Justin Timberlake: crítica de The 20/20 Experience (2013)

Minha relação com o trabalho de Justin Timberlake não é, definitivamente, das mais típicas, preciso confessar. Sempre gostei dele como pessoa: um cara divertido, carismático, bem-humorado, popstar que sabe rir de si mesmo e que até em seu estrelado relacionamento com Britney Spears nunca se deslumbrou com o maravilhoso mundo das celebridades. Sempre gostei dele também como ator, cujas performances esforçadas o colocam acima inclusive de muitos atores em tempo integral da mesma geração que ele – nem preciso citar nomes, vocês devem saber pelo menos uma dezena de cabeça. Como músico, no entanto, nunca fui lá um de seus maiores apreciadores.

Deixemos a sua atuação na boyband ‘N Sync de lado e vamos ao que realmente interessa. Seus dois elogiados primeiros disco-solo, Justified (2002) e FutureSex/LoveSounds (2006) são, admito, bons álbuns de música pop. Dançantes, gostosos, muito bem-produzidos, com o apoio de alguns dos nomes mais importantes da indústria fonográfica dos EUA atualmente. Ambos têm bons momentos, até. Mas, infelizmente, os dois ainda preocupados demais em prestar reverência ao ídolo maior de Timberlake, Michael Jackson, sofrendo de uma falta crônica de personalidade. Depois de um hiato de sete anos, dedicado ao cinema e ao MySpace (é, ele se tornou sócio da bagaça, acredite ou não), ele está de volta com The 20/20 Experience, que é nitidamente um salto do Justin músico em busca de sua própria identidade, saindo um tanto da zona de conforto pop na qual se consagrou.

O visual de smoking e gravata borboleta adotado pelo artista em todas as fotos de divulgação do disco e reforçado pelo título do primeiro single, “Suit & Tie”, não é à toa. Aqui, Justin Timberlake (novamente com o apoio do parceiro e produtor Timbaland) quer mostrar que amadureceu e se refinou, mergulhando no que há de melhor da mais moderna soul music, com seus bons toques eletrônicos, e obviamente flertando com a sonoridade de medalhões da Motown e eventualmente de nomes como Lionel Richie e Barry White. Aliás, a comparação com a obra romântica e climática de White faz todo o sentido, já que o Justin deste disco é um típico ladiesman, um Don Juan que versa ao longo de dez faixas sobre romance e, obviamente, sexo. É o cara que quer, como diz em “Spaceship Coupe”, levar sua consorte para fazer amor na lua. Tudo com requinte e sofisticação, claro. Aqui, do início ao fim, a intenção é soar absolutamente cool. E ele consegue, o danado. Passa longe do brega. Fica um gracioso gostinho retrô, como se Timberlake aspirasse a se tornar uma espécie de novo Frank Sinatra (hipótese que diversos críticos andam levantando, inclusive), um new crooner.

Veja, The 20/20 Experience não é um disco perfeito. Numa análise geral, as canções são um tanto mais longas do que necessitariam (o R&B de um sujeito como Frank Ocean consegue fazer muito mais em muito menos tempo, desculpa, Justin) e se parecem demais entre si, causando em dado momento uma sensação de que a obra é achatada, que não tem baixos, mas também não tem seus altos. Pode até parecer, mas o lance é que tem sim. E este altos merecem o destaque – como a balada setentista "Strawberry Bubblegum", que te coloca para bater o pezinho quase instintivamente enquanto o cantor exercita um falsete de ouro; e a empolgante e festiva “Let the Groove Get In”, que abre com uma batida de percussão africana e vai crescendo até colocar Timberlake no centro da pista de dança. Dá até para imaginar o sujeito requebrando na frente de um batalhão de dançarinos.

The 20/20 Experience vale, com o perdão do trocadilho, a experiência. Não só para o ouvinte, mas também para o próprio Justin. Tudo indica que uma continuação do disco sai ainda este ano, no segundo semestre. Que ele feche, então, com chave de ouro.

Nota 7,0
 


Faixas:
Pusher Love Girl
Suit & Tie
Don't Hold the Wall
Strawberry Bubblegum
Tunnel Vision
Spaceship Coupe
That Girl
Let the Groove Get In
Mirrors
Blue Ocean Floor

Por Thiago Cardim

Comentários

  1. Fico muito orgulhoso de ver uma crítica de um disco desses aqui no blog. Realmente, vocês são inspiração pra mim e pra tantos outros abrirem suas mentes e se divertirem cada vez mais com vários gêneros da música.

    Não gosto do JT, a não ser pelos hits. Mas esse disco é bem feito e nunca pensei que pudesse ser aludido por aqui.

    Valeuzaço pelo post.

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