Franz Ferdinand: crítica de Right Thoughts, Right Words, Right Action (2013)

Talvez uma das poucas bandas da recente safra indie contemporânea a fugir do livro de regras do roqueiro de garagem largado seguido por uma imensa safra de imitadores dos Strokes, os escoceses do Franz Ferdinand parecem seguir, em seu quarto disco, quase o mesmo caminho seguido por Julian Casablancas em sua mais recente bolacha. Mas enquanto os Strokes se voltaram para o passado da música, conversando com uma sonoridade oitentista para entregar um dos discos mais gostosos do ano, a trupe de Alex Kapranos consegue obter efeito semelhante ao olhar para o seu próprio passado. Right Thoughts, Right Words, Right Action, seu quarto álbum de estúdio, dialoga diretamente com seu lançamento de estreia, auto-intitulado, funcionando quase como uma continuação obrigatória. Estamos falando de uma coleção de canções iluminadas que prezam a simplicidade, em detrimento de um excesso de experimentalismo forçado de algumas bandas surgidas na mesma época. O resultado é inevitavelmente colorido, sorridente e, sim, muito dançante. Ainda bem. 

Não que em You Could Have It So Much Better (2005) ou em Tonight: Franz Ferdinand (2009) o quarteto tenha enveredado por uma pegada mais pesada, violenta, dissonante. Nada disso. Mas digamos que os dois álbuns foram responsáveis por afastá-los de sua herança, sempre muito próxima das pistas de dança. Dá até para afirmar que seus grooves foram ficando mais acinzentados. Não é o caso aqui. O céu se abriu e o sol voltou a surgir entre as nuvens. Esta coleção de dez faixas retorna ao ritmo roqueiro sacolejante, aquela inspiração que medalhões como os Talking Heads (que, aliás, os caras do Franz Ferdinand adoram, declaradamente, junto com o Gang of Four) trazem do funk, do R&B e demais melodias negras americanas. A comparação com o irresistível Let's Dance, de David Bowie, ecoada por uma série de críticos que amaram o disco, faz todo o sentido. 
Absolutamente funkadelic, "Right Action" já abre os trabalhos mostrando a que a banda veio – e quando começa a terceira canção, "Love Illumination", é inevitável sentir o pézinho batendo, graças a uma melodia de metais irresistível que dá ainda mais corpo ao riff principal, simples e direto ao ponto. Lá está você, entregue e conquistado. Mesmo a batida mais crua e acelerada de "Bullet", que chega depois da climática (e excelente) "Stand On The Horizon" e da pegada a la Beatles de "Fresh Strawberries", não perde em nenhum momento esta característica de pop grudento e energético, que injeta uma bem-vinda juventude ao longo de toda a audição do disco. Chega até a ser engraçado ouvir Kapranos abrir a última canção, "Goodbye Lovers & Friends" dizendo "Don't play pop music / You know I hate pop music", numa letra de tom absolutamente irônico. Afinal, estamos diante de rock que sabe ser pop sem medo, sem frescura, e com uma qualidade impressionante. 

Acessível, melódico, versátil, Right Thoughts, Right Words, Right Action é rock indie único e maduro, porém ainda soando jovem e fresco. É cheio de canções pegajosas, personalidade e carisma, diferente das obviedades intelectualóides que permeiam a obra da maior arte dos indies que a NME coloca na sua capa sob o título de "a melhor banda de todos os tempos da última semana". É rock independente com cérebro, com coração – e com um bom requebrado nos quadris. 
Nota 8

Tracklist:
1 Right Action
2 Evil Eye
3 Love Illumination
4 Stand on the Horizon
5 Fresh Strawberries
6 Bullet
7 Treason! Animals
8 The Universe Expanded
9 Brief Encounters
10 Goodbye Lovers & Friends

Por Thiago Cardim

Comentários

  1. Eu, particularmente, gostei muito do som.

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  2. Eu ainda não ouvi o disco todo... talvez eu esteja em uma fase de conhecimento da banda com maior profundidade, e no momento amando os primeiros discos! :)

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