Por
Fabiano Negri
Nunca fui daqueles que critica Axl Rose por ter continuado o Guns N' Roses
sem os membros originais. Acredito que com esforço, dedicação e
talento – que obviamente Axl possui – as coisas sempre podem
funcionar. Acredito também que grande parte da crítica
especializada pega demais no pé do cara, e que Chinese Democracy
está longe de ser o desastre musical que todos falam.
Por
isso, eu estava com muita expectativa com relação ao show do Guns
no Rock in Rio. Amparado pela excelente apresentação que assisti em
São Paulo no ano passado, tinha quase certeza que essa seria uma
ótima oportunidade para o novo Guns N' Roses mostrar o seu trabalho
e provar que existe vida após Slash. Pois é, eu estava errado.
Axl
Rose é um caso sem solução. Já começou a causar confusão quando
perdeu seu vôo para o Brasil e teve que ser rastreado e trazido em
um jato particular. Algumas pessoas dizem que ele estava
completamente fora de si quando foi colocado no avião, e que chegou
por aqui sem emendar uma frase na outra. Não posso afirmar nada
disso, mas não duvido que seja verdade.
Após
o show do System of a Down, boatos davam conta de que Axl não queria
subir ao palco e que, inclusive, estaria disposto a pagar uma multa
para que isso não acontecesse. Ao que parece houve até confronto
entre os seguranças pessoais de Axl e os do Rock in Rio. Mais uma
vez, digo: são boatos, mas …
O
Guns N' Roses entrou no palco às 2:40h da manhã de segunda-feira
para tocar para uma plateia exausta, que aguardou debaixo de uma
chuva torrencial a chegada de seu ídolo. Na verdade, pessoas do
mundo todo estavam ligadas pela TV e internet para assistir essa
apresentação. O mínimo que poderíamos esperar era um grande show.
Pouco me importa o fato do cara estar gordo, velho e feio – coisa
que parece importar muito para algumas pessoas -, o que eu quero ver
é disposição e uma boa performance.
Já
na entrada, com “Chinese Democracy”, deu para perceber que a
sintonia entre Axl e a banda não era das melhores. Enquanto o grupo
apresentava um show coeso, Axl seguia ofegante, sem seu drive
habitual e com muita dificuldade para sustentar as notas. É claro
que ouvir ao vivo a trinca “Welcome to the Jungle”, “It's So
Easy” e “Mr Brownstone” levanta qualquer defunto, mas para quem
estava assistindo em casa a realidade era outra. A impressão é que
após os últimos shows da tour do ano passado – em que se
encontrava em ótima forma física, mental e psicológica -, Axl
ficou sem ensaiar e encontrar a banda. Ficou muito evidente o descaso
dele com a situação, o que deixa em xeque até que ponto ele
realmente gostaria de estar ali, fazendo os shows que são agendados.
O
único momento que gerou certa empolgação foi na execução de “Estranged”, música épica de Use Your Illusion II. No
comentário após a canção, Axl deixou claro que não esteve com o
grupo nos últimos meses. Ele disse que não cantava a música há 18
anos, e que a banda talvez a tivesse executado por três ou quatro
vezes na última semana. Para bom entendedor, meia palavra basta. De
qualquer forma, foi o melhor momento do show.
Que
fique claro que o grupo não têm nenhuma culpa pelo fiasco da
apresentação. Contando com músicos mediados e outros de alto
gabarito – como o guitarrista Ron Thal e o baterista Frank Ferrer
-, a banda fez a sua parte, veio ensaiada e demonstrou boa vontade
para interagir com o público. É um time que pode render um bom
caldo com o devido incentivo e planejamento.
Os
maiores constrangimentos ficaram para o final. Em “November Rain”,
a falta de voz ficou em segundo plano quando, na estrofe após o
segundo solo, Axl errou a letra, se perdeu completamente martelando
notas erradas no piano e não conseguiu se recuperar, fechando a cara
até o final da música. Coisa parecida aconteceu em “Patience”,
só que dessa vez ele baixou a cabeça e ficou chutando poças de
água no palco. O fechamento se deu com uma versão desanimada de
“Paradise City”, onde a expressão de Axl era de total entrega
dos pontos.
Eu
sei que quem estava no show curtiu. A pressão do som e a energia da
galera passam uma boa maquiagem na situação. Pela TV tudo soou
real, frio e melancólico.
Será
que Axl Rose quer realmente fazer essas tours? Ele está mentalmente
preparado para isso? Se quer, porque deixar a banda ensaiar sozinha
enquanto engorda e perde o timing de palco em casa? Por que quis dar
sumiço um dia antes do show? Por que não trabalha em um disco novo
com os membros atuais? E, acima de tudo, por que falta com respeito
para alguns dos fãs mais devotados do mundo, que são capazes de
aplaudir até apresentações amadoras e desanimadas como essa?
A
verdade é que ele não quer. A chama há muito tempo se apagou, mas a
máquina o obriga a fazer isso. Basta querer enxergar …
Para
fechar, esse não é o relato de um crítico que quer malhar a banda.
É o relato de um fã que acompanha – e curte – o trabalho de Axl
desde 1987.
Eu imagino que talvez parar com os shows fosse equivalente a chutar o balde.
ResponderExcluirAcho que ele tem muitos erros acumulados e deve andar bem infeliz ultimamente. Acho que se ele se resolvesse com a vida poderia dar tudo certo, mas isso é muito difícil, todo mundo sabe... Talvez ele tome vergonha na cara algum dia, ainda mais depois dessa apresentação global.
Eu tava lá e curti de um jeito ou de outro. Pra quem ama as músicas somente sentir a presença de um ídolo em cima de um palco fazendo o mínimo para que o show não seja um fracasso total basta.
Por mais que não tenha gostado da análise do dia 2 do RiR eu concordo com essa do show do Axl. Mas também faço questão de dizer que foi especial mesmo assim.
Fabiano, eu não concordo com a realização de uma resenha de show assisitido via televisão, mas mesmo assim tenho que reconhecer a sua sensatez, coisa rara em se tratando de Guns n' Roses hoje em dia. Crítica fundamentada é isso: critica-se o que é ruim baseado em fatos, não em especulações, geralmente permeadas de má vontade, que é o que tenho lido e assisitido em todos os lugares desde antes e agora após o show da banda.
ResponderExcluirComo você, não critico Axl pelo fato de continuar com o Guns n' Roses com outros músicos, e gosto de "Chinese Democracy". Critico sim seu desgaste evidenciado na apresentação, suas atitudes que colocam em xeque a credibilidade do grupo, seu descuido com seu instrumento, que é a voz. Agora, querer escrever a história antes dela acontecer, como o que vi por quase todos os meios, ah, isso eu não faço. E rio de quem ousa reduzir um músico com o talento de Bumblefoot a apenas um miquinho amestrado assalariado.
Tenho lido muitas críticas detonando a atuação do Guns. Não tanto da banda, mas sobretudo do gordo Axl que não teria respeito para com os fãs. Não se cuida e não aguenta mais fazer shows.
ResponderExcluirPode até ser. Precisa melhorar mesmo. Mas não vou entrar nesse mérito e sim da questão dos fãs.
Talvez os críticos que viram pela TV estejam esquecendo que o que conta muito nessa situação é o clima do evento (e tome chuva torrencial abaixo e até isso, por incrível que pareça, ajudou).
Axl Rose marcou a vida de muita gente (jovens sobretudo) com seus ótimos trabalhos nos anos 80 e 90. Não se deve criticar fãs (e isso aconteceu) que veneram aquele ídolo fora de forma.
Estar no mesmo ambiente que ele faz os fãs experimentarem uma sensação de êxtase, um retorno no relógio do tempo biológico, de integração com todos que estavam ali emocionados.
Mexer com as emoções, marcando para sempre a vida de um jovem não é para qualquer um. Axl (do qual eu nem sou grande fã pois minhas referências são anteriores) fez isso naquela noite, só por estar ali, na frente deles, existindo como 'ser real'. E isso tem que ser respeitado pois tem um valor imenso, para além da forma física e da perfomance técnica da noite.
Óbvio: seria melhor se ele tivesse se cuidando e estivesse em ótima forma (ainda é jovem com 49 anos) mas, enquanto isso não acontece, não vamos pregar um afastamento total dos palcos. Deixemos os fãs sentirem as mesmas emoções desta madrugada de domingo para segunda-feira.
Comento isso com propriedade: meu filho de 18 anos - que estava lá na frente - depois de se empolgar com a fantástica apresentação do System of a Down se emocionou junto com os amigos ao ver e interagir in loco com o Guns.
Sáude e juízo pro Axl.
Abraços aos leitores e a todos da #collectorsroom.
Diogo, vc vai me desculpar, mas um dos maiores vexames do RiR foi o Bumblefoot perdendo todo o solo de Welcome to the Jungle pq tava fazendo graça com um capacete do StarWars e não deu conta de tocar...
ResponderExcluirObrigado pelos comentários.
ResponderExcluirSei que cada um possui uma visão sobre o show. Essa é a minha. Espero que o Axl se recupere e volta a fazer boas apresentações e boa música como antigamente. Não é pra sempre que ele terá esse enorme número de fãs esperando por ele.
Fico com muita pena em saber que um show que teria tudo pra ser um dos melhores desta versão do Rock In Rio não tenha correspondido...
ResponderExcluirPergunto a vocês: Quantos anos se passaram de 1987 a 2011? Qualquer vocalista que cante com características parecidas com a do Axl e conteporâneo a ele faria algo parecido.
ResponderExcluirPergunto a vocês: Quantos anos se passaram de 1987 a 2011? Qualquer vocalista que cante com características parecidas com a do Axl e conteporâneo a ele faria algo parecido.
ResponderExcluirAo Phenomenom... vc quer uma lista de 10? 15?
ResponderExcluirSobre o show tb acompanho a banda desde 1987, tendo visto o 2o Rock In Rio e o Show em Jacarepaguá em 1992.
A banda tecnicamente é boa, os músicos têm talento... mas se o patrão não ajuda, eles não fazem milagre.
Acordem para o novo milênio, como eu vou respeitar um artista que caga no seu próprio legado? Como vou considerar isso arte? As atitudes de Axl Rose falam por ele mesmo.