Monsters of Rock Moscow: o festival que marcou o fim das cortinas de ferro da União Soviética

 Assim como qualquer forma de arte, a música não é apenas a expressão de um amontoado de sensações, impressões e interpretações de um artista. Ela também pode simbolizar, direta ou indiretamente, a situação vivida por uma sociedade, seus desejos de mudança ou de permanência.

Woodstock, o mítico festival de rock de 1969, é um exemplo disso. Até hoje o evento é lembrado como um retrato da geração da paz e do amor, da juventude que na época queria trocar a guerra pela paz, pela liberdade sexual e pela transformação de comportamentos. Mas o século XX ainda teria outros momentos como aquele, em que a música se cruza com a política e ajuda a escrever um capítulo da história. 

O início da década de 90 foi o cenário de um dos acontecimentos mais significativos do último século. Naqueles anos a cortina de ferro europeia entrava em colapso, e o muro de Berlim jazia em pedaços no chão da Alemanha unificada. Era o fim de mais de 70 anos de regime comunista na gigante União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Em dezembro de 1991, quinze repúblicas que compunham a URSS declaravam sua independência, e com isso declaravam também o fim de uma trajetória que ajudou a legar a humanidade uma guerra “sem tiros” e a divisão do mundo em dois blocos políticos – socialista e capitalista.



Bem no meio desse tenso cenário sócio-político aconteceu um dos festivais mais simbólicos da história do rock. No dia 28 de setembro de 1991, milhares de jovens se espremeram no Tushino Airfield, em Moscou, para assistir a apresentação de cinco grandes monstros da música. Era o Monsters of Rock Moscow. O festival foi um grito, preso há muito nos pulmões daquele público, que cantou “Cowboys from Hell”, “Enter Sandman” e “For Those About to Rock” com a intensidade de quem canta hinos de liberdade, de desprendimento de um regime que estava fracassando, dando seus últimos suspiros.

Phil Anselmo, líder do Pantera, primeira banda a subir no palco naquele dia, resumiu bem o que era estar cantando no festival: “Isso é maior do que um sonho, é incrível tocar em um show como esse”.  E era mesmo. Era uma banda americana, cantando rock, em um país que estava saindo de um regime que de socialista só tinha o nome.

Parte da apresentação do Pantera, assim como todas as do festival, foram registradas em vídeo na produção “For Those About to Rock”, cujas imagens circulam pelo YouTube. Versões em VHS e DVD também são vendidas na Amazon e em outros sites. No filme, as cenas dos shows são mescladas a momentos de violência vividos entre o público e a polícia, sintoma da situação tensa de transição política, além de depoimentos dos artistas que participaram do evento.

  

O Pantera não foi a única banda americana a subir ao palco. Além disso, o rock, expressão artística fortemente ligada à cultura anglo americana, servia sem querer como um estandarte do “capitalismo”, ainda mais por estar sendo ecoado em um local que serviu para demonstrações da força aérea soviética. O Monsters of Rock surgiu na Inglaterra em 1980, e anualmente costumava acontecer no castelo de Donnignton (1980 a 1996). A partir de 1983 ele também passou a acontecer em outros países, tendo inclusive edições no Chile, Argentina e Brasil.

A segunda atração a subir no palco de Moscou foi o E.S.T., uma banda local. Em seguida foi a vez do The Black Crowes cativar o público com seu rock ainda fresco, tocando canções do primeiro – e ótimo – disco, Shake Your Money Maker.



O auge, no entanto, acontece na sequência quando “The Ecstasy of Gold”, o tema de Ennio Morricone reproduzido na abertura das apresentações do Metallica, começou a tocar no recinto. A noite já caia sobre o Tushino Airfield quando o Metallica abriu seu show com “Enter Sandman”, levando o público a transformar sentimento em canto, em punhos erguidos, mas não para a violência. O Metallica provava para a Rússia que era uma das melhores bandas do mundo. Com uma das apresentações mais longas do dia, James Hetfield e companhia desfilaram algumas das então recém lançadas músicas de seu Black Album


No registro em vídeo do show, os sinos de “Hells Bells” servem de trilha sonora para cenas de conflito nas ruas de Moscou, captadas possivelmente antes do festival, e depoimentos de pessoas que vivenciaram a violência dos agentes da KGB. É a deixa para a apresentação do AC/DC, que fechou o festival com chave de ouro. No setlist, “Highway to Hell”, “Back in Black”, “Wolla Lotta Rosie” e, claro, “For Those About to Rock”. A salva de canhões ao final da canção era um sinal de despedida, e por que não dizer de homenagem, de todas as bandas para aquelas pessoas que presenciaram um dos momentos mais significativos e emocionantes do rock and roll.

(por Nelson Júnior)

Comentários

  1. Vi um dvd pirata deste show e o negócio chega a emocionar! Naquele tempo, e isso faz "só" vinte anos, a música ainda parecia poder mudar o mundo, o cinismo e a apatia não tinham contaminado aquelas pessoas. Tudo jogou à favor e as bandas que tocaram neste festival sabiam que ali elas estavam inseridas em algo maior. O show em Moscou foi do público, mesmo com toda a repressão da polícia soviética.

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  2. Cara eu sempre acompanho o blog e curto mt as matérias daki. Porém esta do MOnster of Rock Moscow é um plágio (pra não dizer outra coisa) desta outra q foi publicada em 2010. Não q vou deixar de acompanhar o blog, mas ficarei um pouco apreensivo sobre a originalidade das matérias.
    De qualquer forma este é o blog q apresenta a matéria:
    http://meunegocioerock.blogspot.com.br/2010/02/monsters-of-rock-moscow.html

    Obrigado

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  3. Não Marcelo, não trata-se de um plágio por um motivo muito simples: é a mesma matéria que você cita e está no outro blog. Seu autor, Nelson Júnior, a enviou para publicação também na Collectors Room e agora faz parte da equipe do site. Mais cuidado antes de fazer uma acusação como essa, ok? Obrigado pelo comentário.

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  4. Olá Marcelo, tudo bem? Como o Ricardo já adiantou o texto é meu, e realmente foi publicado em 2010 no blog mencionado (www.meunegocioerock.blogspot.com), que também é meu. Se você acessá-lo agora, inclusive, haverá um link para o meu perfil, ferramenta que não estava disponível até então.
    Compartilho sua preocupação quanto à originalidade de textos publicados na internet. No entanto, acho que em caso de suspeitas como essa o mais indicado é entrar em contato diretamente com o editor da página e não publicamente.
    Obrigado
    Abraços

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  5. Realmente peço desculpa para vcs. Mas é q hj é realmente dificil encontrar um blog de boa qualidade, e foi algo q me deixou preocupado. Fico feliz q td está esclarecido. Mas como vcs bem sabem, a internet está cheio disso. Desta forma agradeço a compreensão.
    E me desculpem novamente!

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  6. o mais importante é que os créditos são dados e não vejo problema de a matéria ser publicada em outros sites. O Texto é muito bom Marcelo e muito legal que o Ricardo sempre publica matérias interessantes, indiferente de quem escreva, contanto que os devidos créditos sejam dados.

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  7. o mais importante é que os créditos são dados e não vejo problema de a matéria ser publicada em outros sites. O Texto é muito bom Marcelo e muito legal que o Ricardo sempre publica matérias interessantes, indiferente de quem escreva, contanto que os devidos créditos sejam dados.

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  8. cara, não sei se alguém vai ler isso aqui mas essa matéria é muito boa e quando vim nos comentários percebi que existiu um momento há quase 10 anos atrás onde as pessoas sabiam conversar e compartilhar conhecimento na internet, quem diria que o futuro iria reservar tamanha merda, bons tempos!

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    1. Sim, antigamente era bem mais tranquilo. Porém, nessa época mesmo eu tinha um blog e resolvi parar de escrever justamente por causa de alguns idiotas que estavam aparecendo nesta época, em 2012.

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