Motivado pelas recentes declarações de Edu Falaschi, vocalista do Angra e do Almah, sobre a falta de apoio ao metal nacional, Fernando Quesada, baixista do Shaman, distribuiu uma carta aos meios de comunicação com a sua opinião a respeito do assunto.
Ao contrário de seu colega de banda Thiago Bianchi, Quesada se mostra articulado e inteligente em suas colocações, e, ainda que analise exclusivamente a cena do metal melódico, dá um depoimento que lança um pouco mais de luz sobre o tema, que está sendo debatido intensamente aqui no site.
Leia abaixo a carta aberta de Fernando Quesada e deixe a sua opinião nos comentários:
“Dentro desse momento muito interessante que passamos no cenário do metal nacional, eu também quero expor a minha opinião, como alguém de dentro e fora dos bastidores.
Como alguns sabem, eu sou fã de metal melódico e power metal há mais tempo do que sou músico desses estilos. Cresci ouvindo Angra, Shaman, Wizards, Hangar, Karma, Dr Sin e diversas outras bandas, e sempre imaginei muitas coisas de fora dos bastidores antes de entrar no Shaman. Hoje vejo tudo de outra maneira, por isso queria esclarecer algumas coisas com a minha opinião de ao mesmo tempo fã e músico!
Primeiro, gostaria muito de agradecer ao Thiago Bianchi e a todos os envolvidos e bandas no evento, que tive o prazer de rever e conhecer e, principalmente, aos fãs que estavam presentes, que fizeram esse primeiro passo ter resultado. E realmente colocar aqui que, se existem culpados pelos shows não estarem lotados, na minha opinião não são os espectadores, fãs ou consumidores das bandas. Se uma pessoa escolhe não ir a um show, tem algum motivo pelo que ela não foi cativada, e todos tem o livre arbítrio para irem ou virem como quiserem. Então, de novo, agradeço aos que foram e também agradeço aos que escreveram sobre o evento, que deram opiniões e fizeram um barulho sobre isso, mesmo não tendo ido ao festival!
E qual seria o culpado pela decadência desse estilo e shows vazios? De novo, na minha opinião, não existe culpado. O próprio cenário musical, de década em década, renova o estilo em evidência e faz com que os gêneros e bandas sejam cíclicas. E isso não é culpa de nada e nem de ninguém, e nem é algo ruim. Música é comunicação! Veja como a comunicação mudou nos últimos anos, e me pergunto se a música também não iria mudar! E durante essas mudanças do meio, por quê o metal melódico e o power metal não ficaram em evidência? O nosso estilo não é um estilo de massa, é um estilo para poucos que gostam e apreciam. É uma música feita para apreciação e análise instrumental e vocal, que hoje em dia não faz parte do que a massa entende por ouvir música. É um estilo que não segue um padrão visual de massa também, e é um estilo que foi atual na década de 90 e começo dos anos 2000. Resumindo, o metal não procurou e não procura ser atual e fazer um som de mentira para agradar gregos e troianos. E esse é o lance legal do heavy metal! O metal é um estilo de vida. A paixão, adoração pelo estilo e fazer por paixão aquilo da maneira mais natural e verdadeira, sem acompanhamento de tendências mercadológicas.
Só que nós, profissionais do meio, temos que saber que isso traz consequências e realmente faz gerar o que aconteceu com diversos outros estilos, que é fazer parte de um cenário underground onde vão existir momentos muito difíceis como este que estamos passando, onde não existe divulgação grande para shows, eventos, lançamentos e nem muita estrutura física e financeira para grandes feitos e grandes aparições que fazem o estilo musical ficar em evidência novamente. Realmente, quando o estilo não fica "popular", ele perde audiência, e como consequência temos o que percebemos no metal melódico, que é um grande número da fãs acompanhando, mas espalhados por aí. Então, fica normal e faz parte do processo cíclico da música, um período com menos gente nos shows mesmo! E ainda, não ter gente nos shows como tinha antes significa um envelhecimento natural dos fãs, que não tem mais tempo e nem faz parte do habitual comparecer em shows. Trabalham o dia todo, todos os dias na semana, e muitas vezes, por não querer gastar ou estar cansado, também não vão em shows. Isso é natural e faz parte da escolha de cada um! Nem por isso deixam de apreciar o estilo e fazer parte da cena!
E como fazer para lidar com isso? Durante muito tempo, o metal melódico se deu ao luxo de ter muita rivalidade entre bandas, egos fora do comum reinando nos grupos, produtores de shows que fazem monopólios, desrespeito com bandas mais iniciantes por parte das maiores, concorrência entre artistas, diretores de mídias pretenciosos e imparciais, e fãs que criticam muito e de maneira muitas vezes prejudicial ao meio, por tanta agressividade e falta de análise. Agora, neste momento, o que se precisa é a união! Isso já foi provado com diversos outros estilos musicais que caíram e se uniram para se recompor com estratégias e planos. Esse foi o intuito único desse evento. Uma oportunidade de conversa entre as bandas e um encontro dos fãs, para, de boca a boca, poder mostrar a qualidade da nossa música novamente e cativar mais pessoas para irem aos shows!
Então, o que está acontecendo hoje no estilo é um fato histórico, e os culpados por isso se manter e não dar a volta por cima são as bandas, produtores, fãs que criticam publicamente de maneira prejudicial, assessores e empresários que não conseguem mais cativar o público de uma maneira que façam com que saiam das casas para ir aos shows e não conseguem uma união real de ações e atitudes. Se essa união e essa força não ocorre, realmente não irá ter a aparição de novos fãs, e os antigos perdem os hábitos joviais de ir em shows e seguir uma banda onde quer que ela esteja.
O fato de falarem que o metaleiro é "paga pau de gringo" nada mais é do que falar que quase todo brasileiro é "paga pau de gringo". Somos um país e um povo que tem por cultura a admiração pela cultura estrangeira, desde bandas, marcas, roupas, alimentos, séries de televisão, filmes, etc. Sempre fomos assim, é só andar na rua e ver escritos em inglês por todas as placas, ou ouvir um som e ver que é cantado em inglês! Isso é uma coisa normal! É normal irmos a um show gringo de alguém que está longe de nosso alcance e prestigiar essa diversidade cultural. As bandas, mesmo de metal, lutam para ir para fora tocar! Então, elas são “paga pau de gringo”? Não é bem assim! Isso tem a ver com a nossa cultura. As pessoas ainda lotam os shows do Metallica, Iron Maiden, Bon Jovi, porque são cativadas para irem e tem vontade de ir. Porque estes não são divulgados como mídia underground e ainda atingem um público maior, com uma estrutura melhor, o que gera vontade e curiosidade!
Então, estamos com esse problema de atração e organização do próprio meio para gerar novos fãs e mais vontade das pessoas em acompanhar e seguir tudo isso.
De verdade, não acho que o metal nacional está acabando, até por que nem vou falar do thrash, death e heavy metal tradicional, pois não estou inserido para saber exatamente o que acontece, e também não acho que o metal melódico e o power metal nacionais também estejam acabando. Converso com bandas que surgem e as mesmas estão felizes, correndo atrás do seu trabalho. O que mudou foi o meio, e o que precisa mudar é a mentalidade dos líderes desse estilo, pessoas que acham que tudo é igual há 20 anos e nada neles tem que mudar. O meio mudou e muita gente precisa perceber que talvez um show de 300 pessoas hoje não represente um fracasso como representava 20 anos atrás, mas, sim, represente um momento que quem quer ver ao vivo, vai lá. Mas muitos outros vão ver pela internet, pelo celular e não vão sair de casa. Mas, mesmo assim, vão comentar e acompanhar. Para mim, fazer um show para 300, 500 pessoas hoje, representa um show para 5 mil amanhã, que verão isso. Então eles tem que procurar entender as mudanças do meio e aprender a lidar com isso.
Por isso, para finalizar, essa é apenas a minha opinião pessoal! Eu agradeço demais a todos que foram ao evento e a todos que entram em fóruns para elogiar e criticar, de maneira benéfica, por que, mesmo não indo aos shows, continuam fazendo a cena existir e se movimentar.
Nós, músicos, temos a obrigação de continuar tocando, fazendo o melhor e esperando e tendo atitudes para que nosso meio volte a ficar fortalecido.
Fiquei muito feliz com esse Primeiro Dia do Metal! Foi realmente impressionante ver a qualidade e força de todas as bandas lá presentes – Hangar, Illustria, Wizards, Nando Fernandes, Hibria, Almah e Shaman. Espero que continuem acontecendo eventos dessa magnitude com cada vez mais frequência e, se cada um que ocorrer cativar mais 10 pessoas, vamos estar no caminho certo para trazer o nosso estilo de volta à evidência. Qual fã ou músico não quer ligar a rádio e ouvir um bom e trabalhado metal melódico e power metal?
Agradeço a todos que trabalham oito horas por dia e ainda tem a vontade de entrar na internet e fazer um comentário sobre as bandas! Isso é ser fã. Não ir em show ou ir é só uma questão de poder ou não poder, de querer ou não querer. O importante é continuar acessando, conversando e movimentando tudo juntos!
De novo, obrigado a todos. Meu twitter é @fernandoquesada e estou afim de discutir isso, esclarecer tópicos para, juntos, podermos fazer o melhor possível!
Abraço a todos, e vamos fazer mais edições desse evento. Como eu gosto de dizer também, quantidade não é qualidade, mas quando a qualidade existe é inevitável a quantidade em médio e longo prazo! Por isso, acredito, e não importa se tem uma pessoa ou 30 mil, eu vou fazer o meu trabalho para crescer e fazer as pessoas se identificarem!”
Esse começou tocando música e não vendendo CD, como o Edu Falaschi.
ResponderExcluirBio do Myspace do Fernando Quesada:
" Aos 15 anos Fernando saiu em busca de seu primeiro emprego. Sempre gostando de gravações e estúdios, resolveu procurar um estágio em um estúdio para aprender sobre tudo, já que não tinha dinheiro para pagar cursos. "
Enquanto uns queimam o filme, outros tentam capitalizar em cima... eu acho hilário esse movimento de Metal Melódico!
ResponderExcluirQuem é esse cara? Numa boa...sem querer desmerecer a pessoa (até porque ele me parece um cara esforçado), por que ele fala como se fosse uma pessoa influente no cenário? O que ele fez? Se caras como Pit Passarel, André Matos, Andreas Kisser e até gente "menor" como Christian Passos ou Mário Pastore desse opinião teria mais influencia. Sei lá...isso tá virando motivo de piada. Daqui a pouco estão querendo criar "cota" pra Metal melódico (li isso em algum lugar e achei hilário).
O problema, na real, é no metal melódico, um estilo que estagnou em todo o mundo, e não só aqui no Brasil. Ou vocês viram alguma banda que não seja do gênero reclamando?
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ResponderExcluirO problema é que algumas figuras se acostumaram com o ápice de um estilo, e ainda não conseguiram entender que ele já "passou".
ResponderExcluirNão diversificaram investimentos, não leram o mercado, cortaram seus canais de comunicação e continuam produzir desenfreadamente o mais do mesmo achando que o povo vai querer consumir.
Edu Falaschi é um músico de metal e só. Veja se o Kiko Loureiro está nesse desespero... ele circula por outros meios, consegue respeito de outras formas...
O mundo mudou. Hoje se você não consegue se comunicar via facebook com seus fãs, vai ficar no underground e na minoria.
Se você não consegue receber um elogio sem receber dinheiro junto, é por que você não entendeu que o mercado mudou.
Se você utiliza os seus canais de comunicação, sem lapidação de assessoria de imprensa, para agredir as pessoas que ainda querem saber notícias tuas, você ainda não entendeu.
A forma de capitalizar e mensurar o retorno financeiro do teu trabalho, MUDOU.
Temos mais ídolos, mais conhecimento, mais opiniões, mais estilos, mais gente produzindo, mais gente consumindo, mais produtos, mais serviços, mais blogs, mais notícia, mais discussão, mais canais, mais formatos...
ResponderExcluirE aí, ou você encara isso como uma oportunidade de mercado, ou você volta a trabalhar vendendo cd em em loja pré-falida.
Parabéns ao Fábio Quesada, essa sim foi uma opinião ponderada e justa de alguém do meio, e não como a opinião do Edu Falaschi que foi lamentável. Claro que o Falaschi disse pontos pertinentes, mas a forma como ele disse atacando a não sei quem, é extremamente "ofensiva", e passa a impressão de alguém mimado. Nada mais do que isso.
ResponderExcluirO "grande problema" está mesmo no estilo, e não só no Brasil, mas como em todo mundo. Ou alguém que curte metal melódico tem descoberto grandes bandas desses nicho por ai? O estilo é enjoativo e estagnado. É isso.
ResponderExcluirO melódico estagnou, isso é fato e ocorreu em todo o mundo. A única banda do estilo - e que não se prende só a ele - que faz um som de qualidade hoje em dia e que merece atenção - que eu lembre - é o Kamelot, que soube dar uma cara própria a sua música.
ResponderExcluirExatamente, e no nicho do power metal citaria também o Iced Earth, Entretanto o power ainda é um estilo aonde cabe-se inovações, é bem maior a gama de bandas que praticam um som diferente dentro do estilo. Agora sobre o metal melódico é um estilo totalmente estagnado, é aquilo. Não sei se alguém concorda, mas nem vejo como ter-se evolução dentro desse estilo.
ResponderExcluirCara... to meio de saco cheio desse lance de músicos desabafarem... porra... se todo mundo desabafar contra a repercussão do que faz ou o apoio que recebe para algo que deseja dar continuidade em breve todos os profissionais de todos os ramos irão por desabafos... afinal não é só na música que isso acontece... aí fica todo mundo fazendo beicinho e escrevendo suas lamúrias na frente do PC... sejam mais úteis e reavaliem suas obras e o que fizeram... procurem reavivar sua arte... e não criticar o andamento do mercado.
ResponderExcluirMuito fácil dizer que fã de metal é paga pau de gringo neh.
ResponderExcluirAfinal de contas tenho certeza que os ídolos dessa galera do Movimento Metal Melódico são pessoas como Arnaldo Batista e Raul Seixas, que eles cresceram ouvindos Mutantes ou algo mais pesado como por exemplo Patrulha do Espaço. Nunca eles trocariam um show nacional por um showzinho de um Dio qualquer. Evidente que eles sempre priorizaram as economias para os discos nacionais ao invés do novo do Iron Maiden ou do Metallica.
Americanizada é só essa geração que aí está. Renato Russo cantou "Geração Coca-Cola" cedo demais.
Fernando Quesada está certíssimo. Eles não sabem se adaptar aos novos tempos. Fazer o que, é como diz a lei da seleção natural, os mais adaptaveis sobreviverão.
Acho extremamente hipócrita a história do "paga pau de gringo" ter vindo do Falaschi. Justamente o vocalista da banda que contou com Kai Hansen, Hansi Kürsch e a Sabine Edelsbacher como convidados especiais na gravação do Temple Of Shadows, gravou cover de Painkiller como bônus de álbum, tocavam The Number Of The Beast, Wasted Years, Flight Of Icarus e Cemetery Gates nos shows e, recentemente, recrutaram a Tarja naquele fiasco do Rock In Rio.
ResponderExcluirA opinião do Fernando é mais coerente e embasada.
Por outro lado, de coração, qual a relevância que esse cara tem para soltar um press release com a opinião dele? O que ele já fez de importante? Onde ele é reconhecido? Se fosse em um blog ou site dele, beleza, ele tem o direito de falar o que quiser, mas divulgar release? Faça-me o favor!
É aquilo que mencionei anteriormente: esse pessoal vive em um mundinho paralelo onde se consideram símbolos de uma geração!
A mesma coisa aquela papagaiada de "Dia do Metal" que o Thiago Bianchi divulgou há algum tempo. Nessas horas, cada vez mais, eu levo o Massacration a sério e entendo porque eles foram escalados como headliners de festivais por aqui.
"esse pessoal vive em um mundinho paralelo onde se consideram símbolos de uma geração!"
ResponderExcluirExcelente comentário
"esse pessoal vive em um mundinho paralelo onde se consideram símbolos de uma geração!"
ResponderExcluirExcelente comentário (2)
Ricardo, você por acaso leu a sessão "Blind Ear" da Roadie Crew deste mês? O escolhido da vez foi o Fernando, que recebeu apenas álbuns de bandas nacionais para ouvir. Cara, foi vergonhoso... acertou pouquíssimas e na base de muita dica... Aí fica difícil mesmo fazer discurso exaltando as qualidades das bandas nacionais.
ResponderExcluirVi sim, Diogo. Fica difícil defender as bandas, e fácil enviar "manifestos" para os veículos de comunicação, né não?
ResponderExcluirAbraço.