Spiritual Beggars: Crítica de Earth Blues (2013)


Apesar de ainda ser considerado o projeto paralelo do guitarrista Michael Amott, a verdade é que o Spiritual Beggars surgiu como um projeto do inglês logo após a sua saída do Carcass, chegando a lançar o álbum de estreia, auto-intitulado, dois anos antes da primeira demo do Arch Enemy. Porém, com a crescente popularidade do melodic death metal sueco na época, o Spiritual Beggars evidentemente acabou sendo deixado um pouco de lado, com novos trabalhos apenas nos intervalos na rotina de Amott – que não devem ter sido poucos, afinal de contas, são seis discos entre Another Way To Shine, de 1996, e Return To Zero, de 2010.

E em 2013, com mais uma aparente pausa do Arch Enemy após a turnê do preguiçoso Khaos Legions e da saída (mais uma) de Christopher Amott da banda, o “projeto paralelo” retoma os trabalhos dando continuidade ao que foi iniciado no álbum anterior, mas explorando novos caminhos agora em Earth Blues, seu oitavo disco de estúdio, novamente sendo lançado pela InsideOut Music.

E a faixa de abertura, "Wise As A Serpent", com sua excessiva simplicidade nos riffs ao longo de quase três minutos, já faz justiça ao título do álbum, trazendo uma veia blues ainda mais forte na sonoridade do Spiritual Beggars. Esse direcionamento permanece em "Turn The Tide", aonde a estrutura e a produção mais empoeirada, bem diferente do esquema polido dos últimos álbuns, chega a lembrar razoavelmente os momentos mais pesados do Rival Sons. Extremamente melódica, a semi-balada "Sweet Magic Pain" traz um notável trabalho do tecladista Per Wiberg, e aparenta ter saído direto de algum registro perdido de hard rock com tendências psicodélicas da década de setenta.

Aliás, seria irrelevante dizer que os suecos buscaram as mais obscuras influências daquela década para construir a miscelânea de inspirações em Earth Blues, e "Hello Sorrow" consegue mesclar uma forte inspiração no som do Rainbow com aquelas melodias características das guitarras de Ammot, algo que ele não vinha fazendo de forma memorável há algum tempo, no Arch Enemy. "One Man’s Curse" vai um pouco mais longe e traz alguns toques de rock progressivo ao característico stoner, com interessantes mudanças de andamento e linhas de órgão como guia principal da faixa, enquanto "Dreamer" invariavelmente soa de forma incômoda como Ronnie James Dio (não que isso signifique algo negativo).

Com um diferenciado groove e um trabalho de percussão quase latino, "Too Old To Die Young" atravessa por caminhos funkeados e um etéreo interlúdio progressivo até o encerramento típico do mais psicodélico hard rock. Mais simplistas, "Kingmaker" segue ritmos mais cadenciados, enquanto "Road to Madness" soa como um dos primeiros protótipos do que viria a ser o heavy metal, novamente com notável trabalho de Wiberg em ambas as faixas. Mais como um pegajoso interlúdio, a curta "Dead End Town" funciona como uma preparação para "Freedom Song", música bem básica e com clássicas estruturas, mas que mantém o nível do disco exatamente aonde deve estar. Com bem pensadas mudanças de andamento, que culminam em uma sonoridade épica, "Legends Collapse" cumpre a sua responsabilidade de encerrar essa verdadeira ode aos empoeirados anos setenta que é Earth Blues.

E em meio às várias bandas que seguem proposta semelhante, o resultado que o Spiritual Beggars oferece é realmente singular, exatamente por contar com músicos e compositores com identidades muito características. Sim, de fato eles estão na tendência dos últimos anos e apenas reciclam os conceitos de décadas atrás, com a mesma produção rústica, porém, de alguma forma, as composições soam ricas em detalhes, por uma banda experiente e livre de algumas limitações (não necessariamente técnicas) que os novos nomes invariavelmente acabam apresentando nos primeiros registros.

Facilmente um dos trabalhos mais consistentes e equilibrados da carreira do Spiritual Beggars, com músicas que soam como alguns dos momentos mais inspirados na carreira de seus membros. E conhecendo o currículo de cada um deles, isso conta. E muito.

Nota 8,5


Faixas:
1. Wise As A Serpent
2. Turn The Tide
3. Sweet Magic Pain
4. Hello Sorrow
5. One Man’s Curse
6. Dreamer
7. Too Old To Die Young
8. Kingmaker
9. Road to Madness
10. Dead End Town
11. Freedom Song
12. Legends Collapse

Por Rodrigo Carvalho (Progcast)

Comentários

  1. Simplesmente foda demais! Cara...pra mim...uma das melhores bandas do mundo...muito foda!! Obrigado colestors room por esse presente...conheci essa banda aqui a certo tempo!!!!!!!!

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