Nota: 8
Antes
de falar de Festivals of the Wicked, novo lançamento do Iced
Earth disponibilizado no Brasil em DVD e CD pela Shinigami Records,
vale mencionar que, apesar de já existirem dois vídeos com o nome
do grupo na capa, esse é de fato o primeiro DVD oficial da banda de
Jon Schaffer. Explico: Gettysburg (1863) (2005) era um
documentário sobre a Guerra Civil norte-americana, uma das fixações
de Schaffer, e cuja trilha contava com sons do Iced Earth. E Alive
in Athens (2006), vídeo gravado durante os mesmos shows que
deram origem ao ótimo álbum triplo ao vivo homônimo lançado em
1999, foi colocado no mercado pela Century Media sem autorização de
Schaffer, e conta com qualidade de som e imagem apenas mediana.
Dito
isso, a expectativa em relação a Festivals of the Wicked era
imensa. É aí que está o problema. O DVD conta com um documentário
de 1 hora e três shows diferentes. Duas dessas apresentações foram
gravadas em 2008, durante a turnê do álbum The Crucible of Man
(Something Wicked Part 2), e trazem Matt Barlow nos vocais. O
outro foi captado no Wacken Open Air de 2007, quando Tim 'Ripper'
Owens ainda era o vocalista do grupo.
Vamos
começar pelo documentário. Contando com uma longa entrevista com
Jon Schaffer em seu estúdio e pequenos depoimentos dos demais
integrantes, o vídeo peca por não se aprofundar em nenhum dos temas
levantados. Tudo é muito bem produzido, mas também muito raso. O
principal atrativo é o papo com Schaffer, que conta algumas
curiosidades sobre a trajetória do grupo e detalhes sobre como a
atentado de 11 de setembro afetou profundamente a carreira do Iced
Earth. Mas esses assuntos, que poderiam render respostas muito mais
abrangentes e esclarecedoras, não se desenvolvem. Gravado em 2008, o
documentário tem uma cara excessivamente “chapa branca”. De modo
geral o vídeo soa cansativo, muito pelo excesso de cenas
dispensáveis, como as gravadas no ônibus da turnê e que não
acrescentam nada, e também os trechos onde cada integrante é foco
dos comentários dos demais músicos – todos elogiosos, é claro. A
narrativa é entrecortada por algumas faixas retiradas dos shows que
acompanham o pacote, o que, na minha opinião, acaba sendo
desnecessário, pois rouba espaço que poderia ser preenchido com
outro material com cenas que estão também nos shows presentes no
DVD.
O
show principal de Festivals of the Wicked é a apresentação
no festival Metal Camp, na Eslovênia, em 2008. Nele, percebe-se o
quanto Matt Barlow é um vocalista diferenciado e dono de um carisma
quase hipnótico em relação aos fãs. Ainda que fique claro ser
impossível alcançar alguns tons absurdamente altos gravados nas
versões de estúdio, Barlow canta com inteligência, usando as áreas
mais graves da sua voz para deixar as canções ainda mais fortes e
ameaçadoras. A performance da banda nesse show é excelente, com
destaque para as pequenas alterações executadas pelo guitarrista
Troy Steele nos arranjos originais.
Mas,
estranhamente, os melhores concertos ficaram para o segundo disco. O
show no Rock Hard Festival, também de 2008, é ligeiramente superior
ao do Metal Camp. Esse foi o primeiro festival que a banda tocou após
o retorno de Barlow ao grupo, e isso fica claro, com o vocalista e os
demais músicos tocando com sangue nos olhos. As versões presentes
aqui são, em sua maioria, melhores às gravadas no Metal Camp –
que já eram ótimas -, e estão entre os melhores registros ao vivo
do grupo. A única crítica é que as duas apresentações são
praticamente iguais, com exceção de “I Died For You”, executada
somente na Eslovênia. Por mais que se entenda que tratam-se de shows
da mesma tour, a banda poderia ter variado o setlist ou escolhido
outro concerto para colocar nesse DVD, afinal, um lançamento que
conta com três apresentações, sendo que duas delas com
praticamente as mesmas músicas, acaba sendo um certo desperdício de
espaço.
Já
o vídeo que fecha o DVD é o melhor de todos. Ainda que eu não seja
necessariamente fã da fase de Tim Owens no Iced Earth – considero
The Glorious Burden (2004) um grande disco, mas não curto as
suas interpretações para as faixas gravadas originalmente por
Barlow -, o gigantismo de tudo que envolve o Wacken Open Air, o maior
festival de heavy metal do planeta, faz a diferença. Pra começo de
conversa, em termos técnicos essa apresentação é muito superior
às outras duas. As cenas, a edição, os ângulos, a iluminação, o
som – tudo é melhor. Depois, temos o fato de, mesmo já ciente que
estava fazendo um de seus últimos shows com o grupo – ou
justamente por causa disso -, Ripper cantou demais. A sua
performance, mesmo exagerando em alguns momentos ao colocar agudos em
trechos desnecessários, é espetacular. O setlist é diferente dos
dois outros shows, tendo como destaque a execução da trilogia que
fecha o álbum Something Wicked This Way Comes (1998), com as
ótimas “Prophecy”, “Birth of the Wicked” e “The Coming
Curse”. Após assistir esse apresentação em Wacken, a constatação
é óbvia: ela só não é a atração principal do DVD por não
contar com Barlow nos vocais, porque é muito superior às outras
duas.
Fechando, temos os clipes de “The Reckoning”, “When the Eagle
Cries”, “Declaration Day” e “Ten Thousand Strong”, além de
galerias de fotos e outros pequenos quitutes.
O pacote Festivals of the Wicked conta também com um CD, e é aqui que a coisa realmente se torna uma grande decepção. A razão para isso é simples: os shows presentes no DVD somam quase seis horas de áudio, e o CD conta com apenas 12 faixas, sendo quatro de cada apresentação. Na boa, o grupo poderia ter lançado um CD duplo excelente pinçando as melhores faixas dessas três apresentações, e não um CD que, de um modo geral, não acrescenta nada ao pacote, sendo quase um item dispensável.
Mesmo
assim, a qualidade das composições e o cuidado com a produção
fazem de Festivals of the Wicked um item muito interessante.
Porém, é inegável que ele poderia ser muito melhor do que
realmente é, ainda mais por se tratar do primeiro DVD lançado de
forma oficial, com o consentimento de Jon Schaffer.
É
bom, mas poderia ser excelente.
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