Adrenaline Mob: crítica de Covertá (2013)

Gravar um álbum de covers é quase uma ciência. É preciso escolher bem as canções que serão relidas. Não é recomendado executá-las da mesma maneira que as gravações originais, mas sim imprimindo a personalidade de quem as toca. E, por fim, as faixas que serão reapresentadas ao mundo devem dizer algo sobre os músicos que as estão regravando, como uma espécie de declaração pública de influências.

Covertá, EP de covers recém-lançado pelo Adrenaline Mob, é exemplar em todos esses aspectos. As canções são muito bem escolhidas e fogem do comum. As releituras colocam a personalidade da banda andando lado a lado com as características originais de cada composição. E os nomes homenageados são claras influências dos músicos.

Repleto de energia e esbanjando tesão, Covertá é mais uma prova do imenso potencial que o Adrenaline Mob possui. A união de Russell Allen (vocal), Mike Orlando (guitarra), John Moyer (baixo) e Mike Portnoy (baterista) fez surgir uma banda com uma sonoridade cativante, que mostra que a técnica não precisa estar associada, necessariamente, a longas e complicadas faixas. Isso já havia ficado claro na ótima estreia do quarteto, Omertá (2012), e é atestada mais uma vez aqui.

O repertório é formado por “High Wire” (Badlands), “Stand Up and Shout” (Dio), “Break on Through” (Doors), “Romeo Delight” (Van Halen), “Barracuda” (Heart), “Kill the King” (Rainbow), “The Lemon Song” (Led Zeppelin) e “The Mob Rules” (Black Sabbath). Escolhas fora do comum, e que ganharam releituras muito boas.

Russell Allen brilha em interpretações excelentes, mostrando que, além de ótimo vocalista, é um intérprete pra lá de diferenciado. Portnoy, como já havia feito no debut, constrói linhas de bateria bem menos intrincadas do que aquelas dos tempos do Dream Theater, e essa decisão faz uma diferença danada no resultado final, tornando as canções mais diretas e efetivas. John Moyer, dono de um groove poderoso, põe o seu baixo em pé de igualdade com os demais músicos, mostrando o quão acertada foi a sua inclusão na banda. E Mike Orlando parece ter aprendido uma lição em Omertá, pois surge com solos menos fritados e mais melódicos.

Totalmente à vontade, o Adrenaline Mob executa as faixas como se fossem criações suas, inserindo pequenas alterações nos arranjos. “Romeo Delight”, por exemplo, conta com um pequeno trecho de “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin. Não há como apontar destaques entre as faixas de Covertá, todas muito bem executadas. “High Wire” salta aos ouvidos por se tratar de uma escolha surpreendente. “Stand Up and Shout”, “Kill the King” e “The Mob Rules” apenas reafirmam o quão próximo o timbre de Allen é do imortal Ronnie James Dio. “Break on Through” está a anos-luz de sua gravação original, pesadíssima e empolgante. “Romeo Delight” traz os dois Mikes como protagonistas. "The Lemon Song" mostra que o quarteto tem doses imensas de feeling correndo nas veias. E “Barracuda” revela todo o lado heavy metal implícito desde que nasceu.

Covertá é um ótimo CD. Suas oito faixas descem redondo como uma boa e gelada cerveja, e caem bem a qualquer hora. Mais uma bola dentro do Adrenaline Mob, que nasceu como projeto paralelo mas cada vez mais ganha status e reconhecimento como a excelente banda que é.

Nota 9


Faixas:
1 High Wire
2 Stand Up and Shout
3 Break on Through
4 Romeo Delight
5 Barracuda
6 Kill the King
7 The Lemon Song
8 The Mob Rules

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. O álbum ficou excelente. Acho que também daria um 9.
    Finalmente o Mike Orlando não soou cansativo e chato.

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  2. Ricardo, você está mais "bonzinho" nas notas: 9 agora e 9,5 para o Bowie.

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