Pearl Jam: crítica de Lightning Bolt (2013)

Vamos, de uma vez por todas, deixar as camisas de flanela de lado. Sério. Os caras do Pearl Jam envelheceram, como era de se esperar, e seu som amadureceu. Convivam com isso. O grunge ficou para trás – até porque, sejamos honestos, se eles continuassem insistindo neste tipo de sonoridade, existia uma chance imensa de soar falso, forçado, artificial. Lightning Bolt, o 10º álbum de estúdio da trupe de Eddie Vedder, não é um disco grunge - mas sim um disco de rock. Não é violento, angustiante, urgente. Mas ainda assim é forte, vibrante, intenso, envolvente. Estamos falando de um disco com ares de rock de arena, musculoso e vigoroso, que não tem qualquer medo de experimentar, de flertar, de curtir, sem o patrulhamento, sem as cobranças, sem a necessidade de gritaria e cabelos arrancados. Livre para ser apenas e tão somente rock – o que, no caso do Pearl Jam, já é bastante.

Os fãs mais radicais, aqueles que acompanham a trajetória do quinteto desde os primórdios, não precisam arrancar os agora rarefeitos cabelos. Vou arriscar aqui uma comparação perigosa mas que, na minha cabeça, faz sentido. Ao abrir o disco com "Getaway", já vemos nitidamente que este é um Pearl Jam muito mais Foo Fighters do que Nirvana. Uma banda que ainda tem poderio e calibre para vibrar de maneira punk como em "Mind Your Manners", o impressionante primeiro single, ou para mostrar intensidade suficiente para chacoalhar os incautos esqueletos roqueiros, como na faixa-título. Mas que também se encontra suficientemente confortável para rasgar o coração em uma power ballad como "Sirens".

Na gostosa "Let the Records Play", a cadência do baixo de Ament consegue dar uma ambientação quase blues à canção, enquanto a semi-acústica "Sleeping by Myself" conversa com a mais pura música country de raiz dos EUA. Quer mais? Em "Infallible", a banda encarna praticamente os veteranos do The Who, uma de suas grandes referências, mas numa versão longe de soar datada ou apenas reverente, mas sim moderna e dinâmica. De longe, uma das melhores músicas do disco – e também uma das mais grudentas, leia-se. Para encerrar os trabalhos, eles entregam "Future Days", talvez a canção menos típica da banda neste álbum, uma balada delicada, com um sutil dedilhado de violão, que tem uma leve referência de southern rock. O resultado é lindo, simplesmente de arrepiar.

O céu se abriu em Seattle. Ainda é possível ver os raios reluzindo, assim como ainda é possível escutar ao longe o ressoar de alguns trovões. Mas agora também é possível sentar no jardim, com uma lata de cerveja do lado, para curtir os raios de sol do entardecer rasgando por entre as nuvens. Como eu disse antes, este é o Pearl Jam de 2013. Convivam com isso.

Nota 8
Faixas:
1. Getaway
2. Mind Your Manners
3. My Father's Son
4. Sirens
5. Lightning Bolt
6. Infallible
7. Pendulum
8. Swallowed Whole
9. Let the Records Play
10. Sleeping by Myself
11. Yellow Moon
12. Future Days


Por Thiago Cardim

Comentários

  1. Ainda prefiro o som visceral dos dois primeiros discos...

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  2. Não acho que amadureceram. Acho exatamente o contrário: continuam no mesmo lugar, sempre!

    Pearl Jam, pra mim, entrou naquela fase COVER DE SI MESMO, tipo Ramones, ACDC. Uma coisa é ter estilo e ser fiel a ele. Outra é sempre lançar a mesma música com letra diferente.

    O grande problema do Pearl Jam: são escravos do Brendan O'brien, que virou a muleta da banda. Eles não conseguem mais fazer música sem estar com ele. E também não efetivam o cara como membro da banda. Hehe

    Se é pra repetir pra sempre, saiam da vibe do VS e Vitology (do Brendan) e repitam o Ten (Rick Parashar). Saiam do grunge e façam surf rock.

    Agora, continua uma superbanda, pra mim.

    Se tiver show, eu recomendo: vá! Não perca. Melhor coisa que há.
    Se tiver disco novo, eu te digo: cover de si mesmo, não perca seu tempo.

    Pearl Jam = 8/10 dos discos dele é na mão do Brendan O'brien (80%)

    Stone Temple Pilots = 5/6 discos (83%)

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  3. De qualquer forma, obrigado pela resenha.

    Tenho mais paciência pra escutar o que um fan ou resenhista do Pearl Jam tem a dizer sobre a banda do que a própria banda dizendo sobre si (ainda mais com o Brendan), pois já sei esse discurso deles de cor e salteado.

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  4. Pearl Jam sempre vindo com um trabalho de extrema qualidade.

    Apesar de preferir o ''Ten'' & o ''Vs'' (pra mim os melhores da banda) esse disco de fato é um som digamos com um toque grande da ''experiência'' que eles adquiriram com o tempo.

    Na minha opinião Muito bom disco.

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  5. Já tinha me surpreendido com o Backspacer, tanto que comprei até em vinil e gostei muito desse.

    Acho ótimo eles não ficarem olhando para trás na hora de gravar, parece que o negócio é "vamos fazer um rock?", e é o que eles entregam, sem pressão de ninguém, gostou? legal!, não gostou? então vai escutar o Ten.

    Acho que é essa a proposta, um bom disco de rock e um dos melhores shows de rock. Parece fácil, mas poucas bandas entregam este pacote atualmente, ainda mais por 22 anos.

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  6. Texto muito bem escrito, mas não concordo com quase nada dele. Pra mim o Pearl Jam entrou no piloto-automático desde de o "disco do abacate". Quando comecei a ouvir esse novo disco, fiquei surpreso. As três primeiras músicas são excelentes. "Mind Your Manners" é uma das melhores músicas que ouvi em 2013. Mas de "Sirens" em diante o disco começa a ficar pobre em criatividade. Só "Lightning Bolt" e "Let The Records Play" se salvam. O resto parece um amontoado de sobras de estúdio que vêm se acumulando desde 2006.

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  7. Apesar de gostar muito do Ten, essa banda não acrescenta nada para mim. Pode ser uma grande banda, famosa e bla bla bla, mas suas músicas sempre soam a mesma coia. Eles nunca saíram e nunca sairão do lugar. O Ten foi o único ponto forte da banda. Morreram ali. Até fizeram outras musiquinhas boas em outros álbuns, mas nada de diferente.

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  8. Segue aqui um trecho de outro comentário que fiz no album do TTB onde mencionei sua crítica,Thiago, sobre esse album.

    É até engraçado Thiago dizer algo do tipo: "O grunge ficou para trás – até porque, sejamos honestos, se eles continuassem insistindo neste tipo de sonoridade, existia uma chance imensa de soar falso, forçado, artificial." Bom os caras foram um dos precursores do estilo, o que de mal haveria em soar grunge?

    E prossegue com isso: "Uma banda que ainda tem poderio e calibre para vibrar de maneira punk como em "Mind Your Manners"... Ok, soar grunge não pode, coisa antiga, mais soar/lembrar punk é lindo? Ok Ok Ok... CONVIVA COM ISSO, THIAGO.

    O que importa é que é um bom album de rock e tem a véia do PJ. Fazer o que, é a própria banda. Simples assim.

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  9. Cover de si mesmo!!!!Foi a coisa mais idiota que ja houvi sobre o Pearl Jam.O disco é bom mas Backspacer e sensacional, nao tem nada a ver com o TEN e nem me da saudades dele apesar de gostar muito ddsse primeiro tambem. O mais surpreendente do Pearl Jam é apos 20 anos de carreira não conseguir soar comercial, impressionante!! Não parem caras, vcs são bons demais.

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  10. Caras, eu acho muito sinistro isso. O cara não gosta da banda, pára pra ler uma critica do ultimo album dela e faz um comentario dizendo que a banda é merda mesmo com o extraterrestre Eddie Veder no vocal, chega a ser engraçado pra mim porque eu jamais faria isso, se eu não gosto de uma banda, ponto final, ela pra la e eu pra cá, simples.Nao nao, vou tentar fazer isso, não gosto do Slayer, vou esperar sair o proximo disco.

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  11. O disco recebeu uma ótima nota, 8. A opinião do autor está exteriorizada na crítica, bem como os seus argumentos para chegar a ela. Não há nada de errado no texto, é apenas uma opinião diferente da sua, Rveder. Agora, classificar isso como sendo "idiota" e "sinistro" é um exagero de sua parte. Ah, e em nenhum momento está escrito na crítica que a banda é uma m ...

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  12. Mas o meu comentario não é sobre o texto Ricardo Seeling,inclusive eu gostei tambem,meu comentario é sobre os outros comentarios que estao aqui,reveja. Ass: Rveder

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  13. Rveder, ok, mas o texto continua valendo: não é por uma opinião não ser igual a sua que ela é idiota ou sinistra.

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  14. Nao te entendi Ricardo. E eu acho que vc nao me entendeu tambem!!!!

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