Enforcer: crítica de Death by Fire (2013)

É justo, saudável e pertinente quationar qual é o objetivo, a razão de ser, de uma banda com o Enforcer. Os suecos lançaram o seu terceiro disco, Death by Fire, no início de fevereiro pela Nuclear Blast, e estão alçando vôos cada vez mais altos. A pergunta é: para onde?

O som do Enforcer é puro metal britânico vindo direto da clássica NWOBHM. A questão que incomoda é que a banda não é influenciada pelo movimento que deu ao mundo nomes como Iron Maiden e Saxon, mas sim apenas emula e copia o que os grupos daquele período faziam. Até a mixagem de Death by Fire é esteticamente atrasada, revivendo os timbres dos instrumentos do início da década de 1980. É um heavy metal xerocado, com pouca tinta e sem nenhuma originalidade.

E aí entra outra questão: uma parcela considerável do público consumidor de metal, principalmente aqui no Brasil e em alguns países europeus, está pouco se lixando se uma banda é original ou não, se ela soa requentada ou não. Há público para esse tipo de som, e ele é formado por indivíduos de tênis cano alto, coletes jeans cheios de patches e que vivem a ilusão coletiva de estarem dentro do Soundhouse (lendário clube londrino homenageado pelo Maiden em The Soundhouse Tapes) ouvindo as últimas novidades tocadas pelo DJ Neal Kay, enquanto na verdade estão em um buraco apertado na capital paulista negando tudo que soe minimamente atual.

As nove faixas de Death by Fire são cheias de melodia e riffs, vocais gritados e uma atitude e energia alheia. Tudo que sai dos alto falantes já foi feito antes, milhares de vezes e muito melhor. Isoladamente, canções como “Mesmerized by Fire” e “Take Me Out of This Nightmare” até funcionam, mas escutar o álbum todo é uma experiência pra lá de repetitiva e maçante.

Pessoalmente, não entendo o que leva jovens músicos a criar uma banda e não fazer um som original, não expressar o que sentem, mas sim apenas recriar o que foi produzido por seus ídolos. Isso não tem validade nenhuma, na maioria dos casos, e o Enforcer apenas atesta essa tese. E mais: apenas idolatrar o que foi feito lá atrás não é nada saudável e produtivo, pois deixa o cenário preso em um limbo com possibilidades limitadas, e o resultado disso é a estagnação como um todo. Quando caras como Kay e outros apresentavam novos grupos para os metalheads londrinos no final dos anos 1970 e início dos 1980, essas bandas que depois fariam história (como Iron Maiden, Diamond Head, Angel Witch, ...) eram cativantes porque traziam um grande sopro de novidade para a cena, colocando no universo do heavy metal e do hard rock novos elementos que influenciariam decisivamente os anos seguintes. Ou seja, é exatamente o oposto do que o Enforcer e outros nomes fazem hoje em dia, olhando para trás e somente para lá, se recusando a levar a sua música em frente e tendo asco e repulsa do menor sinal de evolução.

Se o objetivo de vida de uma parcela crescente de headbangers é se trancar em um boteco decadente, usar calças spandex e bandana na cabeça, que joguem a chave fora e fiquem por lá, pois se tem uma coisa que metal nunca foi é conservador. As inúmeras ramificações presentes no som pesado de hoje em dia nasceram da absoluta falta de preconceito com novas sonoridades e do desejo de tornar a música sempre mais pesada, agressiva, desafiadora e única. Negar essa característica histórica e onipresente é um erro que um número cada vez maior de headbangers estão cometendo, iludindo-se com bandas como o Enforcer, que nada mais é do que uma cópia escancarada de um dos períodos mais férteis da história do estilo.

Death by Fire tem tanta validade e é tão útil quanto um mero cinzeiro, onde cinzas são despejadas e jogadas fora, como os restos e migalhas que o compõe. Se você gosta de fumaça, até vale. Mas se o seu negócio é fogo de verdade, criatividade e música com personalidade, passe longe.

Nota 4

Faixas:
1 Bells of Hades
2 Death Rides This Night
3 Run For Your Life
4 Mesmerized by Fire
5 Take Me Out of This Nightmare
6 Crystal Suite
7 Sacrificed
8 Silent Hour / The Conjugation
9 Satan

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. A questão nao é fazer algo antigo ou nao , é fazer como realmente é . A " evolução " do metal claramente nao deu nem um pouco certo , pelo menos musicalmente . Nao vejo problema nenhum em fazer um som como na NWOBHM e apatir dai tentar acrescentar algo novo . E a banda é realmente fóda ! Assim como o Steelwing , Skull Fist , e as do Brasil como Breakout , Rider e Shockbreaker ( Vcs ouviram muito esse nome ) E o crítico falou muita asneira !

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  2. E como o metal realmente é?

    Pantera é ruim? Slayer, Metallica, Sepultura, In Flames, Trivium? Stone Sour, Morbid Angel, Hatebreed? Todas essas bandas são exemplos da evolução do heavy metal, que você afirma não ter dado certo musicalmente. Tem certeza?

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  3. Detalhe que Stone Sour tá longe de ser algo relacionado a metal

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  4. Acredito que numa evoluçao voce tenha que ficar melhor do que ja foi , nao o contrario , e é o que ta acontecendo . e nao falei que as mais novas sao ruis , mesmo por que as que vc postou ae sao da mesma época ... realmente nao sou de ouvir nenhuma das que vc sitou , mas nao da pra negar que algumas delas realmente trouceram muita coisa pro som . Mas muitos deles soavam igual ah alguma coisa em suas primeiras musicas e apartir dai trabalharam pra ter originalidade . Claro que ja passou do tempo do Enforcer fazer alguma coisa ja ta no terceiro disco, mas Velocidade das musicas e o tipo de vocal ( que eu até estranhei no começo por soar como os das bandas teen de hj nos EUA kkkkk ) São alguns Traços deles que ja marcaram o som e eu saberia de qual banda é mesmo que nao me falassem antes.

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  5. Evolução não quer dizer, que necessariamente tem que ser melhor do que já era. Acredito que a evolução nesse caso e no caso de todas as bandas citadas pelo Ricardo, é no sentido de transformação, desenvolvimento do heavy metal...e não precisa nem gostar das bandas pra reconhecer

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  6. Stone Sour é tipo um Foo Fighters

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  7. Salvem o português, ele está afundando!

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  8. Acho que meu comentário cabe mais ao modo como as bandas estão fazendo com seus primeiros trabalhos nesse esquema, num todo , do que sua critica em si ao Enforcer . Eu realmente acho que pode dar certo , só depende das bandas evoluírem a partir daí e não ficarem presa a isso. Mas realmente vc falou muita coisa desnecessária, mas fazer o que , critico é critico . Tomara que seu Review do album funcione igual a esse da Rolling Stone ! http://www.ironmaiden666.com.br/2011/10/number-of-beast-na-rolling-stone-em.html

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  9. Ricardo realmente existem muitas bandas derivativas hoje em dia. Entendo o termo "xerox" que você usou. No entanto, algumas fazem um xerox muito bem feito e chegam a empolgar gerando alguns momentos de diversão. Gostei muito do último disco do Steelwing. Já do Lancer não. Achei muito cópia de Helloween. O início da faixa "Between The Devil And The Deep" é totalmente chupinhado de Iron Maiden. Quanto ao Enforcer vou ouvir pra poder opinar. Hoje é praticamente impossível criar algo realmente inovador, mas acho que indentidade é essencial na arte. Copiar o passado, inclusive no visual e nas temáticas é renegar o presente. Tenho certeza que esse presente será lembrado e cultuado também daqui uns anos. Afinal hoje já temos revival das bandas dos anos 90. Logo revival dos anos 2000. O ser humano tem essa idéia de saudosismo e acaba deixando de aproveitar o que de bom acontece agora. O som pesado teve muitas revoluções. Nos 80 era impenssável que o metal se misturaria com outros estilos mas vieram Living Colour, Faith No More. Depois teve o industrial, tipo Ministry, o groove do Prong e Pantera, o White Zombie. Lembro que no início dos 90 não havia tanto preconceito. Quem ouvia som pesado no geral curtia um monte de coisa diferente. Basta ver o cast dos festivais da época, tipo o Monsters mesmo, teve banda de hard, de metal, de thrash, junto com Faith No More, Raimundos, etc. O Viper inovou com o Evolution, o Sepultura nem se fala. Porque abriram a mente. Pra mim o lance é o seguinte, uma banda tem que buscar sua indentidade. Influência sim, mas com cara própria. Quanto as derivativas eu ouço, as vezes sai algo bom mesmo sendo cópia. Porque convenhamos, Le Cheval branco de cano alto já saiu de moda a muito tempo.

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  10. Particularmente, não ligo se a banda faz som antigo ou como gostam de dizer, é "datado". A minha única pergunta é: a música é boa?

    Se a resposta for sim, logo, eles tem o meu apoio de continuarem fazer o que quiserem.

    Dizer que a banda tem que obrigatoriamente inovar me soa muito mal. Ora, e se a banda estivesse nos anos 80? Ela seria boa, porque estaria tocando ao lado do Saxon?

    Prefiro não julgar datas. Esse estilo de música poderia muito bem ser considerado como uma "banda perdida" daquele tempo e ser descoberta agora. A diferença é a questão da qualidade musical. Se eles tocam bem e a música é boa, não me importa se o som é velho ou tem inovação. Ter qualidade é o mais importante.

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  11. Achei a resenha extrapolada. Nem conheço o disco, tão pouco a banda, mas você demonstrou uma raiva desnecessária, um desabafo descontrolado. Saca, o foco foi tanto no fato de você considerar a banda chupinhada de determinado estilo, que você quase não fez notar que o lance é a banda "chupinhar mal chupinhado". Entende minha leitura? Quero dizer, se você venha a escrever um review sobre uma banda "revival" de qualquer estilo, e fizer isso a elogiando, vai demonstrar uma incoerência gritante por conta do que escreveu aqui. E eu já li resenha sua elogiando banda que faz esse lance de retomar estilos clássicos. Resumindo: acredito que sua intenção fosse criticar bandas que tentam fazer, e acabam fazendo mal, o que já foi exaustivamente feito, e já muito bem feito; entretanto, ao menos a mim, sua crítica pareceu algo desfreado, desproporcional contra bandas que são, para o bem ou para o mal, presas a estilos consagrados.

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  12. Esse tal Stone Sour só pode ser metal pro povo da malhação. Não passa duma farofa.

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  13. O cara ali em cima comparou Iron Maiden com Enforcer. A coisa é mais complicada que eu imaginava ...

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  14. Acho um tanto quanto irônico um cara que adora Rival Sons criticar o Enforcer por falta de originalidade, mas cada um é cada um

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  15. Influência é uma coisa, cópia é outra. E ambas são bem diferentes entre si.

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  16. "Dizer que a banda tem que obrigatoriamente inovar me soa muito mal."

    A questão não é que a banda precisa exatamente inovar, mas pelo menos ter uma identidade própria, sem apenas soar como uma mera reciclagem do que foi feito no passado, algo que passa longe do Enforcer.

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  17. "A questão não é que a banda precisa exatamente inovar, mas pelo menos ter uma identidade própria, sem apenas soar como uma mera reciclagem do que foi feito no passado, algo que passa longe do Enforcer."

    O que seria a tal identidade própria se o objetivo é soar como os anos 80 e uma banda daquela época? A banda que quer descaradamente agradar gente que sente falta de mais músicas daquele estilo?

    É interessante que uma banda louvadíssima como o Ghost faz exatamente a mesma coisa de misturar sons antigos não recebe o mesmo tratamento. Se fosse o caso, também não teriam identidade própria só porque se vestem como satanistas mas fazem músicas que seriam consideradas "normais" nos anos 70 e 80.

    Por isso, eu insisto: a banda é boa? Faz músicas agradáveis? Se ela fosse dos anos 80, estaria no mesmo patamar das outras?

    Isso é o importante. Claro que novidades são sempre bem vindas (embora isso não necessariamente signifique qualidade) mas se a banda agrada, logo, fico contente por existir.

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  18. Particulamente acho a banda muito boa, parece que ser influenciado pela NHOBHM e pecado, vejo um monte de banda copiando coisas dos anos 60 e 70 e os criticos se derretendo por elas. Enquanto o Enforcer que tem clara influencia desse movimento e criticado, ele tem suas prórpias caracteristicas e seguem a linha do heavy metal tradcional, com certeza e uma grande banda

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