Envelhecer é um processo



Por Ronaldo P. Martins


Olá a todos. Meu nome é Ronaldo, e estou muito honrado em poder dividir com vocês que, assim como eu, são leitores assíduos da Collector's Room, um pouco dos macacos que habitam este meu sótão desprovido de cabelos.


Com a proximidade do meu aniversário de 33 anos, entrei no famoso processo de reflexão metido a filosófico que todo mundo passa perto dos “cumpleaños” depois de uma certa idade. É uma frescura danada, eu sei. Mas uma das reflexões foi sobre minha paixão primordial: a música.


Sou rocker desde novo, exposto desde cedo a doses massivas de Beatles, Elvis e Johhny Rivers pelos meus pais, e ao Kiss por opção. Tirando um negro período na pré adolescência, onde a necessidade de me enturmar e beijar algumas menininhas me levou a ouvir coisas como Information Society, sempre fui estupidamente cabeça fechada, não só na questão musical. Quando comecei a conhecer o heavy metal, nada fora deste estilo prestava, e tudo que soasse remotamente mais leve era logo taxado de lixo e poser. A adoração que eu desenvolvi por Manowar não ajudou muito a relaxar essa postura.


O tempo foi passando, e o Kiss ressurgiu na minha vida, me levando a uma viagem de volta às raízes do rock. Redescobri Deep Purple, Beatles, me apaixonei pelo hard dos anos 80, o AOR virou uma constante no meu rádio. A auto imagem de “truezão fodão” havia simplesmente desmoronado.


E por que isso? A cabeça abriu. A maturidade, mais a necessidade de ouvir algumas coisas mais leves para não matar a esposa do coração dentro do carro, somadas ao fato de eu ter continuado estudando música, inclusive enveredando pelo canto lírico, despertaram uma sensibilidade maior, e os ouvidos começaram a pedir um pouco mais de variação.


Eu gostaria de ter tido a providência de fotografar minha coleção ao longo dos anos. Aos 16, nada que não tivesse uma guitarra distorcida, riffs esporrentos e muito peso chegava sequer perto do meu quarto. Aos 22, já dava para encontrar um ocasional Bon Jovi, e até algumas peças de ópera. Perto dos 28, não era incomum encontrar algo de blues, e até uma antologia do Jaco Pastorius.


Agora, mais recentemente, devido aos meus amigos do rock, seres dotados de profundo conhecimento musical, categoria na qual incluo o dono deste blog, Mr. Cadão, redescobri meu amor pelo hard setentista, o que culminou na redescoberta do blues rock. Venho ouvindo Cream, Allman Brothers, Free e Bad Company como se não houvesse amanhã.


Mas sabe como eu percebi que minhas preferências musicais estavam totalmente diferentes do que eu achava? Quando, ontem à noite, eu estas duas músicas:

 


Me peguei curtindo, sorrindo e cantando junto! Ok, eu venho ouvindo muita soul music há algum tempo devido às aulas de canto, mas aí era estudo. Eu, ouvir esses sons acima por vontade própria e achar a coisa mais legal do mundo? Acho que estou ficando velho mesmo.


O mais interessante é olhar pra trás e ver por quanto tempo meu radicalismo imbecil me afastou de coisas maravilhosas. Por isso mostro de tudo (de qualidade, claro) para meus filhos em questões musicais, para que eles não percam o tempo que eu perdi.


Mas não se enganem! Não sou um cara muito cabeça aberta, não. Ainda acho Foo Fighters ridículo e culpo o Nirvana pela estiagem de músicas boas nos anos 90, mas se você algum dia cruzar comigo e tomar meu fone de ouvido pra saber o que estou ouvindo, pode acabar tomando um tapa na orelha do Schimier ou uma aula de soul de Nat King Cole.


E quer saber? Isso é maravilhoso!

Comentários

  1. Bom Texto !
    Eu já acho que o Nirvana deu uma bela sacudida no meio musical... atualmente gosto muito deles !
    Já o Foo Fighters continuo os achando apenas uma boa banda mediana ... nada além disso....
    Também costumava ser um 70´s truezão ... graças ao Deus da música isto mudou !
    Abraços

    ResponderExcluir
  2. Boa reflexão. Mas compartilho da opinião que o Nirvana fez mais mal que bem ao rock. Menos pela qualidade da música, atitude, novidade ou qualquer outro motivo aparente para se gostar ou não se gostar deles, mas sim pelo padrão que o "rock de garagem" criou em algumas bandas que estavam começando naqueles longínquos anos 90: quase todas copiavam o mesmo estilo (e 90% delas sem a mesma competência do Nirvana) de tocar alto, sem solos, e berrando em todas as músicas, e com pouca variação nas harmonias.

    ResponderExcluir
  3. Um depoimento válido! E acredito que não haja limites quando uma mente decide se abrir, especialmente no mundo das artes (e sempre encararei o Heavy Metal e toda a música, obviamente, como arte!).

    No meu caso, o radicalismo nunca foi tão forte, mas confesso e atribuo a uma época pré-adolescente uma tentativa de se impor, ou achar que o Heavy Metal, e suas vertentes mais "Puritanas" (power, thrash, até o melódico após um tempo) eram a grande coisa do estilo.

    Mas a procura pelo novo, dentro do estilo, torna seus ouvidos mais apurados para fora dele também. Isso deveria ser quase imediato ao fã de um estilo tão diversificado como o Heavy Metal. Sei que foi para mim, e eis a bandeira que levanto há tempos. Quando se vê algo diferente no estilo, anda mais natural de ir atrás das influências, dos elementos anexados àquele som... e você será fatalmente jogado desde o soul, ao blues, à darkwave, ao folk, ao indie, ao pop, não importa! Mas você começa a enxergar um som de qualidade onde antes não via, técnica onde pensava não haver, letras instigantes nas mais diversas línguas e gêneros. É uma experiência fundamental para um amante da música e do próprio estilo em si!

    Nunca gostei do Nirvana, acho uma banda muito fraca e tosca para ser enxergado como um expoente do rock. Ainda assim, é inegável que o tal "grunge" trouxe uma filosofia para o Rock'n Roll, trouxe algo "novo" à sua maneira, e hoje admiramos diversas de suas bandas. O tempo já é justo em mostrar que a música eletrônica e industrial fez o mesmo, e até o então odiado "new metal" teve seus méritos e suas boas bandas. Basta deixar o preconceito de lado.

    ResponderExcluir
  4. Tô adorando os comments gente! Muito bacana ver q galera tb se sente assim. Abraço a todos!

    ResponderExcluir
  5. E eu acreditando que era um dos poucos que passaram por este processo, e ainda bem que deixei de ser um radicalóide lá pelos 20 anos.
    Ronaldo, está de parabéns pelo texto, e por manter a mente aberta.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.