Alice in Chains: crítica de The Devil Put Dinosaurs Here (2013)

Todo mundo conhece aquela antiga regra de que o segundo disco é sempre um desafio definidor na carreira de uma banda, quando ela tem que provar que é mais do que uma promessa e que veio para ficar de verdade. No caso dos norte-americanos do Alice in Chains, a tal fronteira acabou sendo transferida para o seu quinto álbum de estúdio, o recém-lançado The Devil Put Dinosaurs Here. Afinal, ele é o segundo disco pós-reunião e sem a vital presença do saudoso vocalista Layne Staley. O retorno em Black Gives Way to Blue, de 2009, trouxe os bem-vindos vocais de William DuVall, com uma energia que foi mais do que bem-recebida tanto pela crítica quanto pelos fãs.

Esta nova bolacha, portanto, traz à tona a questão: o Alice in Chains está mesmo de volta? Foi só fogo de palha? Ou eles estão prontos para encarar o futuro, sem ficar dependentes do passado de glórias? O guitarrista e líder da banda, Jerry Cantrell, tentou dar esta resposta em entrevista para a revista Revolver. “Eu não acho que você vai ficar surpreso com nada que vai ouvir. Somos nós. Mas é também algo único. Tem todos os elementos de qualquer disco que lançamos, mas é ao mesmo tempo diferente de qualquer disco que lançamos. É o próximo capítulo no livro do Alice in Chains, e vai ser grande”. Cantrell disse rigorosamente tudo: The Devil Put Dinosaurs Here é o retrato de uma banda que não perdeu sua identidade, mas que depois de uma tragédia, está disposta a se arriscar, pisando em novos territórios.

O primeiro single (e também a faixa inicial do CD), “Hollow”, já abre mostrando quem de fato vai brilhar ao longo de toda a audição: as furiosas e corpulentas guitarras de Cantrell. São elas que, há anos, continuam dando o sabor heavy metal ao rock alternativo/grunge sombrio e soturno do AIC. O andamento lento e pesado está lá, firme e forte, em canções como “Phantom Limb” e a faixa-título, uma mid-tempo que traz uma preciosa discussão a respeito do papel da religião. Mas, veja só, já nesta última canção é possível sentir claramente o quão bem fez a adição de DuVall para o quarteto, criando uma camada suave de vocais ao longo de um refrão grudento e irresistível. É deste tipo de risco, milimetricamente calculado, que estamos falando.

Já a deliciosa “Breath on a Window”, um dos pontos altos da coleção de doze faixas, tem todas as marcas registradas históricas do Alice in Chains, mas dando um ligeira acelerada no andamento. O resultado consegue flertar, mesmo que minimamente, com uma certa “iluminada” no trabalho dos caras. A melancolia logo retorna nas semiacústicas “Voices” e “Chokes”, que exploram outra característica bastante comum da banda, só que aplicando uma dose extra de melodia quase doce e delicada. Pode parecer estranho, mas tudo funciona que é uma beleza, soando novo, verdadeiro, moderno e, mesmo com a bela produção de Nick Raskulinecz (Foo Fighters, Deftones), não perde nunca aquela jovem vibração de banda garagem.  

The Devil Put Dinosaurs Here tem, no entanto, um único defeito bastante perceptível: é um disco longo demais. Não apenas como obra completa, mas mesmo em cada uma de suas partes, que geralmente ultrapassam a marca dos cinco/seis minutos. Talvez empolgada com os resultados que vem obtendo desta nova formação, a banda não soube se conter, editar a si mesma – e grande parte das canções parecem mais longas do que realmente são, cansando um pouco conforme se aproximam de seu fim. Grandes ideias, quando esticadas ao máximo, acabam perdendo boa parte de seu impacto. Arrisco dizer, inclusive, que se alguns destes momentos tivessem metade de seu tempo, ou pelo menos 30% a menos, The Devil Put Dinosaurs Here teria potencial dobrado para garantir um espaço melhor nas listas de melhores do ano.

Todavia, sejamos honestos: Cantrell estava certo. O Alice in Chains provou que está mesmo de volta, longe daquelas reuniões que geram meramente “bandas-zumbi”. Disposto a fazer o novo. Respeitando o passado mas sem medo de alçar novos voos rumos ao futuro. A gente espera, claro, que ainda por muito mais tempo. 

Nota 8

Faixas:
Hollow
Pretty Done
Stone
Voices
The Devil Put Dinosaurs Here
Lab Monkey
Low Ceiling
Breath on a Window
Scalpel
Phantom Limb
Hung on a Hook
Choke 

Por Thiago Cardim

Comentários

  1. Achei o disco ótimo, algo que dá vida longa a nova formação e a um estilo construído em "Black Gives Way To Blue". AIC, uma banda que merece ser admirada e respeitada!

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  2. excelente disco, excelente qualidade sonora/produção. retiro o que disse qdo escutei o primeiro single, que pra mim é uma das mais fracas comparando com outras perolas do disco.
    VIDA LONGA PARA AIC!!!!

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  3. Elogio: esses 2 albums do retorno (2009 e 2013) são muito melhores que discos com o Layne (1995). O Jerry tem conseguido um resultado muito bom. Não é algo no topo do Facelift, Dirt, SAP, Jar of Flies, mas ambos os discos são MUITO SUPERIORES ao de 1995, que continua sendo, pra mim, o registro mais fraco da banda (mas com coisas poderosas, como "again").

    Eu fiquei muito desanimado com os dois clipes dos singles e achando tudo mero liquidificador do disco de 2009. Mas quando você pega o disco pra escutar mesmo, acho que Hollow e Stone funcionam (mais pelo aúdio do que pelo clipe). Assim como o Unknown, eu fiquei com uma péssima impressão no lançamento dos singles. Totalmente pessimista e desconfiado.

    O disco é redondinho. É o disco que mais ouvi em 2013, pois já tem 3 ou 4 semanas que tá aqui rodando direto. E acho que relevante e substancial. Cumpriram a missão. Estão tipo no top3 Billboard e acho bom isso pq faz filme com o patrão deles.

    Crítica: apesar do disco ser bom, uma coisa que vejo é que é A PRIMEIRA VEZ que o AIC repete a sonoridade de um disco. Isso não faz do disco atual ruim, mas eu não gostaria de um 3º disco com a mesma sonoridade do de 2009 e i de 2013, saca? Eu acho que eles rendem mais que isso e não precisam entrar numa linha cover de si mesmo tipo Ramones, Motorhead e ACDC. Não acho que o Jerry seja adepto de uma fórmula. Estou pensando esses dois discos iguais como afirmação de estilo e nova formação. Mas acho que o próximo disco deveria vir sem repetir.

    Sim, nesse sentido, o album é redondinho. O Black gives way to Blue eu dou nota 10. E esse eu dou nota 9. Mas eu acho que 4 anos pra lançar a MESMA COISA é muito. Esse disco poderia ter saído em 2011, já que ele dá a impressão de ser quase um b-sides do de 2009. Tanto que você escuta os dois juntos e não sente a menor diferença.

    É isso: quanto ao disco, pra mim, das melhores coisas do ano e o disco que mais escutei em 2013 (lado positivo). Mas eu acho que o AIC levou muito tempo pra lançar um disco que não vai além de quase um b-side (lado negativo), sendo que essa similariedade me deixa apreensivo pra ver se o próximo disco vai levar 4 anos ... até 2017 ... e ainda sendo a mesma sonoridade.

    E, por fim, uma coisa que tava pensando essa semana: caralho, o AIC é uma banda que praticamente não tem bsides. Eles fazem só aquelas 10 ou 12 músicas pro disco e pronto! Os bsides dos caras são lá do início da banda ... e só! Podiam lançar mais coisas de 2 em 2 anos. Ou esse trecho grande de 4 anos, mas com uns bsides aí no meio, pow. Ou aproveitar essa onda de deluxes e remasterizações e rechear os discos antigos com jams, participações e coisas assim. Num sei se é possível.

    Mas como fan, estou feliz.
    Phantom Limb é muito boa!

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  4. Já esta na minha lista de melhores do ano!! Choke e Voices são maravilhosas!!

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  5. Esse disco é muito foda!!

    As guitarras estão infernais!

    E o DuVall está cada vez mais "em casa" no AIC.

    Na minha opinião não tem nada de disco longo não, tá ótimo esse play!!

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  6. Pra mim, até o momento, é o disco do ano. Jerry Cantrel é um músico esplêndido e Willian DuVall preencheu muito bem a lacuna deixada por Laney Staley. Eu daria ,no mínimo,9,5

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  7. Realmente o disco é muito longo mas no problem ouço metade de cada vez nota 10!!!

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  8. "Grandes ideias, quando esticadas ao máximo, acabam perdendo boa parte de seu impacto".

    Concordo em gênero, número e grau. Parabéns

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  9. Esse disco é sem duvida mostra um AIC novo mais como o incoparavel e insubstituivel jerry cantrel e CIA , é incrivel como o jerry consegue tirar leite de pedra , usando linhas simples mas completamente insanas e complexas , o disco eu divido 2 duas partes , as 6 primeiras como soco na orelha e o resto como chutes quando vc ta caido , sem duvida um disco que veio resgatar de vez o nome dos caras e trazer pra gente esse presentão .

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  10. Já estou na terceira ou quarta audição desse "Dinosaurs", sou um grande fã do AIC (principalmente do Cantrell) e o que posso dizer até agora é:

    - As 2 músicas lançadas antes do álbum (Hollow e Stone) com certeza estão entre as piores do disco;
    - É perceptível uma perda de qualidade geral em relação ao trabalho anterior;
    - Assim como o BGWTB, este disco começa a pegar mesmo da metade até o final;
    - Tem Jerry demais e DuVall de menos;

    Dito isso, o 'Dinosaurs' tem seus bons momentos (como Phantom Limb) e é sempre bom ouvir algo novo do AIC. Vou continuar reouvindo para ver se encontro mais supresas.

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