Anciients: crítica de Heart of Oak (2013)

Discos de estreia são o ponto de partida de uma carreira, de uma sonoridade, de um conceito que irá se desenvolver de maneira mais profunda nos álbuns futuros de toda banda. Pegue qualquer grande nome e compare seus primeiros discos com os trabalhos que os seguiram. Black Sabbath, Led Zeppelin, Iron Maiden, Metallica, Beatles, Stones - a lista é infinita - alcançaram o seu auge com o aprimoramento da sonoridade que foi apresentada ao mundo em seus debuts.

Escrevi o parágrafo acima porque ele se aplica ao álbum de estreia da banda canadense Anciients. Formado em Vancouver em 2009, o grupo lançou em abril o seu primeiro disco, que saiu pela sempre antenada gravadora polonesa Season of Mist. E o que impressiona em Heart of Oak é que ele não parece um álbum gravado por uma banda iniciante. A segurança, o domínio, a auto-confiança, saltam aos olhos. Basta ouvir o início da primeira faixa, “Raise the Sun”, para perceber que estamos diante de um trabalho diferenciado e muito - muito mesmo - acima da média.

Apresentando influências de Mastodon e Baroness e caminhando entre o prog, o stoner e o sludge, o Anciients gravou um disco que mexe com o ouvinte. As canções apresentam riffs muito bem desenvolvidos pela dupla Chris Dyck e Kenneth Paul Cook, enquanto os vocais de Aaron Gustafson (também baixista) variam entre um agradável timbre limpo e um gutural agressivíssimo. E na bateria temos um fenômeno chamado Mike Hannay, que entrega uma performance que irá colocar um sorriso de orelha a orelha em quem aprecia todas as possibilidades que o instrumento pode propiciar.

Todas as canções de Heart of Oak são longas, variando de seis a nove minutos. Porém, a riqueza dos arranjos e a variedade de caminhos apresentados em cada uma das nove faixas faz o álbum não ser nada cansativo. Os músicos são técnicos, brilhantes em seus instrumentos, e focam esse domínio no peso e na absoluta liberdade para seguir os mais variados caminhos. É possível, nas passagens mais cadenciadas e atmosféricas, perceber uma clara influência de Pink Floyd por exemplo, como fica claro na bela “For Lisa”, que fecha o trabalho.

Trabalhando com precisão as melodias, o Anciients cativa logo na primeira audição. O ataque que sucede a bela - e melancólica - introdução da faixa de abertura, “Raise the Sun”, faz com que um brilho surja no olho de qualquer fã de metal que aspira e admira aquelas bandas e artistas que levam o estilo por novos caminhos, tirando-o de sua conservadora zona de conforto. E esse sentimento só cresce nas canções seguintes. A quebradeira de “Overthrone” aproxima a banda do prog metal, só para em seguida temperar esse flerte com uma explosão crua e intensa.

Os grandes momentos estão em “The Longest River”, que em nove minutos explora toda a musicalidade do quarteto; em “Giants”, que mostra que os músicos ouviram muito Crack the Skye, espetacular disco lançado pelo Mastodon em 2009; em “Faith and Oath”, construída a partir de um riff cíclico que é puro black metal norueguês do início da década de 1990 e conta inclusive com blast beats de Hannay; e na belíssima “For Lisa”, que fecha o disco de maneira sublime, alterando climas e melodias arrepiantes.

Retornando lá para o início deste texto, Heart of Oak é apenas o primeiro disco do Anciients. Ele é o primeiro passo, o primeiro tijolo, a base de uma sonoridade que, se tudo correr da maneira certa, irá se desenvolver ainda mais nos próximos álbuns. E esse ponto de partida é excelente, mostrando uma banda com imenso talento e potencial de crescimento, fatores que fazem com que o ouvido cresça e fique grudado nos movimentos futuros destes quatro músicos.

Heart of Oak é um discaço. O Anciients é uma baita banda.

Vá atrás e ouça já um dos melhores álbuns de 2013.

Nota 9,5

Faixas:
1 Raise the Sun
2 Overthrone
3 Falling in Line
4 The Longest River
5 One Foot in the Light
6 Giants
7 Faith and Oath
8 Flood and Fire
9 For Lisa

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Conheci Anciients por aqui, e viciei logo de cara.
    Que disco espetacular!
    Ótima revelação essa banda.

    E Ricardo, só corrigindo, o disco do Mastodon que tem Oblivion é o Crack The Skye.

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  2. Éder, obrigado pelo toque, já corrigi aqui.

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  3. Grande disco Cadão, o ano de 2013 promete hehe...

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  4. Cadão, outra: o vocalista não é o baixista. São dois vocais e também guitarrista, Chris e Kenneth.

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  5. Uma outra grande influência, além de Mastodon, é Opeth. Tanto no gutural, que lembra os primeiros discos da banda, quanto nos riffs. Raise of the Sun a partir dos 5 minutos é um exemplo bem forte dessa influência. ;)

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