Oficialmente formado em 1999, o Grand Magus pode não ser um
evento isolado entre as gerações das bandas suecas, mas é de fato um dos raros
nomes do heavy/doom que conseguiram manter-se na ativa entre a época da
ascensão do Candlemass e do Count Raven, e o recente ressurgimento e
popularização do stoner nos últimos anos. Interessante notar, também, que o
trio liderado por JB Christoffersson e Fox Skinner nunca permaneceu estático em sua sonoridade, sempre se preocupando em aplicar mudanças, por mais sutis
que fossem (vide o contraste entre o autointitulado debut, de 2001, e o mais
recente, The Hunt, de 2012).
Dando seqüência a proposta iniciada desde o final da
década passada, e agora contando com o baterista Ludwig Witt (do Spiritual Beggars),
o grupo traz novamente uma remodelação de sua proposta com Triumph and Power, o sétimo trabalho de estúdio e o segundo pela
Nuclear Blast, redescobrindo alguns elementos de seus primórdios e
reinterpretando aquilo que gerou certas controvérsias nas últimas tentativas.
O tom épico é lentamente introduzido como uma espada
triunfante na jugular de seus inimigos com galopes, trovões e coros nos
primeiros segundos de “On Hooves of Gold” e a sua sucessão de guitarras
cavalares, que mostram como um disco pode ser bem sucedido ao iniciar-se de
forma cadenciada e honrando as fortes melodias que acompanham as letras
forjadas entre o martelo e a bigorna do mais pobre ferreiro do reino. Por falar
em forjar, “Steel Versus Steel” parece vinda diretamente dos territórios
germânicos em suas personificações menos velozes e combinadas ao hard rock,
enquanto “Fight” é uma declaração de batalha contra o falso, aonde as ordens de
luta são proclamadas incessantemente em seus quatro minutos.
O poder de fogo no melhor estilo europeu retorna em ritmo de
marcha em direção ao amanhecer de glórias com “Triumph and Power” e seu
sentimento de esperança inerente às passagens carregadas pelas linhas de baixo
e versos reverenciando os irmãos caídos, aonde a versatilidade do vocalista JB
Christoffersson se mostra ainda mais evidente. Em “Dominator”, porém, saem as
espadas e os cavalos e entram as jaquetas de couro pretas e motocicletas, como
uma viagem no tempo para a Inglaterra da década de oitenta (ou talvez os
efeitos da excessiva ingestão de hidromel).
Afinal de contas, logo em seguida a transitória “Arv”
introduz “Holmgang”, com o resgate (ainda que passageiro) das raízes ligadas ao
stoner dos suecos, em meio às marcantes guitarras que insistem com sucesso em
permanecerem simples. O mesmo pode ser dito de “The Naked and the Dead”, com o
Grand Magus mostrando de uma vez por todas as suas influências não apenas do
Iron Maiden, mas também das inúmeras bandas que de alguma forma ajudaram a
donzela a construir a sua própria sonoridade.
Com elementos folk e baterias de guerra em “Ymer”, “The
Hammer Will Bite” inicia-se como uma tensa power-ballad, como o lamento de um
homem que perdeu tudo e prepara-se para buscar vingança. Carregada de mudanças
atmosféricas e momentos que beiram o mais épico doom metal, por mais que se
difira consideravelmente do restante das faixas do álbum, encerra-o mantendo o
mesmo sentimento e completamente coerente como um todo.
E este sentimento de louvor ao true heavy metal, de temas
que ficam no limiar entre o cômico e o vergonhoso, de ser exageradamente épico
e imaginar-se um guerreiro besuntado em óleo corporal e tangas de texugo em uma
cruzada pelo triunfo da honra, simplesmente se torna (mais) ridículo ao ser
acompanhado de uma música de qualidade duvidosa. O que felizmente não é o caso
do Grand Magus e Triumph and Power.
Claro, as letras ligeiramente rasas e repetitivas estão ali
(como sempre estiveram, aliás - basta uma leitura rápida nos títulos das faixas
dos álbuns anteriores para conferir), mas ao investir pesado em uma sonoridade
ainda mais simples, catalisada pela crueza na produção básica e com cuidado
redobrado na composição das melodias, o trio sueco não apenas consegue
equilibrar a identidade que vem sendo trabalhada desde o espetacular Iron Will
(de 2008), com o mesmo furor de sua fase inicial, na época em que ainda era
parte do catálogo da Rise Above Records, como entregam uma obra grandiosa e
acessível (algo que The Hunt falhou, em certos aspectos).
Um disco original? De forma alguma. Mas quem disse que esta
é a intenção deles? Triumph and Power
é um tributo sincero que o Grand Magus presta às suas influências tradicionais,
resultando neste que provavelmente será o álbum mais heavy metal que você
ouvirá em 2014. Com as espadas em punho, montado em seu cavalo, trajando uma
jaqueta de couro por cima da armadura banhada com o sangue dos adversários e
companheiros que tombaram na batalha, pelo aço e pela vitória.
Hail the
Magus!
Nota 8,5
Faixas:
1 On Hooves of Gold
2 Steel Versus Steel
3 Fight
4 Triumph and Power
5 Dominator
6 Arv
7 Holmgang
8 The Naked and the Dead
9 Ymer
10 The Hammer Will Bite
1 On Hooves of Gold
2 Steel Versus Steel
3 Fight
4 Triumph and Power
5 Dominator
6 Arv
7 Holmgang
8 The Naked and the Dead
9 Ymer
10 The Hammer Will Bite
Por Rodrigo Carvalho
"...imaginar-se um guerreiro besuntado em óleo corporal e tangas de texugo..." Eu ri muito aqui,mas é isso aí,um som sem maiores pretensões,e muito legal. Ouvi esse disco ontem,e procurei imediatamente uma crítica aqui para saber o que vocês tinham achado,e não encontrei... Ao abrir o site agora,dou de cara com ela! Isso sim é eficiência!
ResponderExcluirMuito bacana o disco, o meu favorito do ano ao lado do The Satanist, do Behemoth. A música que dá nome ao álbum é fantástica. Heavy Metal à moda antiga de excelente qualidade e bom gosto. Nota 10!
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