Arch/Matheos: crítica do álbum 'Sympathetic Resonance' (2011)


Por Marcelo Vieira

Nota: 10

Em uma de suas citações mais famosas, Carlos Drummond de Andrade, ao mesmo tempo em que afirma que “a produção voluntária não vai além da mediocridade”, define as obras-primas como frutos do acaso. É o que acontece com Sympathetic Resonance, que resultou do acaso que foi a reunião entre o vocalista John Arch e o guitarrista Jim Matheos, dupla responsável pela criação do Fates Warning em 1982.

Diante da indisponibilidade de Ray Alder (vocal), Matheos resolveu dar novo destino ao material que havia escrito originalmente para um novo álbum do Fates Warning. A aproximação com Arch ocorreu em 2010. Para completar o time, outras duas feras: o baixista Joey Vera (Armored Saint, Anthrax) e o baterista Bobby Jarzombek (Demons and Wizards, Halford). Estava formado o Arch/Matheos.

Com seis músicas fechadas e muita vontade de fazer bonito, o quarteto contou com o auxílio do guitarrista Frank Aresti nas gravações. A participação do ex-dupla de Matheos no Fates Warning (naquela que foi, indiscutivelmente, a melhor fase da banda) talvez seja o motivo que mais impulsione os fãs de Adler a conferirem o som do quarteto, pois há ainda quem torça o nariz para o incrível John Arch.

“Neurotically Wired” abre o trabalho de forma climática, remetendo, obviamente, ao estilo dos primeiros álbuns do Fates Warning. Com mais de dez minutos de duração, soa como uma suíte dividida em várias partes, atestando, a cada uma delas, a expertise instrumental dos envolvidos e como o tempo foi generoso com Arch, preservando sua voz de forma impressionante. “Midnight Serenade” traz afinação rebaixada e muita distorção, numa base pesada que permite um bate-cabeça em mid-tempo. É música para ser tocada ao vivo e ovacianada após o término.

Primeiro single do álbum, “Stained Glass Sky” é uma viagem total. Harmonia complexa, tempos quebrados, uso de escalas exóticas, palhetadas frenéticas em solos a mil por hora, musicalidade apurada e um show a parte da cozinha. São 13 minutos de duração, com a voz só surgindo lá pelo quarto minuto, mas você nem sente de tão fantástica que é a atmosfera. A bateria em “On the Fence” é absurda. Bobby Jarzombek incorpora o estilo “polvo” de tocar, e Arch arrisca tons altíssimos, se saindo muito bem.

“Any Given Day” tem contornos mais moderninhos, e a sensação de várias músicas em uma só volta com tudo. O instrumental é uma avalanche – ou melhor, um terremoto. E, como não poderia deixa de ser, o encerramento começa ao violão com “Incense and Myrrh”, em um número que promete caso a banda resolva se apresentar ao vivo. A música cresce de forma espantosa no refrão, com interpretação fabulosa de Arch, mas não restam dúvidas de que este som foi escrito para Alder cantar. Quem sabe um dia …

Sympathetic Resonance é uma obra-prima com origem no acaso. Aristóteles já dizia que“geralmente, são os bens que provém do acaso que provocam inveja”, e eu já posso imaginar muita gente boa tomando esse álbum como inspiração. Já está no meu top 10 de 2011, com todos os méritos. E, se eu pudesse, daria nota 11.



Faixas:
  1. Neurotically Wired
  2. Midnight Serenade
  3. Stained Glass Sky
  4. On the Fence
  5. Any Given Day
  6. Incense and Myrrh

Comentários

  1. Infelizmente Ray Alder não aguenta mais cantar,Vide o novo album do Redemption onde sua voz parece sumir em alguns momentos.

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  2. Ricardo, já havia lido um review deste álbum em outro site. Está na minha lista de "a conferir".
    By the way, aproveito pra indicar o site mencionado acima http://www.angrymetalguy.com
    É uma dupla que escreve os melhores reviews que tenho lido nos últimos tempos.
    Tenho pescado ótimas dicas deste blog...e do seu também. :-)

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  3. Rodrigo, já conheço esse site, é realmente muito bom. E esse review do Arch/Matheos é do Marcelo Vieira, ainda não ouvi o disco.

    Abraço, e obrigado pelo comentário.

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  4. Um dos melhores CDs do ano, de fato. Impressionante... os caras resgataram o ponto onde pararam no Awaken The Guardian!

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  5. nunca tinha ouvido falar desta banda...

    mas depois de ouvir o video, com certeza eu quero ouvir mais..

    obrigado pela resenha..

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  6. Eu discordo do Ayrton aí em cima. Acho que o Ray está mais experiente, dosando os agudos e adotou uma linha diferente no Redemption justamente pra diferenciar do Fates Warning.
    Com relação ao Arch/Matheos, achei muito bom o disco. Algumas musicas poderiam ser mais curtas.

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