Black Star Riders: crítica de All Hell Breaks Loose (2013)

Adoro Thin Lizzy. O grupo do falecido vocalista e baixista Phil Lynott é uma das trilhas da minha vida. Ouvi muito, e ainda ouço. Considero as guitarras gêmeas da banda o ápice no assunto. Ninguém jamais chegou perto dos caras nesse quesito, o que, aliado à forma de cantar única de Lynott, que parecia conversar com o ouvinte enquanto narrava as letras, transformou o Thin Lizzy em uma banda única. Pra fechar, julgo o grupo injustiçado e pouco reconhecido. Na minha opinião, o Thin Lizzy deveria ser uma banda gigante, reconhecida como um dos mais importantes nomes da história do hard rock, com a sua influência sendo sentida de maneira profunda em todo o gênero. Potencial comercial para isso nunca faltou, porém, o problema crônico dos músicos com drogas - motivo da morte de Phil - foi decisivo para que o Lizzy não alçasse vôos maiores.

Parceiro de Lynott desde os primeiros anos de banda, e companheiro do vocalista no mergulho profundo em heroína e outros entorpecentes, Scott Gorham é um sobrevivente. Exímio guitarrista, dono de grande bom gosto e uma capacidade impressionante para criar belas melodias, Gorham é também o único remanescente e a ponte que liga o Thin Lizzy de Lynott ao Black Star Riders, nome que a atual formação da banda adotou quando decidiu gravar um novo álbum com canções inéditas. Decisão acertada, diga-se de passagem, já que Lynott era o centro do grupo, e ele não faria sentido sem ele.

Ao lado de Scott Gorham no Black Star Riders estão Ricky Warwick (vocal e guitarra), Damon Johnson (guitarra), Marco Mendonza (baixo) e Jimmy DeGrasso (bateria) - um time que impõe inegável respeito. Na produção de All Hell Breaks Loose, primeiro disco do quinteto, o mais do que rodado Kevin Shirley, com trabalhos para nomes como Iron Maiden, Dream Theater, Joe Bonamassa e Black Country Communion. E por trás de tudo, a gigante Nuclear Blast, hoje a principal gravadora de heavy metal do planeta.

All Hell Breaks Loose foi gravado em janeiro em Los Angeles e traz onze músicas. A sensação ao colocar a bolacha para tocar é a de se estar ouvindo um novo álbum do Thin Lizzy, principalmente pela semelhança incrível entre os vocais de Warwick e de Lynott. Longe de ser um trabalho oportunista, All Hell Breaks Loose soa honesto aos ouvidos, é um álbum gostoso de escutar e, como cereja do bolo, entrega algumas canções muito acima da média.

Os grandes momentos do trabalho são a ótima “Bound for Glory”, primeiro single, que resgata com precisão a tradição do Thin Lizzy e reapresenta a sonoridade da banda irlandesa para a nova geração. Grande faixa! O nível segue bom com “Kingdom of Lost”, cheia de influências celtas (outra característica do Lizzy), que empolga principalmente pela interpretação de Ricky Warwick, apesar de perder pontos pelo refrão meio bobo. “Hoodoo Voodoo” tem cara de futuro single, e é daquelas faixas que, ao começar a rodar, você aumenta o volume instantaneamente e de maneira instintiva.

O restante do tracklist apresenta força, alternando acertos (“Valley of the Stones”, “Before the War”, “Someday Salvation”, "Blues Ain't So Bad")) com outros onde a inspiração deixou a desejar (caso da fraca faixa-título). Porém, em todos os momentos, o que se percebe é uma leveza, um bom astral saindo das caixas de som, fruto do prazer que levou os músicos a se arriscarem largando os shows puramente saudosistas compostos por canções escritas há mais de trinta anos e entrarem no estúdio para escrever novas composições que, a princípio, não teriam nada a agregar às suas carreiras.

All Hell Breaks Loose está longe de ser uma obra de arte, porém é um disco muito agradável e simpático, divertido e perfeito para escutar com os amigos, batendo um papo e tomando algumas cervejas geladas. E ainda, de quebra, traz de volta uma das mais cativantes sonoridades que o rock já viu nascer.

Phil Lynott aprovaria.

Nota 7,5






Faixas:
1 All Hell Breaks Loose
2 Bound for Glory
3 Kingdom of the Lost
4 Bloodshot
5 Kissin’ the Ground
6 Hey Judas
7 Hoodoo Voodoo
8 Valley of the Stones
9 Someday Salvation
10 Before the War
11 Blues Ain’t So Bad


Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Ainda não ouvi, mas te contar que esse review me deixou bem curioso. Vou procurar ouvir..

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  2. "E por trás de tudo, a gigante Nuclear Blast, hoje a principal gravadora de heavy metal do planeta." é bom quando a gente lê uma resenha e aprende algo. Eu ainda tava na era da Roadrunner (gringos), Cogumelo (nacional) e similares ... Hehe

    Apesar de ver este nome da Nuclear por todo lado, além dos fechamentos de muitos escritórios da Roadrunner, tu verbalizou de uma forma simples e meio que é isso mesmo. Não tinha parado pra pensar.

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  3. Ricardo, você fez seu trabalho rápido heim? (rs)

    Bom, como considero o Thin Lizzy banda top 5 de minha coleção, daria nota 9,0... Discão!

    Muitos estão tentando voltar às origens e quantos patinam nesse caminho... Palmas para esses caras que até uma nova Jailbreak conseguiram gravar!

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  4. Ricardo, você fez seu trabalho rápido heim? (rs)

    Bom, como considero o Thin Lizzy banda top 5 de minha coleção, daria nota 9,0... Discão!

    Muitos estão tentando voltar às origens e quantos patinam nesse caminho... Palmas para esses caras que até uma nova Jailbreak conseguiram gravar!

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  5. Opa. Viajei. Não diria uma nova Jailbreak. Fui induzido por alguém aqui. Bound of glory diria ser um meio termo entre Waiting for the alibi e Get out of here. Mas cópia jamais! Grande álbum sem dúvida nenhuma.

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  6. Opa. Viajei. Não diria uma nova Jailbreak. Fui induzido dizer isso por alguém aqui. Bound of glory diria ser um meio termo entre Waiting for the alibi e Get out of here. Mas cópia jamais! Grande álbum sem dúvida nenhuma.

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  7. Discaço! Muito agradável de ouvir, e é bom saber que mantiveram a identidade respeitando o passado da banda, mas sem cair no autoplágio. A semelhança de timbre entre Warwick e Phil assusta no começo, mas depois fica claro o respeito do cara em preservar uma das principais características no som do Thin Lizzy. Além disso, a cozinha formada por Mendonza e DeGrasso é de responsa.

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  8. Discaço! Warwick se saiu bem no vocal, e essa cozinha é de responsa.

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