Crítica do livro This is a Call: a vida e a música de Dave Grohl, dePaul Brannigan


Se você der de cara com este livro por aí, saiba que está diante de uma das melhores biografias de astros do rock disponíveis no mercado. A relação de cumplicidade entre biógrafo e biografado permitiu a Paul Brannigan escrever — pegando emprestadas as palavras da quarta capa da edição brasileira lançada pela Leya — “um relato sem paralelos, íntimo e extraordinário da vida de Dave Grohl”

Brannigan conheceu Grohl em 1997 e, desde então, o jornalista, que já foi editor da Kerrang!, tem se mantido por dentro da vida do líder do Foo Fighters. Como repórter das revistas Q e Mojo, entrevistou Grohl em inúmeras oportunidades e testemunhou, entre outras coisas, as sessões de gravação de Wasting Light, o mais recente álbum do Foo Fighters — e o melhor já lançado pela banda até hoje, certo? 

Mas This is a Call: a vida e a música de Dave Grohl começa muito antes da segunda metade dos anos 1990, quando o Foo Fighters começou sua escalada rumo ao topo das paradas de todo o mundo. A narrativa de Brannigan tem início com a chegada dos antepassados de Grohl — os Grohol — à América e como se estabeleceram no novo país. A abordagem da infância de Dave, de como este descobriu o rock, arranhou os primeiros acordes no violão e formou suas primeiras bandas levará muita gente de volta no tempo, afinal, sua história nesse aspecto é bem parecida com a de muitos de nós todos. 

A juventude de Grohl em meio a efervescente cena punk underground do início dos anos 1980 é traçada em paralelo a uma breve história do hardcore americano. Dave fez parte daquilo, testemunhou ascensão e queda de bandas, hoje em dia, lendárias, como Bad Brains e Minor Threat. Esteve presente em concertos históricos, teve lá seu envolvimento com drogas e fez parte do infame grupo Scream, de onde seria fisgado para o que parecia ser o emprego dos sonhos para qualquer baterista que vendia o almoço para comprar a janta. 

Quase um terço do livro é sobre o Nirvana. Para quem busca um texto sem a idolatria que costuma assolar praticamente tudo que envolve o grupo e, em especial, a figura de Kurt Cobain, os capítulos de 5 a 8 — todos nomeados a partir de músicas do Nirvana — garantem horas de leitura ininterrupta. Viúvas de Cobain têm tudo para odiar este pedaço, visto que Brannigan não mede palavras ao afirmar que Kurt forjava a própria história e ajudou a edificar o mito construído em torno de si. O vício em drogas e a relação doentia com Courtney Love — e como esta teve papel principal no início do fim da banda — também figuram no que são as melhores páginas do livro. 

A partir daí, This is a Call assume o papel de complemento impresso do excelente Back and Forth, com Brannigan aprofundando, com o know-how típico de um profissional calejado, todos os assuntos pautados por Dave e os (muitos) outros no documentário. Ao término das mais de 500 páginas, um encarte colorido com imagens que ilustram algumas das principais passagens do livro. Algumas não deixam dúvidas quanto à fama de gente fina de Grohl. 

Obviamente, como acontece em toda biografia, nem todas as lacunas são preenchidas, nem todos os tópicos são aprofundados da maneira que nós, fãs, gostaríamos que fossem etc. Mas pode-se dizer com clareza que This is a Call é o livro definitivo sobre Dave Grohl — pelo menos até agora — e um must read para qualquer curioso ou entusiasta à procura de uma boa história no rock.

Por Marcelo Vieira

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