Espaço do Leitor: crise no mercado musical?

Salve Collectors Room,

Primeiro venho agradecer não só pelo excelente site, mas também pela oportunidade de fazer parte e enviar um tema que, a meu ver, é extremamente relevante ao mercado da música que, de uma forma ou de outra, fazemos parte como fãs, colecionadores e músicos de fim de semana.

Minha questão é a seguinte: será que realmente existe uma crise no mercado da música mundial? Tanto se fala que a distribuição de música através da internet matou o mercado e acabou com algumas bandas, mas vejo um cenário um pouco diferente disso. Afinal, por que diabos teríamos tantas reuniões de bandas que se separaram há muito tempo, gravando coisas novas? E quando falo de reunião de bandas, não me refiro a Black Sabbath ou alguma coisa tão grande e monstruosa quanto isso. Além do que, vejo N projetos de músicos consagrados aparecendo por aqui e por ali, gravando e saindo em turnê. E vejo muita coisa sendo lançada com qualidade, por reunião de bandas antigas, projetos novos e bandas novas. Será que o foco é realmente só gravar alguma coisa pra sair em turnê e ganhar apenas uma pequena fatia pão nosso de cada músico?

O mercado mudou e isso é um fato. Mas será que é tão ruim quanto dizem? Ou apenas os donos de grandes gravadoras que não estão mais recebendo rios de dinheiros? Vendo que muitas bandas como o Raimundos, Obituary e o Dorsal Atlântica (só pra citar as que eu me lembro no momento) tem adotado o crowdfunding para conseguir o dinheiro inicial e começar a gravação de um disco, vejo um novo formato nascendo e acredito que esse é um dos caminhos, afinal se o público quer tanto ver e ouvir coisas novas da sua banda preferida, que ajude e faça acontecer. É o do it yourself acontecendo mais uma vez e de forma colaborativa.

Bom, esta é apenas a minha opinião sobre o assunto e gostaria de saber a opinião de vocês da Collectors Room e dos outros leitores também. Nem sei que consegui me expressar da forma que gostaria e se o texto fez tanto sentido pra vocês quanto fez pra mim, mas essa é minha colaboração com o Espaço do Leitor e espero ter trazido um tema relevante.

Continuem caminhando, nos trazendo conteúdo totalmente diferente dos outros sites e enriquecedor. Um grande abraço!

Leandro Maurício dos Santos
São Paulo (SP)


Bom questionamento, Leandro. A transformação do mercado musical é uma realidade e ainda não acabou. Que os downloads alteraram totalmente o modo de consumir música, fazendo com a venda de discos caísse e, ao mesmo tempo, dando aos ouvintes o benefício de estar sempre junto de suas canções preferidas, não há dúvida. No entanto, a transformação continua. O surgimento e a popularização de serviços de streaming como Rdio, Deezer e Spotify - que, para quem não sabe, funcionam como uma espécie de Netflix de música, com milhares de discos e mensalidade baixa - é um caminho bastante interessante. No meu caso, desde que assinei o Rdio não baixei mais nenhum disco. Se as bandas ganham ou não com isso, não sei, mas eu, como ouvinte, ganhei bastante, já que não tenho mais que fazer downloads e pesquisar em sites pra lá de suspeitos e cheios de vírus.

Em relação ao lançamento de novos discos, penso o seguinte: o mercado diminuiu de maneira enorme, mas ainda existe. O ouvinte casual de música não compra mais discos originais há anos, sejam eles no formato que forem - CDs, LPs, tanto faz. Isso segmentou o mercado. Hoje, as gravadoras trabalham para um público reduzido e mais exigente. A grosso modo e generalizando, hoje as gravadoras trabalham apenas para os colecionadores e fãs, e esse público, do qual fazemos parte, é muito mais exigente do que o ouvinte casual. Não queremos apenas o CD, apenas o LP, queremos sempre algo mais. E isso vem sendo entregue, vide a enorme quantidade de edições especiais e turbinadas que encontramos hoje nas lojas, fato que não acontecia há poucos anos atrás. Hoje, quando uma gravadora coloca um disco no mercado apenas no formato padrão e sem cuidado com os detalhes, as pessoas não compram esse item, preferindo adquirir o mesmo título em uma edição importada.

O que parece não ter sido percebido ainda pelos lojistas e pela indústria é o fato que o público que ainda compra itens originais é, além de exigente, inteligente. Há lojas vendendo itens, principalmente LPs, a preços altíssimos, que não são equivalentes ao produto que está sendo entregue. Se isso nasce lá na gravadora, não sei, mas é preciso mudar essa realidade, e pra ontem. O público que ainda compra discos é o ÚNICO público que ainda compra discos, então tratá-lo de maneira melhor e mais honesta seria o mínimo, não é mesmo?

Sobre as bandas lançaram novos itens, é preciso ir mais fundo. O ganho de um artista depende do contrato que ele assinou com a gravadora que o distribui. No caso do financiamento coletivo, isso se inverte completamente e, após a prestação de contas com quem financiou o projeto, a receita é 100% do artista. Por isso essa opção cresce cada vez mais.

Mas o fato é que hoje a principal fonte de receitas das bandas vem dos shows e dos itens de merchandising. Elas ainda ganham dinheiro com vendas de discos, mas nem perto do que ganhavam antes. Por isso, agora os artistas passam muito mais tempo na estrada e visitam lugares que nunca haviam estado antes. É preciso diversificar as fontes de renda e estar cada vez mais perto do seu público, da sua fonte de receita.

Novos discos sempre serão lançados, sejam eles no formato que forem: CDs, LPs ou em plataformas digitais e online. É dessa maneira que o trabalho de um artista chega ao público.

Falo por mim, que já passei dos 40 e sempre consumi a música no formato físico, mas não tenho muito conhecimento sobre a forma que os adolescentes de hoje se relacionam com a música. É tudo online? Não há nenhum formato de mídia? Não há curiosidade, ou um nível de exigência mais elevado, em conhecer formatos físicos que oferecem mais qualidade sonora? Ou tudo isso é apenas papo de gente ultrapassada?

Não sei se consegui responder as suas dúvidas, Leandro. E também peço ajuda aos leitores para encontrar respostas para as dúvidas que levantei.

Enquanto isso, seguimos tendo a música como fonte de inspiração todos os dias. (Ricardo Seelig)

Comentários

  1. Alguns reflexões de alguém que trabalho com jovens e que serão o futuro desta indústria.

    Primeiro: quase não existe mais tribos. Tenho alunos que ouvem Beatles, curtem Michel Jackcson, vibram com o Iron e ainda ouvem Racionais. As meninas neste caso curtem tudo isso e ainda vão no show do One Direction.

    O "metaleiro" isolado é um personagem muito raro e extinto, ainda se reúnem em bando para a reprodução assexuada.

    Conclusão: Menos festivais por estilo e mais mistura.Menos bares temáticos e mais ecléticos. Shows devem ser eventos.

    Segundo: Existem músicas, não álbuns.

    A música-clip no youtube é o formato favorito, a expressão "OUVIU mais o novo álbum" não é mais usado, mas sim "VIU no youtube a música".

    Terceiro: A banda tem que ter um universo visual forte, é uma coisa de imersão naquele mundo.

    Conclusão: É uma cultura de sinestesia, em que a música tem que mexer com seus outros sentidos. E isso é muito bacana.


    Quarto: O consumo existe, mas no universo visual criado pelo artista, ninguém paga R$30,00 pelo álbum, mas R$80,00 em uma camiseta no shopping com Kiss ou Beatles. (O KISS está a frente do seu tempo rs!)

    Conclusão: Ainda dá para ganhar muito dinheiro com música.

    Quinto: Nossa geração tem um poder aquisitivo enorme e sustenta toda uma indústria, mas a nova geração não, realmente este mercado mais sofisticado de qualidade de formatos é coisa de dinossauros como nós! Rs!

    Conclusão: Ouvir música em um iPOD velho e surrado daqui dez anos será tão legal quanto ter discos, e o discurso vai ser o mesmo:
    "Sabe, naquele tempo a gente só tinha um 1 gb e sem acesso a internet, mano tinha que saber escolher música,formato, não é igual hoje que tem site e tá tudo pronto"

    Ah, eu já ouvi coisas do tipo sobre os primeiro iPOD. Sim vocês são todos velhos rs!

    Espero ter ajudado ou desanimado alguns!



    ResponderExcluir
  2. Crise? Crise pra quem? Pra grandes gravadoras que sempre empurraram pop descartável e cultivaram um público alvo que faz de tudo pra não pagar?

    Isso sim e, hoenestamente, bem feito.

    Nunca mais veremos 1 milhão de cópias serem vendidas? Não, nunca mais veremos. Mas isso, na minha opinião é ótimo. A grande maioria das bandas multiplatinadas venderam muito por terem MUITO dinheiro investido e a qualidade nem sempre fala por números.

    Crise? Se ficarmos somente no metal vemos que não é bem assim.
    A Metal Insider traz o chart semanal de vendas e não é NADA ruim.

    http://www.metalinsider.net/category/columns/metal-by-numbers

    Mas como eu disse no começo, a crise existe sim, pras majors, aquelas que sempre se importaram única e exclusivamente nos números e naquelas que esqueceram de cultivar um público que cresce com o artista. Essas... se fo*****m.

    ResponderExcluir
  3. Acho que o questionamento do Leandro foi muito oportuno e respondido amplamente pelo Ricardo Seeling e nos comentários já feitos.

    Gostaria apenas de acrescentar que nos tempos pós globalização o mundo entrou num ritmo frenético, acelerado e isso desembocou também no meio musical.

    Os ouvintes casuais supracitados passaram a ter cada vez mais pressa de consumo e encontraram tal saciedade nos arquivos e streamings, afinal parar para selecionar um CD ou vinil, pô-lo para tocar e sentar para ouvi-lo, sobretudo na íntegra, é um prazer moroso, que ao que parece, salvo exceções, nós quarentões apenas pelo visto conservamos.

    ResponderExcluir
  4. O que me entristece são as lojas brasileiras, quando vejo o preço dos discos. Eu geralmente importo os álbuns diretamente e sempre pago a metade ou até a terça parte do valor aqui, sem sair da minha casa. Pra esse valor continuar alto ano após ano, alguém deve estar pagando por isso, não tem outra explicação.

    ResponderExcluir
  5. Eu sou um bom exemplo c consumia cds e antes lps .... hj tenho 400 cds originais alguns importados a 10 anos atrás comprava cerca de 20 cds p ano e agora em 2013 só 1 o 13 do BLACK SABBATH !Muito pelo preço cerca de 30/40 reais e tbm pelas bandas clássicas q eu curto acabarem ou n lançarem mais nada !

    ResponderExcluir
  6. tem uma molecada mais nova que ainda compra discos...é uma minoria... coisa de nicho mesmo...mas existem e é economicamente sustentável
    Assistam a série minha loja de discos que se passa na inglaterra e verão pessoas mais jovens que frequentam lojas de discos...e vejam como o conceito de loja mudou e como estamos atrasados...

    ResponderExcluir
  7. Uma coisa que eu percebo é a enxurrada de lançamentos que temos a cada mês. Se pegarmos apenas um segmento como o death metal, temos pelo menos 30 titulos lançados de forma oficial a cada mês. Fora os que saem independentes e pouca gente fica sabendo. O mercado que muitos dizem que está acabando tem cada vez mais lançamentos.

    ResponderExcluir
  8. Não tem jeito: o mundo mudou! Ou ajusta-se as velas de acordo com os novos ventos ou estará à deriva em mares revoltos!

    Penso o seguinte: compra vinil quem quer e pode, assim como cd's, dvd's, ir a shows, merchan, etc. Simples!

    Se as bandas acham inviável gravar, ok, que parem. Empresa que dá prejuízo deve ser fechada. Se os fãs querem financiar um album, ok, nada de errado, afinal, é uma doação e doa quem quiser e puder.

    Se isso estimula ou não novos artistas, que esses pensem bem antes de entrar nesse mercado. Mas ficar choramingando não é coisa de homem.

    Vale lembrar que não é só com a música que as coisas mudaram, tudo mudou. Várias profissões enfrentam dificuldades e competição selvagem por salários, profissionais, etc. Esse é o mundo e é nele em que vivemos.

    Mas as gravadoras estão aí de olho e lançando quem eles acham que pode dar lucro.

    Afinal: "It's economy, stupid"

    ResponderExcluir


  9. Hoje em Ribeirão Preto para você comprar discos (cd ou lp) tem que recorrer a Saraiva (só tem o convencional), FNAC e Cultura, mas as melhores são a FNAC e a Cultura e nesta última recém-aberta por aqui é a única que coloca lps a disposição só que os preços afugentam e os cds não ficam muito longe só que sempre tem alguns com preços razoáveis.

    Eu já comprei e ainda compro cds e lps, na Cultura, os preços dos importados giram entre R$ 35,90 a R$ 150,00 já os lps começam em R$ 89,90 e chegam até R$ 399,00. A FNAC tem alguma coisa interessante é mais barato que a Cultura, só tem que ficar esperto na hora de comprar porque geralmente as duas tem o mesmo produto em alguns casos o preço vai pela metade na filial francesa.

    Um exemplo disso é que comprei os cds: Zuma, American Stars n Bars e o On the Beach, do Neil Young na FNAC por R$ 37,90, e na Cultura o trio custava exatamente o dobro cada um. Na cultura comprei o Face to Face, do The Kinks e o Every Good Boy Deserves Favour, do The Moody Blues por R$ 47,90 cada um.

    Eu até pago cinquenta, sessenta, setenta reais em um cd, mas somente em casos especiais, ou seja, quando não o acho em mais lugar nenhum e muito menos em lp, na semana passada comprei o Tommy, do Who por R$ 69,90 porque não tinha em lugar nenhum. Os cds do Grand Funk Railroad a mesma coisa só que estes custam cinquenta reais cada um.

    A crise está mais do que na cara que é problema das majors e da música descartável que ela fornece. Para mim está uma época boa para consumir música tudo o que eu gosto encontro tanto em lp como em cd. Os preços do cd estão mais baixos então venho comprando adoidado no Mercado Livre cujos preços giram entre R$ 30,00 e R$ 36,00 mais o valor da postagem, e detalhe são discos novos lacrados e importados.

    Como consumidor vejo que existe uma oferta maior com maior opção de escolha se você quiser e puder compra um lp novo e senão puder compra o cd. Se você gosta de um único formato pode comprar a vontade desde que o bolso permita. Para mim cujo interesse é a música está ótimo por causa dos títulos disponíveis que vinte anos atrás eram um sonho distante aqui em Ribeirão Preto.

    Gosto de comprar discos em qualquer lugar seja na loja física ou na virtual, mas a preferência é pela loja física porque sempre dá para trocar umas ideias com alguém e daí fazer uma amizade nova e depois de escolher os discos dá para ir para os livros e aproveitar algumas promoções especiais e completar a festa colocando na cesta de compras ótimos títulos. Quanto mais lojas físicas e mais vendedores virtuais melhor para mim que vou aumentando a minha coleção, enfim é esse o meu jeito de consumir música.

    Nessas incursões vejo sempre uma garotada antenada comprando discos adoidado e quando você conversa você se surpreende porque além dos discos, eles também devoram biografias e muitas vezes o interesse é despertado pela leitura anterior, e nos outros casos a música entra na vida desses jovens de forma tradicional e a compra também é uma consequência dessa interação.









    ResponderExcluir
  10. O COLECIONADOR vc paga caro p cds e lps ... em tempos de Internet um cd lançamento ou clássico deveria custar 15 reais n máximo .... pelo jeito teu poder aquisitivo é alto sorte tua !

    ResponderExcluir
  11. Já conhecia o Deezer e o Rdio, mas nunca procurei me informar melhor sobre os serviços prestados. Com o comentário do Ricardo Seelig que depois de assinar com o Rdio nunca mais baixou nenhum disco, fui pesquisar sobre os dois sites e gostei um pouco mais do Deezer e assinei.

    Fiquei me perguntando por que não assinei o serviço antes, é muito melhor que ficar procurando em vários sites o download de um disco novo e depois ainda ter que arrumar no itunes.

    Fora que encontrei vários discos que não achava para download, fiquei muito feliz com os serviços do Deezer e estou gostando muito.

    Abraços

    ResponderExcluir
  12. Enquanto os roqueiros, mpb e outros antigos estão atordoados com a tecnologia, o que tá rolando no Itunes e no Gospel.
    Oportunidade não falta.
    Falta estética e expressão.


    http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/cultura/tempo-gospel-dois-evangelicos-na-lideranca-do-itunes/

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.