É sempre um prazer receber o convite de meu amigo Ricardo Seelig nessa época do ano. Quando chega a “convocação” para os melhores do ano, começa o desespero: “Mas só dez discos?”.
A cena musical vem surpreendendo. Cada ano que chega é melhor que o anterior em termos de lançamentos, e para nossa sorte esse fenômeno vem se repetindo pelo menos de 2009 pra cá. Essa minha lista também foi enviada para as revistas Rolling Stone, Roadie Crew e aparecerá também na retrospectiva 2011 da última edição deste ano do poeiraCast, o podcast da revista que eu edito, a poeira Zine.
Antes de começar, é legal dizer que este ano tivemos lançamentos excepcionais de bandas brasileiras. Recebi muito mais discos de grupos brasileiros em 2011, e muitos me surpreenderam. Um deles está inclusive no topo da minha lista.
Na lista de melhores do ano dei preferência a discos lançados por grupos novos. Mesmo porque é difícil de algum medalhão lançar um álbum, digamos, “ótimo”, atualmente. Na minha lista quase entraram Gregg Allman, Hot Tuna e Zombies, por exemplo, mas no desempate sempre acabo optando por grupos novos, afinal de contas estamos em 2012 (ops, quase) e é sempre bom sacar lances musicais mais “frescos”.
Anjo Gabriel – O Culto Secreto do Anjo Gabriel
Na minha opinião, o melhor álbum de 2011 foi lançado por uma banda brasileira, e isso me deixou num misto de surpresa e contentamento. Os caras são de Recife e lançaram um elepê duplo de estreia, com visual magnífico. Claro que isso é mero detalhe, pois o que espanta mesmo é a música praticada por esses jovens pernambucanos. Hard, prog, space-rock, psicodelia, Krautrock, stoner rock, Tropicália? Não importa! Não adianta rotular, tem que ouvir e assistir ao Anjo Gabriel ao vivo. A psicodelia nordestina dos anos 70 atravessou o tempo e volta a dar as caras. Se essa garotada for pra fora, certamente irá estourar.
The Stepkids – The Stepkids
Quanto tempo vai demorar para algum grande festival trazer esse trio para o Brasil? O Stepkids lançou seu primeiro trabalho em 2011, um típico disco de sábado à noite, com muito groove, efeitos psicodélicos, harmonias espertas e uma pegada a la Sly and The Family Stone. O Superfly do novo século? Poderia ser.
Wobbler – Rites At Dawn
Prog é coisa séria; é difícil fazer algo interessante dentro deste gênero atualmente, mas esse quinteto norueguês tem a manha. Ecos de PFM, King Crimson, Gentle Giant, Yes, Museo Rosenbach e ELP são ouvidos aqui e acolá, mas o pessoal tem identidade própria também. Para quem acha que o gênero padeceu no paraíso, ou no inferno ...
Charles Bradley – No Time For Dreaming
O que dizer de um figura que lançou sua estreia aos 62 anos de idade, amparado pelo selo de qualidade da Daptone Records, casa de Sharon Jones, The Budos Band, etc.? O clipe de “The World (Is Going Up in Flames)” me pegou de jeito no início de 2011, assim como o disco. Depois de ver o clipe, entrei no site e arrematei o LP, todos os compactos, livro e pôster de Bradley … e fazia tempo que eu não fazia esse tipo de coisa. Soul de responsa, embalado com uma voz que permaneceu décadas e décadas preservada, e agora finalmente vai para o mundo.
Tedeschi Trucks Band – Revelator
Tive o prazer de presenciar três shows desse combo de 11 integrantes liderado pelo casal Derek Trucks e Susan Tedeschi, e não via a hora do projeto lançar um álbum de estúdio. Isso aconteceu este ano e correspondeu plenamente a todas as minhas expectativas. Fazia tempo que eu não ouvia algo tão sublime como “Midnight in Harlem”, por exemplo.
Portugal The Man - In the Mountain in the Cloud
Banda formada no Alaska - isso mesmo, no Alaska! São categorizados lá fora como um grupo indie/psicodélico, mas soam muito mais glam ao meu ver (e ouvir, é claro). Ídolos que passaram dessa para uma melhor, como Marc Bolan e Ziggy Stardust, ficariam orgulhosos. Outra banda que demorou pra tocar por aqui.
Humble Grumble – Flanders Fields
Um bando de competentes músicos belgas e húngaros, fãs de Frank Zappa, se juntam e resolvem compor material inédito. Andamentos incríveis, ótimas doses de humor e destreza musical sem um pingo de chatice. Na medida. A faixa de abertura, a instrumental “Syrens Dance”, pode ser uma “Peaches En Regalia” para as novas gerações.
Michael Kiwanuka – Tell Me a Tale EP
Cantor negro de 23 anos de idade que surgiu com seu violão, num subúrbio de Londres, e agora começa a despontar para o resto do mundo. Este EP contém apenas três faixas, que já são suficientes para sacar o feeling e o bom gosto do garoto, principalmente ao mesclar sua veia folk e soul com luxuriosas orquestrações. Traffic, Bill Withers e David Axelrod são as principais influências. O clipe da faixa-título é ótimo. Tive o prazer de entrevistá-lo este ano e foi muito bacana.
Kamchatka - Bury Your Roots
Quarto álbum deste power trio sueco, que tomei conhecimento através de um leitor da pZ. Aliás isso é muito legal, “apresentar” e “ser apresentado” a muitas bandas. Quem sente falta de boas guitarras e de um vocal com influência soul numa banda pesada vai curtir. Tem algo de King’s X na música deles. e isso me agrada bastante. Destaque? A faixa “Bye Bye Mind's Eye”. Bury Your Roots é o disco que o Black Country Communion queria fazer, mas ainda não fez.
JJ Grey & Mofro – Brighter Days Live
Disco duplo ao vivo é uma raça em extinção hoje em dia, e cá entre nós, quem tem tempo de parar e ouvir um álbum duplo ao vivo em pleno ano de 2011? Pois é, eu achava que não teria tempo; e não só ouvi até o final, como voltei e ouvi novamente, e novamente ... Incrível! JJ Grey tem feeling de sobra, canta e toca com aquele tipo de entrega que somente o pessoal do sul dos EUA consegue. A coroação de uma carreira até agora brilhante.
Muito boa a lista! Aliás, foi com muito pesar que eu acabei deixando os álbuns do Kamchatka e do Tedeschi Trucks Band de fora das minhas listas, que são dois trabalhos FANTÁSTICOS.
ResponderExcluirOs álbuns do Wobbler e, principalmente, do Anjo Gabriel são dois que estou devendo seriamente em ouvir, valeu pela lembrança hehehe.
Eu sempre descubro novos, e excelentes sons, com as listas do Bento. Vou atrás de todos estes discos, como sempre faço.
ResponderExcluirAssim que ouvi o disco da Anjo Gabriel, lá em março ou abril, já percebi que aquele disco ia me acompanhar por um bom tempo. Vou comprar essa segunda tiragem que eles lançaram, com vinil duplo colorido. Coisa linda!
ResponderExcluirEntrevista que fiz com a banda:
http://themetropolismusic.blogspot.com/2011/07/entrevista-com-banda-anjo-gabriel.html
Sabe onde tem o vinil pra comprar, Gabriel? Também quero.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirRicardo, eu comprei o vinil (primeira prensagem) direto com a banda:
ResponderExcluirripohlandya@gmail.com
O Marco (baixo e vocal) foi rápido e super atencioso. Os caras são excelentes músicos e gente finíssima.
Comprei também o CD. Eles merecem todo o apoio que estão recebendo e com certeza ainda vão muito longe.
uma lista interssante.....tbm vou atras de cada um desses artistas,agora falta um apanhado de varios discos para os leitores tbm votarem.....isso seria legal!!!!!!
ResponderExcluirRalf, pretendo fazer algo parecido com isso assim que todas as listas forem publicadas.
ResponderExcluirObrigado pelos comentários de todos.
o que eu vou falar nao tem nada a ver com a lista, mas como ela foi feita pelo bento araujo, vou repetir uma pergunta que eu ja fiz a ele atraves de diversos meios aqui: por que em quase dez anos, nunca uma banda brasileira foi capa do poeira zine?
ResponderExcluirEu respondo: pessoalmente, não vejo motivo para uma banda ser capa da pZ, já que ela focada no período clássico do rock, nos anos 60 e 70, e nenhuma banda brasileira fez um trabalho relevante no período - com exceção dos Mutantes.
ResponderExcluirAbraço.
essa e sua opiniao, ricardo,e eu a respeito...mas eu gostaria de saber a opiniao do bento araujo! o cara vive dizendo que havia grandes bandas brasileiras nos anos 60 e 70. existe alguma logica em o ten years after ser capa do poeira zine e o made in brazil, patrulha do espaco, mutantes, etc, nao?
ResponderExcluirCadão, o disco da Anjo Gabril, como já falaram, está à venda pelo email dos caras, mais algumas lojas que vendem discos independentes.
ResponderExcluirO preço dessa segunda tiragem, colorida e com duas músicas adicionais, está bem camarada: R$ 80,00. Mas só tem 300 cópias...
Aqui tem mais informações:
http://themetropolismusic.blogspot.com/2011/12/banda-anjo-gabriel-lanca-vinil-colorido.html
Quanto a pZ com bandas nacionais, claro que tem grandes bandas do rock nacional nos 60 e 70, mas a maioria é obscura, e ainda que de qualidade, não chega a ser suficiente para capa. Com exceção, é claro, dos Mutantes.
O Bento e seus comentários sobre o prog dá pra perceber que não é muito a dele msm...tem bastante coisa legal rolando e o cara soltar um comentário desse é bem viagem, mas blz...
ResponderExcluirdo Anjo Gabriel o disco é bom, mas ao vivo achei que a banda não corresponde.
Abraço!
Ronaldo
O Charles Bradley foi uma ótima indicação, vi o clipe e adorei, que voz o cara tem!!
ResponderExcluirÓtima lista! Muito boa essa banda "Portugal. The Man", a voz do vocalista lembra a do Cedric Bixler do "The Mars volta". Hoje em dia a Suécia eh uma mina de ouro de excelentes bandas como essa "Kamchatka" e outras como o Graveyard , Blowback, Greenleaf, Ghost, etc. Esse "The Stepkids" tem uma pegada de soul/jazz sensacional, totalmente viajante e ainda tem um clip muito bom: http://www.youtube.com/watch?v=DwvA4t6NBak. Para finalizar, "JJ Grey & Mofro" que eh show de bola! Parabéns pela lista, não conhecia essas 4 bandas que citei e agora não paro de escutar, valeu pela dica.
ResponderExcluirParabéns amigos da Anjo Gabriel, tudo de bom pra vcs!
ResponderExcluirJoanatan Richard
Ouvindo uma música do Wobbler, gostei da banda!
ResponderExcluirEsse para mim é um dos motivos pelos quais gosto muito daqui, pois descubro muitas bandas novas e boas.
Sou uma pessoa bem mais ligada ao Rock Progressivo do que qualquer outro gênero. Wobbler pra mim é um grupo que vem a cada dia se firmando como um dos grandes do Prog Rock mundial. Através de trabalhos que se mostram em constante evolução, a banda mais uma vez nos brindou com um trabalho que exemplifica na prática a teoria que escrevi mais acima. Em Rites At Dawn, digamos que a banda conseguiu a façanha de se inspirar em um álbum como o clássico Fragile do Yes, e trazer essa inspiração pra uma sonoridade progressiva moderna, fazendo o passado e o presente casar muito bem. Álbum típico de progressivo sinfônico, músicos extremamente técnicos em seus respectivos instrumentos e, desfilando pelos mesmos com passagens instrumentais de extremo bom gosto, belas paredes vocais e ótimas concepções de idéias conseguidas através da cada dia maior maturidade musical da banda. Colocaria apenas um porem, mesmo que seja um grande trabalho de 2011, a momentos em que a influência em Yes é de extremo exagero, creio que em 2011, houve trabalhos mais singulares do que esse. Mas é aquela, listas são pessoais...;)
ResponderExcluirLais, tou ouvindo AGORA o Wobbler, pra mim É o YES só que disfarçados de noruegueses... pior que tou gostando...
ResponderExcluirO baixo é o Chris Squire com certeza!!! kkkk
Muito bom!! E também concordo que a identidade dos caras é um pouco perdida por isso... mas... espero que encontrem seu caminho mais "sólido e original"!!!