Iced Earth: review do DVD 'Festivals of the Wicked' (2011)



Nota: 8

Antes de falar de Festivals of the Wicked, novo lançamento do Iced Earth disponibilizado no Brasil em DVD e CD pela Shinigami Records, vale mencionar que, apesar de já existirem dois vídeos com o nome do grupo na capa, esse é de fato o primeiro DVD oficial da banda de Jon Schaffer. Explico: Gettysburg (1863) (2005) era um documentário sobre a Guerra Civil norte-americana, uma das fixações de Schaffer, e cuja trilha contava com sons do Iced Earth. E Alive in Athens (2006), vídeo gravado durante os mesmos shows que deram origem ao ótimo álbum triplo ao vivo homônimo lançado em 1999, foi colocado no mercado pela Century Media sem autorização de Schaffer, e conta com qualidade de som e imagem apenas mediana.

Dito isso, a expectativa em relação a Festivals of the Wicked era imensa. É aí que está o problema. O DVD conta com um documentário de 1 hora e três shows diferentes. Duas dessas apresentações foram gravadas em 2008, durante a turnê do álbum The Crucible of Man (Something Wicked Part 2), e trazem Matt Barlow nos vocais. O outro foi captado no Wacken Open Air de 2007, quando Tim 'Ripper' Owens ainda era o vocalista do grupo.

Vamos começar pelo documentário. Contando com uma longa entrevista com Jon Schaffer em seu estúdio e pequenos depoimentos dos demais integrantes, o vídeo peca por não se aprofundar em nenhum dos temas levantados. Tudo é muito bem produzido, mas também muito raso. O principal atrativo é o papo com Schaffer, que conta algumas curiosidades sobre a trajetória do grupo e detalhes sobre como a atentado de 11 de setembro afetou profundamente a carreira do Iced Earth. Mas esses assuntos, que poderiam render respostas muito mais abrangentes e esclarecedoras, não se desenvolvem. Gravado em 2008, o documentário tem uma cara excessivamente “chapa branca”. De modo geral o vídeo soa cansativo, muito pelo excesso de cenas dispensáveis, como as gravadas no ônibus da turnê e que não acrescentam nada, e também os trechos onde cada integrante é foco dos comentários dos demais músicos – todos elogiosos, é claro. A narrativa é entrecortada por algumas faixas retiradas dos shows que acompanham o pacote, o que, na minha opinião, acaba sendo desnecessário, pois rouba espaço que poderia ser preenchido com outro material com cenas que estão também nos shows presentes no DVD.

O show principal de Festivals of the Wicked é a apresentação no festival Metal Camp, na Eslovênia, em 2008. Nele, percebe-se o quanto Matt Barlow é um vocalista diferenciado e dono de um carisma quase hipnótico em relação aos fãs. Ainda que fique claro ser impossível alcançar alguns tons absurdamente altos gravados nas versões de estúdio, Barlow canta com inteligência, usando as áreas mais graves da sua voz para deixar as canções ainda mais fortes e ameaçadoras. A performance da banda nesse show é excelente, com destaque para as pequenas alterações executadas pelo guitarrista Troy Steele nos arranjos originais.

Mas, estranhamente, os melhores concertos ficaram para o segundo disco. O show no Rock Hard Festival, também de 2008, é ligeiramente superior ao do Metal Camp. Esse foi o primeiro festival que a banda tocou após o retorno de Barlow ao grupo, e isso fica claro, com o vocalista e os demais músicos tocando com sangue nos olhos. As versões presentes aqui são, em sua maioria, melhores às gravadas no Metal Camp – que já eram ótimas -, e estão entre os melhores registros ao vivo do grupo. A única crítica é que as duas apresentações são praticamente iguais, com exceção de “I Died For You”, executada somente na Eslovênia. Por mais que se entenda que tratam-se de shows da mesma tour, a banda poderia ter variado o setlist ou escolhido outro concerto para colocar nesse DVD, afinal, um lançamento que conta com três apresentações, sendo que duas delas com praticamente as mesmas músicas, acaba sendo um certo desperdício de espaço.

Já o vídeo que fecha o DVD é o melhor de todos. Ainda que eu não seja necessariamente fã da fase de Tim Owens no Iced Earth – considero The Glorious Burden (2004) um grande disco, mas não curto as suas interpretações para as faixas gravadas originalmente por Barlow -, o gigantismo de tudo que envolve o Wacken Open Air, o maior festival de heavy metal do planeta, faz a diferença. Pra começo de conversa, em termos técnicos essa apresentação é muito superior às outras duas. As cenas, a edição, os ângulos, a iluminação, o som – tudo é melhor. Depois, temos o fato de, mesmo já ciente que estava fazendo um de seus últimos shows com o grupo – ou justamente por causa disso -, Ripper cantou demais. A sua performance, mesmo exagerando em alguns momentos ao colocar agudos em trechos desnecessários, é espetacular. O setlist é diferente dos dois outros shows, tendo como destaque a execução da trilogia que fecha o álbum Something Wicked This Way Comes (1998), com as ótimas “Prophecy”, “Birth of the Wicked” e “The Coming Curse”. Após assistir esse apresentação em Wacken, a constatação é óbvia: ela só não é a atração principal do DVD por não contar com Barlow nos vocais, porque é muito superior às outras duas.

Fechando, temos os clipes de “The Reckoning”, “When the Eagle Cries”, “Declaration Day” e “Ten Thousand Strong”, além de galerias de fotos e outros pequenos quitutes.



O pacote Festivals of the Wicked conta também com um CD, e é aqui que a coisa realmente se torna uma grande decepção. A razão para isso é simples: os shows presentes no DVD somam quase seis horas de áudio, e o CD conta com apenas 12 faixas, sendo quatro de cada apresentação. Na boa, o grupo poderia ter lançado um CD duplo excelente pinçando as melhores faixas dessas três apresentações, e não um CD que, de um modo geral, não acrescenta nada ao pacote, sendo quase um item dispensável.

Mesmo assim, a qualidade das composições e o cuidado com a produção fazem de Festivals of the Wicked um item muito interessante. Porém, é inegável que ele poderia ser muito melhor do que realmente é, ainda mais por se tratar do primeiro DVD lançado de forma oficial, com o consentimento de Jon Schaffer.

É bom, mas poderia ser excelente.

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