Este é o terceiro disco de um dos fenômenos musicais mais interessantes a surgirem recentemente na cena brasileira. O Teatro Mágico, como quase todos devem saber, é um grupo liderado por Fernando Anitelli e que mistura música (principalmente), dança, poesia e circo. Nascido em 2003 nos palcos alternativos de São Paulo e criando desde então uma base sólida de admiradores, o Teatro Mágico conseguiu se espalhar por todo Brasil e hoje é um dos maiores nomes do cenário musical alternativo.
É inegável e transparente o desejo de conquistar um espaço e público maior com esse lançamento. A gravação do disco ocorreu com a contratação de um produtor, algo inédito na carreira do grupo, e que foi determinante para que a banda chegasse a uma síntese sonora maior. O problema é que o fruto dessa síntese é extremamente débil. O produtor não foi capaz de salvar a banda de uma tentativa frustrada de atirar para todo os lados e ver no que dava. É exatamente essa a impressão que se tem depois de ouvir o álbum: um grupo tentando, sem conseguir, unir toda a sua parafernália ideológica em um formato sonoro e estético pop-contemporâneo.
Na apresentação que o Teatro Mágico faz deste trabalho em seu site, cita algo que de cara fica evidente ao se ouvir o disco: a influência fortíssima da sonoridade e o espírito criativo do Clube da Esquina. Se fosse somente isso, tudo estaria bem.
“Próscenio” abre caminho para a melhor música do disco, “Além, porém aqui”. Melodia interessantíssima com muitas explorações de ritmos feitas de maneira excepcional, como o que de melhor o “Clube” já havia feito. Depois desse ponto já começam os problemas. “Amanhã … Será?”, apesar de ter um apelo pop legal, na medida, e uma letra que remete aos conflitos árabes, acaba por cair em reducionismos baratos como “o post é voz que voz libertará”, e ainda em frases ambíguas que vão aparecer ao longo do disco, em várias músicas. Para citar um caso, nessa mesma faixa: “Amanhã … Será” / “Amanhecerá” . Humberto Gessinger já fez isso à exaustão, e depois de um tempo irrita.
Essa alternância entre momentos inspirados, outros nem tanto, e ainda alguns de nenhuma inspiração, acaba por revelar certa imaturidade musical na tentativa de serem mais versáteis. Por exemplo: “Transição” é uma composição muito bacana, mas sozinha não consegue competir com a trinca de músicas ruins que vem depois. “Eu não sei na verdade quem eu sou” é praticamente uma aula de auto-ajuda, mas com toques maiores de lirismo. “Nosso pequeno castelo” possui uma levada mais swingada que até poderia vir a calhar, mas descamba para uma pseudo-lambada de péssimo gosto e evolui para a próxima faixa, “O novo testamento”, com seu pragmatismo panfletário. O trecho final da letra diz: “Não poder se opor a dor é relevar a si, não poder se opor a dor é revelar a si, só”. Um primor de inocuidade e pretensão.
Para o final do disco estão reservados alguns ótimos momentos, que encerram o trabalho mostrando alguma esperança, a começar por “Folia no quarto”, com uma melodia muito bem construída e uma letra impecável. O único exemplo de uma balada bonita deste disco, sem cair nos arranjos canastrões que marcam firme presença em outras faixas, como em “Você me bagunça”, essa figurando como uma bela amostra de como o Teatro Mágico pode soar piegas quando quer.
Depois de já estar quase entregando os pontos, fecham o CD com duas ótimas canções: “Esse mundo não vale o mundo” e “Canção da terra”, uma clara e interessante defesa de opinião e demonstração de apoio aos movimentos de luta pela terra.
É preciso ressaltar a importância que o Teatro Mágico tem no cenário atual, sendo uma banda que optou corretamente por brigar pelo espaço no mainstrean e mostrar um universo musical diferente do dominante para toda uma geração de jovens em idade de entender de música. Se nivelarmos por baixo, veremos que o Teatro Mágico está muito acima da média se comparado às bandas que hoje ditam os parâmetros do que é música popular no Brasil. O grupo de Anitelli faz discussões sobre temas interessantes e tem um bom discurso. Mas se nivelarmos por cima, podemos enxergar que o Teatro Mágico não apresentou nada de artisticamente relevante e consistente que já não tivesse sido explorado anteriormente, em nenhum de seus aspectos (o circo, o teatro, a poesia e a música). Ninguém vai conseguir reinventar a roda, sem que essa tentativa soe fraudulenta aos menos incautos.
Nota: 6,5
Faixas:
Proscênio
Além, porém aqui
Amanhã ... Será?
Quermesse
Da entrega
Transição
Eu não sei na verdade quem eu sou
Nosso pequeno castelo
O novo testamento
Fiz uma canção pra ela
Felicidade
O que se perde enquanto os olhos piscam
Tática e estratégia
Folia no quarto
Nas margens de mim
Você me bagunça
Esse mundo não vale o mundo
Canção da terra
Até quando
(por Angelo Borba da Silva, do blog Ensaios Dissonantes)
É inegável e transparente o desejo de conquistar um espaço e público maior com esse lançamento. A gravação do disco ocorreu com a contratação de um produtor, algo inédito na carreira do grupo, e que foi determinante para que a banda chegasse a uma síntese sonora maior. O problema é que o fruto dessa síntese é extremamente débil. O produtor não foi capaz de salvar a banda de uma tentativa frustrada de atirar para todo os lados e ver no que dava. É exatamente essa a impressão que se tem depois de ouvir o álbum: um grupo tentando, sem conseguir, unir toda a sua parafernália ideológica em um formato sonoro e estético pop-contemporâneo.
Na apresentação que o Teatro Mágico faz deste trabalho em seu site, cita algo que de cara fica evidente ao se ouvir o disco: a influência fortíssima da sonoridade e o espírito criativo do Clube da Esquina. Se fosse somente isso, tudo estaria bem.
“Próscenio” abre caminho para a melhor música do disco, “Além, porém aqui”. Melodia interessantíssima com muitas explorações de ritmos feitas de maneira excepcional, como o que de melhor o “Clube” já havia feito. Depois desse ponto já começam os problemas. “Amanhã … Será?”, apesar de ter um apelo pop legal, na medida, e uma letra que remete aos conflitos árabes, acaba por cair em reducionismos baratos como “o post é voz que voz libertará”, e ainda em frases ambíguas que vão aparecer ao longo do disco, em várias músicas. Para citar um caso, nessa mesma faixa: “Amanhã … Será” / “Amanhecerá” . Humberto Gessinger já fez isso à exaustão, e depois de um tempo irrita.
Essa alternância entre momentos inspirados, outros nem tanto, e ainda alguns de nenhuma inspiração, acaba por revelar certa imaturidade musical na tentativa de serem mais versáteis. Por exemplo: “Transição” é uma composição muito bacana, mas sozinha não consegue competir com a trinca de músicas ruins que vem depois. “Eu não sei na verdade quem eu sou” é praticamente uma aula de auto-ajuda, mas com toques maiores de lirismo. “Nosso pequeno castelo” possui uma levada mais swingada que até poderia vir a calhar, mas descamba para uma pseudo-lambada de péssimo gosto e evolui para a próxima faixa, “O novo testamento”, com seu pragmatismo panfletário. O trecho final da letra diz: “Não poder se opor a dor é relevar a si, não poder se opor a dor é revelar a si, só”. Um primor de inocuidade e pretensão.
Para o final do disco estão reservados alguns ótimos momentos, que encerram o trabalho mostrando alguma esperança, a começar por “Folia no quarto”, com uma melodia muito bem construída e uma letra impecável. O único exemplo de uma balada bonita deste disco, sem cair nos arranjos canastrões que marcam firme presença em outras faixas, como em “Você me bagunça”, essa figurando como uma bela amostra de como o Teatro Mágico pode soar piegas quando quer.
Depois de já estar quase entregando os pontos, fecham o CD com duas ótimas canções: “Esse mundo não vale o mundo” e “Canção da terra”, uma clara e interessante defesa de opinião e demonstração de apoio aos movimentos de luta pela terra.
É preciso ressaltar a importância que o Teatro Mágico tem no cenário atual, sendo uma banda que optou corretamente por brigar pelo espaço no mainstrean e mostrar um universo musical diferente do dominante para toda uma geração de jovens em idade de entender de música. Se nivelarmos por baixo, veremos que o Teatro Mágico está muito acima da média se comparado às bandas que hoje ditam os parâmetros do que é música popular no Brasil. O grupo de Anitelli faz discussões sobre temas interessantes e tem um bom discurso. Mas se nivelarmos por cima, podemos enxergar que o Teatro Mágico não apresentou nada de artisticamente relevante e consistente que já não tivesse sido explorado anteriormente, em nenhum de seus aspectos (o circo, o teatro, a poesia e a música). Ninguém vai conseguir reinventar a roda, sem que essa tentativa soe fraudulenta aos menos incautos.
Nota: 6,5
Faixas:
Proscênio
Além, porém aqui
Amanhã ... Será?
Quermesse
Da entrega
Transição
Eu não sei na verdade quem eu sou
Nosso pequeno castelo
O novo testamento
Fiz uma canção pra ela
Felicidade
O que se perde enquanto os olhos piscam
Tática e estratégia
Folia no quarto
Nas margens de mim
Você me bagunça
Esse mundo não vale o mundo
Canção da terra
Até quando
(por Angelo Borba da Silva, do blog Ensaios Dissonantes)
Não se vale um adendo, mas na faixa Transição o solo de saxofone é de Jeff Coffin, conhecido mundialmente pelos trabalhos com os Flecktones e a Dave Matthews Band.
ResponderExcluirNunca tinha ouvido falar desta banda, mas fiquei curioso de ouví-la. Agora o que quero dizer é que como hoje em dia as pessoas parecem olhar apenas para o próprio umbigo...Chamar de fenômeno uma banda que 99,9% das pessoas não conhecem não seria um pouco demais? Porque uma banda faz sucesso no gueto do gueto do gueto merece ser chamada de fenômeno de alguma coisa? Na boa, não faço a mínima idéia. Fenômenos populares para mim são Adele e Michel Teló, goste-se ou não deles.
ResponderExcluirCleibsom,
ResponderExcluirmaior nome no cenário alternativo, não do mainstream. Mas nada comparado a Michel Teló, que faz uma música popular, de massa, tem outro formato de marketing, etc. Teatro Mágico é sim um fenômemo, conquistando públicos variados e creio que nem eles imaginariam atingir. Na página do grupo no facebook, mais de 300.000 já curtiram, o que está de acordo com sua tese.
Mas enfim, há vários tipos de fenômenos, este só não se encaixa naquele do seu ponto de vista.
Eu vi o Teatro Mágico ao vivo o show até que é legal, mas esse marxismo vulgar deles é trágico e esse novo disco é uma é um espetáculo de horrores.
ResponderExcluirAssim como os Los Hermanos esses caras são exclusivamente dedicados aos esquerdóides acéfalos de plantão.
A capa é ridícula colocar todos os representantes do comunismo ao lado de falsários é o fim.
É que na minha opinião, Glauber, só existe um tipo de fenômeno, que é quando um artista extrapola um gueto e atinge pessoas de todas as classes sociais, sem distinção e em números gigantescos...Sendo assim, no meu conceito, esse tal de Teatro Mágico é exclusividade de supostos "antenados", assim como os Los Hermanos. Não consigo entender como as pessoas comparam o culto aos barbudos com o culto à Legião Urbana, são coisas completamente diferentes. Lembro ainda que quando digo isso sobre o Teatro Mágico não estou julgando a música da banda, até porque não a conheço, mas sim o suposto "fenômeno" em si.
ResponderExcluirIndo pelo raciocínio do Cleibson eles não poderiam ser reconhecidos como um fenômeno...mas são muito famosos no meio universitário... assim como o Los Hermanos...
ResponderExcluirDo Teatro Mágico não posso falar, mas o Los Hermanos é um fenômeno, sim. A identificação das pessoas com as músicas dos caras beira o sobrenatural, e os fãs se comportam como se estivessem ouvindo um Messias.
ResponderExcluirO Los Hermanos foi um fenômeno em um curtíssimo período durante a megaexposição da Anna Júlia, música que eles hoje renegam. Depois disso a banda se fechou em um gueto e como esse gueto tem poder de opinião, parece que os caras tem mais sucesso do que realmente tem. Eles me lembram muito a Malu Magalhães, pelo que se lê nos cadernos culturais parece que ela é um estouro, uma artista importantíssima na música brasileira, mas qualquer pessoa com um mínimo de visão sabe que isso não é verdade. PS.: Parabéns pela crítica do disco do Darkness à Rolling Stone, seu curriculum fica a cada dia mais gordo...
ResponderExcluirObrigado, Cleibsom. Gostou da opinião sobre o disco?
ResponderExcluirCara, ainda não ouvi o disco. Sabe que, não sei se pela importância do veículo, achei sua resenha bem mais séria e adulta, não que isso seja uma crítica...Uma pessoa que leu um review seu na Roadie Crew e lê esse do Darkness na Rolling Stone não acredita que seja o mesmo "crítico". Sinto a mesma coisa quanto leio as resenhas do Bento Araújo no mesmo veículo.
ResponderExcluirEntendo. É o peso e a responsabilidade do veículo.
ResponderExcluirAcho que a discussão sobre o TM ser um fenômeno acaba caindo na subjetividade do entendimento de cada um. Sobre isso não vou opinar. Mas um dado importante, não sobre o Teatro, mas sobre os seus "padrinhos, os Los Hermanos: eles substituiram o Legião urbana na lista das 10 musicas mais tocadas em rodinhas de violão. Isso é um fenômeno inconteste, não?
ResponderExcluirNão, porque "rodinha de violão" é coisa de poucos ripongas perdidos no tempo e o público da Legião ia muito além disso, os caras eram ouvidos tanto pela dona de casa semi-alfabetizada como pelo executivo viajado que fala dez línguas, coisa que os Los Hermanos nunca vão conseguir...
ResponderExcluirLi ontem no Twitter: canta Legião é o novo toca Raul. Verdade!
ResponderExcluiros Los Hermanos nunca vão conseguir... Aliás, alguma outra banda conseguiria? Arrisco que não. os únicos q chegam perto desse status é o L.H. Independente se gostemos ou não. Particularmente, não me agrada muito não. Mas qualquer apresentação dos barbudos é quase que um ritual de comunhão, entre banda e público. Dá para traçar vários paralelos entre os L.H e a Legião, em outros casos não dá. Claro que não é e nunca vai ser a mesma coisa. O cenário está mudado demias de lá p cá. Acho q se fizermos esse paralelismo de tempo e cenário, os Los H. apareceriam como os principais sucessores da histeria Legião Urbana. Guardada as devidas proporções.
ResponderExcluirEnsaiossissonantes, acho que em termos de amor dos fãs e fanatismo nos shows a banda atual que mais se aproxima da Legião é o Racionais, perto da paixão dos fãs do grupo de rap os do Los Hermanos são fichinha. Por ter fãs de nível universitário e que escrevem nos cardernos culturais, tidos como formadores de opinião, as pessoas que lêem esses cadernos culturais tendem a achar que o Los Hermanos são um fenômeno, mas eles são apenas um grupo de razoável sucesso.
ResponderExcluirFalou bem Cleibsom e falou certinho, pois eu não lembro de ninguém que não seja do meio acadêmico que seja fã do Los Hermanos e o Teatro Mágico é a mesma coisa.
ResponderExcluirO Racionais MC é outros quinhentos, pois a base de fãs desses caras é formada pelo pessoal das periferias e não do público acadêmico acostumado a ler Foucault, Sartre entre outros e na minha opinião fazem um bem legal e reflexivo da realidade deles.
Outro detalhe é que a comparação entre Legião Urbana e Los Hermanos é incabível não tem parâmetros, pois os Brasilianos (candangos) intelectualmente e musicalmente falando tem um grande abismo.
O Los Hermanos se for lembrado pelas próximas gerações daqui a vinte anos, quem sabe eles não se tornem um fenômeno, pois a Legião Urbana já acabou e ainda exerce o mesmo fascínio sobre os fãs das décadas que esteve em plena atividade e olha que muitos da geração atual sequer existia quando a banda tinha acabado.
Eu sou professor de história leciono em universidade e escola convencionais nos ensinos fundamental e médio e eu costumo introduzir nas minhas aulas música quando quero explicar um assunto como o Vietnã por exemplo eu já usei War Pigs do Black Sabbath e Ohio do Neil Young.
E quando eu vou explicar revolução indústrial e a questão do índio só da Legião Urbana eu uso as faixas "índios" e "a fábrica" só nessas aventuras consegui três alunos comprar os discos dos caras, entendem o alcance desses caras na sociedade?
Dos Los Hermanos eu nunca encontrei uma que servisse porque não tem esse apelo popular é restrito, ou seja, exclusivo ao público acadêmico que lêem e escrevem aqueles cadernos culturais burgueses e elitistas e posam de esquerda, por isso esquerdóides e alienados.
E para encerrar os Racionais MC já usei a faixa Negro Drama para explicar a questão do negro na sociedade brasileira e justamnete pelo conjunto da obra é fácil entender
Isso mostra como a música é atemporal e afirma a importância e o lugar que os grupos musicais independente do estilo marcam na sociedade onde estão inseridos e por isso deixa bem claro que qualquer comparação é nula.
Ai quando você compara o cenário atual dominado por tranqueiras como Luan Santana, Nx Zero, Fresco e Los Hermanos, Restart entre outros fica difícil não, impossível tentar gostar de alguma coisa e explica o porque da insatisfação com o presente o culto exacerbado e sádico ao passado.