2013 foi um ano que recebeu uma das mais absurdas enxurradas
de lançamentos musicais por dia. A quantidade de novos álbuns, de grupos
clássicos ou de nomes emergentes, independentemente da vertente, segue a
tendência positiva dos últimos anos e soma um tempo muito maior do que o
disponível para que conseguíssemos ouvir todos (ou parte deles). E as listas de
fim de ano, extremamente dinâmicas e variáveis como pudemos ver nas compilações
aqui da Collectors Room, comprovam mais uma vez como muitas bandas têm lançado
material de qualidade: afinal de contas, foram centenas de álbuns citados.
Outro fator a ser considerado é como os novos
conjuntos têm encontrado cada vez mais “facilidade” para produzir e lançar o
seu material, seja de forma independente ou com o apoio de gravadoras menores.
Com isso, muitas bandas conseguem colocar no mercado (em seu sentido mais amplo
possível) seus álbuns sem depender de inúmeros fatores que possam atravancar o
caminho, para o bem ou para o mal (claro, há muita mediocridade por aí).
Isso nos leva a mais uma seleção para As Novas Caras do
Metal, desta vez focando em bandas que lançaram seus discos de estreia durante
o ano de 2013 (e ok, algumas talvez não sejam exatamente heavy metal):
Beastmilk
A agitação causada pelo disco de estreia do quarteto finlandês
Beastmilk em 2013 foi algo semelhante ao ocorrido quando o mundo foi agraciado
com o debut do Kvelertak, em um longínquo 2010. O motivo? Talvez o envolvimento
de Kurt Ballou como produtor de mais uma banda europeia. Porém, a proposta do
novo projeto do inglês Kvohst (que também lidera a finlandesa Hexvessel) segue
caminhos completamente diferentes, influenciado por bandas como The Cure, Joy
Division e Killing Joke, mas envolvidas por uma névoa muito mais sombria e
perturbada. Climax foi lançado pela Svart Records/Magic Bullet em novembro,
talvez um pouco tarde demais.
Bosnian Rainbows
A dissolução do The Mars Volta talvez tenha sido uma das
piores perdas musicais de 2012. Apesar de terem passado os últimos anos como
uma construção prestes a desmoronar, Noctourniquet mostrava que Omar
Rodriguez-Lopez e Cedric Bixler-Zavala ainda não haviam esgotado suas
inspirações. Mas o que está feito, está feito, e enquanto Cedric montou um novo
projeto chamado Zavala, Omar finalmente estabeleceu uma nova banda (depois do
surto paranóico de lançar um disco por semana – ou quase isso), batizada de
Bosnian Rainbows. A musicalidade mais direta contida aqui, porém, não levantou
barreiras para que o quarteto trouxesse a mesma veia experimental, buscando
referências na música latina, no progressivo e até no krautrock, sempre
devidamente interpretada pela diferenciada voz de Teri Gender Bender. Não é um
novo The Mars Volta, mas é tão bom quanto, ao seu modo.
Dangerkids
Algumas pessoas ainda podem pensar no Linkin Park como uma
“bandinha nova”. Mas a realidade é que o grupo já está beirando as duas décadas
de atividade e, vejam só, influenciando uma nova geração de bandas americanas.
E o Dangerkids, quinteto de Ohio, é uma das que mais prestam reverência de
forma direta aos californianos, adaptando aquele nu metal cheio de versos do
início dos anos 2000 ao post hardcore com profundas tendências eletrônicas, que
predomina atualmente nos EUA. Em resumo, imagine uma combinação entre o We Came
As Romans com o Linkin Park, e você tem a música apresentada no álbum
Collapse (pela Rise Records).
Helium Horse Fly
Experimentos desenfreados são o ponto-chave na música desse
grupo belga, o elo de ligação que faz com que cada uma das faixas em seu álbum
auto-intitulado seja uma experiência intrigante por si só. De noise rock a
hardcore, passando por jazz e metal progressivo, o quarteto formado por Marie
Billy, Stéphane Dupont, Dimitri Iannello e Bastien Dupont traz um híbrido que
parece saído de algum teatro decadente e de péssima índole no subúrbio do
século XVII. Helium Horse Fly é uma banda recomendadíssima àqueles que não se
sentem repelidos por uma música que desafia constantemente o ouvinte de forma
inesperada (a começar pela capa assustadora).
Lord Dying
Mais uma imundíce apresentada ao mundo pela Relapse Records,
o Lord Dying vem da verdejante Portland com uma sonoridade muito próxima
daquele stoner sludge das bandas originárias da distante Georgia. Ou seja, pode
esperar em Summon the Faithless quase quarenta minutos de algo toscamente
produzido, embriagado e chafurdando nos mais enlameados riffs berrados
insanamente, que se não são exatamente primores em originalidade, não ficam nem
um pouco atrás da qualidade apresentada por nomes já estabelecidos, como
Kylesa, Black Tusk e Mastodon.
Lovijatar
O Lovijatar pode facilmente ser considerado mais uma
personificação da tradição poética finlandesa com heavy metal. Com letras em
seu próprio idioma, o projeto foi iniciado por Jussi Rautio (Battlelore) e
Tommi Vaittinen (Elephant Bell) com o objetivo de resgatar mais uma vez as
lendas compiladas na Kalevala e combiná-las com as influências de stoner e folk
que os músicos carregam. Tanto as faixas apresentadas em seu EP Hämärän
Kulkija quanto em Pimeän Tuoja (ambos de 2013) podem ser imaginadas como uma
jam descompromissada entre Amorphis e Finntroll ao redor de uma fogueira depois
de ambos terem bebido quantidades exorbitantes de sima.
Miserium
Com origem não muito distinta em relação a outras bandas de
metal progressivo, o Miserium foi formado por estudantes da Liszt Academy of
Music, na Hungria, e, apesar de ter sido concebido como ideia em 2003, foi
apenas em janeiro do ano passado que seu primeiro trabalho, Return to Grace,
finalmente viu a luz do dia. Prioritariamente, o grupo pode ser classificado
como algum tipo de extreme prog metal, mas seria injustiça desconsiderarmos
todas as nuances e elementos nas 14 faixas do álbum, que mantém a coerência
mesmo ao abranger influências de melodeath, technical death metal e música
clássica, unida por uma esquisitíssima atmosfera que traz outra centelha de
vida a um estilo em declínio.
Noala
Com trajetória semelhante ao próprio som, o Noala
desenvolveu a sua identidade lentamente ao longo de quatro anos de ensaios,
apresentações e experimentos sonoros, culminando em sua estreia batizada de
Humo. Com base no underground paulistano, o quinteto é comumente comparado ao
Godflesh e ao Neurosis, em uma reencarnação que não se limita às suas
influências dentro do post-metal e suas variações, e não teme as
possibilidades. Com agressivas tendências semi-instrumentais, aonde os vocais
agonizantes preenchem apenas esparsas lacunas em meio às camadas de caos, as
estrutura das faixas fazem justiça ao nome do trabalho, como um processo
vagaroso e desesperador de decomposição da própria música em si.
Seeds of Iblis
Enquanto o Ghost mantém-se anônimo como parte da sua
proposta teatral, o grupo iraquiano Seeds of Iblis faz disso algo, no mínimo,
necessário. Afinal de contas, em teoria, eles fazem parte de um conjunto de
bandas do Oriente Médio (ao lado de Jananza, Mosque of Satan, False Allah
e تدنيس ) que pregam contra
o islamismo, denominado Arabic Anti-Islamic Legion. Simplesmente em teoria,
pois a real identidade de qualquer um de seus integrantes nunca foi divulgada,
assim como qualquer informação relacionada ao Seeds of Iblis pode ser de fato
confirmada (justificável se considerarmos as circunstâncias – muito mais sérias
atualmente do que alguns nórdicos queimando igrejas). O seu primeiro trabalho,
Anti Quran Rituals, foi lançado pela Ummerciful Death Productions, e assim como
os EPs anteriores (Jihad Against Islam, de 2011, e The Black Quran, de 2013),
apresenta um black metal em suas manifestações mais cruas, combinado com
músicas e rituais orientais tradicionais. Intrigante.
Vattnet Viskar
Nos últimos anos, o black metal tem se mostrado um estilo em
ascensão nos Estados Unidos (provavelmente seguindo a onda da popularização de
músicas cada vez mais extremas por lá), mas de uma forma diferente se
considerarmos as propostas das bandas atuais, como o Wolves in the Throne Room,
Nachtmystium, Abigail Williams, Leviathan e, agora, o Vattnet Viskar, que
estreou de forma respeitosa com Sky Swallower, já pela Century Media. As
composições do grupo de New Hampshire seguem aquela linha de pensamento que
alterna entre o mais caótico metal extremo que se assemelha a uma colmeia
enfurecida com momentos de pura contemplação e tranquilidade. Algo entre o Fen
e o Enslaved, que lembra razoavelmente certo disco de capa rosa que muita gente
gostou em 2013.
Por Rodrigo Carvalho
Acabei de ouvir algumas músicas no Deezer aqui. Helium Horse Fly e Miserium são SENSACIONAIS!!!
ResponderExcluirAltamente recomendado pra quem curte metal progressivo!
Valeu pelas indicações Collector's!!!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostei das bandas apresentadas, as que me chamaram atenção foram Bosnian Rainbows,Helium Horse Fly, Miserium, Lord Dying, VATTNET VISKAR e Dangerkids.
ResponderExcluirRodrigo Carvalho, em uma futura recomendação você poderia escalar uma banda chamada Hacktivist, eu estou de olho nessa banda, faz um som meshuggiano com Rap, até agora lançaram um EP, esse ano prometeram um full, estou de olho.
ResponderExcluirBento, o Hacktivist é realmente uma das mais interessantes bandas dessa leva djent!
ResponderExcluirAchei até que rolaria o disco deles em 2013, mas apenas relançaram o EP com algumas coisas a mais.
Ficamos no aguardo!