26 Bandas para o Matias: F de Flaming Lips

Em 2001, tive uma grande mudança na minha minha vida. Saí de Passo Fundo (RS), onde estudei, me formei e residia desde 1991, e fui morar não somente em outra cidade, mas também em outro estado: Chapecó (SC). Lembro que fiquei empolgado, já que iria morar perto do mar - depois fui ver e descobri que estava há somente uns 700 km de distância ...

Mas isso não importa. O que importa foi que com essa mudança me desenvolvi como profissional. Assumi como redator em uma agência, morava ao lado do trabalho, vivia cercado pelos meus discos e por uma nova turma de amigos que logo viraram irmãos. O pequeno apartamento de um quarto era forrado com carpete, e as inúmeras bebedeiras e confraternizações que rolaram lá dentro deixaram o chão cheio de manchas de bebidas - principalmente vinho -, dando ao lugar um ar, digamos assim, interessante, com um clima meio Dexter.

Foi mais ou menos nessa época que virei indie. Sempre fui duas coisas na vida: apaixonado por heavy metal e curioso de modo geral pela música. Nesse período, não lembro bem por qual motivo específico, me interessei por artistas que não tinham nada a ver com o som pesado. Acho que um dos culpados foi a série Smallville. Sou também um colecionador de quadrinhos, e a ideia de ver a história do Superman contada na TV me atraiu de imediato. E lá, no meio daquela trama, tinha uma música que mexeu de maneira definitiva com a minha cabeça.

O seu título era “Fight Test”, e ela era tocada por um tal de Flaming Lips. Fui atrás de algo dos caras e descobri que a banda havia acabado de lançar um disco que logo foi considerado, por unanimidade, como a sua obra-prima. Yoshimi Battles the Pink Robots chegou às lojas em 16 de julho de 2002, e me fascinou de imediato. A música de abertura era justamente “Fight Test”, uma balada torta e lisérgica que era nada mais nada menos que sensacional. Só que a audição do CD era ainda mais impressionante, com faixas como “Yoshimi Battles the Pink Robots Pt. 1”, “In the Morning of the Magicians” e “Do You Realize??”. Me apaixonei profunda e perdidamente, e o álbum se tornou a trilha sonora dos meus dias.

Com ele, vieram outras bandas similares. Mais alguns títulos do Flaming Lips, como The Soft Bulletin (1999), e a revigorante descoberta do Grandaddy e da dupla The Sophtware Slump (2000) e, sobretudo, do singular Sumday (2003). Este período foi bastante fértil em novos caminhos sonoros para mim, com nomes como Josh Rouse, Coldplay e Wilco chegando para ficar e ocupar lugar de destaque na minha coleção.

Até hoje, Yoshimi Battles the Pink Robots continua sendo um dos meus discos preferidos de todos os tempos. Frequentemente o escuto, e ele segue soando refrescante e atual aos meus ouvidos. Além disso, sempre fico atento a cada passo do Flaming Lips, uma das bandas mais sensacionais e imprevisíveis que tive o prazer de encontrar pelo caminho - além, é claro, de ter sido a chave que abriu uma nova porta de possibilidades musicais na minha vida.

O Matias conhece o Flaming Lips, e gosta muito de um DVD de clipes chamado VOID (Video Overview in Deceleration) The Flaming Lips 1992-2005, que, como o próprio título entrega, faz uma retrospectiva das carreira da banda através de seus clipes. A loucura de Wayne Coyne e companhia é traduzida com uma riqueza visual embasbacante através de vídeos incríveis para canções como “Fight Test” (olha ela aí mais uma vez!), “Do You Realize??”, “Race for the Prize”, “Waitin’ for a Superman” e inúmeros outros. Meu filho, do alto da sabedoria dos seus 3 anos - idade que tinha quando assistiu ao DVD pela primeira vez -, comentou: “Essa banda parece de desenho animado, papai”. Sim, Matias, parece mesmo. O apelo surreal do Flaming Lips nos seduz com um universo mágico e delirante, que conquista novos fãs e mostra que a música não precisa - e, sobretudo, nunca deve - ter limites.

Hoje, vivendo em Florianópolis e agora sim bem pertinho do oceano, tenho o Flaming Lips como um dos pontos mais altos da minha vida como ouvinte de música. 


Vai, Wayne, surpreenda-me mais uma vez. É isso que eu espero, sempre e cada vez mais.

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. esse disco é fantástico mesmo. Are You a Hypnotist? é uma viagem das boas

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  2. Na verdade, eu nunca tive tempo de escutar o Flaming Lips direito. Fiquei mais nos hits mesmo. Já o Mercury Rev eu ouvi bem.

    Pow, metal é uma coisa tatuada na alma da galera. Mas ter mais de 25 anos e só escutar metal, clássicos e hard rock ... é algo que não entendo nem pra mim e nem pros outros. Mas já fui só do metal e esnobava outros gêneros do rock ou outros estilos de música ... com certeza. E também tenho um sentimento muito bom com o metal até hoje.

    Dia desses escutei o Rust in Peace do Megadeth e lembrei de como era bom ser adolescente e comprar essa porra garimpando em sebo. Acho que desde 1997 eu não escutava esse disco. 15 ou quase 16 anos sem pegar. A cada música, abria um monte de festas, imagens, pessoas e lembranças na minha mente.

    Essas experiências de QUALQUER tipo de música com lembranças do passado são legais. É meio uma coisa meio trilha sonora da nossa vida.

    Nem te conheço, mas achei legal aí a sua trilha sonora, primeiro emprego e mudança de cidade. Essas coisas ficam muito marcadas em temas musicais pra quem tem gosto com a sonoridade, rock e outros estilos. Muito boa essa visão aí pessoal e despojada, saindo do noticiário de música que estamos acostumados.

    Acho massa a música e como as pessoas falam dela. Cada um tem um jeito. E isso é o legal: a expressão do ouvinte .. e não só dos artistas. O ouvinte é que faz a trilha sonora.

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  3. Ah, só comentando uma sutileza de gerações que me ocorreu agora... eu diria que sai do metal exclusivo pra escutar "alternativo" e não "indie". Tinha uma diferença nisso antigamente, né?
    Só jogando essa ideia mesmo.
    Falou

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