Lancer: crítica de Lancer (2013)

O saudosismo e o culto ao passado são partes integrantes da cultura heavy metal. Principalmente em relação à decada de 1980, o que não faltam são sites, publicações e até mesmo festivais dedicados exclusivamente ao som produzido naquele período. Todo esse culto fez surgir um estilo próprio dentro do metal, manifestado através da crescente onda de bandas retrô thrash surgidas nos últimos anos e que, na minha visão particular, salvo algumas excessões soam, em sua maioria, apenas genéricas, derivativas e totalmente desnecessárias.

Seguindo outro caminho, os suecos do Lancer também olham para o passado, mas para outra seara: a do power metal. Formada em 2009 na cidade de Arvika, a banda é composta por Isak Stenvall (vocal), Peter Ellström (guitarra), Fredrik Kelemen (guitarra), Emil Öberg (baixo) e Sebastian Pedernera (bateria) e acaba de lançar o seu primeiro disco. Batizado apenas com o nome do grupo, a estreia do Lancer saiu no último dia 18 de janeiro e irá agradar em cheio uma parcela considerável de metalheads.

O motivo dessa certeza é a mistura de influências que compõe a música do quinteto: linhas vocais muito bem construídas, guitarras velozes e melodias e arranjos que remetem diretamente ao Iron Maiden do biênio 1983/1984 e ao Helloween fase 1987/1988. E a cereja do bolo: um vocalista que possui um timbre de voz que fica no meio termo entre Michael Kiske e Tobias Sammet e, em alguns momentos, nos traz à mente o jovem Bruce Dickinson.

Produzido pela dupla Tommy Reinxeed e Ronny Milianowicz, que tem no currículo trabalhos para nomes como Hammerfall, Wolf e o próprio Kiske, o debut do Lancer parece um disco perdido de power metal gravado durante a década de 1980 e que só agora viu a luz do dia. A banda possui uma diferença fundamental em relação à grande maioria dos grupos que reciclam a sonoridade e a estética daquela época: ao invés do saudosismo puro e simples, o que temos aqui é um cuidadoso e sólido trabalho de composição que bebe sim no passado, mas com talento de sobra para tornar tudo refrescante e pra lá de cativante.

Se você é fã de bandas como Iron Maiden, Helloween, Gamma Ray, Hammerfall, Edguy e Steelwing, irá às nuvens com o Lancer. As nove faixas do disco são cheias de refrões grudentos e melodias eficazes, além de solos que instigam qualquer fã de metal a empunhar a sua air guitar e sair detonando tudo.

Entre as músicas, destaque para o primeiro single e faixa de abertura, “Purple Sky”, além de “The Exiled” (Steve Harris ficaria orgulhoso), “Young & Alive” (e dá-lhe Keeper of the Seven Keys), “Dreamchasers” e “Mr. Starlight”. Há alguns delizes quando a banda tenta ir por caminhos mais dramáticos, como em “Seventh Angel” e “Between the Devil and the Deep”, mas acerta o alvo contrário em duas faixas com duração excessiva e pretensão desnecessária.

Quando o culto ao passado vem acompanhado de grandes doses de talento no lugar da saudade pura e simples, não tem como dar errado. Esse é o caso do Lancer. Os suecos fizeram um belo trabalho em seu disco de estreia e possuem potencial para irem muito além.

É bom ficar de olho no Lancer, porque a coisa aqui promete (até porque uma banda que tem um avestruz cheio de spikes como mascote não pode passar despercebida ...).


Nota 7


Faixas:
1 Purple Sky
2 The Exiled
3 Young & Alive
4 Seventh Angel
5 Don’t Go Changing
6 Dreamchasers
7 Mr. Starlight
8 Deja Vu
9 Between the Devil and the Deep

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