Saiba tudo sobre a autobiografia de Buddy Guy



Por Márcio Grings


Há muitos anos, ainda na década de 1960, quando fez sua primeira tour pela pela Inglaterra, Rod Stewart serviu como seu criado. Eric Clapton e Jeff Beck acamparam durante a noite numa van para que pudessem vê-lo. E Jimi Hendrix o chamou de um de seus "professores”.  Ele ganhou seis Grammys e tem seu nome encravado em bronze no Rock and Roll Hall of Fame - mas mesmo assim, ainda reza na cartilha da simplicidade e se porta como uma espécie de tio bonachão do blues.


Buddy Guy - When I Left My Home: My Story (Editora Da Capo, 320 páginas, ainda sem data de publicação no Brasil) foi escrito com a ajuda de David Ritz (que também é co-autor das memórias de Ray Charles e Etta James), e conta a improvável ascensão de Guy como um meeiro na Louisiana para o badalado circuito blueseiro de Chicago, e além. Ele ainda não sabe ler música, mas aprendeu a sentir o feeling do blues com os mestres Muddy Waters e Howlin’Wolf, assim como sobreviveu à violência do final década de 1950 e início dos anos 1960 nos perigosos clubes de Chicago. Hoje é um velho estadista bonachão de 75 anos, sempre com um sorriso cristalino entre seus lábios.


Guy nasceu 30 julho de 1935 e cresceu em um barraco de madeira sem eletricidade ou água encanada, em Lettsworth, Louisiana. Quando jovem, era um dos tantos negros que colhiam algodão nos campos do sul, mas, ainda adolescente, se mudou para Baton Rouge (cidade vizinha à New Orleans). Lá morou com sua irmã mais velha, em busca de algo diferente. Acabou trabalhando em uma fábrica de cerveja e bombeamento de gás. Começou a tocar guitarra quando tinha 13 anos, logo após seu pai lhe comprar um modelo usado por US$ 4,25.


Buddy diz no livro que no início de sua carreira foi inocente por excelência, sem noção alguma sobre direitos autorais e como lidar com o negócio da música. Confessa que ganhou menos dinheiro do que poderia ter ganhado, tocando em botecos até as sete da matina ao lado de nomes como Howlin’ Wolf. É que nesse horário acontecia a saída do turno da noite nas usinas de aço em Chicago. De cima do palco, presenciou cenas horripilantes e quebra-paus lendários onde picadores de gelo viravam armas mortais na mão de um maluco qualquer.


Guy gravou pra muita gente boa, e era um dos músicos residentes da Chess Records, também em Chicago (sempre em Chicago!), onde Leonard Chess, proprietário do estúdio, sempre deixava uma garrafa de bourbon por perto para deixar  os músicos de bom humor. No livro, ele destila simpatia pela nova geração que surgia ano após anos, e muitos desses artistas, inclusive, foram diretamente influenciados pela sua música. De Janis Joplin ele disse: "Janis não poderia ter sido mais doce. Mas você não pode separá-la de uma garrafa de Southern Comfort. Ela se agarrava ao seu drinque como um bebê a uma garrafa de leite''. Sobre Hendrix: "Ele aumentava o volume o suficiente para acordar sua avó no túmulo''. Clapton:"O homem mais popular de todos os tempos a empunhar uma guitarra''. Ele também amava Stevie Ray Vaughan. Inclusive, Guy tocou com Stevie na noite em que o músico texano morreu, em um acidente de helicóptero.

Durante anos, Buddy Guy construiu uma invejável reputação como músico. Mesmo assim, muitas vezes fazia bico dirigindo um caminhão para pagar as contas de casa. Seu destino mudou quando Dick Waterman virou seu manager. Em pouco tempo começou a viver apenas da música. Hoje tem uma vida estável e pouco pode se queixar no que rege ao aspecto financeiro de sua vida.

Guy é pai de oito filhos, e hoje tem no Legends, seu bar de Chicago, um dos lugares preferidos para passar o tempo e conversar com seus amigos e fãs. Caso você for até o Legends, pode ter sorte de encontrá-lo no palco em uma noite qualquer. 

Qual editora se candidata a verter a publicação para o português? Desde já, estamos ansiosos pelo livro.

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