Por Ricardo Seelig
Walter, em primeiro lugar, apresente-se aos nossos leitores: quem você é e o que você faz?
Bem, em primeiro lugar gostaria de agradecer a oportunidade e pelo convite para participar desta seção. Meu nome é Walter Pires, tenho 29 anos, muitos me conhecem por Kbça, nascido em Salvador e moro em Maceió há mais de 20 anos. Sou coordenador administrativo em uma representação de uma seguradora e um dos fundadores do Clube do Vinil de Alagoas, evento que acontece mensalmente em Maceió.
Qual foi o seu primeiro disco? Como você o conseguiu, e que idade você tinha? Você ainda tem esse álbum na sua coleção?
Quando eu tinha 8 anos de idade comecei a me interessar por música, isto em 1989, no auge do hard rock 'farofa'. Como não tinha grana pra comprar discos, comecei gravando fitas com amigos que tinham as bolachas. Certo dia, nesta mesma época, estava com uma tia no centro da cidade quando fomos a uma loja de departamentos (não lembro se era Mesbla ou Pernambucanas, algo do tipo) e vi o LP Appetite For Destruction, do Guns N' Roses - ela o comprou depois de eu ter passado mais de uma hora pedindo sem parar (risos).
Você lembra o que sentiu ao adquirir o seu primeiro LP?
Muita alegria em ter algo 'de verdade', pois antes só tinha cópias em k7.
Porque você começou a colecionar discos, e com que idade você iniciou a sua coleção? Teve algum momento, algum fato na sua vida, que marcou essa mudança de ouvinte normal de música para um colecionador?
Até uma certa idade eu tinha pouquíssimos LPs. Depois veio a época do CD e era mais fácil adquirir um álbum nesse formato, principalmente em Alagoas, por este motivo deixei de procurar os vinis. Recomecei minha coleção um pouco tarde, há uns 6 ou 7 anos, quando conheci uns camaradas que apreciavam os LPs e fui podendo observar toda magia. ritual, sonoridade, arte em suas capas. De lá pra cá não parei mais de comprar.
Alguém da sua família, ou um amigo, o influenciou para que você se transformasse em um colecionador?
Então, grandes influenciadores poderia citar três: Jr. Beatle (ficava horas ouvindo seus discos e babando pelos mesmos), Jamison (tinha uma lojinha bacana e sempre guardava algo legal pra mim) e Jr. Brou (sempre dizia “velho, o som do vinil é outra coisa...”, e me instigava em comprar mais algum).
Inicialmente, qual era o seu interesse pela música? De que gêneros você curtia? O que o atraía na música?
Passei por várias fases, pois minha vida sempre foi regada por música, mais precisamente o rock e sua vertentes. Comecei com hard 80, passei pelo punk paulista - montei até uma banda quando estava ouvindo este estilo. Hoje em dia curto tudo que realmente me agrade ao ouvido: hard 70, prog, psicodelia, garage, grunge, blues, tropicália, bossa, samba, jazz.
Quantos discos você tem?
Faz tempo que não conto, mas acredito que em torno de 900 LPs e uns 100 compactos.
Qual gênero musical domina a sua coleção? E, atualmente, que estilo é o seu preferido? Essa preferência variou ao longo dos anos, ou sempre permaneceu a mesma?
Curto bastante som do final dos anos 60 e 70, mas acredito que o que predomina em meu acervo é hard setentista. Tenho também bastante coisa de folk, psicodelia, soul, alguma coisa de prog.
A sonoridade desta época considero mais orgânica, ou seja, timbre encorpado, feeling. Quando se escuta um disco do Grand Funk a sensação é que a banda está no meu quarto (risos). Foi isso que me fez pesquisar mais sobre o estilo.
Vinil ou CD? Quais os pontos fortes de cada formato, para você?
Vinil, lógico! Pelo som, pelo ritual, pelo cheiro (risos)! Na minha opinião, a única desvantagem do vinil é a praticidade, mas mesmo assim é mais prazeroso ver uma estante entupida de LPs do que de CDs.
Vantagem do CD? Não sei, mas tem umas edições legais com encartes cheios de fotos, bem elaborados, mas não tenho tesão por CDs. Ainda restam uns poucos aqui, mas mal os escuto.
Existe algum instrumento musical específico que o atrai quando você ouve música?
Depende de cada música. Tem faixa que a bateria chama mais atenção, outra os metais, outra a guitarra, outra o baixo, outra a voz, e por aí vai. Mas como toco (ou tento) guitarra, presto bastante atenção nos timbres. É uma delícia ouvir um som de Les Paul no amp valvulado.
Qual foi o lugar mais estranho onde você comprou discos?
Num mercado. Comprei três compactos (dois do Tom Zé e um do Sérgio Sampaio) de um vendedor de frutas (risos).
Qual foi a melhor loja de discos que você já conheceu?
Como viajo muito pouco, a melhor loja que conheci foi em Salvador, a Bazar Som 3, com uma grande variedade, e o dono (Sr. Haniel) é muito gente boa.
Conte-me uma história triste na sua vida de colecionador.
Triste é o bolso ficar vazio (risos). Mas no final tudo acaba em pizza - ops, digo, em música.
Como você organiza a sua coleção? Dê uma dica útil de como guardar a coleção para os nossos leitores.
Organizo em ordem alfabética, separando os nacionais dos internacionais, e mantenho os discos sempre limpos, protegidos com plásticos e empilhados horizontalmente.
Além da música, que outros fatores o atraem em um disco?
Toda a magia (risos)! O ritual de lavar, ouvir, trocar os lados, a capa grande - que é uma verdadeira obra de arte -, vê-lo girar ...
Quais são os itens mais raros da sua coleção?
Não sei ao certo, mas acredito que seja o compacto da banda carioca A Bolha, de 1972, e o Blood on the Snow do Coven, original com selo Buddah.
Você tem ciúmes da sua coleção?
Cara, não dou e não empresto pra qualquer um. Vinil pode se tornar perigoso para quem não sabe manusear - isto é, perigoso para o dono.
Quando você está em uma loja procurando discos, você tem algum método específico de pesquisa, alguma mania, na hora de comprar novos itens para a sua coleção?
Não tenho. Vou garimpando, daí se aparecer alguma coisa legal vou separando.
O que significa ser um colecionador de discos?
Filosofia de vida. Muitos curtem ioga como terapia, a minha é comprar discos e ouvi-los.
O que mudou da época em que você começou a comprar discos para os dias de hoje, onde as lojas de discos estão em extinção? Do que você sente saudade?
Mudou muito em questão de preços. Antes se encontrava um bom disco por 0,50 ou 1, hoje em dia não. Sinto falta das garimpagens em sebos aqui em Maceió. Como os discos sumiram, ou quando aparecem pedem caro, me rendi à internet.
Você gosta muito do rock dos anos 60 e 70. Só essas décadas tem música boa, ou existiram grupos interessantes também nos anos 80, 90 e 00?
Claro que existiram. Curto muito bandas como Nirvana, U2, Black Crowes, e nacionais como Ira!, Legião, Titãs, Ultraje a Rigor. Hoje em dia aparecem muitas bandas brasileiras boas, só que a grande maioria na cena independente. Vi um show outro dia da Camarones Orquestra Guitarrística (banda de rock instrumental de Natal) e fiquei de cara. Muito bom!
Walter, muito obrigado pelo papo. Pra fechar, o que você está ouvindo e recomenda aos nossos leitores?
Chegaram uns discos aqui e tô pirando. Um deles é o do Josefus de 1970, muito massa!!! Quem não conhece, procura aí.
Ricardo, muito obrigado pelo papo e pela oportunidade de mostrar um pouco do meu hobby. E que um dia todos entendam que disco é cultura, disco é arte, não é loucura como muitos costumam dizer. Abraços.
Babei na coleção! sensacional!! muito bom msm!
ResponderExcluirAbraço!
Ronaldo
PS: Cadão, não consigo postar um comentário nem a pau no seu blog novo!
Ué, estranho. Vou ver se descubro o que está acontecendo.
ResponderExcluirRapaz talvez a melhor coleção que eu vi até hoje. E tem o Coven que é a minha melhor descoberta sonora de 2011 disparado! Chocante ver o vinil!
ResponderExcluirNão adianta, essas coleções com versões em vinil de álbuns raros dos anos setenta são sempre de babar ...
ResponderExcluirE tem outra nessa linha a caminho, preparem-se!
O Walter é uma grande amigo da Disco é Cultura (Orkut), já acompanhava essa coleção faz tempo e é isso tudo mesmo. Pena que quando passou pela terrinha não deu pra nos conhecer pessoalmente, mas fica para a próxima. Parabéns Walter Cabeça.
ResponderExcluirPS: o Evilásio da comunidade
http://www.facebook.com/home.php?sk=group_183928468317829&ap=1
é outro bolha fodão.
Parabéns, bela coleção,vi que tem alguma coisa do Rei Roberto Carlos e do tremendão Erasmo Carlos aí né bicho???E muitas outras coisas mais,
ResponderExcluirParabéns pela coleção,
Abraços
Legal demais a coleção! Interessante como a simples leitura desse tipo de entrevista e as fotos podem despertar a vontade de conhecer coisas que nunca imaginei ouvir. Eu cresci com meu pai ouvindo Roberto Carlos, tenho vários cds dele dos anos 60 e não conheço nada de Erasmo Carlos ou Ronnie Von... Vou baixar esses discos aí e ouvir, quem sabe eu goste.
ResponderExcluirEu não fazia ideia que a Marília Pera havia gravado um LP!
Esse Coven aí é o mesmo que lançou o Witchcraft Destroys Mind...? Eu adoro aquele disco, mas só tenho os arquivos, ainda não achei pra comprar. Aliás, já achei mas teria que vender as córneas ou um rim.
Parabéns. Muito legal a coleção e a entrevista. Muitos discos bons.
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