Megadeth: crítica de Super Collider (2013)


De um projeto de vingança a uma das maiores e mais influentes bandas da história do heavy metal, o Megadeth completa em 2013 trinta anos de existência, entre idas, vindas, polêmicas, discos multi platinados, reabilitações e conversões.


Não apenas isso, marca também o lançamento de seu décimo quarto álbum de estúdio, Super Collider, o primeiro a manter a mesma formação entre um trabalho e outro desde Cryptic Writings (de um longínquo 1997), e também o primeiro a ser lançado pela Tradecraft, o selo do próprio Dave Mustaine. Produzido por Johnny K e masterizado por Ted Jensen, o novo disco ainda conta com a participação de uma série de convidados, responsáveis pela presença de trompete, violino e gaitas de fole nas músicas (embora seja mais do que sutil), além de David Draiman, vocalista do Disturbed/Device.


“Kingmaker” inicia o álbum com o típico híbrido de thrash e heavy metal, característica que estabeleceu o Megadeth como um dos grandes nomes da música entre as décadas de oitenta e noventa. Porém o resultado aqui soa muito inferior, grande parte pelas linhas vocais apáticas que deixam uma incômoda sensação de que a faixa simplesmente não chegará a nenhum lugar – o que de fato acontece. A indiferença da abertura do disco se mostra mais evidente ao ouvir “Super Collider”, a cadenciada música que batiza o novo trabalho e, que mesmo tendo causado reações controversas ao ser liberada para audição previamente, traz boas ideias e funciona muito melhor do que a anterior.


Apesar do conteúdo lírico mais raso do que o chorume entre a calçada e o meio fio, “Burn!” mostra uma banda se aproximando um pouco mais da simplicidade do hard rock, e é o primeiro momento que realmente atrai a atenção no álbum. Bem diferente de “Built For War”, que tenta mesclar a quebradeira e o peso de um Hellyeah com aqueles coros feitos apenas para as apresentações ao vivo – soando vergonhosos no estúdio.


Com uma introdução que parece preparar para uma faixa épica, a verdade é que “Off The Edge” se revela uma das mais pobres composições da carreira do Megadeth, daquelas que simplesmente não apresentam nenhum momento de inspiração ou um segundo qualquer memorável. Seria para afundar de vez o disco no ostracismo, mas “Dance In The Rain” está entre o que de mais interessante foi escrito pela banda nos últimos anos, puxando-o de volta para a superfície, com diversas mudanças de andamento e um instrumental carregado de detalhes que acrescentam em muito a faixa.


Porém, tudo parece afundar novamente com a arrastadíssima “The Beginning Of Sorrow”, que beira o amadorismo, tão fraco é o seu desenvolvimento em menos de quatro minutos de duração (caindo no mesmo problema de “Kingmaker”), enquanto “The Blackest Crow” retoma os elementos de western e bluegrass, como visto em “Guns, Drugs & Money”, faixa do álbum Th1rt3en. Apesar de ser homônima a uma histórica canção americana e carregar o mesmo sentimento melancólico, são bem diferentes, e mesmo a intenção do Mustaine tendo sido das melhores, a realidade é que é apenas uma música ok.


Voltando para as estruturas musicais mais tradicionais da banda, “Forget To Remember” resgata novamente saudáveis toques de hard rock e heavy tradicional, em um dos momentos mais melódicos em Super Collider e um destaque imediato, com potencial para as apresentações ao vivo muito maior do que o restante do disco. Por outro lado, a seguinte “Don’t Turn Your Back...” cai no mesmo problema de ser uma faixa que vem, vai embora, e não deixa nenhuma passagem memorável sequer, sendo solenemente ignorada a essa altura do álbum. Ou seja, o encerramento não é indiferente apenas graças à fiel versão de “Cold Sweat”, do Thin Lizzy, que se não é nada revolucionário, também não compromete – ao menos não é a regravação de algum sucesso comercial da própria banda.


Mas colocando em termos gerais, a realidade é que o Megadeth vem desde 2004 em uma curva descendente de inspiração, lançando discos com composições cada vez mais repetitivas e aparentemente sem o mesmo sentimento de outrora. Em Super Collider, com raras exceções, é um trabalho sem identidade própria, sem ideias memoráveis, com várias músicas sem o menor propósito de existência além de preencher lacunas no tracklist. As letras se mostram simplistas, infantis e sem nenhuma mensagem, bem diferentes do que já foi feito anteriormente e do que comummente é dito pelo incansável polemista falastrão líder da banda, nas entrevistas.


E por falar em Dave Mustaine, é notável como a sua voz está cada vez mais comprometida (basta comparar com os álbuns anteriores): tons mais graves, menos rasgado e em alguns momentos ele parece simplesmente recitar a letra ao invés de efetivamente cantá-la – e boa parte dos pontos negativos em Super Collider são decorrentes dessa insuficiência nas linhas vocais. A grande questão é quanto tempo mais será possível manter uma regularidade em álbuns e turnês.


O Megadeth parece dar mais um passo ladeira abaixo, para longe da influente banda de décadas atrás, indo na contramão dos grandes nomes do thrash metal (que lançaram alguns de seus melhores álbuns nos últimos anos), como se estivesse extremamente confortável em sua situação e fazendo o menor esforço possível para lançar material novo a ponto de marcar a sua própria história de forma positiva.


Pelo menos, desta vez ninguém disse que seria “o melhor álbum desde Rust In Peace”.


Nota 3


Faixas:
01. Kingmaker
02. Super Collider
03. Burn!
04. Built For War
05. Off The Edge
06. Dance In The Rain
07. The Beginning Of Sorrow
08. The Blackest Crow
09. Forget To Remember
10. Don’t Turn Your Back…
11. Cold Sweat


Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

Comentários

  1. Achei o álbum razoável, assim como a referida resenha, não concordo com o autor que coloca os álbuns a partir de 2004 como fracos, sendo United Abominations forte e Endgame sensacional!

    Mas opiniões a parte, não achei o álbum tão ruim mas longe de um grande clássico, mas vale por soar diferente!

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  2. Excelente texto. Concordo 100%.

    Só uma pequena correção: o nome do disco de 97 é "Cryptic Writings".

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  3. eu curti o endgame eo anterior desses mais novos...ja o 13 e esse ultimo achei fracos

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  4. "Mas colocando em termos gerais, a realidade é que o Megadeth vem desde 2004 em uma curva descendente de inspiração, lançando discos com composições cada vez mais repetitivas e aparentemente sem o mesmo sentimento de outrora."

    Eu não iria tão longe, já que o "Endgame" (2009), salvo uma ou outra música meio forçada, é um álbum muito bom, e "The System Has Failed" e "United Abominations" também não são esse desastre todo.

    Mas esse disco em questão é fraco mesmo. Quiçá o pior deles.

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  5. Concordo demais!
    Comentei que seria um possível fracasso assim que eles lançaram a primeira prévia do cd. Já era notável a decadência da sonoridade da banda.
    O "Endgame" foi um bom cd, mas o Super Collider definitivamente foi pessimo e creio que o Megadeth poderia rever seus conceitos de composição!

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  6. Pois eu acho que a curva pior do Megadeth é m 1997 até 2004: Cryptic Writings (1997), Risk (1999)e The World Needs a Hero (2001). E depois até voltou a crescer e agora ficou estável no regular. Pra mim, está melhor que o Metallica, que é a quem eu realmente coloco essa coisa aí de "descendo a ladeira".

    The System Has Failed (2004), United Abominations (2007) e Endgame (2009) são bons. Thirteen (2011)é regular mas esse Super Collider (2013) é o mais fraco mesmo. Mas ainda é melhor que o trecho 1997 até 2004, pra mim.

    A resenha deu nota 3.
    Pra mim é 5.

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  7. Eu acho que o Megadeth fez a mesma coisa nas duas fases da carreira dele.

    Na década de 90 até 2001 e agora de 2004 pra cá.

    A curva de crescimento e queda é muito semelhante.

    Esse lance da banda ter se tornado preguiçosa, já deixaram isso bem claro no 13.

    A única parte da resenha que "derrapou" foi dizer que de 2004 pra cá a curva foi descendente...

    O que falar de Kick The Chair, The Scorpion (a perfeita mistura de Thrash e Hard Rock), Washington is Next, Never Walk Alone (essa é uma avalanche de riffs impressionante!!!), Sleepwalker, Headcrusher, Endgame (tbém mistura thrash e hard)... ?

    O 13 pra mim foi o "Cryptic Writings" da nova fase do Megadeth, mas eu tinha esperança de que não lançassem o "Risk", mas eles o fizeram...

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  8. Até o Risk é mais pesado que este album

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  9. Cara, eu gostei da música Super Collider. Até você enjoar, o que demora umas 5 audições, soa bem legal.

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  10. Concordo plenamente com a resenha, mas eu não chegaria a dar uma nota 3 pro disco; no máximo uma 5 ou 6, porque apesar de bons momentos, não há uma faixa sequer que soe 100% marcante (no máximo, apenas um trecho ou outro; o resto é apenas regular perto do que o Megadeth apresentou de 2004 pra cá - e isso pra se limitar apenas esse período, porque se for pra comparar com o que banda fez nos anos 80 e 90 chega a ser covardia).

    Se o "Th1rt3en" já soava regular aos ouvidos de muitos (e, particularmente, foi um álbum que curti bastante, pois soou bem diferente do "Endgame", mesmo com faixas "recicladas" e regravadas), esse "Super Collider" conseguiu me soar bem pior. Até o "Risk" e o "The World Needs a Hero" conseguem me soar bem mais agradáveis do que ele.

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  11. Discordo.

    Me soou um ótimo álbum, e quem diz que Mustaine está na zona de conforto precisa tirar a cera dos ouvidos. Super Collider me surpreendeu positivamente... não era o álbum que eu estava esperando, mesmo; e a coisa é boa e mais que ousada.

    Fico curioso para saber o que o Cadão acharia.

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  12. Achei a crítica muito dura! Certamente, desde o United Abominations não ouvia um disco tão fraco. Fico imaginando o que o Johnny K pensa desse trabalho... É um excelente produtor, tirou leite de pedra no Th1rt3en mas agora não deu.
    Como fã incondicional do Megadeth, nada que me faça me afastar da banda. Mas esse veio só compor catálogo e encher lingüiça para manter a rotina de turnês.
    Torço por álbuns futuros mais inspirados.

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  13. Achou a crítica muito dura, mas concorda com ela. É isso, Thiago?

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  14. Não concordo.
    Achei o álbum excelente, ousado em várias partes (The Blackest Crow, por exemplo) e com muitas músicas marcantes. Ao contrário do resenhista, adorei os corais de Built for War e não achei nada vergonhosos. Também não acho que ela é quebradeira como um Hell Yeah. O Megadeth já fazia esse tipo de música quebrada antes mesmo do Hell Yeah tirar as fraldas.
    Acho que eles saíram do lugar comum e pararam de forçar as canções Thrash Metal farofa que tem aos montes nos últimos álbuns.
    Eu daria nota 8, fácil!

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  15. Sinceramente não sei o que esses comentaristas fazem, acho na verdade que eles é que estão nas zonas de conforto e não produzem nada de interessante desde o século passado,até a bizz era melhor que essas resenhas.Bom comparar é ridículo, necessitamos de pessoas que escrevam coisas novas em cima de discos novos!!!!Nota 7 para Super Collider e 2,5 para a resenha!

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  16. Quem critica o trabalho do Dave é só procurar uma gravadora e fazer um melhor.

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