Os melhores discos lançados em maio segundo a Collectors Room

Chegamos ao quinto mês do ano, e com ele mais lançamentos interessantes. Entre retornos de bandas que há tempos estavam devendo e a afirmação de novos nomes, reedições apetitosas também desembarcaram nas lojas.

Abaixo, cada integrante da nossa equipe conta qual foi o principal lançamento de maio na sua opinião, junto com um pequeno review sobre o título.

Deguste!

Titãs - Nheengatu

A gente sempre espera que, como um bom vinho, nossas bandas favoritas só melhorem com a idade. Não foi o caso dos Titãs que, a partir da segunda metade dos anos 1990, se acomodou na fórmula amiga de light fm descoberta após o estouro de "Pra Dizer Adeus" e, vamos ser francos, piorou. Levou mais de uma década e alguns discos com pouca expressão roqueira até que o, hoje em dia, quarteto, radicalizasse e lembrasse como se faz o bom e velho som pesado que os fez decolar no passado. Em Nheengatu, seu melhor trabalho desde Titanomaquia (1993 — sim, já faz 21 anos!), os Titãs colhe na inquietação das ruas a pedra angular de letras furiosas — às vezes até subversivas — que tanto refletem a insatisfação do brasileiro às vésperas da Copa do Mundo. Musicalmente, o álbum é, como Paulo Miklos previu em novembro de 2013, "pesado, sujo e malvado". Devo apenas concordar, sem tirar nem por. O rock brasileiro mainstream, cada vez mais imerso em vibes de qualidade duvidosa, precisava de um petardo desses, que te pega pelo saco. Certamente, um dos melhores do ano e, provavelmente, a minha escolha na categoria “o retorno do ano”. (Marcelo Vieira)

Misery Index - The Killing Gods

Não apenas o índice econômico proposto por Arthur Okun, o Misery Index é também a inspiração para o nome de uma das mais desgraçadas bandas surgidas na última década em Baltimore. A invocadora de The Killing Gods prossegue com o death metal de tendências grind e hardcore catapultadas por um colapso apocalíptico de riffs despejados cruelmente, que  martelam de forma tortuosa e pungente  e engrandecem um ritual anárquico, de conjuração de deuses abissais (em especial “Faust” – a suíte de 14 minutos dividida entre as cinco primeiras músicas, que transporta a banda para um plano muito mais dinâmico, se comparado aos seus quatro discos anteriores). Mantendo as severas constatações  e críticas relacionadas às doenças sociais, em um mês dominado pela besta de três cabeças recém despertada nos pântanos da Louisiana, foi da terra dos corvos que o Misery Index inverteu o índice e lançou o trabalho mais miserável de maio. (Rodrigo Carvalho)

Deep Purple - Made in Japan 40th Anniversary boxes

Aquele que muitos consideram o melhor álbum ao vivo de todos os tempos em sua versão definitiva. Lançada em 19 de maio, a nova edição de Made in Japan conta com múltiplos formatos, incuindo uma obscena e quase pornográfica edição em vinil com nada mais nada menos do que 9 LPs! A íntegra dos três shows que deram origem a Made in Japan está contida nessa nova versão, incluindo um DVD com material em vídeo inédito. Se este não for um item obrigatório, não sei o que seria ... (Ricardo Seelig)

Agalloch - The Serpent & The Sphere

Degustar um novo álbum do Agalloch é sempre prazeroso. E desafiador, acima de tudo. Existem bandas que fazem o básico e são geniais. Existem bandas que forçam certa complexidade e jogam tudo pelo ralo. Dono de uma excelência musical impressionante, esse quarteto de Portland consegue a façanha de ser objetivo e rebuscado ao mesmo tempo. E isso faz toda a diferença em sua mescla de black metal, folk e post-rock. Há quase 20 anos na estrada, o Agalloch segue oferecendo grandes trabalhos, ainda que seus clássicos sejam os dois primeiros - Pale Folklore (1999) e The Mantle (2002). Já havia sido assim com Marrow of the Spirit (2009) e isso se repete agora, com The Serpent & The Sphere, lançado em maio, após hiato de quatro anos. Um disco rico em riffs, melodias certeiras e sons mais atmosféricos. Tudo com muito bom gosto e sem soar pedante. Três músicas chamam a atenção logo de cara: "The Astral Dialogue", "Celestial Effigy" e a épica "Plateau of the Ages". As outras demandam algumas audições a mais, porém, também são poderosas. Vale mergulhar de cabeça no universo do Agalloch, que segue único quando o assunto é ser relevante em meio a uma proposta de som intrincada, mas cativante. (Guilherme Gonçalves)

Sabaton - Heroes

Se você ainda não teve certeza de que deveria dar um chance ao trabalho destes suecos, seu mais recente lançamento, Heroes, é a oportunidade ideal. Trata-se do primeiro disco de estúdio com a nova formação, que traz os recém-chegados Chris Rörland e Thobbe Englund nas guitarras e Hannes van Dahl na bateria. E trata-se da bolacha que melhor sintetiza não apenas a sonoridade da banda - um power metal poderoso, intenso, épico e pesado, sem sinal de soar datado ou dependente de um retrô pedante - mas também a sua proposta temática. Da mesma forma que o Blind Guardian é louco por livros de fantasia e o Running Wild é obcecado por piratas, o Sabaton curte histórias de guerras. Mas batalhas verdadeiras, que marcaram a civilização humana. Conforme o nome entrega, este disco prefere ainda se focar em dar rosto aos combatentes. São as histórias de heróis (ou, no caso, também de heroínas, como na ótima faixa de abertura "Night Witches", sobre um regimento de mulheres soviéticas que lutaram contra os nazistas) de diversas partes do mundo. Australianos, finlandeses, poloneses, estadunidenses, tchecos ... e brasileiros. Pois é. Além de ser uma das melhores faixas do CD, "Smoking Snakes" e sua melodia viciante falam sobre um trio de soldados da Força Expedicionária Brasileira, Arlindo Lúcio da Silva, Geraldo Baeta da Cruz e Geraldo Rodrigues de Souza. Separados de seu batalhão em plena Segunda Guerra Mundial, na Itália, eles lutaram até a morte contra uma horda muito maior de combatentes alemães. Acabaram sendo respeitosamente enterrados pelos próprios germânicos. E lá vão os gringos honrar nossa própria história, que nós parecemos não ter vontade alguma de conhecer. (Thiago Cardim)

Comentários

  1. O Agalloch é descomunalmente magnifico e intrigante. O último EP "Faustian Echoes" sobre o poema épico "Fausto" de Goethe, repleto de diálogos e escritos em mais de 20 minutos de som, é uma Obra-prima.

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  2. Esse do Misery Index É UM ABSURDO!!!!!!!!!!!
    Que álbum!

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