Todo
mundo estava esperando o novo álbum do Van Halen. Não só no
cenário do hard rock e do heavy metal, mas na música de uma maneira
geral, o novo trabalho do grupo era um dos discos mais esperados do
ano.
Por
isso, fizemos algo inédito aqui na Collector´s Room: ao invés de
apenas uma resenha sobre A Different Kind of Truth, você
lerá duas na sequência. Eu, Ricardo Seelig, analisei o disco com a
minha experiência de ouvinte e crítico músical há quase 10 anos.
E o amigo e colaborador da Collector´s, Fabiano Negri, avaliou o
play com a bagagem que só um músico tem, afinal ele esteve à
frente do Rei Lagarto por mais de uma década. Será que nós
concordamos em nossos pontos de vista, ou cada um teve uma opinião
diferente?
Por
Ricardo Seelig
Nota:
9
Confesso
que eu estava desconfiado com o tão falado – e aguardado - novo
álbum do Van Halen, o primeiro de inéditas desde Van Halen III
(1998) e que marca o retorno de David Lee Roth à banda após 28 anos
– o último trabalho com Diamond Dave foi o multiplatinado 1984
(1984). Porém, ao ouvir as treze faixas de A Different Kind of
Truth diversas vezes, uma certeza fica clara: a banda surpreendeu
e está afiadíssima, com a faca nos dentes!
Muitos
fãs têm reclamado que algumas músicas são mera reciclagem de
material antigo e inacabado presente em demos e bootlegs que os
fanáticos die hards – e somente eles – já conheciam. O primeiro
single, “Tattoo”, por exemplo, veio de uma demo de 1976. O
próprio Eddie Van Halen já cansou de declarar que tem um “armário”
repleto de composições inéditas que dariam para encher meia dúzia
de discos. Sinceramente, isso pouco importa. Não quero saber se
Eddie e David sentaram e compuseram material novo para o play, até
porque eu – e acredito que a maioria de vocês – nem sabia desse
reaproveitamento de material antes de trechos das faixas inéditas
pintarem por aí, certo?
O
que realmente interessa é se o álbum é bom ou não, e, para ser
bem claro, A Different Kind of Truth é um grande disco. As
novas composições não soam requentadas, muito pelo contrário: o
frescor é o sentimento predominante aqui. Tudo remete aos primeiros
anos da carreira da banda, de bolachas como Van Halen (1978),
Van Halen II (1979), Women and Children First (1980) e
Fair Warning (1981). Estão ali a guitarra faiscante e
imprevisível de Eddie, o timbre característico da bateria de Alex e
os vocais únicos de David. O baixo, agora a cargo de Wolfgang Van
Halen, filho do guitarrista, era motivo de discussão entre os mais
apaixonados, que não se conformavam com o fato de Michael Anthony
ter sido dispensado da banda. Porém, o membro mais novo da dinastia
Van Halen prova que tem sangue real nas veias e toca da maneira
excelente, calando a boca dos críticos. E, em relação aos backing
vocals, marca registrada de Anthony, devo dizer que, sinceramente,
eles não fazem falta.
A
Different King of Truth dá uma geral na primeira fase da banda,
extraindo o melhor que o grupo produziu entre 1978 e 1984. Há
canções sacanas e com um apelo descaradamente pop como “Tattoo”,
pauladas certeiras na linha da clássica “Ain't Talkin' 'Bout Love”
como “China Town” e “Bullethead”, o hard rock com a marca
registrada da banda em “She's the Woman” e “The Trouble With
Never”, composições que parecem vir direto da fase com Sammy
Hagar – ouça “You and Your Blues” e comprove. E, claro, somos
brindados com os solos de Eddie, um músico genial que sempre usou a
sua técnica para tornar o conjunto mais forte.
Enfim,
o quarteto entrega exatamente aquilo que os fãs estavam esperando, e
é isso que surpreende, porque o material novo é muito consistente.
Não há no disco nenhuma música dispensável, algo bastante comum
hoje em dia, quando a maioria das bandas compõe duas ou três
canções marcantes e completa o restante de seus trabalhos com os
chamados 'fillers'. Todo o material presente é de alta qualidade, e
mostra que o Van Halen parece estar sedento e com apetite após
passar diversos anos hibernando.
A
Different Kind of Truth é um retorno em alto estilo, que traz
novamente para a ordem do dia uma das maiores e mais importantes
bandas da história do rock. Ninguém esperava que seria tão bom, e
por isso mesmo é tão surpreendente.
Por
Fabiano Negri
Nota
10
Muito
foi falado a respeito da tão aguardada volta do Van Halen com David
Lee Roth nos vocais. Muitos duvidavam da capacidade da banda em fazer
um material no nível dos clássicos, e o primeiro single, “Tattoo”,
acabou não empolgando a maioria. Junte isso à percepção de que
algumas músicas novas eram na verdade temas antigos rearranjados e a
falta de Michael Anthony no baixo para que a fé no disco fosse
totalmente abalada, inclusive com algumas pessoas esperando por um
fiasco.
Pois
é, vamos esquecer que algumas demos antigas foram aproveitadas e
encarar o disco como ele merece: o primeiro álbum de inéditas com
David desde o clássico 1984. Para minha surpresa – e talvez
a de muitos –, o que se ouve em A Different Kind of Truth é
uma banda com a faca nos dentes, como se estivesse colocando no
mercado seu álbum de estreia.
Se
alguém tinha alguma dúvida de que Eddie Van Halen ainda é um dos
melhores guitarristas do mundo, pode ficar tranquilo. O cara está
com os dedos em chamas, despejando riffs e solos com sua habitual
categoria e criatividade. Um trabalho impecável, que pode lembrar
para alguns dos atuais fritadores como se toca uma guitarra com
estilo próprio, técnica, timbre perfeito e bom gosto. A cozinha,
agora formada por Alex Van Halen e pelo estreante Wolfgang Van Halen
– filho do mestre – no baixo, não deixa nada a desejar para o
que a banda já havia feito. Entrosamento perfeito, com aquele jeitão
certeiro de despedaçar grooves estranhos e quebrados dentro de uma
estrutura relativamente simples. O timbre do baixo está gordo e
pesado, com bastante destaque na mixagem.
O
grande ponto de interrogação era o próprio David Lee Roth. A
maioria dos fãs de Sammy Hagar não o engole muito bem. Pra mim,
essa é sua melhor performance em disco até hoje. Seu inconfundível
estilo de às vezes falar-às vezes cantar, sua canastrice
extremamente talentosa, brilham em todas as faixas do disco. Puta
velha que é, Diamond Dave sabe contar uma história como ninguém, e
esse é um ingrediente crucial para o sucesso da bolacha.
A
Different Kind of Truth é um delícioso disco de hard rock,
com todos os adjetivos que fizeram do Van Halen uma das maiores
referências do estilo. Melodias altamente cativantes são
encontradas em abundância no álbum. “Tattoo” – é, eu gostei
dessa também –, “Blood and Fire” e “She's the Woman” –
que groove! – são alguns dos exemplos mais gritantes de como deve
soar um rock leve e descompromissado. Passeamos também por faixas
quase heavy metal, como é o caso de “Bullethead” e da aula de
guitarra em “China Town”. O hipnotizante riff de
“Honeybabysweetiedoll” – que remete, mesmo que de longe, ao
clássico “Gates of Babylon”, do Rainbow – culmina numa canção
cujas alavancadas de Eddie soam tão agudas e poderosas que são
capazes de perfurar tímpanos menos avisados.
Aliás,
riffs inspirados é o que não faltam por aqui. “Outta Space” e
“Beats Workin'” não me deixam mentir. E não para por aí: a
melhor faxa do álbum atende pelo nome de “You and Your Blues”.
Tipicamente Van Halen, ela trabalha um estonteante crescente que
passa por um pré-refrão brilhante e desemboca num refrão onde
David Lee Roth mostra o quanto sua voz ainda pode ser poderosa. É
interessante ver no DVD que acompanha o pacote, onde David, antes de
iniciar a versão acústica dessa faixa, conta uma história hilária,
realmente impagável.
Acho
que estamos diante de um dos melhores discos de 2012, e que pode se
tornar um clássico do Van Halen – isso só o tempo dirá. Por isso
peço aos detratores de plantão a isenção da paixão por
determinada fase do grupo, pois assim ouvirão um disco de uma banda
que soa totalmente renovada e com muita lenha pra queimar.
É
difícil eu dar um 10 para um lançamento, mas esse merece!
Faixas:
- Tattoo
- She's the Woman
- You and Your Blues
- China Town
- Blood and Fire
- Bullethead
- As Is
- Honeybabysweetiedoll
- The Trouble With Never
- Outta Space
- Stay Frosty
- Big River
- Beats Workin'
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirEu que nunca me interessei mto pela banda estou viciado no disco. Achei bom demais. Vou atrás agora dos discos anteriores, pra ouvir novamente.
ResponderExcluirOuvi três vezes... e a cada audição o disco melhorava... Realmente é um disco Muito bom !
ResponderExcluir