The Night Flight Orchestra: crítica de ‘Internal Affairs’ (2012)



Nota: 9


Por mais surpreendente que possa parecer em um primeiro momento, a relação entre os estilos mais extremos do heavy metal e o pop “comercial” e “descartável” - entre aspas mesmo - sempre existiu. Diversas bandas de death e black já deixaram claro em entrevistas e depoimentos a admiração que sentem por artistas como ABBA, Bee Gees, Jackson 5 e outros. Algumas foram além e gravaram versões para hits do mundo pop, como foi o caso do Children of Bodom ( “Oops! I Did It Again”, de Britney Spears), Therion (“Summer Night City”, do ABBA), Type O Negative (“Hit Me Baby One More Time”, outra vez Britney Spears) e Mushroomhead (“Crazy”, de Seal). 


Porém, por mais que essa admiração sempre tenha existido, desconheço alguém que fez o que o The Night Flight Orchestra fez: gravar um disco completo com esse direcionamento, explorando uma sonoridade mais acessível e que faz parte do DNA da maioria dos músicos de metal. Tendo como figuras centrais o vocalista Björn Strid (Soilwork) e o baixista Sharlee D’Angelo (Arch Enemy) - completam o time o guitarrista David Andersson, o tecladista Richard Larsson e o baterista Jonas Källsbäck -, o The Night Flight Orchestra acaba de lançar o seu primeiro álbum, o excelente Internal Affairs.


O negócio aqui é um pop temperado com elementos de soul, funk e AOR. Sabiamente, a produção deixou o disco com uma sonoridade bem vintage, que remete ao final dos anos setenta e início da década de oitenta. Com grandes doses de melodia, as composições agradam de imediato. Pulsantes, as onze faixas de Internal Affairs proporcionam uma agradável audição, conquistando de imediato.


A performance de Björn Strid deve ser mencionada. Todo mundo sempre falou que o cara era um excelente vocalista, e ele realmente o é. O que Strid faz no Soilwork, variando vocais guturais com vozes limpas com imensa naturalidade, já comprovava isso. Porém, ele dá um passo além com o The Night Flight Orchestra. Cantando de forma limpa e indo de timbres mais graves a outros mais agudos, Strid é o grande destaque de Internal Affairs


O outro fator que faz do álbum um trabalho diferenciado é o exemplar trabalho de composição. Todas as músicas são de grande qualidade, e exploram aspectos variados da formação dos músicos. Enquanto algumas apostam mais no rock como “Siberian Queen” e “California Queen”, outras mergulham sem medo em gêneros não explorados pelas bandas principais dos integrantes - e é justamente quanto isso acontece que o disco se torna especial.


A excelente “West Ruth Ave” poderia estar em qualquer álbum do Stix. “Transatlantic Blues” é um progressivo pop que mostra o quanto os caras ouviram Supertramp e Kansas na adolescência. A faixa-título parece saída de um disco de Stevie Wonder gravado na primeira metade da década de 1970.


Toda essa variedade faz de Internal Affairs um álbum rico e surpreendente, que carrega o ouvinte sem cerimônia para dentro do seu amplo universo sonoro. É rock, é pop, é soul, é funk - mas, acima de tudo, é muito bom!


Pela ótimo resultado alcançado, espero, sinceramente, que os caras não fiquem apenas em um disco e levem o projeto adiante. Enquanto isso, o negócio é ouvir e torcer para que aconteça!




Faixas:
  1. Siberian Queen
  2. California Morning
  3. Glowing City Madness
  4. West Ruth Ave
  5. Transatlantic Blues
  6. Miami 5:02
  7. Internal Affairs
  8. 1998
  9. Stella Ain’t No Dove
  10. Montreal Midnight Supply
  11. Green Hills of Grumslöv

Comentários

  1. Um pequeno adendo: a edição digipak do disco conta com uma faixa bônus, chamada American High, que é muito boa.
    Particularmente, esse disco foi uma agradável surpresa, e já está na minha lista de melhores lançamentos do ano. Mas ainda estamos em junho, pode ser que mais bons lançamentos apareçam por aí =)

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  2. Por sugestão tua, fui ouvir essa banda no fim de semana e realmente eles fazem um som fenomenal, altamente empolgante e tecnicamente perfeito. Valeu mesmo!

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  3. Fantástico som! tem muito de styx, ELO, etc... e soa como um greatest hits, demais do começo ao fim! dificil destacar um musica só...

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  4. Gostei bastante do disco, apesar de não ter morrido de amores pela maneira como Bjorn soa com sua voz limpa. Felizmente, não é algo que chegue a prejudicar o grupo, que mandou composiçoes bem inspiradas. Baseado no que já demonstraste sobre teu gosto musical, espantei-me muito com o fato de teres curtido a banda, pois, ao menos para mim, a referência que mais ficou latente são os discos lançados pelo REO Speedwagon nos anos 70.

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