Van Halen: crítica de 'A Different Kind of Truth' (2011)


Todo mundo estava esperando o novo álbum do Van Halen. Não só no cenário do hard rock e do heavy metal, mas na música de uma maneira geral, o novo trabalho do grupo era um dos discos mais esperados do ano.

Por isso, fizemos algo inédito aqui na Collector´s Room: ao invés de apenas uma resenha sobre A Different Kind of Truth, você lerá duas na sequência. Eu, Ricardo Seelig, analisei o disco com a minha experiência de ouvinte e crítico músical há quase 10 anos. E o amigo e colaborador da Collector´s, Fabiano Negri, avaliou o play com a bagagem que só um músico tem, afinal ele esteve à frente do Rei Lagarto por mais de uma década. Será que nós concordamos em nossos pontos de vista, ou cada um teve uma opinião diferente?


Por Ricardo Seelig

Nota: 9

Confesso que eu estava desconfiado com o tão falado – e aguardado - novo álbum do Van Halen, o primeiro de inéditas desde Van Halen III (1998) e que marca o retorno de David Lee Roth à banda após 28 anos – o último trabalho com Diamond Dave foi o multiplatinado 1984 (1984). Porém, ao ouvir as treze faixas de A Different Kind of Truth diversas vezes, uma certeza fica clara: a banda surpreendeu e está afiadíssima, com a faca nos dentes!

Muitos fãs têm reclamado que algumas músicas são mera reciclagem de material antigo e inacabado presente em demos e bootlegs que os fanáticos die hards – e somente eles – já conheciam. O primeiro single, “Tattoo”, por exemplo, veio de uma demo de 1976. O próprio Eddie Van Halen já cansou de declarar que tem um “armário” repleto de composições inéditas que dariam para encher meia dúzia de discos. Sinceramente, isso pouco importa. Não quero saber se Eddie e David sentaram e compuseram material novo para o play, até porque eu – e acredito que a maioria de vocês – nem sabia desse reaproveitamento de material antes de trechos das faixas inéditas pintarem por aí, certo?

O que realmente interessa é se o álbum é bom ou não, e, para ser bem claro, A Different Kind of Truth é um grande disco. As novas composições não soam requentadas, muito pelo contrário: o frescor é o sentimento predominante aqui. Tudo remete aos primeiros anos da carreira da banda, de bolachas como Van Halen (1978), Van Halen II (1979), Women and Children First (1980) e Fair Warning (1981). Estão ali a guitarra faiscante e imprevisível de Eddie, o timbre característico da bateria de Alex e os vocais únicos de David. O baixo, agora a cargo de Wolfgang Van Halen, filho do guitarrista, era motivo de discussão entre os mais apaixonados, que não se conformavam com o fato de Michael Anthony ter sido dispensado da banda. Porém, o membro mais novo da dinastia Van Halen prova que tem sangue real nas veias e toca da maneira excelente, calando a boca dos críticos. E, em relação aos backing vocals, marca registrada de Anthony, devo dizer que, sinceramente, eles não fazem falta.

A Different King of Truth dá uma geral na primeira fase da banda, extraindo o melhor que o grupo produziu entre 1978 e 1984. Há canções sacanas e com um apelo descaradamente pop como “Tattoo”, pauladas certeiras na linha da clássica “Ain't Talkin' 'Bout Love” como “China Town” e “Bullethead”, o hard rock com a marca registrada da banda em “She's the Woman” e “The Trouble With Never”, composições que parecem vir direto da fase com Sammy Hagar – ouça “You and Your Blues” e comprove. E, claro, somos brindados com os solos de Eddie, um músico genial que sempre usou a sua técnica para tornar o conjunto mais forte.

Enfim, o quarteto entrega exatamente aquilo que os fãs estavam esperando, e é isso que surpreende, porque o material novo é muito consistente. Não há no disco nenhuma música dispensável, algo bastante comum hoje em dia, quando a maioria das bandas compõe duas ou três canções marcantes e completa o restante de seus trabalhos com os chamados 'fillers'. Todo o material presente é de alta qualidade, e mostra que o Van Halen parece estar sedento e com apetite após passar diversos anos hibernando.

A Different Kind of Truth é um retorno em alto estilo, que traz novamente para a ordem do dia uma das maiores e mais importantes bandas da história do rock. Ninguém esperava que seria tão bom, e por isso mesmo é tão surpreendente.


Por Fabiano Negri

Nota 10

Muito foi falado a respeito da tão aguardada volta do Van Halen com David Lee Roth nos vocais. Muitos duvidavam da capacidade da banda em fazer um material no nível dos clássicos, e o primeiro single, “Tattoo”, acabou não empolgando a maioria. Junte isso à percepção de que algumas músicas novas eram na verdade temas antigos rearranjados e a falta de Michael Anthony no baixo para que a fé no disco fosse totalmente abalada, inclusive com algumas pessoas esperando por um fiasco.

Pois é, vamos esquecer que algumas demos antigas foram aproveitadas e encarar o disco como ele merece: o primeiro álbum de inéditas com David desde o clássico 1984. Para minha surpresa – e talvez a de muitos –, o que se ouve em A Different Kind of Truth é uma banda com a faca nos dentes, como se estivesse colocando no mercado seu álbum de estreia.

Se alguém tinha alguma dúvida de que Eddie Van Halen ainda é um dos melhores guitarristas do mundo, pode ficar tranquilo. O cara está com os dedos em chamas, despejando riffs e solos com sua habitual categoria e criatividade. Um trabalho impecável, que pode lembrar para alguns dos atuais fritadores como se toca uma guitarra com estilo próprio, técnica, timbre perfeito e bom gosto. A cozinha, agora formada por Alex Van Halen e pelo estreante Wolfgang Van Halen – filho do mestre – no baixo, não deixa nada a desejar para o que a banda já havia feito. Entrosamento perfeito, com aquele jeitão certeiro de despedaçar grooves estranhos e quebrados dentro de uma estrutura relativamente simples. O timbre do baixo está gordo e pesado, com bastante destaque na mixagem.

O grande ponto de interrogação era o próprio David Lee Roth. A maioria dos fãs de Sammy Hagar não o engole muito bem. Pra mim, essa é sua melhor performance em disco até hoje. Seu inconfundível estilo de às vezes falar-às vezes cantar, sua canastrice extremamente talentosa, brilham em todas as faixas do disco. Puta velha que é, Diamond Dave sabe contar uma história como ninguém, e esse é um ingrediente crucial para o sucesso da bolacha.

A Different Kind of Truth é um delícioso disco de hard rock, com todos os adjetivos que fizeram do Van Halen uma das maiores referências do estilo. Melodias altamente cativantes são encontradas em abundância no álbum. “Tattoo” – é, eu gostei dessa também –, “Blood and Fire” e “She's the Woman” – que groove! – são alguns dos exemplos mais gritantes de como deve soar um rock leve e descompromissado. Passeamos também por faixas quase heavy metal, como é o caso de “Bullethead” e da aula de guitarra em “China Town”. O hipnotizante riff de “Honeybabysweetiedoll” – que remete, mesmo que de longe, ao clássico “Gates of Babylon”, do Rainbow – culmina numa canção cujas alavancadas de Eddie soam tão agudas e poderosas que são capazes de perfurar tímpanos menos avisados.

Aliás, riffs inspirados é o que não faltam por aqui. “Outta Space” e “Beats Workin'” não me deixam mentir. E não para por aí: a melhor faxa do álbum atende pelo nome de “You and Your Blues”. Tipicamente Van Halen, ela trabalha um estonteante crescente que passa por um pré-refrão brilhante e desemboca num refrão onde David Lee Roth mostra o quanto sua voz ainda pode ser poderosa. É interessante ver no DVD que acompanha o pacote, onde David, antes de iniciar a versão acústica dessa faixa, conta uma história hilária, realmente impagável.

Acho que estamos diante de um dos melhores discos de 2012, e que pode se tornar um clássico do Van Halen – isso só o tempo dirá. Por isso peço aos detratores de plantão a isenção da paixão por determinada fase do grupo, pois assim ouvirão um disco de uma banda que soa totalmente renovada e com muita lenha pra queimar.

É difícil eu dar um 10 para um lançamento, mas esse merece!

Faixas:
  1. Tattoo
  2. She's the Woman
  3. You and Your Blues
  4. China Town
  5. Blood and Fire
  6. Bullethead
  7. As Is
  8. Honeybabysweetiedoll
  9. The Trouble With Never
  10. Outta Space
  11. Stay Frosty
  12. Big River
  13. Beats Workin'

Comentários

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  2. Eu que nunca me interessei mto pela banda estou viciado no disco. Achei bom demais. Vou atrás agora dos discos anteriores, pra ouvir novamente.

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  3. Ouvi três vezes... e a cada audição o disco melhorava... Realmente é um disco Muito bom !

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