Por que continuamos a falar de Guns N' Roses?

Faz algum tempo que um debate relevante e atual tomou conta da mídia virtual, especialmente aquelas que se referem ao grande e maldito rock and roll. De um lado deste embate democrático, Ricardo Seelig, jornalista experiente e midiático, inclusive o administrador e criador do Collectors Room, tendo muitas passagens por várias mídias (impressas inclusive) e hoje um dos sobreviventes entre os dinossauros do jornalismo musical. Do outro, uma 'pá' de blogueiros contemporâneos, com menos experiência e herdeiros de uma comunicação de massa repleta de facilidades não encontradas pela geração do Seelig, pesquisador, ouvinte de LPs e colecionador voraz de música. Entre estes de uma nova percepção musical, coloco-me como pertencente àqueles que descobriram na internet a influência absurda que ela pode gerar no leitor, podendo ser uma verdadeira árvore do bem e do mal, por assim dizer, com seus ramos alcançando gente do mundo todo.

Neste cenário, um paradigma: Ricardo defende que as bandas que surgiram na última década - independente do estilo - merecem uma audição mais complacente, desvinculada dos valores de "melhor" e "pior" que somos costumeiros em fazer com relação às bandas que chamamos de clássicas, incapazes, no nosso coração "metaleiro" (odeio essa expressão), de cometerem desatinos na carreira, detentoras de discos impecáveis e donas de uma biografia imaculada, segundo a cartilha do rock and roll. Eu, blogueiro de alguns anos e com muito mais cheiro de "utorrent" do que de vinil, com toda a minha metidez de modernidade, penso que pouca coisa do que foi produzido especialmente nos últimos 15 anos dispensa uma valorização contumaz e febril, como a que aconteceu quando ouvi pela primeira vez Black Sabbath, por exemplo, lá nos idos de 1982.


Discussões à parte, esta semana tive que recuar um pouco dos meus princípios, que não são irredutíveis, para concordar com Seelig, especificamente quando perdemos tempo para falarmos sempre dos mesmos, sem olhar com um pouco de carinho,para as centenas de manifestações artísticas ao redor do planeta, facilitadas pela tecnologia, pela inteligência e esperteza e, lógico, pelo talento. O que me fez declinar?


A apresentação beneficente que o Guns N' Roses fez para uma instituição de caridade revelou uma banda incapaz de fazer o que deveriam dominar: música. Já li algumas pessoas defendendo o desempenho patético mediante a condição de saúde do vocalista, até então com sérios problemas na garganta. Porém, quem não se lembra da atuação vexatória no Rock in Rio IV, em 2011? Sei muito bem que o fã de Guns quando olha para a banda - na maioria das vezes - atenta ainda para a formação clássica, impecável e dona do melhor hard da época. Mas ainda venerar o passado, porque Axl ainda faz shows com um cast que não é aquele, é justamente menosprezar a possibilidade de haver bandas que façam um som tão bacana quanto a banda de Axl fazia 20 anos.


O status do show (beneficente) não ameniza uma condição que a banda (ou Axl, se você preferir) apresenta faz tempo. Se o mundo do rock implora por uma reunião da formação original, corrobora com minha tese que o passado deseja reforçar a ilusão do inconsciente coletivo de que o Guns N' Roses ainda é o Guns N' Roses. Não, não é! A começar pelo seu frontman talentosíssimo, mas fazendo um som distante (muito distante) do que foi capaz de produzir. Seu desempenho como vocalista é perto do terrível e não pode ganhar indulto pelo que já foi produzido e conquistado.


Aqui, um mea culpa: parte da imprensa fala/debate/noticia Guns N' Roses porque a banda (Axl) é um anti-herói do rock. Suas proezas fora do palco são notícias ao redor dos continentes e mantém o estigma de vida de roqueiro. Alguns, como urubus, aguardam a via crucis de Ian Curtis, Morrison, Joplin, Cobain e Winehouse se manifestar na vida de Axl, que aos 50 anos ultrapassa a Route 66, com louvor, deixando pra trás os supracitados.


O problema é que o Axl quizumbeiro não deveria ser mais notícia do que o Rose músico, porque é a arte que se sobrepõe sobre os humanos comuns e os torna quase deuses para nós, admiradores. Não deveria.


Por que não deixarmos (um pouco) o cinquentão de lado e usarmos as tantas ferramentas de pesquisa em busca do desconhecido? Que tal deixarmos os classicismos e tradições tolas que arrastamos com o nosso gosto musical e abrirmos o leque do nosso coração para tantas e tantas bandas e artistas dispostos a nos conquistar? Não há necessidade alguma de jogar fora tudo que gostamos e apreciamos e que possuem até valor sentimetal, mas não custa (nem um pouquinho) fuçar os YouTubes da vida e amar o novo. E se doer, reclamem com o Ricardo ... :)


(por Daniel Júnior)

Comentários

  1. Já faz tempo que venho concordando com o Ricardo aqui na Collector's sobre este assunto.

    E você Daniel, fez uma excelente colocação. Também sou blogueiro, porém, em contrapartida, sou amante dos LPs e como o Ricardo, também sou pesquisador, ainda guardo com orgulho minha coleção de revistas Bizz e ShowBizz.

    Mas bem, o assunto em questão aqui é o cuzão do Axl e essa bosta de banda. Me desculpem os lisonjeiros elogios, mas eu acho que o Guns N' Roses acabou em 1994. Aliás, em 1993.

    E ficar o tempo inteiro remoendo uma coisa que nunca mais vai voltar a ser como era, é um erro tremendo.

    Essa nova formação do Guns, que muitos chamam de MK alguma coisa, nada tem a ver. Pra mim a única banda que merece a alcunha de ter um MK chama-se Deep Purple e pra mim ela acabou em 1993, justamente o ano em que o Guns se desintegrou.

    Olha eu sou fã do Guns na formação original, foi um dos, senão o primeiro disco de Hard que eu comprei, tenho ele até hoje, mas eles estão num estado deplorável.E não vão voltar. NUNCA MAIS!

    Temos que seguir em frente, tem muita banda boa por aí que merece a audição e vale a pena você se informar melhor.

    E please, Oh! Please, esqueçam desse tal Axl Rose. Quer ouvir um som do Guns de qualidade, ouça qualquer um dos inúmeros shows do Slash com Myles Kennedy que é infinitamente melhor.

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  2. A resposta é simples: A banda tem grande ibope. Pq querendo ou não todo mundo tem curiosidade sobre a formação atual. Nem que seja pra entrar numa nova notícia sobre o guns no whiplash pra xingar o Axl ou coisa parecida. E daniel respeito a sua opinião. Mas não concordo e os que não concordarem, assim como eu não são necessariamente alienados do q se passa de novo e bom no rock. Não me canso de procurar por bandas novas na internet. Entretanto isso não me impede de seguir fiel a uma banda q me fez dar ouvidos ao rock. Ainda acho melhor q ele cante do jeito q está do q apelar pro playback, certo? No rock in rio a performance teve altos e baixos sim. E estava lá e vi todo o show de pertinho bem próximo na grade. E não me arrependi. Ex: Estranged foi mágico com a chuva caindo no rosto. Axl fez o q tinha q fazer. E a banda também.

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  3. Kr, eu não vivi a época, nunca entendi e acho q nunca entenderei o motivo de ainda ler algo sobre essa banda.

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  4. Acho que nós, na faixa dos 35 aos 45 anos de estrada, ainda lemos, discutimos e queremos ouvir falar de Guns e outras tantas bandas clássicas, porque hoje sentimos falta de novas músicas que nos faça vibrar e querer furar o disco de tanto ouvir (se fossem os velhos discos de vinil), desta forma queremos a todo custo dar esperança aos dinossauros sobreviventes de nos trazerem novamente algum novo clássico pois, apesar de tudo, esses caras um dia nós deram o seu melhor. Bom, é apenas uma simples opinião.

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  5. talvez os velhacos continuem a falar das coisas antigas, pelo fato de qze tudo que surge e vai para a mídia é descartavel !

    Nunca vão me convencer que Slipknot, System of a down e coisas do tipo um dia serão "clássicas" !

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