Entrevista com o colecionador Julio Escritor


"Uma vida é pouca para tudo o que ainda pretendo fazer", diz uma postagem recente no Facebook do primeiro entrevistado do quadro Minha Coleção deste mês. Julio César de Souza Marques, o Julio Escritor, é estudante de história, escritor, filatelista, numismata, audiófilo e colecionador de antiguidades em geral. Seu acervo de rock nacional é de deixar qualquer um com inveja. Aperte o play e acompanhe mais este bate-papo. 

Por Marcelo Vieira 

Comece se apresentando para os leitores do Collector's Room! 
Me chamo Julio Cesar, tenho 28 anos e moro em Itaboraí, no Rio de janeiro. Trabalho no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ), faço faculdade de História, escrevo romances, coleciono discos... Este sou eu, um cara excêntrico, único, impossível de rotular. [risos] 

Vamos falar logo sobre os seus discos. De onde veio essa paixão? 
Lembro de quando eu tinha uns 6, 7 anos e ficava no quintal de casa brincando com um velho toca-discos. Sempre gostei de discos, mesmo quando eu não tinha nenhum. Era eu que cuidava do toca-discos lá de casa. Consigo até ouvir minha mãe dizendo "Julio, vira o disco!". [risos] 

Quando a sua coleção, de fato, começou? 
Minha coleção começou oficialmente em 2003 com o compacto Pintura Íntima do Kid Abelha. Aí fui correndo atrás de comprar todos da banda. Sempre que eu via discos de rock nacional dos anos 1980, comprava também. Acabei me apaixonando pelo rock dessa época. Hoje em dia, tenho várias discografias completas!


O Kid Abelha é a sua banda favorita? 
Sim e é inclusive a banda da qual eu possuo mais itens: 40 ao todo. 

Conta para a gente como se tornou a sua banda favorita. 
Eu estava num momento ruim, problemas particulares etc. Colecionar os discos do Kid manteve a minha cabeça ocupada e me fez esquecer um pouco os problemas. As letras das músicas pareciam falar sobre a minha vida. Foi uma paixão avassaladora. [risos] Eles são únicos — nenhuma banda é igual ou se compara a eles.


Você concorda que o rock brasileiro foi amolecendo com o passar do tempo? 
Nos anos 1980 existiam a criatividade e o questionamento político, mas tudo isso teve fim com a queda das gravadoras e a internet, tanto que as bandas antigas não têm interesse em lançar coisas novas. Hoje em dia, toda banda pode gravar e se autopromover na internet. O problema é que não há um filtro de talentos como havia antigamente, ou seja, todo tipo de lixo é despejado em cima do público e cabe ao público decidir o que é bom e o que não é. 

Mas ainda devem existir bandas antigas lançando coisas boas e também bandas recentes que mereçam uma conferida, né? 
As bandas dos anos 1980 fazem muitos shows, mas, no geral, não gravam coisas com o valor de antigamente. Das bandas novas, tem o Vanguart e o Fiddy, sendo esta última um rock humorístico da melhor qualidade! 

Voltando à coleção, quantos itens ela possui atualmente? 
Exatos 1.787 discos de todos os estilos, mas principalmente de MPB e rock nacional. CDs tenho poucos, apenas o necessário para completar algumas discografias. 

Para você, quais as vantagens e desvantagens do LP em relação ao CD? 
O LP explora sentidos além da audição: visão ao admirar as capas em tamanho real; tato ao manusear aquele bolachão imenso e olfato pelo cheiro inconfundível de disco guardado há muito tempo. A única desvantagem é que não tem a mesma praticidade que o CD. 

Como você organiza a sua coleção? 
Através de catálogos que preencho a caneta, com os títulos em ordem alfabética. Colo um pequeno adesivo em cada disco com o ano de lançamento e o número de registro no catálogo. 

Quais os itens mais raros da sua coleção? 
Tenho o primeiro disco do João Gilberto, alguns do Raul Seixas, a coletânea Rock Voador, que revelou Kid Abelha e Celso Blues Boy e discos de 78 rpm da década de 1940, entre outros.


Qual LP te custou mais caro? E em qual você pagou mais barato? 
O mais caro foi Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, 70 reais. O mais barato foi o ...And Justice for All do Metallica, três reais na mão de um mendigo bêbado embaixo de um viaduto. 

Três reais???! Conta essa história para a gente!! 
Um amigo e eu estávamos voltando frustrados de uma feira que vende games antigos. Não há nada pior para um colecionador do que voltar para casa de mãos abanando! [risos] No final da feira, vi o tal mendigo, que pelo cheiro não devia tomar banho há tempos. Ao lado dele estava aquela pilha de discos em péssimo estado. Pedi para olhar despretensiosamente e lá estava o Metallica em excelente estado! Como aquele disco foi parar lá é um mistério. Em lojas, esse vinil não sai por menos de 40 reais. Perguntei quanto era e ele disse: "Isso aí é rock do bom, relíquia, me dá três real (sic) para a cachaça!". Voltei para casa felizão! [risos]


Além de comprar discos com mendigos [risos], onde você costuma fazer suas compras? 
Vou muito à Galeria Good Star, em Niterói, além de feiras livres onde se vendem coisas usadas. Tem também as feiras do Laranjal e de Neves em São Gonçalo, além da famosa feira da Praça XV todo sábado de manhã. 

Quais são os seus 10 discos favoritos? 
Engenheiros do Hawaii - O Papa é Pop 
Biquíni Cavadão - Descivilização 
Ultraje a Rigor - Nós Vamos Invadir a Sua Praia 
Titãs - Cabeça Dinossauro 
Kid Abelha - Educação Sentimental 
Rita Lee - Fruto Proibido 
Cazuza - Ideologia 
Legião Urbana - V 
Os Paralamas do Sucesso - Selvagem? 
Overdose - Circus of Death 

Além de discos, você coleciona outras coisas, certo? 
Sim. Coleciono aparelhos de som, moedas, cédulas e selos. 

Esse colecionismo é herança de família ou se deve ao fato de você ser estudante de história? 
Quando eu era pré-adolescente, já colecionava moedas e já tinha certeza que queria ser historiador. Uma coisa levou à outra.


Qual a diferença entre colecionar moedas e selos e colecionar discos? 
Moedas e selos são coleções estáticas, que a gente pega, olha e depois guarda. Os discos, além do fator raridade, você ainda pode curtir o som! 

E os aparelhos de som? 
Comecei comprando aparelhos quebrados e tentando consertar por conta própria. Acabava os destruindo ainda mais! [risos] Mas com o tempo, aprendi a consertar toca-discos. Já tive muitos; hoje em dia tenho apenas alguns, entre eles uma radiola à válvula de 1968 que eu mesmo restaurei e é o meu xodó. 

Você também é autor de livros. Fale um pouco sobre essa atividade. 
Há quatro anos embarquei na loucura de escrever um livro. Vi na TV uma reportagem sobre um site onde qualquer um pode publicar um livro gratuitamente e investi na ideia. Já publiquei cinco livros desde então. Faço tudo sozinho, até as capas, e adoro fazer isso. Espero um dia ter uma oportunidade, encontrar alguma editora que aposte em mim e sair do anonimato.


Que conselho você daria para um jovem escritor?
Não deixe o seu talento na gaveta! Você não tem o direito de privar o mundo da sua criatividade! 

E para quem está pensando em começar a colecionar discos? 
Lembre-se: você não pode comprar felicidade, mas pode comprar discos, que é a mesma coisa. 

Contato: julio.souzamarques@yahoo.com.br

Comentários

  1. Antes que se perca tempo com o óbvio que as fotos revelam, a verdade é que o Júlio conhece e sabe aproveitar seu gosto musical, sem falar nas moedas e nos aparelhos de som (ele tem um lado Professor Pardal). E o cara ainda é escritor!

    Eu particularmente, curto muito pouca coisa do ele gosta, mas isso não tem a menor importância. O que vale é o amor que ele devota a sua coleção, respeitável em vários aspectos, diga-se.

    Vá em frente, Júlio!

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  2. Tô escutando o novo Bigelf aqui e passando mal .... resenhem esse disco, por favor!
    Bom dimaizzzzzzzzzzzz

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  3. Fodona essa entrevista. Uma das mais legais. Só pela foto dos discos dos EngHaw já valeu :)

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  4. Bem legal. Também coleciono discos e Cd's e livros. Não tenho tantos, mas tenho algumas boas peças. Como faço pra ser entrevistado?

    Dimas Bezerra Marques

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  5. Poderiam me informar qual é o site para lançamento de livros?

    Obrigado.

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  6. Oi , poderiam me informar qual o site para lançamento gratuito de livros?

    Obrigado.

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  7. Fazer essas entrevistas tem sido uma experiência um tanto enriquecedora para mim, e quando rola um feedback dos leitores, é mais legal ainda!

    E @bruno, o site é o https://clubedeautores.com.br/

    Um abraço a todos!

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  8. Parabéns !!! Lembro desse cara na 4° serie colecionando moedas kkkkkk td de bom meu amigo 1

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  9. A coleção é muito legal mesmo, parabéns pela entrevista. E alguém com a camisa do Mengão só poderia ser uma pessoa de bom gosto, é claro.

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  10. Muito boas estas entrevistas. Sou colecionador também (hoje com quase 1300 itens na coleção, só de cds e LP's) e é sempre bom ver que existem outras pessoas que compartilham do mesmo vício... Quem sabe um dia consigo mostrar minha coleção (coisa que todo colecionador gosta) para o pessoal do Collector's? Abraços e continue com este excelente trabalho...

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