Especial Monsters of Rock: quais discos ouvir antes de ir ao festival

Após 15 anos, o festival Monsters of Rock está de volta. A quinta edição acontecerá neste fim de semana, nos dias 19 e 20 de outubro, na Arena Anhembi, em São Paulo, e terá duas datas bastante distintas. Enquanto o sábado é dedicado às sonoridades mais atuais do metal, com nomes como Gojira, Killswitch Engage e Slipknot, o domingo brindará os admiradores do hard rock mais festivo, com bandas como Ratt, Whitesnake e Aerosmith.

Para ajudar você que está indo ao Monsters, nossa equipe preparou um especial sobre as bandas que estarão no evento. Marcelo Vieira, Rodrigo Carvalho e Thiago Cardim escreveram a seis mãos um guia indicando qual álbum você deve ouvir de cada uma das quatorze atrações que tocarão no festival. O objetivo é indicar, para quem por ventura não conhece profundamente algum dos grupos, qual disco é o mais recomendado para entrar em seu universo. E, para quem já quer ir fazendo o esquenta para o Monsters, ouvir os quatorze álbuns abaixo, além de mostrar o melhor de cada atração, prepara o clima para a festa.

Os textos estão publicados na ordem em que as bandas subirão ao palco nos dois dias, começando com a primeira delas, Hellyeah, e encerrando com a última, Aerosmith. Aumente o volume e venha com a gente!


Hellyeah - Band of Brothers (2012)

O mais recente disco de estúdio do Hellyeah entrega exatamente o que se espera de um grupo formado pelo baterista do Pantera e pelo vocalista e pelo guitarrista do Mudvayne. Aliás, com mais foco no "metal" do que no "groove" da denominação groove Metal sob a qual são enquadrados, Band of Brothers tem mais peso do que os dois anteriores juntos. Você decide se isso é bom ou ruim. (por Thiago Cardim)


Gojira - The Way of All Flesh (2008)

A obra que abriu definitivamente as portas do mercado internacional – e em especial o dos EUA – para a sonoridade destes franceses. Há quem goste de classificá-los sob alcunhas indecifráveis como "technical death metal". Mas o que dá para dizer é que eles fazem metal extremo e moderno, sem medo de experimentar e de acrescentar novos elementos. Isso já seria o bastante, não? (por Thiago Cardim)


Hatebreed – Hatebreed (2009)

Altamente influenciado pela escola nova-iorquina de hardcore (incluindo aí os clássicos Biohazard e Agnostic Front), o Hatebreed não apenas soube lidar muito bem com a inclusão de elementos de outros estilos em sua sonoridade primordial ao longo dos anos, mas utilizou-se de todo o dinamismo para extrapolar algumas margens, garantindo excursões ao lado de nomes como Slayer, Napalm Death e Lamb of God. E a extrapolação desses limites praticamente atingiu o auge no seu auto-intitulado álbum, de 2009, que traz toques de thrash metal, heavy tradicional e metalcore de forma equilibrada em clássicos absolutos da banda como “Everyone Bleeds Now”, “Every Lasting Scar” e a indiscutível “In Ashes They Shall Reap”. (por Rodrigo Carvalho)


Killswitch Engage – Disarm the Descent (2013)

Que o Killswitch Engage é um dos pilares do metalcore é algo praticamente inquestionável, com o disco Alive or Just Breathing estabelecendo alguns dos parâmetros essenciais do estilo, que seriam repetidos à exaustão desde então. E talvez exatamente por isto Disarm the Descent seja um dos momentos mais importantes da carreira do grupo, que vê a volta de Jesse Leach, seu vocalista original, como a oportunidade não apenas para retomar o mesmo espírito do início da carreira, como aproveita toda a experiência adquirida durante esses anos para lançar um álbum aonde cada faixa tem a sua própria identidade, versáteis dentro da própria linha de raciocínio. Disarm the Descent pode facilmente ser colocado lado a lado a The End of Heartache (de 2004) como a obra essencial da banda, graças a clássicos instantâneos como “In Due Time”, “No End in Sight” e “All That We Have”. (por Rodrigo Carvalho)


Limp Bizkit - Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water (2000)

Um time de nomes de peso do rock dos anos 1990 foi reunido para a produção do terceiro álbum de estúdio do Limp Bizkit. Saca só: Josh Abraham (cujo trabalho em The Gift of Game do Crazy Town — do hit "Butterfly" — repercutiu bonito na cena), Swizz Beatz (rapper, na época em começo de carreira, atual marido da cantora Alicia Keys), Terry Date (esse dispensa apresentações, na moral) e Scott Weiland (então vivenciando os últimos dias do seu Stone Temple Pilots), além de Fred Durst e DJ Lethal, as mentes pensantes (nem tanto) por trás do LB. Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water (que em bom português significa "cu e porra) foi lançado em outubro de 2000 e na mesma semana pintou no topo da lista dos mais vendidos. Fama e fortuna caíam no colo de Fred e companhia à medida em que lançavam seus sempre polêmicos e engraçadíssimos clipes na ainda relevante, mas já moribunda, MTV. Entre os hits estão "My Generation", "My Way", "Rollin'" (que aparece em duas versões no álbum), "Boiler" e "Take a Look Around", tema do filme Missão: Impossível 2 e, em virtude disso, talvez a música mais conhecida da banda... até inventarem de regravar "Behind Blue Eyes", do The Who, alguns anos depois. (por Marcelo Vieira)


Korn – Issues (1999)

Lançado apenas um ano após o indescritível sucesso de Follow the Leader, o Korn viu em 1999 a sua popularidade pelo mundo crescer ainda mais com Issues, que ao mesmo tempo em que deixava grande parte dos lances hip hop de lado para incrementar a criação de uma atmosfera muito mais soturna, acabou por definir praticamente qual seria a base para todos os experimentos musicais que o grupo faria durante a década seguinte. A sobriedade trazida por Brendan O’Brien ao estúdio fez deles uma banda mais madura, mais detalhista, estabelecendo novos patamares para toda a nova vertente que eles estavam ajudando a construir, como pode ser ouvido em “Falling Away From Me”, “Somebody Someone” e “Beg For Me”. (por Rodrigo Carvalho)


Slipknot – Vol. 3: (The Subliminal Verses) (2004)

Que o Slipknot sempre foi uma banda de inúmeros conflitos internos, não é segredo pra ninguém. E se apenas agora eles estão finalmente demonstrando o mínimo de superação após a morte do baixista Paul Gray, em uma menor escala o grupo já havia chegado perto do fim logo após a bem sucedida turnê de seu segundo disco, Iowa. Depois de um relativamente longo hiato, do surgimento de vários projetos paralelos e de um período de instabilidade criativa, eis que a banda canalizou todos os seus problemas nas músicas que viriam a fazer parte de Vol. 3: (The Subliminal Verses), um álbum que simplesmente atingiu níveis até então inesperados. Afinal, toda a sonoridade catastrófica e atmosferas claustrofóbicas do grupo se personificaram aqui em um tom mais obscuro, melancólico, com a inserção de passagens mais melódicas, quase perturbadoras. Enquanto “Duality” e “Before I Forget” são músicas essenciais do heavy metal pós-2000, outras como “The Nameless” e as duas partes de “Vermillion” mostravam de uma vez por todas que o Slipknot ainda tinha, e muito, a acrescentar. (por Rodrigo Carvalho)


Dr. Sin - Dr. Sin (1993)

O álbum de estreia daquela que é a mais renomada banda de hard rock brasileira. Foi dele que saiu "Emotional Catastrophe", sua faixa de maior sucesso, queridinha da MTV, trilha da série Confissões de Adolescente. E foi com este disco que acabaram no palco de festivais como o Hollywood Rock e no primeiro Monsters of Rock, em 1994 – que trouxe Black Sabbath (com Tony Martin), Slayer e Kiss no line-up, entre outros. (por Thiago Cardim)


Dokken - Back for the Attack (1987)

O caminho foi longo até o Dokken obter o reconhecimento merecido junto ao público e a crítica especializada. O grupo estava prestes a completar dez anos de estrada quando lançou seu álbum de maior sucesso. Mas a história de Back for the Attack começou a ser escrita bem antes, com a inclusão de "Dream Warriors" na trilha sonora do filme A Hora do Pesadelo 3. A canção, um clássico indiscutível, é a prova máxima de que o Dokken finalmente havia encontrado a sonoridade ideal, algo que perambula entre a potência metálica de Tooth and Nail (1984) e o glam radio-friendly de Under Lock and Key (1985) — ainda que ambos possuíssem músicas que destoassem. Em Back for the Attack as composições chegaram a um novo patamar, com trabalhos de guitarra mais complexos (a instrumental "Mr. Scary", por exemplo) e Don Dokken elevando sua voz às alturas mais — e melhor — do que nunca. Depois de "Dream Warriors", foi a vez de sons como "Kiss of Death", "Heaven Sent" e "Burning Like a Flame" atingirem o grande público e o resultado não poderia ter sido melhor: 13º lugar nas paradas, turnê pelo Japão (onde seria gravado o ao vivo Beast from the East) e convite para participar da edição de 1988 do... Monsters of Rock - o original inglês, atualmente chamado de Download Festival! (por Marcelo Vieira)


Queensrÿche – Operation: Mindcrime (1988)

Ao mesmo tempo em que o Dream Theater é um dos responsáveis pelo estabelecimento do metal progressivo, é importante ter em mente que alguns anos antes certas bandas de hard rock sutilmente começaram a incluir em sua sonoridade elementos que seriam características determinantes da nova vertente. O ano de 1988 teve o lançamento de três obras seminais: Out of the Silent Planet (do King’s X), No Exit (do Fates Warning) e, o mais importante aqui, Operation: Mindcrime. Uma obra conceitual paranóica que deu continuidade ao caminho mais atmosférico e técnico iniciado no álbum anterior, Rage For Order, e estabeleceu o Queensrÿche de uma vez por todas na história do estilo, incluindo ao heavy metal o que o rock progressivo deixou de lado na virada para os anos oitenta. “Breaking the Silence”, “Eyes of a Stranger” e “Suite Sister Mary” explicam um pouco qual o motivo de este permanecer como um dos mais obrigatórios álbuns até hoje. Importante notar, aliás, que a turnê atual do Geoff Tate’s Queensrÿche foca principalmente neste disco e no seguinte, Empire. (por Rodrigo Carvalho)


Buckcherry - Buckcherry (1999)

Fique com o primeiro álbum dos californianos, uma estreia deliciosa, melódica e envolvente. É hard rock que sabe ser pesado na medida certa, mas flertando com o metal de maneira tão sutil que até quem não curte o estilo acaba se rendendo à curiosidade de ouvi-los. Destaque para a faixa de abertura, o grudento hit "Lit Up". (por Thiago Cardim)


Ratt - Out of the Cellar (1984)

A surpreendente vendagem de Metal Health (1983), do Quiet Riot, abriu os olhos das grandes gravadoras para grupos semelhantes que ralavam no underground em busca de visibilidade e uns trocados. A aposta da Atlantic Records foi o Ratt, cuja reputação e um EP homônimo (lançado em 1983) já percorriam as ruas de Los Angeles. Para a produção do que viria a ser a estreia do Ratt pela Atlantic, Doug Morris, presidente da gravadora, recrutou o ainda desconhecido Beau Hill. A parceria resultaria na impressionante marca de mais de 3 milhões de cópias vendidas e um muito bem-vindo 7º lugar no Top 200 da Billboard, e tanto o Ratt quanto Hill colheram os frutos do sucesso: a banda tornou-se uma das principais referências do hard rock dos EUA na década, e o produtor, um dos mais requisitados e bem pagos da época. Musicalmente, Out of the Cellar apresenta uma banda afiada cujos riffs de guitarra dissonantes, assinados por uma dupla acima da média, são o diferencial. Letras simples e diretas sobre o universo de Los Angeles (farra sem limites, garotas e até mesmo a hora em que dá merda) são entoadas com uma cretinice impagável por Stephen Pearcy, que mesmo longe de ser um cantor de primeira, tinha (e ainda tem) uma presença devastadora. Aqui está o maior clássico do Ratt, "Round and Round". (por Marcelo Vieira)


Whitesnake - Whitesnake (1987)

Para ser completamente justo, teríamos que colocar Slide It In (1984) ao lado deste disco. Mas o álbum auto-intitulado ainda vence por pouco, oferecendo a zeppeliana "Crying in the Rain", a poderosa e irresistível "Here I Go Again" e a balada roqueira suprema, que até hoje faz garotas de  todas as idades suspirarem, "Is This Love". Não tem como errar. Whitesnake na melhor forma. (por Thiago Cardim)


Aerosmith - Rocks (1976)

A principal atração do festival possui uma discografia tão extensa e inatacável que selecionar apenas um álbum para esta matéria é quase que uma tarefa hercúlea. Já são quatro décadas produzindo músicas memoráveis e inaugurando novos conceitos no rock. Cada álbum tem pelo menos um hit e não há um indivíduo que não saiba cantar ou embromar uma música ou outra. Mas enquanto os números apontam para uma direção, o meu gosto pessoal, amparado na influência que eu sei que esse álbum exerceu, aponta para outra. Rocks (1976) levou o rock do Aerosmith ao status de platina, fazendo a banda emplacar um disco após o outro nas paradas. Canções como "Back in the Saddle" e "Last Child" são referências do momento que a música dos EUA vivia e apresentam alguns elementos que dissociaram o Aerosmith do rótulo nefasto de "Rolling Stones dos pobres". Pense nas camadas de vocais sobrepostos, lideradas por um Steven Tyler ainda fresco, recém-saído do forno e sem tanta droga na veia, nos riffs de guitarra chupados de um velho mestre do blues e na sintonia que mantém o quinteto junto — às vezes aos trancos e barrancos — há tanto tempo. Rocks é muito mais do que um álbum clássico e campeão de vendas: é um guia de estilo para praticamente tudo que veio na cola de seu lançamento em termos de hard rock. (por Marcelo Vieira)


Por Ricardo Seelig, Marcelo Vieira, Rodrigo Carvalho e Thiago Cardim

Comentários

  1. Esse hatebreed perde tranquilo para os 3 anteriores na minha opinião

    ResponderExcluir
  2. Do Project 46 vocês não falam, né? Isso que é apoiar o Metal Brasileiro...

    ResponderExcluir
  3. Kai, em primeiro lugar, não estamos aqui para apoiar o metal brasileiro.

    Em segundo, falamos sobre o Project46 nessa matéria de janeiro de 2012. Ou seja, conhecemos a banda há bastante tempo e sabemos da sua qualidade.

    ResponderExcluir
  4. Muito legal o texto !
    Sobre o Whitesnake prefiro a sonoridade deles nos anos 70...indicaria o live in the heart of the city ... mas não refletiria a proposta atual da banda...

    ResponderExcluir
  5. Pra mim é um line up pavoroso.

    Mas pra quem curte, boa sorte e que seja um bom show. Tomara que tudo de errado que teve no show Ghost/Slayer/Iron seja evitado. Pq passei muita raiva nesse Anhembi.

    ResponderExcluir
  6. Em relação aos discos discordo de alguns que são recomendados.

    os discos que eu recomendaria são:

    Whitesnake - Ready An' Willing
    Ratt - Detonator
    Buckcherry - 15

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.