Orphaned Land: crítica de All Is One (2013)


Independente de qualquer orientação religiosa, política ou filosófica, o Orphaned Land nasceu no epicentro de um dos mais complexos cenários humanos do último século. E se Israel pode ser apenas um pequeno estado em meio aos intermináveis conflitos ideológicos e econômicos, a banda formada por Kobi Farhi, Uri Zelcha, Yossi Sassi e Matti Svatizky em um distante 1991 se aproveitou de toda a riqueza cultural da região para construir uma das mais criativas e singulares bandas da história do heavy metal.


Com quatro álbuns em sua discografia e tendo participado de alguns dos maiores festivais ao redor do mundo, eles lançam em 2013 All Is One, mais uma vez pela Century Media Records, o trabalho que pode ser uma continuação direta de seus discos anteriores, mantendo a temática paradoxal e a união de estilos em prol de algo maior.


A musicalidade rica e diversificada, a maior qualidade do Orphaned Land se mostra bem equilibrada na melódica “All Is One”, faixa título que flutua entre o power metal e a característica presença dos instrumentos e melodias da música do Oriente Médio. Bouzoukis, violas e violinos voltam a se combinar na cadenciada “The Simple Man”, simples e belíssima, com estruturas bem semelhantes à seguinte, “Brother”, prioritariamente acústica e conduzida pelos arranjos orquestrais.


Mais arrastada, a esperançosa “Let The Truce Be Known” mostra bem como os israelenses atingem inexplicáveis resultados ao contar uma história, de forma que a música seja um interessante complemento, principalmente nos arranjos étnicos (o lado heavy metal é apenas um leve coadjuvante). Cantada em árabe, “Through Fire and Water” lentamente vai colocando os instrumentos convencionais e o peso à frente, culminando em “Fail”, uma das mais dinâmicas faixas e o primeiro momento do álbum aonde eles soam um pouco mais extremos, inclusive com os mesmos vocais guturais de outrora.


Após o instrumental “Freedom”, “Shama’im” tem uma melodia tão marcante que o fato de ser cantada em hebraico (e provavelmente você não entender um verso sequer) se mostra irrelevante, assim como em “Ya Benaye”, aonde o andamento mais lento e atmosférico dá lugar aos cânticos soltos em árabe.

Com infinitas mudanças de andamento, “Our Own Messiah” apresenta vários elementos que remetem ao metal progressivo em seu formato mais tradicional, diferentemente de “Children”, o lento fadeout de encerramento do álbum, com apenas uma melodia que serve de base ao longo de mais de sete minutos.


Depois de ouvir não apenas All Is One, mas também os trabalhos anteriores do Orphaned Land, fica claro o porquê de os israelenses serem considerados uma banda única. Não é apenas pela música tradicional e pela utilização de instrumentos não convencionais, nem pelas letras extremamente coerentes e metafóricas, mas sim pela combinação de todos estes elementos, com uma noção interpretativa que simplesmente carrega o ouvinte para dentro da obra.


E neste novo álbum, é notável como eles trouxeram ainda mais para frente a cultura do Oriente Médio, de forma que o lado mais pesado da banda atue como um mero detalhe em meio aos belíssimos arranjos folk e orquestrais, dando continuidade ao caminho mais melódico que eles vêm seguindo. E isso torna extremamente natural uma fusão de estilos como poucas vezes havia se visto.


Afinal de contas, no fim, tudo é apenas música.


Nota 9


Faixas:
01. All Is One
02. The Simple man
03. Brother
04. Let The Truce Be Known
05. Through Fire And Water
06. Fail
07. Freedom
08. Shama’im
09. Ya Benaye
10. Our Own Messiah
11. Children


Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

Comentários

  1. Um dos álbuns mais criativos do ano!!

    A faixa título está entre as melhores compostas pela banda.

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  2. Degustando o som dos caras. Ótima dica.

    Sjr

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  3. Degustando o som dos caras. Ótima dica.

    Sjr

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  4. A faixa título é uma das melhores do disco, estou viciada.

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