Tedeschi Trucks Band: crítica de Made Up Mind (2013)

Superar o dito teste do segundo disco foi das tarefas mais fáceis para a Tedeschi Trucks Band. Basta ouvir as primeiras notas de "Made Up Mind", canção que abre e dá nome ao novo álbum, para rapidamente perceber que o duo Derek Trucks e Susan Tedeschi é realmente iluminado. Tão iluminado a ponto de, em apenas dois anos, retornar com um trabalho estupendo e igualmente genial à estreia com Revelator (2011).

Se alguém tinha dúvida de que o casal conseguiria manter o elevado nível em sua nova incursão, pode se preparar para vê-la sendo dissipada ao longo de onze belas canções que mostram uma mistura única de blues, soul, southern rock, jazz, country e generosas doses de pop. Apontar se
Made Up Mind é superior ou inferior a Revelator é, basicamente, um exercício de puro gosto pessoal. De concreto, fica o fato de que ele é tão rico e encantador quanto o antecessor.


O que é plausível de análise e se apresenta bastante nítido é que Made Up Mind é bem mais ganchudo. Mais cativante no sentido de ir direto ao ponto e ser um tanto quanto fácil de digerir. As músicas são mais simples e fisgam de imediato. Não que a veia experimental e jazzística de Revelator tenha sido limada, abandonada. Ela apenas não é mais o ponto central da música idealizada pela Tedeschi Trucks em estúdio. Jams e longas improvisações são guardadas para o palco, como no ao vivo Everybody's Talking' (2012). Uma decisão acertada e que abre caminho para a banda ser alçada ao mainstream a qualquer momento.

Como supracitado, "Made Up Mind" abre o homônimo disco com a energia lá em cima. Simples, direta e, sobretudo, animada. O jogo já começa ganho. É uma espécie de "Bound For Glory" do novo trabalho. Aliás, essa correlação entre as músicas dos dois albuns acontece em diversos momentos. Alguns exemplos são: "Idle Wind" e sua proximidade com "Midnight in Harlem", a melancolia de "It's so Heavy", já vista anteriormente em "Simple Things", o peso e a guitarra incendiária em "Whiskey Legs", quase idêntica a "Learn How To Love", dentre outros. Não que a banda esteja tão somente se repetindo. Tem muito mais a ver com a identidade que se criou. Marcas que remetem ao próprio som.


"Do I Look Worried", a segunda do tracklist, lembra "Don't Let Me Slide", mas se destaca mesmo é por escancarar toda a beleza da guitarra de Derek Trucks, que apresenta com destreza o que talvez seja seu melhor solo no disco. Simplesmente acachapante. Falar da qualidade de Derek é chover no molhado, mas necessário. Ainda com apenas 34 anos, o guitarrista, além de ser o principal nome de sua geração, caminha a passos largos para figurar entre os grandes do instrumento em todos os tempos. Mais alguns trabalhos nesse mesmo ritmo, e isso estará consumado. Derek é a prova viva da força do legado de Duane Allman.


"Misunderstood" possui um groove matador. Mais soul sulista impossível. "Part of Me" retoma o clima ensolarado e é a mais dançante do disco. Bastante próxima do que o Alabama Shakes fez em
Boys and Girls (2012), é a faixa certa para você apresentar a banda para aquela garota que há tempos quer conquistar. James Brown ficaria lisonjeado. "All That I Need" tem o melhor refrão do álbum, bem como o poder de salvar um dia que esteja péssimo. É a síntese do som da Tedeschi Trucks Band: alegria, vento no rosto e a sensação de estar vivo.


Porém, não se pode falar de Derek Trucks e Susan Tedeschi sem mencionar o combo de nove músicos que os acompanha desde o início dessa trajetória retumbante. Instrumentistas de alto quilate, que fazem a cama para que o casal sobressaia. Seja nos teclados, nos backing vocals ou no naipe de metais. Escolhendo apenas uma das onze canções para exemplificar a concretização desse processo, não resta dúvidas de que a mais apropriada é "Idle Wind", dona de flautas em profusão e um excelente trabalho de arranjos.


A cereja do bolo fica com a voz de Susan e sua interpretação, verdadeiro show à parte. Tudo é belo em
Made Up Mind, mas nada se compara ao encanto da americana de 43 anos. Lançado em 19 de agosto, o disco se encerra com a singela "Calling Out To You", que comprova a excelência da cantora em uma música bucólica à la "Over The Hills and Far Way", do Led zeppelin. Convenhamos, não dava para o desfecho ser melhor. Vida longa ao casal e sua trupe.


Nota: 9,5




Faixas


1 Made Up Mind 3:53

2 Do I Look Worried 4:33
3 Idle Wind 5:10
4 Misunderstood 5:41
5 Part of Me 4:06
6 Whiskey Legs 4:04
7 It's So Heavy 4:56
8 All That I Need 5:11
9 Sweet And Low 5:02
10 The Storm 6:34
11 Calling Out To You 3:46

Por
Guilherme Gonçalves

Comentários

  1. Esperava mais experimentação da banda neste disco, depois de uma grande turnê e de um belíssimo disco ao vivo, mas seguiram o caminho oposto e simplificaram muitas as coisas.
    Não que isso seja ruim, uma vez que as canções funcionam. A questão é que são muitos músicos excelentes relegados a coadjuvantes do casal, caso do Mike Mattison, que possui um timbre de voz muito interessante, e sumiu no disco. Derek e Susan se destacam naturalmente, mas a proposta que me encanta na banda é justamente ser um combo musical, com espaço para todos extrapolarem os limites das canções.

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  2. Bons demais.
    Uma pena eu ter me embananado todo no SWU e não tê-los visto (chocava com Chris Cornell, eu acho).
    Conheci por citarem eles no lineup do festival. O Myiavi também.

    Eu gostei muito desse disco.
    E essa capa ... épica!

    Depois, faz uma resenha da volta do Boston ("Life, Love & Hope"), Sting ("last ship"), Fleetwood Mac, Black Flag com 10 anos sem gravar.

    E o atual do Buddy Guy ("Rhythm and Blues"). Um moleque citou aqui no CR e eu pirei nesse disco. As pessoas têm que escutar isso. Tlz, não saibam que saiu.

    Por favor.

    No mais, valeu pela resenha. Muito bom ver um disco legal registrado com resenha pra outras pessoas ouvirem. Na net é tudo tão rápido que vc fica sem referência do que escutar e precisa achar uma comu pra pegar um norte. CR faz muito bem isso.

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  3. Corroboro os comentários do Yo, acerca do importante papel que o Collector's Room representa na minha vida musical atualmente.

    Graças ao site, estou me divertindo muito aqui ouvindo Audrey Horne e The Temperance Movement.

    E na minha modesta opinião, esse novo do Tedeschi Trucks Band é um dos cinco melhores álbuns do ano.

    Abraços e obrigado!

    Vinícius.

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  4. Antes de tudo preciso dizer que acho a ideia da CR de apresentar as listas que saem por aí muito boa. Dá pra dar uma boa garimpada com elas. Muito legal isso!

    A música é tão subjetiva para cada pessoa que não há quase mesmas opiniões sobre mesmos trabalhos das bandas. Apesar de tudo girar em torno de gostar ou não.

    Eu concordo com o que Guilherme Golçalves quando disse sobre como a TTB soa neste album:"É algo que tem muito mais a ver com a identidade que se criou. Marcas que remetem ao próprio som".

    Acho esse argumento muito válido e estendo para outras bandas. Como no caso do Pearl Jam novo. Não sei qual foi o ranço do Thiago quando escreveu a resenha em relação às mudanças ou não da banda.

    É até engraçado Thiago dizer algo do tipo: "O grunge ficou para trás – até porque, sejamos honestos, se eles continuassem insistindo neste tipo de sonoridade, existia uma chance imensa de soar falso, forçado, artificial." Bom os caras foram um dos precursores do estilo, o que de mal haveria em soar grunge?

    E prossegue com isso: "Uma banda que ainda tem poderio e calibre para vibrar de maneira punk como em "Mind Your Manners"... Ok, soar grunge não pode, coisa antiga, mais soar/lembrar punk é lindo? Ok Ok Ok... CONVIVA COM ISSO, THIAGO.

    No caso da TTB é tudo muito simples: isso é música americana em estado bruto! E é belo e maravilhoso! Quem quer experimentações, evoluções, e coisas do tipo, procure em outras bandas e estilos. É demasiado cabeça dura fazer isso comm uma banda que tem e quer fazer um som mais tradicional.

    Resumindo:

    Cada banda a sua maneira. Ouça os albums. Não gostou? Quer evolução? Quer ouvir a mesma coisa? Ouça outras bandas ou as mesmas. Não há mal nenhum em ACDC, nem em Motorhead, nem em Iron Maiden e nem em artistas que sempre "evoluem" ou mudam de direção. Não faço defesa de banda alguma. E se bandas soam parecidas com elas mesmas, ótimo, eles criaram aquilo e tem um estilo. Coisa que muita banda escrota por aí não tem e os copia para tentar se destacar.

    O que importa é se essa música lhe agrada caros amigos. O resto, é pura balela...

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  5. Ae CR, até que enfim!
    Esse disco, para mim, bate o primeiro. Como comentado na crítica, ele tem mais gancho.
    Esse é top 10 garantido rs.

    Parabéns pelo texto, Guilherme Gonçalves. Muito bem escrito.

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  6. Fica a expectativa de que o disco saia aqui, uma vez que tanto o Revelator quanto o Everybody's Talkin' tiveram surpreendentes edições nacionais pela Sony/BMG.

    Nada mal seria uma nova visita por estas terras, pois o show no SWU foi espetacular. Na época mal pude acreditar que os caras estavam trazendo a banda (na primeira turnê deles!!) para o Brasil. Precisamos de mais produtores com esse nível de ousadia ...


    Quanto ao que o YO disse, o show deles não bateu com o horário de ninguém. O problema foi que caiu uma chuva considerável no palco que o Ultraje iria tocar, então trocaram de horário com a TTB que estava com o palco OK.

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  7. Também estou com muita expectativa de que a banda volte ao Brasil! Estive no SWU quando tocaram lá, mas naquela época não conhecia a banda.

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  8. Essa banda é absurda de boa mesmo, nem tem o que falar mais.

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  9. Pra mim esse é bem melhor que o primeiro.

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  10. Não tem um trabalho do Derek que eu não goste. Ele tem um feeling absurdamente surpreendente.
    Quanto ao disco, gostei mais desse do que o primeiro, mas como o autor bem disse, vai do gosto, pois ambos são bons. Ta no meu top 10 de 2013!

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