Baroness: crítica de ‘Yellow & Green’ (2012)


Há uma mudança de curso em Yellow & Green, terceiro disco da banda norte-americana Baroness. Pretencioso até a alma e bom até dizer chega, o álbum - duplo, com 18 faixas - traz o quarteto investindo em uma sonoridade mais ampla, que vai muito além do sludge com elementos progressivos dos trabalhos anteriores, Red Album (2007) e Blue Record (2009).


John Baizley (vocal e guitarra), Peter Adams (guitarra), Matt Maggioni (baixo) e Allen Bickle (bateria) deram um passo decisivo em Yellow & Green. Se antes a banda já era um dos mais cultuados nomes do metal ianque, com o novo disco o Baroness extrapola e quebra barreiras, tanto estilíscas quanto de público.


Produzido por John Congleton (Modest Mouse, Okkervil River, The Polyphonic Spree), Yellow & Green é um trabalho repleto de detalhes. Pesado, psicodélico, atmosférico e experimental, tudo ao mesmo tempo, o disco coloca os holofotes da música pesada focados no grupo. Resumindo em palavras: em seu novo disco, o Baroness soa como se o Radiohead tocasse heavy metal. Não há limites, a criatividade é onipresente, não existem preconceitos, os medos e receios foram todos embora. Isso faz com que cada faixa seja imprevisível, cada composição seja um choque. E é justamente essa sensação que faz Yellow & Green ser um disco tão impressionante.

Indo muito além do padrão e fugindo das conveniências, o Baroness arrebata. Baizley e Adams derramam guitarras gêmeas inspiradas em diversos momentos, enquanto Maggioni e Bickle trabalham como um ser único de duas cabeças, quatro braços e um mesmo objetivo. 

A principal qualidade de Yellow & Green é que trata-se de um álbum que tem como ingrediente principal algo cada vez mais em falta na música: a alma, o coração. As canções emocionam, as melodias são simples. O sentimento é palpável e contagia o ouvinte.

É estranho uma banda atual lançar um álbum duplo com 18 faixas inéditas em pleno 2012. Mas mais surpreendente que isso é o fato de essas faixas serem todas pertinentes, fazendo com que os pouco mais de 70 minutos do disco passem rápido e sem traumas. Há reminiscências de Pink Floyd, Mastodon e Radiohead aos montes durante todo o play, em uma tapeçaria sonora precisa e tocante.

“Take My Bones Away”, primeiro single, é uma das melhores músicas de 2012. “Eula”, o segundo, é o tipo de música com poder para conquistar uma pessoa por anos. “Cocainium” soa como se o Mastodon tivesse gravado Ok Computer. A beleza e a melancolia são onipresentes em Yellow & Green.

Quando se é um consumidor, um colecionador de discos e um ouvinte de música há um certo tempo - no meu caso, há 25 anos já -, a gente aprende a identificar, de imediato, aqueles trabalhos que são mais que simples CDs ou LPs e irão nos acompanhar por toda a vida. Yellow & Green é um deles. Um novo parceiro, que chega e já encontra o seu lugar confortável na vida de quem curte um som inovador, original e sem medo de experimentar novos caminhos. 

Música com vida e com alma, capaz de deixar qualquer um com o coração na boca: assim é Yellow & Green, não só um dos melhores discos de 2012 como também um dos grandes álbuns lançados nos últimos anos.

Ouça e dê um presente para a sua vida.

Nota: 9,5


Faixas:
CD 1
  1. Yellow Green
  2. Take My Bones Away
  3. March to the Sea
  4. Little Things
  5. Twinkler
  6. Cocainium
  7. Back Where I Belong
  8. Sea Lungs
  9. Eula
CD 2
  1. Green Theme
  2. Board Up the House
  3. Mtns. (The Crow & Anchor)
  4. Foolsong
  5. Collapse
  6. Psalms Alive
  7. Stretchmaker
  8. The Line Between
  9. If I Forget Thee, Lowcountry

Comentários

  1. grande disco.......agora é esperar par ver essa grande banda tocando as suas obras primas em solo brasileiro.....produtores de festival abram os olhos, vamos ampliar o horizonte de expectativa musical....

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  2. Como é bom ver resenhas como as do RUSH, Night Flight Orchestra, Remove Silence, agora do Baroness (finalmente!)... resenhas onde, nem vou voltar à discussão das "notas aleatórias", mas o CONTEÚDO remete essencialmente à inovação, à criatividade, à variedade, ao rompimento de barreiras e preconceitos, junção de estilos, etc.

    Aí sim eu boto fé no blog! E isso só mostra como temos o pensamento bastante alinhado musicalmente, a despeito de muitos já terem achado que pensávamos diferente... muitas das últimas resenhas e aquele texto sobre a estagnação do thrash apenas assinam embaixo de tudo que já vim aqui escrever! Bom ver que o tempo fez justiça...

    Gde abço! Parabéns pelo blog!

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  3. O "Red" é um dos meus discos favoritos do últimos anos. Já do "Blue" eu não gostei de nada. Ansioso para ouvir esse.

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  4. Bela resenha, aumentou minha ansiedade para ouvir o disco. Gostei muito dos discos anteriores, principalmente do Blue Album, que já mostrava que os caras não tinham fronteiras para fazer o som.

    A propósito, seria muito legal ler resenhas do Ricardo Seeling para o recém-lançado Oceania, do Smashing Pumpkins, e também para o sensacional Sonic Mass (2011), do Amebix, que infelizmente passou despercebido pela imprensa nacional. Ambos são discos que representam "o retorno" de bandas clássicas e muito influentes, e também são discos que possuem essa característica de ignorar barreiras estilísticas. Fica a sugestão. :)

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  5. Para mim, até agora, o melhor disco do ano, fácil. É viciante do começo ao fim.

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