Airbourne: crítica de Black Dog Barking (2013)

Um disco com gosto de isopor e que decepciona feio. O problema maior não é nem a falta de originalidade, mas a falta de inspiração. Terceiro álbum de estúdio do Airbourne, que despontou com o avassalador Runnin' Wild (2007), mas que já vinha dando indícios de saturação com No Guts. No Glory. (2010), Black Dog Barking leva ao ápice a capacidade desses australianos de se perderem em meio a tantas boas referências. As intenções são ótimas, mas o resultado acaba gerando quase sempre músicas repetitivas, estruturadas em clichês e que não chegam a lugar algum.

Repito: quando surgiu, o Airbourne foi uma grata surpresa. Seu disco de estreia mesclava peso, velocidade e malícia em doses exatas. Vigoroso e dono de uma certa urgência juvenil, Runnin' Wild explicitava ao mundo o nome mais promissor entre as novas bandas da Austrália, ainda que muitos já torcessem o nariz para a exagerada semelhança em relação aos conterrâneos do AC/DC. O sopro de esperança era que, com o tempo, os caras conseguissem ao menos esboçar uma identidade própria, algo que, definitivamente, não acontece. Para piorar, além de não apresentarem nenhuma carta nova na manga, as que já tinham no baralho se mostram cada vez mais marcadas e desgastadas.

A coisa já começa errada em "Ready to Rock", que na verdade poderia se chamar "Pronto Para Ser Piegas". Em pleno 2013, uma banda séria não pode compor uma música com esse nome, muito menos utilizá-lo exaustivamente no refrão. Ultrapassa os limites da ausência de criatividade. Além disso, o coro no início é simplesmente ridículo e forçado.

A partir de "Animalize", percebe-se o início de um fenômeno simplesmente bizarro. Talvez na tentativa de dar a resposta que os críticos tanto esperam, o Airbourne tenta expandir suas referências para além de AC/DC e agrega nuances e características de outros dois nomes de peso: Kiss e Alice Cooper. Deste último, especialmente da fase Trash (1989). A estratégia é até curiosa e abrange o vocal e a parte instrumental. O resultado, porém, é desastroso.

Essa impressão se prolonga por vários momentos do trabalho e é como se os australianos buscassem algo parecido com o que o Kiss fez recentemente em Monster (2012). Só que, além de não chegarem nem perto, provam que o hard rock que praticam não permite um amplo leque de opções a serem trilhadas. No fim, a comparação acaba sendo inevitável e quem só tem a perder é o próprio Airbourne.

"No One Fits Me (Better Than You)" até tenta limpar um pouco a barra, mas logo vê seu esforço jogado no lixo ao ser sucedida pela horrorosa "Back in the Game". O que era para ser um hit calcado no groove não passa de chorume pasteurizado. "Firepower" é outra bem fraquinha. Até o Bon Jovi já fez melhor.

"Live It Up" é, de longe, a melhor faixa de Black Dog Barking e lembra os bons momentos de Runnin' Wild, além, claro, de ter um começo quase que idêntico ao de “For Those About to Rock (We Salute You)”, clássico de seus mestres. Não à toa, foi escolhida como primeiro single do disco. Mesmo assim, ainda carrega um ar de música pré-moldada. Aquela típica canção cujo único objetivo é abastecer o famigerado sonho rockstar. Poderia facilmente ser uma composição da fictícia Steel Dragon, do filme protagonizado por Mark Wahlberg.

Além das dez faixas principais, Black Dog Barking, que teve produção de Brian Howes e lançamento pela Roadrunner em 21 de maio, conta ainda com três bônus - "Jack Attack", "You Got the Skills (to Pay the Bills)" e "Party in the Penthouse", mas confesso que nem perdi muito tempo com elas. Se não tiveram qualidade para entrar no tracklist, melhor nem imaginar o tamando da ladeira. Afinal, não estamos falando do Black Sabbath.

No fim das contas, fica o alerta para Joel O'Keeffe e cia. Quando se ouve um álbum inteiro e não se absorve praticamente nada, algo está errado. Quando as melhores músicas são aquelas que acabam bem rápido, pior ainda, pois confirmamos estarmos diante da premissa inicial: um disco com gosto de isopor e que decepciona feio. Black Dog Barking é assim. E, como disse, o problema maior não é nem a falta de originalidade, mas a falta de inspiração.

Nota 4,5

Faixas:
1 Ready To Rock 5:24
2 Animalize 3:03
3 No One Fits Me (Better Than You) 3:06
4 Back In The Game 3:25
5 Firepower 2:59
6 Live It Up 4:26
7 Woman Like That 3:14
8  Hungry 2:56
9 Cradle To The Grave 3:22
10 Black Dog Barking 2:59

11 Jack Attack (Bonus Track) 2:52
12 You Got The Skills (To Pay The Bills) (Bonus Track) 3:33
13 Party In The Penthouse (Bonus Track) 3:09

Por Guilherme Gonçalves

Comentários

  1. Ouvi esse álbum faz umas 2 semanas só uma vez, depois não consegui ouvir de novo.

    Sem inspiração nenhuma esse álbum.

    Não sabe para que veio e nem onde quer chegar.

    Acho que o Airbourne vai ser a banda que quase fez sucesso.

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  2. Confesso que nunca tinha ouvido essa banda por ser relutante a ouvir uma cópia do AC/DC, banda que eu acho inimitável pelo simples fato de não haver necessidade de tal fato.
    Mas quando ouvi este disco a decepção foi pior que qualquer coisa que o AC/DC poderia fazer.
    Se eu continuar escrevendo, vou repetir todo o texto do Guilherme.
    Uma banda que se acabar ontem já foi tarde.

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  3. Eu tô ouvindo o Album agora...Realmente não tem a mesma "magia" de ouvir AC/DC e é notável a inspiração deles...Mas, falar que o álbum é um completo fiasco, é meio injusto assim como dar uma nota como 4,5...A banda é Nova tá tentando fazer seu caminho. Esse Álbum quer chegar em um lugar que é não deixar o hardRock/Heavy morrer. Afinal São raras bandas que sigam essa linha hj e o AC/DC (Infelizmente) Não será eterno e terá juventude....O Som dos caras é muito bom, e mais cedo ou mais tarde eles vão fazer o sucesso que merecem...

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  4. acho que "ready to rock" é uma espécie "we will rock you" deles....é só pra animar a galera..mas comparando com os outros discos eles se separaram um pouco do ACDC, a crítica profissional gostou do disco como um todo, como os da Allmusic e etc...claro que falta "um algo a mais" pros garotos..

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