Lordi: crítica de To Beast or Not to Beast (2013)

Em 2006, com seu disco The Arockalypse, os monstruosos finlandeses do Lordi chegaram ao topo de sua carreira – para o bem e para o mal. Abrindo os olhos dos fãs de todo o planeta para o seu shock rock influenciado por Kiss, Alice Cooper e Twisted Sister, eles venceram o concurso Eurovision com a canção “Hard Rock Hallelujah” e desfrutaram de toda a merecida glória pelo excelente trabalho. Mas dois anos se passaram e, com Deadache (2008) veio uma curva descendente.

Optando por um som mais pesado, a exemplo do que tinham feito em 2004 com The Monsterican Dream, eles pareciam ter perdido o rumo da própria sonoridade, conseguindo emplacar de verdade pouquíssimas canções. Já o álbum seguinte, Babez For Breakfast (2010), seguiu por um caminho diametralmente oposto – embora tenha retornado ao tipo de hard rock que é o que a banda faz de melhor, o líder e principal compositor Mr Lordi mergulhou demais nas influências dos anos 80, entregando letras que resvalaram no lado mais brega da década perdida.

Este ano, com seu sexto disco de estúdio, que atende pelo divertido título de To Beast or Not to Beast, o Lordi parece ter se reencontrado, fazendo uma mescla bem equilibrada de peso, melodia e bom-humor. O resultado é uma espécie de primo bem próximo de The Arockalypse – o que é, sem dúvida alguma, uma excelente notícia.

Apesar do videoclipe bem produzido, a escolha de "The Riff" para primeiro single talvez não tenha sido a mais adequada. É uma canção divertida, grudenta, mas muito nota 6, do tipo que está longe de refletir o que é o restante da bolacha. Melhor se deixar levar pela pegada quase cavalgada de “We're Not Bad for the Kids (We're Worse)”, com um refrão viciante e que parece já apresentar, em poucos minutos, uma injeção de energia renovada que o quinteto ganhou com a entrada dos novos membros da família, a tecladista Hella e o baterista Mana.

Ou, quem sabe, pela força hard ‘n metal de “Something Wicked This Way Comes”, do tipo que consegue ser ao mesmo tempo nervosa e cheia de melodia, sem dúvida alguma a melhor canção dos sujeitos desde, sei lá, qualquer uma das faixas de The Arockalypse. Esta é daquelas músicas que simplesmente não me canso de ouvir, repetidamente. É rigorosamente o mesmo caso da incrível “Horrifiction”, cujo teclado tétrico embala uma fantástica canção sobre os fãs de filmes de terror, com diversas menções ao psicopata do clássico Sexta-Feira 13 e que ainda termina com a genial frase “movies cannot make you a killer”.

Em tempo: a tradicional faixa “SCG (Scarctic Circle Gathering)”, que geralmente costuma abrir os discos do Lordi com um gracejo que dá ao restante da audição um tom de trailer de filme de terror ou então de uma autêntica invasão zumbi, está justamente no final de To Beast or Not to Beast. Aqui, no entanto, a canção instrumental é uma espécie de solo de bateria, em homenagem a seu falecido baterista, Tonmi Lillman, conhecido pela alcunha de Otus. Tonmi, que já tinha tocado em bandas como Sinergy e To/Die/For, faleceu aos 38 anos, de causas até o momento não reveladas. Um tributo em altíssimo astral, que não recorre a um expediente taciturno e sombrio para honrar um companheiro morto. É exatamente o tipo de postura que se espera de um monstro que se preze, aliás.

Mr. Lordi, fica aqui então a dica: nos próximos discos, vamos fazer o favor de nos manter neste mesmo rumo, ok?

Nota 8

 
  
Faixas:
1 We're Not Bad for the Kids (We're Worse)
2 I Luv Ugly
3 The Riff
4 Something Wicked This Way Comes
5 I'm the Best
6 Horrifiction
7 Happy New Fear
8 Schizo Doll
9 Candy for the Cannibal
10 Sincerely with Love
11 SCG6: Otus' Butcher Clinic

Por Thiago Cardim

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