Há anos consolidado como principal local para shows underground em Goiânia, o Martim Cererê ficou quase 20 meses interditado para reforma. Reinaugurado na reta final de outubro, foi só na última sexta-feira, 29 de novembro, que o espaço voltou a receber um festival de metal. Coube ao Burn In Hell, organizado pelo selo/produtora A Construtora, de Fabrício Nobre, dissidente da Monstro Discos, reintroduzir o gênero ao centro cultural, fundado em 1988.
Para tanto, o festival apostou no Test (SP), que, apesar do pouco tempo de estrada, já figura entre os principais expoentes do grindcore nacional e é uma das bandas mais ativas/engajadas do subterrâneo paulista. Completaram o cast o Uganga (MG), além de três nomes locais: Ressonância Mórfica, Gomorrah in Blood e Aurora Rules.
Só que quem conhece pelo menos por alto a cena metal goiana sabia desde o início que tinha tudo para ser um fiasco. E, na verdade, realmente quase foi. Quem compareceu ao Martim Cererê viu o local praticamente deserto. A chuva que caiu na cidade desde o fim da tarde atrapalhou um pouco, mas não foi preponderante para o baixíssimo número de pagantes. Muito menos o valor do ingresso - R$ 15 -, absolutamente plausível. O fato é que o evento não tinha em si tanto apelo e poderia tranquilamente ter sido realizado em uma casa menor, que o comportaria de forma mais aconchegante e com mais calor. Além disso, havia um abismo entre as bandas. Tanto no que se refere aos estilos, quanto ao nível de cada apresentação.
Pluralidade de gêneros é algo bacana e até natural em festivais. Desde que haja qualidade. Aurora Rules e Gomorrah In Blood são sofríveis. A primeira só não é pior do que show cover. A segunda se diz thrash metal, mas passa longe e apenas replica o que de pior o Pantera fez. Pouco conhecido em Goiânia, o Uganga passou batido. Nem parece que a banda tem 20 anos. Até porque a melhor coisa que Manu 'Joker' fez continua sendo ter estado no Sarcófago na época do Rotting (1989). Teve gente que nem entrou no teatro Yguá nos três primeiros shows.
O que salvou a noite foram Ressonância Mórfica e Test. O som, como de praxe em shows no Martim, esteve bom durante todo o festival, e os manauaras, radicados em Goiânia desde 2000, souberam tirar proveito disso muito bem. Guitarra no timbre certo, baixo e bateria marcantes e vocal totalmente audível fizeram da apresentação algo contundente.
Se em algum momento a resposta do público foi fria, não foi por culpa da banda, que começou inovando em seu setlist e tocou a intro de Under The Sun, presente no melhor disco do Black Sabbath: Vol. 4 (1972). Depois, desfilou uma mescla de músicas do álbum Agregados Onímodos Malditos (2005) com outras que estarão no próximo trabalho, em processo de gravação. Destaque para "Mosaico da Extinção", "Banzeiro Nocivo" e o cover de "Unchallenged Hate", do Napalm Death. Antes do fim, claro, "Plutocracia" se fez presente quebrando o protocolo e com o palco tomado pelos que subiram para cantar tal hino com a banda no que foi o ápice do show.
O Test deu sequência ao caos, sendo que, ao vivo, o duo João Kombi (guitarra/vocal) e Thiago Barata (bateria) se transforma em um exército (otomano) de dois homens. Apesar da sinfonia macabra que brota do amplificador, é impossível não voltar olhos e ouvidos exclusivamente para o kit do artrópode que o massacra sem dó em um turbilhão de blast beats na velocidade da luz, viradas insanas e muita precisão. Barata não é humano. Não pode ser.
Foi a segunda passagem do Test por Goiânia em 2013. Em março, a dupla já havia abalado a estrutura da Hocus Pocus. Agora, o fizeram com o Martim Cererê e quase o interditaram para nova reforma. Brincadeiras à parte, é interessante ver os caras em um local fechado. Apesar de perder um pouco do charme em relação aos shows que fazem em ruas/calçadas plugando tudo em uma kombi, a apresentação ganha em qualidade sonora - o vídeo abaixo é meramente ilustrativo e não reflete em nada quão intenso e cristalino esteve o som.
Quando o pirulito do pedal pisoteado por Barata se chocou com a castigada pele do bumbo pela última vez, o Burn In Hell estava acabado. Um festival que tropeçou no começo, mas que se ajeitou no fim e foi salvo pelos dois ótimos shows que o encerraram. Normal por ser a primeira edição? Não. Mas que venham as próximas, sobretudo com um cast mais regular.
Setlist
Ressonância Mórfica: intro "Under the Sun (Sabbath)", "Satélite Escafandrado", "Dergo Death Grind", "Mosaico da Extinção", "Cunnilingus", "Cacofagia", "Banzeiro Nocivo", "Unchallenged Hate (Napalm), "O Amor", "Teratismo", "Praga Umbrática", "Plutocracia" e "MNP"
Test: riffs e blast beats
Texto, fotos e vídeos por Guilherme Gonçalves
Só pra constar, já vi um entrevista do Barata, e ele mesmo disse não usar e não saber usar o dito pedal duplo, sim, tudo que ele faz é com pedal simples.
ResponderExcluirTest é aula de fazer muito com pouco. essas bandas novas goianas são fazer pouco com muito. heheheh.
ResponderExcluirPois é, Unknown!
ResponderExcluirEle também acabou de me dar esse toque pelo Facebook. Tudo com pedal simples. Poxa, mais animal ainda!
Já corrigi!
Valeu!