouve é a obra de um gênio do metal extremo, inegavelmente.

Fallen é o oitavo álbum do Burzum e chega às lojas no dia 7 de março. O disco foi gravado em duas semanas no Grieghallen Studios, em Bergen. A figura da capa faz parte da obra Élégie, do pintor francês William Adolphe Bouguereau, datada de 1899. Segundo Varg, Fallen é uma mistura entre a sonoridade do último disco do Burzum, Belus (2010), e Det Som Engang Var, de 1993. Ainda nas palavras de Varg, Fallen é um disco mais pessoal e se concentra em questões existenciais.


O álbum inicia com a intro “Fra Verdenstreet”, que abre caminho para “Jeg Faller”, faixa com um riff de guitarra típico do black metal norueguês temperado por linhas vocais que evocam cantos nórdicos tradicionais, além de trechos com partes da letra sendo faladas, e não cantadas, por Varg. “Valen” tem um riff animal, bem old school, e conta com um refrão muito bom. Novamente há o uso de passagens faladas, criando uma dinâmica bem interessante. Uma das melhores faixas do disco.

Os blast beats, uma das marcas registradas do estilo, são ouvidos pela primeira – e única – vez somente na terceira faixa, “Vainvidd”. Já em “Enhver til Sitt” a guitarra é o destaque, seja pelo riff principal, que une Tony Iommi ao estilo particular do black metal norueguês, seja pelas ótimas passagens instrumentais.

Os mais de dez minutos de “Budstikken” levam o ouvinte por caminhos sinuosos repletos de mudanças de direção, mas sempre com paisagens surpreendentes à frente. Outro grande momento, digno da tradição do Burzum. A instrumental “Til Hel og Tibake Igjen” encerra o play.

Fallen é um grande álbum, sem dúvida alguma. Um disco coeso e inspirado, com a marca pessoal de Varg Vikernes, uma das mentes criativas mais influentes da história do metal. Você não precisa simpatizar com as ideias de Varg para gostar do som, e o fato é que Fallen tem música de qualidade escorrendo em abundância pelos seus sulcos.


Faixas:
1 Fra verdenstreet 1:03
2 Jeg faller 7:50
3 Valen 9:21
4 Vanvidd 7:05
5 Enhver til sitt 6:16
6 Budstikken 10:09
7 Til Hel og tilbake igjen 5:57

Comentários

  1. Esse é um que não me desce. Concordo que devemos separar (ou pelo menos tentar) alguns aspectos pessoais do autor em relação a sua obra quando fazemos uma análise. Mas nesse caso, fica bem difícil.

    As visões política e social do Varg são bem intragáveis e são justamente elas que orientam o trabalho dele. Não estou acusando aqui que quem ouve o som do cara é conivente com as idéias dele. Pra mim é bem peculiar que alguém consiga desassociar a pessoa do Varg do que ele compõe.

    Esses dias fui na Galeria e vi um negão usando camiseta do Burzum. Cena totalmente peculiar e contraditória.

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  2. Francisco, um negro usando uma camiseta do Burzum só mostra a ignorância do cara. Mas eu particularmente gosto do som, tanto das faixas porradas quanto das instrumentais ambiente.

    A banda sempre foi polêmica, e continuará sendo.

    Abraço, e obrigado pelo comentário.

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  3. SEMPRE onde tem algum artigo sobre o Burzum,tem alguma pessoa de "mimimi" por causa da ideologia do Varg Vikernes.Pessoas choronas e medrosas que não conseguem fugir do politicamente correto,pois precisam manter o status quo.Pensem por vocês mesmos,parem de aceitar os fatos e a história como a grande mídia corrupta quer que vocês vejam.E principalmente parem de ver esse genial artista como "monstro nazista devorador de bebês e de negros".O metal perdeu tanto sua contestação assim e se tornou tão bunda mole?Uma pena.

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  4. Até onde discordo do Vikernes é baseado no que ele diz e admite sobre si mesmo. Isso não tem nada a ver com ser "politicamente correto" e aparecer com cara de otário na capa da Veja desse mês.

    Independente da "genialidade" musical as opiniões do Varg são bem infelizes e sem fundamento. Racismo e xenofobia não tem nada de "contestação". Muito pelo contrário, são sentimentalismos retrógrados e conservadores. Sustentá-los é que é "manter o status quo".

    E pode ficar tranquilo porque eu penso por mim mesmo. Não preciso do direcionamento de uma mídia corrupta e muito menos do conselho de alguém que se esconde atrás desse "Herr L.".

    Pelo menos eu posto me identificando ao contrário do anônimo bunda mole.

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  5. Contradições:

    "Você não precisa simpatizar com as ideias de Varg para gostar do som"

    X

    "um negro usando uma camiseta do Burzum só mostra a ignorância do cara"

    Por que? Um negro não tem capacidade de dissociar o caráter nazista do Kristian Vikernes da música do Burzum? Um negro não pode apreciar "música de qualidade escorrendo em abundância"? Usar uma camisa é algo tão distante de comprar um disco? Você é ariano? Simplesmente acha que o segregracionismo do Varg não se aplica a você, somente aos negros?

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  6. Só acho contraditório, cara. É a mesma coisa que um judeu usando uma camiseta com uma suástica, sacou? E vai com calma, não precisa chegar atirando pedras, porque aqui todo mundo se respeita.

    Abraço.

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  7. Desculpe, eu falei com todo respeito, sem pedras nem algo que o valha, mas acho meu questionamento pertinente, só queria saber porque você acha mais contraditório um negro usando camisa do burzum do que um brasileiro ouvindo a música do burzum. Se esse mesmo negro não usasse a camisa do burzum, mas ouvisse a música ele seria menos ignorante (já que a música deve ser dissociada do caráter político do idealizador dessa música)?

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  8. Cara, beleza.

    O que eu acho é que as pessoas tem que ouvir a música do Burzum e pronto, porque a música da banda é legal e inovadora. As crenças e pensamentos do Varg devem ficar em segundo plano.

    Abraço.

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  9. Prefiro manter coerência ideológica no que eu faço. E aí incluo ouvir música também. Por mais que se diga que na arte não existe erro e que tudo pode ser considerado manifestação artística (já que arte também é liberdade), não acho que esse argumento deva ser usado pra justificar qualquer intenção.

    Muita gente esconde a própria incompetência musical atrás do jargão "tudo é arte", porque sendo assim, pressupõe-se que as coisas podem ser feitas de qualquer jeito, não importando o nível de talento e/ou a orientação política.

    A música não está acima do bem e do mal. Ela é produto de indivíduos situados em suas próprias épocas e situações sócio-econômicas variadas. Quando alguém faz música, essa música pode estar imbuída de significações e valores do autor.

    E se o autor rejeita os meus valores e até a natureza da minha pessoa, então eu rejeito a sua arte. Em várias ocasiões, Varg Vikernes deixou bem claro o que pensa sobre estrangeiros e imigrantes, então duvido muito que ele queira um cara como eu sendo admirador de seu trabalho. Logo, não tenho motivo pra ser favorável à sua música.

    Ainda por cima me aparece um camarada aí em cima se queixando que só porque critiquei o Varg, o Metal perdeu seu caráter de contestação. Oras, faça-me o favor! Acompanhou as manifestações sociais do Egito pela derrubada do ditador Mubarak? Viu o protesto na Itália contra o Bersluconi? E a greve dos motoristas de ônibus que começou aqui em SP? Reparou como todos esses manifestantes estavam usando uma camisa do Burzum? É, pois é. Acho que alguém aí deveria procura no dicionário o que significa contestação.

    Ouvir o som do cara só porque é legal e inovador apesar de todo retrocesso ideológico é tipo “desligue o cérebro e divirta-se”. Isso é parnasianismo demais pro meu gosto.

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  10. "As crenças e pensamentos do Varg devem ficar em segundo plano."

    Mas elas ficam tão em segundo plano que você julga sinônimo de ignorância um negro usar uma camisa do Burzum! Se estivesse em segundo plano você apenas consideraria que ele gosta da banda. Ou seja, o aspecto segregacionista/nazista do Kristian não está em segundo plano nem para você.

    Trecho de entrevista do Vikernes publicada em seu site oficial traduzida no whiplash:

    "Dmitriy Komyakov (Chelyabinsk, Rússia): Há, na sua opinião, alguma maneira eficiente para evitar a islamização da Europa?

    Sim. A maneira mais eficiente seria, obviamente, acabar com os governos ‘eleitos’ da Europa votando nos assim chamados partidos de extrema direita mas, se isso falhar, podemos sempre – e provavelmente acabaremos fazendo isso – usar o método de Ricardo Coração de Leão. :-)"

    No caso Ricardo Coração de Leão mandou executar sumariamente, sem possibilidade de defesa cerca de 3000 prisioneiros islamicos em campo aberto. Kristian se referiu a islâmicos, mas ele defende publicamente o mesmo método para todos não pertencentes a pura raça branca. De todo dinheiro que o Kristian recebe parte vai para seu simples sustento, parte para assustos diversos, e parte patrocina seus ideais, independente da fonte de onde ele receba. É isso, façam suas escolhas, porque o Kristian já escolheu.

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