26 Bandas para o Matias: I de Iron Maiden

Ouvi Iron Maiden a primeira vez quando tinha 12 ou 13 anos. Vi aqueles cabeludos na TV fazendo história no Rock in Rio, e depois fui atrás do som do grupo. Um primo mais velho tinha uma fita k7, e nela estava gravada a clássica “The Number of the Beast”. O impacto daquele riff, daquela voz e daquela música sobre um garoto que estava descobrindo o rock foi permamente: até hoje, passados muitos anos, o Iron Maiden segue sendo uma das minhas bandas favoritas.

O primeiro disco do grupo que comprei foi o duplo ao vivo Live After Death. Ouvia todo dia. Ouvi tanto que cheguei a decorar as falas de Bruce Dickinson entre as faixas. A minha parte preferida do álbum era o lado 4, que começava com “Wrathchild”, passava por “22 Acacia Avenue”, me levava às nuvens com “Children of the Damned”, tocava o infinito com “Die With Your Boots On” e chegava ao paraíso com “Phantom of the Opera” e seus solos inesquecíveis. Mais tarde, quando o disco saiu em CD, fiquei decepcionado pelo fato estas cinco músicas terem sido limadas do disquinho, fato que só foi corrigido em uma reedição futura.

Mas o momento em que o mundo se abriu e toda a beleza da sonoridade do Iron Maiden me atingiu em sua plenitude se deu com o álbum seguinte, Somewhere in Time. Ganhei o dito cujo no meu aniversário de 14 anos, em novembro de 1986 - ele havia sido lançado um pouco antes, em 29 de setembro daquele ano. Lembro nitidamente o momento em que coloquei Somewhere in Time para tocar pela primeira vez. Minha coleção de discos ficava em um espaço na frente da casa dos meus pais, espaço esse que havia sido o escritório do meu velho. Haviam grandes estantes ali, cheias de livros e revistas, e tomei posse de um dos cantos, instalando o meu aparelho de som e conquistando um território cada vez maior com o crescente número de LPs. Abri o plástico e coloquei o vinil para tocar, e uma espécie de portal se abriu. Foi ouvindo “Caught Somewhere in Time”, “Wasted Years”, “The Loneliness of the Long Distance Runner”, “Deja-Vu” e “Alexander the Great” que o meu coração foi conquistado de vez. E a cereja do bolo era aquela capa incrível, que revelava novas surpresas a cada audição.

Dali em diante, foi uma avalanche. Todos os discos do Maiden foram aterrisando como água em minha coleção, e é assim até hoje. Completei os LPs. Daí, quando lançaram os CDs, completei também. E então foram lançados as famosas versões em CD duplo, com o tracklist original em um disco e os lados B em outro. Adivinha? Completei também. E, por último, vieram as versões enhanced com novas mixagens, que também estão, em sua plenitude, em minha estante.

É difícil colocar em palavras tudo que o Iron Maiden representa na minha vida. Ouvi tanto a banda e por tanto tempo que até peguei a minha mãe, certa vez, cantarolando uma de suas melodias. Eles me ensinaram a gostar, verdadeiramente, de música. Eles me ensinaram o que é uma paixão por um artista. Me mostraram o quão legal e gratificante é possuir uma coleção de itens de uma banda que a gente gosta. Me mostraram inúmeras outras bandas através de seus b-sides, repletos de covers interessantes. Costumo dizer que Bruce Dickinson é o irmão mais velho que nunca tive, me dando conselhos, mostrando caminhos e me inspirando, desde sempre, com suas atitudes.

Hoje, o Maiden continua ocupando o maior espaço em minha coleção de discos. Na última contagem, feita há alguns meses, eram 74 CDs, 14 DVDs, 3 LPs e 3 livros. Mas o tamanho não importa, porque por mais itens que eu tenha do grupo de Steve e Bruce - e o número sempre irá aumentar, tenham certeza disso -, o que vale realmente é o quanto a música desses ingleses significa para minha vida, o quanto ela está impregnada em meu DNA.

E sim, acredito nisso. O Matias, meu filho, desde que nasceu possui uma identificação forte com o grupo. Desde bem pequeno adora folhear os livros, as capas e tudo que possua ilustrações do Eddie. Sabe, desde que aprendeu a falar, o nome de todos os integrantes. Seus preferidos são Bruce ("de cabelo curto", ele faz questão de frisar) e Nicko, que ele acha hilário e que despertou um interesse, ainda que pequeno, pela bateria. Um de nossos programas preferidos quando estamos juntos é assistir a algum dos DVDs do grupo. Ele adora ver a banda tocando, sentir a sua energia. Tenho certeza de que essa relação com a música do Maiden será uma das lembranças mais duradouras de sua infância.

Não há nada como o Iron Maiden. Quase quarenta anos de carreira e com um público que não só não para de crescer como, ainda por cima, se mostra cada vez mais novo e rejuvenescido.

Longa vida ao Maiden e a tudo o que ele significa não só na minha vida e na do meu filho, mas também na de todos os fãs e colecionadores deste banda única e sem precedentes.

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. É engraçado... o Maidentem um mística. POr mais que eu ouça coisas muito diferentes hoje em dia, e passe mesmo meses sem ouvir algo da banda (até o X-Factor), a audição dos clássicos, de determinados sons causa uma reação única. É quase como ouvir Beatles, para mim. Ou seja, há o tempo e o local, e é preciso ignorar as bobagens midiáticas e os fãs deslumbrados. Feito isso, o som continua... mágico.

    Será que o "J" para o Matias será de "Joy Division"?

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  2. Também tive minha introdução ao Iron Maiden através do Rock In Rio, mas foi no de 2001, através da TV. Agora em 2013 os vi no Rock In Rio, meu quarto show deles. A relação que tenho com eles é muito parecida com o que você descreveu. Maiden é trilha sonora de muitos momentos da minha vida. Espero um dia passar essa relação para meu filho, assim como você está fazendo com o seu, com certeza terão memórias muito boas ao som de Iron Maiden. Up The Irons!

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  3. Cara, eu acho os álbuns com o Paul Dianno imbatíveis.....a fase multiplatinada do Bruce Bruce eu gostei do The Nunber, Somewhere in Time e Seventh Son....mas são clássicos e "pedras fundamentais" do heavy metal.

    Anselmo
    minervapop

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  4. Apesar de hoje escutar pouco o som do Maiden reconheço que a banda é fundamental pra quem curte Heavy Metal.

    Primeiro disco deles que escutei foi o ''Powerslave'', não lembro a idade que tinha mas a certeza é que eu era muito pequeno na época.

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  5. Belo texto, Ricardo. Acho que o Maiden é uma excelente porta de entrada para quem gosta de música, não é a toa que eles renovam seus público com várias gerações de fãs. Só um detalhe: tá escrito Phantom Of The Lord no lugar de Phantom Of The Opera.

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  6. Excelente texto. Descreve com maestria o sentimento e posso dizer que a minha relação com o Maiden é bastante semelhante, sendo uma banda mágica para mim.

    Espero, quando tiver um filho, conseguir transmitir tudo o que o Maiden significa para mim até ele, assim como você o fez com o seu.

    Parabéns pelo texto.

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  7. Phantom Of The Lord, você acabou de inventar um nome excelente pra uma música!!!
    Brincadeiras à parte, é fácil falar de Iron Maiden, não só pela qualidade sonora e seus músicos, mas também pelo apelo visual e carisma da banda.
    Descobri a banda no RIR 1, apesar de ter apenas 10 anos e ouvir religiosamente o Love Gun do KISS e os discos do Balão Mágico.
    Mas o Maiden foi a banda que mais me impressionou no festival, talvez pelo visual tão forte e pela cara sangrando do Bruce.
    Enfim, desde esse dia são quase 30 anos amando e acompanhando essa entidade musical e cada vez que assisto a um show, como em setembro passado, fico mais apaixonado e esperando pela próxima vez.
    Up the Irons!

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  8. Ok, corrigi o título da música. Essa música poderia ser um mashup entre "Phantom of the Opera" e "Phantom Lord", do Metallica (rs).

    Obrigado pelos comentários.

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  9. Legal Cadão!
    Eu tenho um sentimento muito parecido. Para mim é até incômodo falar e escrever sobre a banda. Como todo mundo sabe que sou fã não confiam 100% na minha opinião...rs
    Essa semana mesmo dei de presente para um garoto de 9 anos um CD do grupo. Espero ter feito uma coisa boa...rs

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  10. Escutei muito como adolescente.
    Hoje, não tenho mais paciência.
    Mas sempre vai ser importante pra mim, por mais que o relacionamento esteja meio frio.
    Mas os anos aureos de adolescente ... trilha sonora, certa! Hoje, são outras trilhas.
    Respeito e consideração até hoje.
    Escuta e audiência, de vez em quando.

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  11. A maior e melhor banda de Metal de todos os tempos! Acho que não há fã sem uma história tocante sobre como conheceu o Iron Maiden, e a aproximação e a relação construída com a banda é sempre muito forte! Como outros ressaltaram, é impressionante como o som dos caras continua mágico independente do tempo que você o conheça. E até hoje eu continuo aprendendo e redescobrindo suas músicas, especialmente quando dou novas chances aos álbuns considerados mais "fracos". Que o Matias tenha muitos momentos felizes tendo as composições do grupo como trilha sonora, assim como, acredito eu, todos nós tivemos (e ainda temos).

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  12. O primeiro álbum do Iron Maiden que ouvi foi o "Seventh Son of a Seventh Son". Dificilmente consigo me lembrar da primeira vez que ouvi uma banda, mas o momento em que ouvi os primeiros acordes de "Moonchild" jamais saiu da minha memória. Mesmo depois de muitos anos, esse álbum continua sendo o meu preferido.

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  13. Ler esse texto me fez lembrar de quando comecei a ouvir essa banda, no ano 2000, quando do lançamento do Brave New World. Um novo mundo para a banda, um novo mundo para mim.

    Parabéns pelo texto e obrigado!

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